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7 de set. de 2012

Interligados

É sempre comovente observar uma pessoa feia que gasta uma dinheirama tentando ser menos feia , mas sem sucesso. É o feio inconformado. Geralmente provoca uma certa pena. Mas e o feio conformado?  Este gera incômodo.  As pessoas sempre se perguntam por quê, afinal, ele capitulou sem lutar.

Ok, e o que você e eu temos a ver com isso? Por que não cuidamos da nossa vida?   

E se eu te dissesse que isso, também, é a nossa vida?

O que você leu acima é só uma "introdução exemplificativa" da questão que levantarei a seguir:  por quê assuntos como esse, tão fúteis, nos levam a gastar cinco minutos de reflexão?   Talvez por termos minutos demais pela frente e nos sentirmos a vontade para desperdiçar alguns. Talvez porque somos fúteis mesmo, e pronto.   Oouuuu... Talvez porque seja verdadeira a teoria de que estamos todos conectados em uma energia comum, logo, tudo nos diz respeito. Tudo. Execramos ou aplaudimos condutas alheias que, aparentemente, não afetam a nossa vida. Mas será mesmo que não?

Somos como miçangas de um mesmo imenso colar global. Não adianta tentarmos nos convencer de que isso ou aquilo  não é da nossa conta. Tudo nos afeta de alguma maneira - obvia ou misteriosa.    Por isso, instintivamente, tudo é da nossa conta. A gente quer saber, a gente tem opinião, a gente se indigna, torce ou fica com ódio. São reações tão naturais que o estranho mesmo é alguém estranhar.   É como criticar o gato por ele agir como um gato.    É instintivo! Dá licença?  Queremos ver, dar pitaco, votar contra ou a favor. E podendo interferir, a gente interfere . 

Precisamos de muito esforço de auto convencimento para conseguirmos nos desinteressar de tudo o que não tem relação direta com a nossa vida. É anti natural.

Li certa vez uma teoria atraente que dizia que estamos universalmente conectados uns aos outros ainda que não saibamos ou não admitamos. Somos energia pura do mesmo feixe - digamos assim. Como tudo faz parte de mim e como eu faço parte do todo, esse é o motivo para eu me incomodar com o bigode alheio, com a gastança do vizinho, com a timidez excessiva de um conhecido, a galinhagem do artista, a amargura do amigo e mais milhões de outras coisas "alheias" à nossa vida. A feiura e a beleza, a solidão, a incoerência... tudo teima em fazer parte de nós mesmo quando repetimos que não temos nada a ver com aquilo.  

Falam tanto em "solidariedade"! E solidariedade é isso. Solidariedade não é sinônimo de caridade. Solidariedade é a pessoa sentir e reconhecer que faz parte de um todo sólido. É sentir que tudo é da minha conta e que não posso fechar os olhos para o que acontece ao lado.   Então você tem opinião e se sente impelido para fazer algo a respeito. Porque a humanidade seria "um todo sólido e inseparável." Isso é solidariedade: vem de sólido.  Por fim: o sentimento de solidariedade leva à caridade, mas os dois conceitos não são sinônimos.

No final das contas o "não ligar" pra nada que não me afeta pode não ter nada de bonito.  Sentir-se fazendo parte é o estado natural. O torpor é que é uma anomalia e indica que alguma coisa muito humana morreu dentro da pessoa. Sim, concordo que isso pode ser bom para ela, mas é esquisito.

Nem tudo que é humano é  necessariamente bom. Ok. Mas quando falta um item no seu pacote de humanidade ... é meio bizarro. 

Se você se ofendeu é porque se importa. 
Se você se importa, então está concordando comigo. 
E se não se importa, não tenho por que me desculpar pelas minhas afirmativas.




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