
Sou uma mulher de fantasias. A vida não é nada sem ela. Hoje
resolvi passar o Natal na França.
Cheguei. Todo mundo sabe o que é neve mas nem todos conhecem neve
bem educada, de primeiro mundo, posando para foto. Neve decorativa tingida por
lâmpadas coloridas; neve carinhosa abraçando pinheiros, neve meiga encostando a
cabecinha nos umbrais das portas, espalhando-se em nosso caminho gentilmente
para que carimbemos ali nossos pés. Tudo iluminado. Xô trevas! Laços vermelhos,
cães graciosos, gatos graciosos, ratos graciosos, cavalos graciosos. Tudo com lacinhos
e meias vermelhas. E ainda um coral de crianças saudáveis entoando (quem canta
é pobre; rico "entoa") comoventes canções natalinas. Todos tem pais,
avós, irmãos, primos, bichinhos de estimação, boneco de neve e todos, sem
exceção, vão ganhar presente. A vida é bela. Olho tudo de fora. Não sou
convidada para entrar em nenhuma casa mas posso bater pernas tranquilamente com
minhas botas de couro as quais estão sendo pagas de dez vezes.
E por falar em prestação, lembrei que tudo o que vi pressupõe
dinheiro. Ruas tranquilas e sem trombadinha? Dinheiro. Ninguém segura em casa um pivete
faminto. Neve aplainada à máquina: dinheiro. Luzes decorativas? Dinheiro. Coral,
jantar, roupas de veludo? Dinheiro, dinheiro, dinheiro.
Mundo cão. E ter um cão também custa dinheiro.
Mas aqui no meio na neve e com um certo receio de ser mandada
aos porões fico novamente me perguntando: o Natal não fica capenga sem aquele
garotinho da manjedoura? Fica sim. Minha viagem para a França nevada foi
fictícia, mas Jesus, a estrela, os sábios do Oriente, Maria, José... É tudo muito
real. O Natal não está na neve. O Natal não está na França. Nem mesmo em
Israel. O Natal está aqui.
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