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30 de jan. de 2022

Guerra, morte, tortura e moralidade





Só lembrando: ninguém é doido de comemorar a amputação de uma perna.  O que a pessoa comemora é a vitória de ter sobrevivido a uma gangrena. 

A perna amputada sempre será uma a lembrança terrível e dolorosa. Ninguém quer repetir a experiência nefasta.

Os pais de uma criança atacada por um urso não comemoram a execução do animal,  mas a sobrevivência do filho. 

Os soldados que voltam vitoriosos de uma guerra não comemoram as  atrocidades do campo de batalha.   Nenhum deles acha liiiiindo  relembrar cabeças explodindo e pernas desprendendo do corpo.  Eles comemoram o fim da guerra,  a manutenção da liberdade, a sobrevivência e a honra de não ficar debaixo da servidão do agressor.

Não faz sentido quando o perdedor diz ao soldado sobrevivente que comemorar a vitória  é o mesmo que "comemorar as mortes e apoiar a prática do homicídio". Dizer isso é tão cínico!  

Não,  não é a mesma coisa. Dizer isso é apenas a última cartada do fracassado: "perdi a guerra mas não vou deixar ninguém fazer a festa da vitória. Vou esconder minha arma e me vestir de santo caridoso enquanto acuso os cruéis vencedores."

Além do mais é bom lembrar que quem perdeu a guerra TAMBÉM MATOU.  E muito.  E se tivesse ganhado estaria comemorando mesmo em cima de mil cadáveres. 

Obviamente o perdedor matou menos. E perdeu justamente por isso.  Obvio.

Toda guerra é indecente. Mas tanto quem ganhou quanto quem perdeu matou. Ninguém sai disso com mãos limpas.  A devastação é física e emocional. Mas o choramingo tardiamente moralista do perdedor é simplesmente ridículo.

Não há delicadeza na guerra.  O melhor a fazer é evitá-la SE FOR POSSÍVEL. Mas às vezes não é.

Você pode evitar ser o agressor mas não pode evitar ser a parte agredida. E ao agredido só restam duas alternativas: ou baixa a cabeça e se submete ao agressor ou luta com unhas e dentes pela sua liberdade.  

Quem critica o vencedor está na verdade dizendo o seguinte: VOCÊS DEVERIAM TER SE SUBMETIDO A MIM.  

"Ah mas não havia necessidade de matar inocentes! Crianças morreram! Houve tortura! Velhos foram executados!!!"   Sim,  isso não era para acontecer.  Mas desconheço uma guerra onde só morram soldados.  Sobra pra todo mundo e todo mundo passa dos limites (aliás quais são os limites mesmo???). 

Guerra é um momento em que mil coisas que não deveriam ter acontecido,  acontecem. Quem provoca a guerra deveria lembrar disso: todo mundo VAI passar dos limites. Hospitais serão bombardeados sem necessidade,  mulheres serão estupradas sem necessidade,   crianças irão morrer sem necessidade e haverá prisões injustas e tortura.  Tudo muito cruel e sem necessidade. Então é melhor não começar. 

E no fim o que resta? Resta apenas comemorarmos O FIM da desgraceira.  


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