Queria sim vestir aquela camisa branca com minha saia azul marinho de pregas e meias "três quartos". Entrar de novo em formação com os colegas, colocar a pasta no chão ao lado da merendeira, pertinho do tornozelo. Então a diretora da escola iria lá para a frente e puxaria um dos hinos que aprendemos: Hino à Bandeira, Hino Nacional, Canção do Expedicionário, Hino da Independência... Qualquer um eu achava lindo e não tinha preferências.
Quando cantávamos a gente se sentia maior do que era, capaz até algum grande ato de heroísmo.
Se eu voltasse... respiraria fundo debaixo daquele sol ainda morno, já esperando a emoção infalível que me sobreviria. Eu amava os hinos. Eles me faziam acreditar que éramos um povo heróico, forte.
Não me envergonho de dizer que ainda sinto emoção quando ouço nossos hinos. Só que não é mais como antigamente, com aquele sentir peculiar. Hoje tudo escoa para o ralo da saudade com sentimento de perda. Aquela dor de ver nossos sentimentos juvenis dobrar o rio na chalana.
É possível que algumas pessoas ainda se emocionem com nossos hinos. Raros jovens, uns poucos sem coragem de compartilhar essa "fraqueza" com os amigos. Quando eu era criança, amar a pátria era bonito.
Antigamente, no tempo dos militares, era um orgulho estudar em escola pública. Só quem ia para escola particular eram os alunos vadios (ou burros) que pudessem pagar. Lá, qualquer bestalhão passava. Quem era bom mesmo, estudava em escola pública e estufava o peito.
Lembro de um episódio no qual minha mãe teve que ir atrás de conseguir um ATESTADO DE POBREZA para poder manter minha matrícula. Sério!
Se pudesse eu faria um teste: voltar para aquelas cenas do passado para descobrir se ainda tenho coração para aquilo tudo.
É lindo o que uma criança é capaz de sentir e o que um adulto é capaz de manter se não forem seriamente atrapalhados.
"Por mais terras que eu percorra, não permita Deus que eu morra sem que eu volte para lá", para aquele passado arborizado, para só mais uma vez me sentir brasileira-com-muito-orgulho.
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