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28 de jan. de 2024

Regras do mundo moderno

O título dessa postagem também poderia ser "regras para afastar os seres humanos uns dos outros".

Regras do que nunca dizer durante uma paquera:  Não fale em dinheiro. Não conte grandeza nem conte pobreza. Não fale em política. Não fale em religião. Não fale em sexo. Não fale demais sobre você mesmo mas também não pergunte demais  sobre a pessoa.

Regras do que nunca se deve dizer a uma grávida:   Não pergunte quantos meses. Ela já está enjoada de responder isso. Não pergunte se é menino ou menina. Ela já está enjoada de responder isso.  Nao pergunte nada que outros ja possam ter perguntado. Não comente sobre a barriga. Pode ser que seja só gordura. Também não finja que não viu  a barriga. Pode parecer que você está achando que a gravidez foi acidental e a criança não tem pai.

Regras do que nunca se deve dizer a um deprimido:  Não tente anima-lo. Ele está de saco cheio desses conselhos. Nem desanima-lo. A situação pode piorar.  Não diga que é bobagem o que ele sente (não minimize a dor dela) mas também não diga que ele tem razão em se sentir daquele jeito (não reforce o mal estar dele).   Não sugira programas pra distrair , não diga que a vida é bela  nem que a vida é mesmo uma bosta. Não pareça feliz nem triste perto dele.  Resumo: não pergunte nada , não afirme nada, não sugira nada, não fique muito junto nem abandone. Frases motivacionais nem sonhar! Não funcionam e ele odeia.   Frases pessimistas também não - Deus o livre.  Pensando bem, melhor você sumir pra não piorar as coisas.

Regras do que nunca se deve fazer ao visitar um bebê:  só apareça por lá depois de uns seis meses. Sua simples presença pode desintegrar um recém-nascido.   Não tente ajudar a mãe com nenhuma sugestão, mesmo que tenha funcionado para você e tenha salvado a sua vida. As mulheres de hoje odeiam todo tipo de conselho - a não ser que venha através de algum influencer que nunca cuidou de uma criança. Sua experiência de vida é ofensiva, reles, dispensável, ridicula. Não sugira nada ainda que o moleque esteja se engasgando. Não comente nada sobre a aparência na criança. Não tente ajudar, não tente atrapalhar ,  não pergunte se ela quer ter outro filho, não toque na criança pelo amor de Deus!!!! E lembre: beijo é tentativa de homicídio. Um médico da moda disse isso, então é lei.  Não fale muito alto mas também não fale muito baixo como se a mãe estivesse doente.  Não  ria, não chore, não se coce, não vá ao banheiro, não peça água - não peça nada.  Vá embora logo. (Não devia nem ter ido).  Desapareça.

Regras do que nunca se deve dizer a uma  mulher solteira (lembre sempre que ela é empoderada então se ofende até com sua respiração machista). Não pergunte a idade. Não pergunte se tem filho. Não conte vantagem nem chore pobreza. Não tente beijar mas também não demonstre falta de vontade de fazê-lo. Elogie tudo, até o feijão grudado no dente. Não insinue que vocês devem rachar a conta. Ela vai te achar miserável. Mas também não insinue que vi pagar a conta: ela vai te achar machista. Não fale mal da sua ex mulher, pois ela vai considerar isso um ato machista e montruoso. Não fale bem também, se não ela vai se sentir comparada e agredida. Também não evite falar dela, se não vai parecer que você ainda está apaixonado ou está escondendo algo.

1000 regras do que nunca se deve dizer...  blablabla

Tá complicado demais. Fica mais fácil não se aproximar de ninguém,  não visitar ninguém, não puxar papo, não paquerar, fugir dos seres humanos  e ignorar todas as crianças do mundo  porque se você  encostar numa delas  você poderá estar  quebrando alguma das 1000 regras relacionadas às crianças.

Afffmaria! Antigamente o mundo era melhor.

4 de jan. de 2024

CADEIRA DE BALANÇO (Depois daquela foto) *

Lá pelos quarenta anos a gente se olha no espelho, confere tudo e se promete: nunca vou envelhecer. Eu fazia essa brincadeira comigo mesma, de fazer-me esse juramento. Parecia divertido porque eu, de fato, me sentia ótima. Ótima com quarenta anos, ótima com quarenta e cinco, ótima com cinquenta.  Meu Deus, eu me senti ótima por tanto tempo!

