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23 de ago. de 2015

Dorzinha azul




Não sei por que, mas as coisas de que mais gostamos costumam nos levar mansamente à sala da melancolia. Talvez só lá nossa alma consiga se despir.

Concordo que muitos já escreveram sobre isso.

Não tenho como justificar a afirmativa de que "a beleza é triste". Ou "o prazer é triste". Sem bem que o Vinícius já dizia que "todo grande amor só é bem grande se for triste."   Presumo que ele sabia do que estava falando.

Por algum motivo as musicas de que mais gostamos nos deixam assim, meio down. Todas as minhas musicas prediletas me dão vontade de chorar. As pinturas que mais me tocam também tem um quê de dor, saudade e considerações lacrimosas.  O mais estranho é que gostamos de ser tocados por essa dorzinha azul. 

Pela porta da frente, dos fundos ou pela janela, a melancolia sempre dá um jeito de comparecer. Ela vai em busca da beleza. Ela gosta da beleza e geralmente a encontra.

Os momentos mais felizes da nossa vida são lembrados com melancolia por mais que fossem risonhos. No meio do riso vem a sempre uma tristezinha junto, como um papagaio de pira. Ela cola nas nossas melhores lembranças e talvez só por causa dela é que achamos o passado melhor do que o presente. Pode não ter sido melhor coisa nenhuma mas a tristezinha da lembrança dá uma temperada na coisa.  É como o sal: realça o sabor do que é doce e precisa estar em todas, nem que seja na quantidade de uma pitada. Toda boa cozinheira sabe acrescentar um pouco de sal às receitas doces. Acho que a melancolia é assim. Sem essa dorzinha não conseguimos saborear direito o doce da vida.  O pôr do sol, as musicas prediletas, a melhor cena do filme, o bebê dormindo, o quadro, o discurso, o livro predileto.

Não é estranho que a tristeza seja tão necessária?

Será que sem o desejo aflito de Apolo e o desespero angustiado de Dafne essa escultura seria tão bela?  Acho que não. Só sei que chorei quando a vi, ao vivo e à cores. É linda, linda linda demais. Chega a ser triste de tão linda.



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