Quando os filhos crescem eles se vão. Todo mundo sabe disso. Mas como não poderia deixar de ser, para amenizar esse fato a vida nos concede umas míseras compensações. Por exemplo: enquanto os filhos são pequenos nossa presença parece ser mais que fundamental. Estamos colocados no centro do mundo e de tal forma revestidos de importância que se morremos eles morrem, se sumirmos eles piram, se falhamos eles afundam. Qualquer deslize é fatal e pode semear traumas incontornáveis. Megalomania? Neurose? Não sei. Só sei que naquela fase tudo o que fazemos ou não fazemos pode ser catastrófico. Todas as nossas atitudes deixam rabichos que se arrastas pela vida como um rabo de papel que a gente não consegue descolar da calça. Lembra da brincadeira?
Ah a cruel e doce passagem do tempo! Quando eles crescem nós somos gentilmente apresentados à realidade e tomamos consciência do nosso próprio tamanho - e ele é mínimo. Se um dia fomos grandes, indiscutivelmente encolhemos. Para o nosso descanso encolhemos. Alívio! O destino do mundo não está mais em minhas mãos - dá licença que eu vou pescar.
Bem, mas há um probleminha: a coisa não pára. Não paramos de encolher. Para o bem ou para o mal esse processo continua, incontinenti. Até quando, meu Deus? Resposta: até o "estágio final" que não é outro se não a completa invisibilidade - oh minha filha.
Como todos sabem, a invisibilidade é o estágio mais avançado da liberdade, só que de tão avançado ninguém quer esse bagulho. Mas não tem jeito: tornamo-nos invisíveis com o tempo. Primeiro é bom, porque perdendo importância ganhamos leveza. Mas depois... Não sei como me sentirei ao atingir esse estágio tão avançado da existência. Por enquanto acho que estou no máximo translúcida. Funciona assim: éramos o centro do mundo; depois fomos perdendo importância e ganhando a liberdade; mas mais depois ainda essa liberdade vai se acentuando de tal forma que ninguém mais precisa da gente. E por não precisarem e estarem ocupados demais sendo fundamentais para os próprios filhos, nós vamos ganhando transparência, transparência ... até sumir. Não, sumir não é a morte. A morte vem depois.
As mães são translúcidas. Não, isso não é um lamento.
Estive pensando que talvez a coisa toda seja parecida com uma lenta viagem de volta ao escurinho do útero. Solidão, satisfação completa e invisibilidade. Ninguém se lembra de como era mas todos concordam que era uma gostosura. Então vamos lá.
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Um comentário:
acho que o ser humano gosta mesmo é do que não tem, e ser o que não é, se ele é famoso e os paparazzi o perseguem se irrita, se está sem fama faz tudo para aparecer.
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