Você, que me vê todos os dias mas não me intui, não merece que eu me explique.
Fico imaginando o mar. O mar imenso, cheio de peixes estranhos, plantas instigantes, sons, mortos, relíquias, histórias. O mar e seus marinheiros dissolvidos, seus vasos de porcelana de tempos idos. Imagino esse imenso mar cheio querendo abrir seus tesouros, falar de si, fazer-se entender. Imagino o mar, tantas vezes louvado, finalmente criando coragem para uma aproximação. Então ele chega doce e confiante, alisa as pedras, entra nos tímpanos das cavernas, faz sons, extasia-se. Acredita na abertura, crê que viu um sinal, um aceno, um "sim", um despir, um comovente pedido de reciprocidade. O mar ousa, acredita, leva suas histórias e conchinhas, romances interrompidos em naufrágios, saudades e lembranças de céus negros. O mar entra nas pedras, na areia, busca raízes, quer apertar-lhes as mãos. Mas não há resposta. Alguns seres assistem de longe a tentativa patética. Todos se foram... ou não vieram. Admiradores ralos e reles. Falsos convites, equívocos, sinais que jamais aconteceram. Corações fechados. Distâncias. Seus tesouros não importam.
Fico imaginando o mar desistindo, indo embora. Penso no mar cansado. A figura do mar desapontado me enche de melancolia. Ele vira as costas e abandona a praia.
Às vezes imagino que o mar vai cansar de se jogar inutilmente sobre as pedras. Arrastará suas vestes pra longe e pra sempre. Para aquele lugar onde os mares nascem, morrem e se tornam inacessíveis.
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