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17 de ago. de 2016

Travesseirada

Na aposentadoria a gente sente uma necessidade imperiosa de comemorar coisas. Algo tem que compensar o ocaso da nossa vida. Celebramos então a liberdade quase que total que nos acomete. É como se nos jogassem na cara um travesseiro:  é fofo, não machuca, faz até a gente rir, mas desestabiliza um pouco.    A aposentadoria é isso. 

Comemoramos também outras coisas menores, como poder viver de bermudas e chinelos. Economizar com gastos de roupas é um desses temas de comemoração de aposentados. Mas é um ganho que traz embutido uma perda. Perdemos a postura própria de quem vive bem vestido. A roupa nos molda. Ela esculpe nossos gestos, nossa forma de sentar e gesticular. 


O vestuário é também uma expressão do nosso eu e projeta nossa imagem para o mundo exterior. E essa imagem de alguma forma volta para nós, para a nossa auto percepção. Há uma retroalimentação o tempo todo. Ao abrir mão disso em prol do tênis e camiseta você se torna cada vez menos o que estava acostumado a ser.   Da feita que você vive só de bermuda, camiseta e chinelos, o seu desmonte vem em seguida. Acredite.

Sendo assim, ter que comprar roupas para trabalhar é um falso desprazer.  Ultimamente tenho passeado pelo shopping com um certo desgosto.  Olho roupas que posso comprar, mas sei que, definitivamente, não preciso delas. O que eu faria com elas?  Iriam apenas inchar meu guarda roupas.   Estou na fase de "desadquirir".  

Declaro a vocês que querer comprar mas não ter dinheiro é tão frustrante quanto querer, ter dinheiro mas não precisar por não ter onde usar. 

Cada vez menos roupas, cada vez menos sapatos e bolsas. É todo um estilho de vida sendo desmantelado para dar lugar a não sei o que exatamente. Sim, é uma nova fase um tanto melancólica. A gente descobre que gostava do que era e que não sabe se vai gostar do que passará a ser.

Encerro com uma dica: ao aposentar não pense muito a respeito nem escreva crônicas sobre o assunto. 

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