Só fui começar a notar  a passagem do tempo lá pelos 55 anos.  Só a partir daí admiti que as coisas estavam mudando. 

Eu sempre disse que não me incomodava com o passar do tempo. Não era mentira. Como eu poderia me incomodar com algo que não percebia? Fiquei assim, nessa doce dormência, por vários anos. 

Mas... os 50 foram passando. Sem alarde, mas passando. Então vieram os 56, 57, 58...     Foi quando comecei a notar umas "pequenas imperfeições estéticas" aqui e acolá. Não me importei, afinal de contas até adolescentes têm imperfeições.  Mas lentamente fui admitindo que tudo aquilo que eu chamava de "imperfeições" eram na verdade indiscutíveis sinais de envelhecimento.   Aceitei com certa tranquilidade até porque a minha disposição não mudara e minha saúde continuava intacta.  Nada daquilo era suficiente para que eu me sentisse velha. Apenas eu deixara de ser jovem. Isso não me parecia tão grave.

Até que um dia uma simples foto derrubou toda a minha auto imagem.   

Eis que eu estava em um evento com pessoas tirando fotos aleatórias.  Lá pelo final do dia desejei ver tais fotos.  Foi quando me deparei com uma senhora. Não uma mulher, mas uma senhora.  Claro, era eu no esplendor da minha decadência. Vi e conferi, de uma vez e sem anestesia, tudo o que deixei de ser e que agora sou. Vi tudo o que o tempo me fizera e que eu, até então, alegremente ignorara.

Agora seria necessário alinhar as coisas: o físico com a alma. Não era possível ignorar tal revelação.

Sem fazer força alguma o meu espírito se vestiu de senhora.  Eu nem tive tempo de pensar a respeito. Simplesmente aconteceu.    Aquela camisolinha de cambraia desceu do céu lentamente, veio flutuante e com muito jeitinho encontrou o rumo da minha cabeça e desmoronou sobre mim se amoldando ao meu corpo muito gentilmente. Achei gostoso e me vi então sem os espartilhos. Houve um realinhamento interior. Era algo como uma despedida destrambelhada mas que  se tornou confortável com a descida da camisolinha branca. 

Nunca mais consegui me sentir da mesma forma.  Agora abraço sem muita relutância algumas novas tentações; a tentação de pensar que posso descansar o quanto quiser, que a magreza não é mais uma dívida que tudo passou, não vou melhorar mais, não preciso mais me sentir culpada por não ir para a academia. Toda gordura será perdoada, toda flacidez está justificada, "você fez o que pôde, a gente entende, agora relaxe vovó".  Não preciso mais sentir incômodo nem culpa nem obrigação de coisa alguma.  Posso deixar tudo escoar nessa ampulheta fatal.

Já não terei mais aquela angústia, tão comum aos jovens, do medo de estar jogando a vida fora. Isso não cabe mais. O que vivi, vivi e se não quero mais "aproveitar", ok.  Não estou jogando nada fora. Já bebi o cálice.  Não há mais nada diante de mim que seja tão incrível que não possa vir a ser desperdiçado.

Certamente a juventude pesa. Pesa de várias formas e começo a me sentir aliviada dos seus fardos. Não "tenho que" mais nada e não aceito certas cobranças.  Essa é uma boa compensação para a beleza que perdi.    E aquela bobagem de evitar certas roupas, certos sapatos e certos costumes por ser "coisa de velha"?  Essas bobagens colavam em mim  e eu nem notava o quanto eram incômodas.  

Pois então abracei com alegria todas as generosas desculpas que a vida jogou no meu colo. Preguiça é permitido. Tenho o direito, pessoas idosas cansam mais mesmo. Engordei?   Sim, e você queria o quê? Faz parte. E na suas idade eu estava melhor do que você. Não quero ir hoje para a academia. Não vou. E mesmo que eu vá não vou virar Garota Verão então dane-se. 

E tem mais!  Sinto nos mais jovens uma certa disposição em relevar certas coisas, meu jeito ou algo que eu diga, assim como eu relevava as manias e falas da minha avó. Isso também traz conforto. É mais uma almofada que a vida coloca gentilmente nas nossas costas.

