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11 de nov. de 2024

Frasco aberto


Não estou conseguindo. Sério, não consigo mais. Há coisas que escrevi há anos e nem eu mesma acredito que fui eu que pari a criança.   Esses dias fui com o cursor do mouse até o final da poesia para ver se eu mesma havia escrito aquilo ou se constava ao final do texto os créditos do verdadeiro autor.  Mas não, não havia crédito de outro. Era eu mesma, a Cristina, quem escreveu. Nossa, que surpresa! Sério mesmo?  

Acho que esqueci o frasco do perfume aberto. Ou muito mal tampado. Senti saudade da antiga fragrância mas tudo que encontrei foi um pouco de líquido amarelo-escuro no vidro. O líquido estava  um pouco mais denso e com o cheiro drasticamente diminuído... e um pouco alterado também.  Cheiros deveriam ser sagrados.  

Deixei o frasco aberto por muitos anos. Que descuido!    

Eu mesma me sinto assim, gasta e cansada e não há erro maior do que tentar fingir que ainda sou a mesma.   Mudou tudo. Não me reconheço. Isso tem um lado bom porque é necessário uma dose bem grande de angústia e inquietação para escrever alguma coisa bonita.  Tem que doer pelo menos um pouco. Agora, por exemplo, está doendo um pouco. Só por isso estou conseguindo escrever.

A felicidade é desajeitada demais. E distraída. Não registra nada, perde as anotações, esquece a chave e sempre está com pressa.    Já a paz é menina preguiçosa, satisfeita, que não quer ser incomodada. Ok, é justo. Chega de dramas e alaridos. Chega da balbúrdia das vozes internas. A paz só admite sons externos, que não clamam nem reclamam, só sinalizam. Em suas reconfortantes repetições os sons comuns deixam bem claro que a vida continua e sem suspenses. 

Sobra o que interessa:  o som da split velha, do caminhão de lixo, do gato, da lavadora centrifugando, da construção do outro lado da rua,  da panela de pressão fazendo feijão. Sobra o comum, o que não encanta nem incomoda. Sobra a deselegância das pantufas de quem não se importa mais. O visceral sumiu - e quem sou eu para dizer que isso é ruim? 

Não estou reclamando! Eu só queria conseguir transpirar mais um último soneto. Só mais uma rimazinha gentil. Só isso.    

Pois tá aí:  esse é o meu draminha de final de tarde.  

8 de nov. de 2024

O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas

Hoje resolvi rever um filme antigo que, no passado, realmente tocou meu coração. 

Às vezes um bom filme do passado precisa ser deixado mesmo lá longe, como uma boa memória.  Revisitá-lo pode trazer grande desapontamento, afinal a gente muda. 

Dessa vez resolvi rever O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas. Ou St. Elmo's Fire, no título original.  Na época gostei demais desse filme e jamais o esqueci.  Foi uma delícia poder revê-lo e voltar a me emocionar como antes.

Meio complicado falar sobre esse filme porque a sensação inicial, logo nas primeiras cenas, é de que se trata de mais um "Seção da Tarde".   No começo vemos jovens colegas, alegres e festeiros, namorando, rindo, indo a festas etc.   Mas não, não  se trata de um filme raso.  Pelo menos não pra mim.

O título poderia ser "Friends" pois sobre um grupo de amigos. Todos estudaram juntos e  aos poucos se vêem tendo que tomar decisões e finalmente enfrentar a vida adulta. Nesse contexto cada personagem tem um desafio a vencer, uma infantilidade ou uma paixão a ser superada.  Não é mais possível empurrar tudo com a barriga e resolver os dramas com uma festa ou uma noite de sexo.  Eles são  confrontados pela vida, que exige decisões, e se vêem obrigados a crescer e deixar de bobagens.  A maneira como isso acontece para cada um é dolorosa e comovente. Esse é o cerne da história. 

Coisas, atitudes velhas precisam ser deixadas para trás.  Uma paixão alimentada por muito tempo pode ser paralisante e roubar tempo de vida. Um choque de realidade, talvez até um simples beijo pode realinhar tudo e libertar a pessoa, permitindo que ela siga em frente. 

É isso: a chegada da vida adulta.  Nada é mais doloroso e libertador do que  o processo de acordar.

Achei tocante observar a vida de cada personagem tomar forma, se definir.  Cada um vai acordando e criando coragem de tomar as decisões necessárias que vão dar forma ao "resto de suas vidas".

É gostoso a gente se flagrar "perdoando" mesmo os personagens que fazem as maiores besteiras. A gente vai entendendo os seus furacões interiores e acaba achando que "é assim mesmo, faz parte do crescimento" e "nessa idade tudo tem perdão".   Interessante também é perceber que os personagens mais centrados e certinhos são tão complexos e atormentados quanto os malucos.  São iguais e isso nos faz refletir.    Todos estão na mesma fase e nenhum deles é uma fortaleza.

