Comemoramos também outras coisas menores, como poder viver de bermudas e chinelos. Economizar com gastos de roupas é um desses temas de comemoração de aposentados. Mas é um ganho que traz embutido uma perda. Perdemos a postura própria de quem vive bem vestido. A roupa nos molda. Ela esculpe nossos gestos, nossa forma de sentar e gesticular.
O vestuário é também uma expressão do nosso eu e projeta nossa imagem para o mundo exterior. E essa imagem de alguma forma volta para nós, para a nossa auto percepção. Há uma retroalimentação o tempo todo. Ao abrir mão disso em prol do tênis e camiseta você se torna cada vez menos o que estava acostumado a ser. Da feita que você vive só de bermuda, camiseta e chinelos, o seu desmonte vem em seguida. Acredite.
Sendo assim, ter que comprar roupas para trabalhar é um falso desprazer. Ultimamente tenho passeado pelo shopping com um certo desgosto. Olho roupas que posso comprar, mas sei que, definitivamente, não preciso delas. O que eu faria com elas? Iriam apenas inchar meu guarda roupas. Estou na fase de "desadquirir".
Declaro a vocês que querer comprar mas não ter dinheiro é tão frustrante quanto querer, ter dinheiro mas não precisar por não ter onde usar.
Cada vez menos roupas, cada vez menos sapatos e bolsas. É todo um estilho de vida sendo desmantelado para dar lugar a não sei o que exatamente. Sim, é uma nova fase um tanto melancólica. A gente descobre que gostava do que era e que não sabe se vai gostar do que passará a ser.
Encerro com uma dica: ao aposentar não pense muito a respeito nem escreva crônicas sobre o assunto.
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