Não estou aqui para execrar os que vivem se importando com a vida dos outros. O mundo já tem ódio demais. Que tal tentarmos olhar as coisas por outro ângulo?
Você já parou para pensar que a vizinha curiosa talvez seja uma injustiçada? O que há de anormal em querer saber o que se passa do outro lado das suas paredes?
Claro que não costuma ser agradável tornar-se alvo da curiosidade alheia. Sofrem os tímidos, os estranhos, os humildes, os agressores de mulheres, os infiéis, os endividados, os que levam vida dupla, os - é, todo mundo sofre.
Todo mundo sofre sendo observado, mas nem por isso temos que esquecer a sacada daqueles que descobriram uma forma de sofrer menos, que é xeretando o sofrimento alheio.
Gente, não há como não olhar com certa ternura para aquele que humildemente retirou os seus interesses da pauta, colocou a trouxinha da sua vida num canto e passou a olhar para você como se você fosse uma celebridade.
Sorria! Você está sendo filmado!
É absolutamente saudável esquecer-se dos próprios problemas! Só que não é fácil. São necessários acontecimentos fortes, coloridos e empavonados para convencer o indivíduo a tirar os olhos do próprio umbigo e interessar-se por algo mais.
Se você acha que sua vida é mais digna de atenção do que a de todo mundo, você tem úlcera. Pode procurar que tem.
Sair do centro do universo é seguir o conselho de dez entre dez terapeutas e dez entre dez religiosos. Pra quê ficar velando seus próprios problemas manjados, insolúveis e repetitivos? Coisa mais chata! Nem tudo tem solução e às vezes só a morte dá jeito em certas coisas. Pra quê ficar revendo o mesmo filme se é tão simples trocar o canal da televisão e ver outra coisa?
Admito que largar de mão o noticiário triste para assistir a novela do outro canal não resolve nada. Não resolve mas pelo menos a pessoa se diverte.
E tem mais! Bisbilhotar não é só passa-tempo. Bisbilhotar é adquirir sabedoria e vivência. É tentar penetrar nos segredos do mundo para solucionar, mentalmente, intrincadas charadas sociais. É olhando para a vida dos outros que a gente traça perfis psicológicos, checa se o bem triunfa mesmo sobre o mal e tira a dúvida de quem ri por último: será que ri melhor mesmo? Esticando o pescoço por cima do muro podemos aprender também qual a melhor equação para calcular por quanto tempo é possível uma pessoa pode viver de aparências sem ser delatada. Observando é que a gente aprende que a grama do vizinho pode até ser mais verde, mas frequentemente não passa de gramado artificial. Quem olha apenas para a própria vida, vive iludido.
Tentar entender a vida e os segredos dos outros é o mesmo que montar um quebra-cabeças. É instigante como qualquer jogo. É uma forma gostosa de manter o cérebro funcionando a todo vapor. E quem faz isso nunca tem Alzheimer!
Claro que o vizinho poderia exercitar o cérebro construindo um prédio, remendando cuecas ou escrevendo um livro, mas nem todos levam jeito. Cada um tem o seu dom e você tem que entender isso.
Pois é: bisbilhotagem é cultura, é tratamento emocional e exercício espiritual (de humildade). O único porém é que você não gosta, né? Problema seu.
Agora vou observar melhor a sua vida para saber por quê, afinal de contas, você prefere ficar nas sombras. Porque pra mim isso é muito suspeito!
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