Agora entendo os velhos. As pessoas criticam dizendo que precisamos de novos sonhos, novos planos e alvos. É esse o conselho: fazer de conta que a vida não está se esvaindo e que ainda temos muita coisa pela frente.
Creio que sempre fui - no passado - uma pessoa cheia de vida. Era algo bem real, que exalava. Era isso, não propriamente beleza, que me tornava uma pessoa interessante. Então eu concordava com quem aconselhava os velhos a se animarem. O que eles não sabiam, e agora sei, é que se animar cansa e nem sempre dá frutos. É um fenômeno interior empapado de expectativas e a maioria das expectativas são pneus furados: não vão muito longe.
Os velhos não querem mais vibrar nada, querem apenas que não lhes encham o saco.
Até uns 15 anos atrás eu ainda cultivava a ideia de que uns fatos animados poderiam me sobrevir. Coisas poderiam acontecer. Eu então poderia plantar coisas para coisas acontecerem. Com esse pouco de matéria-prima eu ainda consegui ir levando por mais um tempo. Toda expectativa alegre joga uma baforada de juventude na cara da gente. De fato algumas coisas legais aconteceram. Só não me disseram que elas eram "a rapa do tacho".
O tempo está escoando como areia em uma ampulheta arrombada. Não dá mais tempo de nada e como eu não quero mais nada mesmo, está tudo bem. O trem já está em movimento. É seguir viagem com o que tenho em mãos e seja o que Deus quiser.
Não acho que esse texto seja triste. Não estou triste por isso mas pelos grupos animados de amigos, que viraram pó. Não os amigos que viraram, pó mas os grupos. Entenda.
Ah, os amigos... Flutuávamos por perto uns dos outros como um sorridente sistema solar. Parecia haver uma lei da gravidade que nos mantinha assim. Ninguém nunca ia longe demais, ninguém nunca ia para sempre. Depois de uma temporada circundando o sol o retorno era garantido.
Depois de uma temporada visitando o sol alguns corpos celestes simplesmente não voltam mais. São capturados, talvez, e vão integrar outras orbitas - tchau e bênção.
Eis que os amigos evaporam como gelo no asfalto. De fato amizade não é para sempre. É bonito dizer que é, mas não é. Culpa de ninguém. Gelo no asfalto.
Aí vem o lance da solidão. Mas calma, ela não chega cedo. Ela demora e se anuncia com muita antecedência. A solidão é aquela hóspede que nem chegou, mas já começou a incomodar. Começa desde quando você percebe que, aos poucos, os seus amigos vão abandonando a ciranda, um a um. "Vou ali fazer xixi e já volto" - mas não volta. É aí que você começa a entender o que vai acontecer. Sim, ela demora a chegar, mas já te chateia bem antes.
Então saiba que essa cobrança otimista de "olhe para o futuro" não cola mais. Tudo agora se resume a uma despedida arrastada. É o momento em que a vida se assemelha a uma "dança de rato", que dá voltas e mais voltas pra no fim acabar indo mesmo para o brejo.
No momento está caindo uma chuva espalhafatosa lá fora. Lembro do tempo em que eu adorava pular na chuva. É uma das sensações mais maravilhosas do mundo! Não entendo por quê cargas d'água a gente para de pular na chuva!
Bem, ainda olhando para trás eu posso já afirmar que tive uma vida muito boa. Agradeço aos envolvidos. Milhares de coisas lindas aconteceram. Tudo bem, várias outras, ruins, também aconteceram mas elas fizeram o favor de "desacontecer", então fiquei no lucro. Posso classificar minha passagem no planeta como BEM SUCEDIDA.
Quanto ao mais, o melhor da pior idade é poder dizer o seguinte em relação a todos os convites e a todas as sugestões: não sou obrigada.
Vou criar um "botton" com isso.
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