Essa é a parte boa mas é bom lembrar que é de desculpa em desculpa que uma pessoa desmorona. É isso que eu quero? Não. Ainda me sobrou uma dose de vaidade.  Então entre o conforto das desculpas e o medo do desmoronamento vou me cuidando, me equilibrando entre a rebeldia e o auto cuidado. Ainda frequento academia.

Nem sempre sou minha amiga. Vez por outra ainda me lanço o "fogo amigo" da auto crítica inclemente:

"- Pare!   Pra quê esse batom ridículo? Vermelho não vai mais ficar bem em você. E pra quê outro par de brincos? Eles não vão te melhorar em nada. Vista qualquer coisa, ninguém se importa.  Sim, esse anel é lindo mas em sua mão só irá reforçar o fato de que a pele envelheceu. Que alegria pode haver em coloca-lo em suas mãos enrugadas?   Não vai ter o mesmo efeito da juventude, querida. E convenhamos: você realmente não precisa de mais outro vestido. Qualquer coisa que você vista não farás mais diferença. Acabou."   Em várias ocasiões, mesmo com dinheiro na bolsa, já deixei de comprar anéis e vestidos por causa disso.

O consolo é que essas flechadas ácidas continuarão tendo influência sobre mim só por mais um pouco de tempo. Estou caminhando para aquela fase do "tudo posso".  

Minha realidade agora é essa cadeira de balanço mental, que oscila entre o conforto da condescendência e a auto crítica cruel, entre a rebeldia e o auto cuidado.  Vou para a varanda da vida mais ou menos resignada, sem saber direito se esse vai-e-vem é ou não é para deixar no automático, se é ou não é para ser assim. 

Cadeiras de balanço não servem como símbolo de indecisão mas de descanso. Acho melhor eu abraçar essa compreensão.




O VALOR DO PATRIOTISMO *

Um povo está pronto para ser invadido, explorado e dominado quando patriotismo passa a ser considerado uma estupidez.

Certa vez ouvi alguém dizer que concorda comigo, "desde que seja realmente patriotismo, pois já vi "patriotas", prestando reverência à bandeiras de Israel e EUA. Já vi "patriotas" defendendo posturas políticas onde somente o investimento estrangeiro é privilegiado. Já vi "patriota" destruindo empresas nacionais que produziam e geravam empregos para que empresas estrangeiras saíssem lucrando. Já vi "patriota" que apoia os políticos mais abjetos que se possa conhecer. Já vi "patriota", ladrão, corrupto, explorador, escravagista, corrupto. E todos juram que são PATRIOTAS, POR DEUS, E PELA FAMÍLIA.

Respondi que nada disso invalida a minha afirmativa anterior.  Talvez invalidar o valor do patriotismo por causa dos patriotas imperfeitos seja tão tolo quanto invalidar o valor do amor por causa dos amores imperfeitos.  Tudo nesse mundo é imperfeito, ora!   Até mesmo por causa disso nós precisamos de ALVOS PERFEITOS: para evoluirmos. Para olharmos além da mesquinharia.  Se nos espelharmos apenas no que é torto, que tipo de vida teremos? Para onde estaremos caminhando?

Seria razoável eu dizer que a família harmônica, amorosa e equilibrada não deve ser vista como algo bom nem deve ser adotada como um ideal  porque a maioria das famílias é imperfeita? 

Sim, o patriotismo tem GRANDE VALOR na formação e preservação de uma nação. Apesar dos patriotas imperfeitos.   É o patriotismo que gera os melhores seres humanos que conhecemos.  Porque o anti-patriotismo  cria o império do egoísmo - e daí vem tudo o que não presta.

A falta de patriotismo enfraquece um povo. Torna-o venal, covarde.  E inviabiliza a existência de atos de heroísmo e generosidade típicos de um verdadeiro patriota. O patriota ama algo além de si mesmo e isso o conduz ao altruísmo. Isso é tudo que os imperialistas não querem.  Isso é tudo o que os entreguistas não querem, porque é difícil dominar (ou vender) um país cujo povo ama a sua pátria, seus símbolos, sua cultura, bandeira e tudo o mais.    

É precisamente por este motivo a esquerda tanto ridiculariza o patriotismo.   Quem não luta pela pátria mas luta apenas por si,  FACILMENTE SE VENDE.  E um país de vendidos é um pais de escravos. Porque alguém sempre vai querer comprar o que está a venda.


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