
Os adultos são diferentes. Nem sempre eles tem um passado longo ou digno de nota, mas já param para olhar para o passado dos outros e intuir que aquilo deve ter alguma coisa a ver com o presente e, consequentemente, com o futuro. Aí começa o medo. Os adultos, só eles, são os que olham para o futuro. O presente é uma ficção. O presente é uma tentativa maléfica de fazê-los perder o foco. A vida é o que vai acontecer depois que eu cumprir todas as minhas tarefas - pensam eles. Há prazer demais no futuro. Prazer demais, propostas demais, possibilidades infinitas.
Os velhos... Esses não conseguem ver nada à frente. Eles chegaram no muro da vida. O futuro já era. O que foi, foi. O que não foi, não será mais. Eles são o resultado de uma longa equação que foi sendo resolvida através dos anos. O passado é seu tesouro, sua honra, identidade, glória e mapa. Só é seguro caminhar agora tendo em mãos o mapa do passado, que lhes aponta o caminho seguro. Pobres dos jovens, que não entenderam isso!
Nada é mais terrível para um idoso do que a ideia de um passado inóquo, sem sentido, inexpressivo. Quem não tem passado, não tem alma. É preciso ter algo digno de ser lembrado, talvez citado. Um passado que sirva de consolo para o presente e que os faça esquecer da ausência de um futuro.
Jamais roube o passado de um velho. Fictício ou verdadeiro, não importa: isso é tudo o que ele tem. Não invente, não conteste, não corrija, não remende. O passado de um velho é o que ele diz que é, e isso é o único sentido da vida.
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