O amor que julgamos ser eterno pode ser passageiro e o amor que torcemos para ser passageiro pode ser eterno.

O filme consegue nos contagiar com a mesma saudade melancólica que observamos nos personagens, que se despedem de sonhos bobos, amores equivocados e da ilusão de que "nada precisa ser tão sério".  Alguns erros definem todo o nosso futuro, sim.

Na última cena a gente se sente como um deles. Dá uma dorzinha de despedida.  Aquela emoçãozinha gostosa.   É quando percebemos que assim como os personagens crescem, aceitam as mudanças da vida e seguem em frente nós também precisamos crescer,  desligar a televisão e encarar a vida real.   De alguma forma nos sentimos como eles.

Tenho então a dizer que "re-gostei" muito do filme. Para mim não perdeu o encanto mesmo depois de uns 30 anos.

 


Vale uma menção especial para a beleza incrível de Rob Lowe, no auge da juventude, e de  Andrew McCarty,  com sua carinha apaixonada e olhões azuis lindos e  impressionantes. 

Quer ver o trailer? Tá aqui:   St. Elmo's Fire (1985) Trailer #1 | Movieclips Classic Trailers



7 de nov. de 2024

Sonho esquisito

 Essa madrugada tive um sonho esquisito. Posso classificar como "pesadelo". Foi rápido mas por algum motivo me sinto impelida a registrar a experiência. Alguns detalhes acabei esquecendo mas ... vamos lá.

No sonho, devido aos problemas da vida, eu estava decidida a buscar mais as Deus  me dedicando mais à oração. Então, no sonho, eu saía a procura de um lugar propício, onde eu poderia me ajoelhar e orar pelo tempo que minha alma desejasse. Meu marido estava comigo. Ele me seguia, vinha sempre atrás de mim embora eu não o visse. 

Eu me vi em um local que parecia ser uma espécie de "condomínio de capelas". Não havia casas, só capelas para oração, de diversas denominações cristãs.  O condomínio era um lugar calmo e limpo, um lugar agradável.  Passei por várias "igrejinhas"  dando uma olhadela em cada uma, escolhendo onde eu iria ficar. Todas eram pequenas, limpas, agradáveis e simples. Quando eu abria cada porta sempre havia algumas poucas pessoas reunidas orando em silêncio.  Depois de olhar algumas opções finalmente escolhi uma - que na verdade era bem semelhante às demais.  Só escolhi porque achei que no final das contas era tudo mesmo muito parecido, não haveria uma melhor do que a outra, além do mais eu já estava cansada de procurar e queria começar logo a orar.

Só quando entrei é que percebi que a capela que escolhi era católica. Não havia santos nem nada que indicasse isso, mas eu simplesmente sabia.   


Por fora a capela escolhida não se destacava de nenhuma outra. Era toda dentro do mesmo estilo:  Bem pintada de bege, simples ,  de aspecto bem cuidado, silenciosa e convidativa.  Mas por dentro era completamente diferente, o que me deixou surpresa e decepcionada. 

Por dentro era tudo muito velho. As paredes pareciam não terem sido pintadas há séculos.   Não era possível sequer definir a cor das paredes, do piso e dos bancos. Tudo parecia meio cinza, empoeirado, muito gasto e soturno.   O lado de dentro não se parecia em nada com o lado de fora. Por fora era uma construção de poucos anos mas por dentro parecia um compartimento esquecido e recém descoberto de alguma construção medieval.  Os pouco de bancos que havia eram antiquíssimos,  de tábua corrida e sem encosto. Gastos, desconfortáveis, mofentos, empoeirados, como se há séculos ninguém tivesse feito uso deles.  Não era possível ter certeza se eles eram mesmo de madeira ou de pedra.  O ambiente não era nada aconchegante, mas até mesmo um tanto hostil,  como se  tudo dissesse "fique se quiser, mas ninguém te chamou."  

Percebi que havia no local algumas poucas pessoas. Umas cinco ou seis, talvez.  Nenhuma delas estava ajoelhada. Nenhuma estava nos bancos da frente. Estavam todas sentadas mais atrás, próximas às paredes laterais. Todas de olhos fechados. Pareciam estar ali há muito, muito tempo. Suas roupas eram velhas como tudo ali. Pareciam camponeses antigos e cansados.    Todas dormiam. Pareciam defuntos, sentados e imóveis, indiferentes a tudo, de olhos fechados.   Eu sabia que aquelas pessoas não estavam mortas, estavam dormindo, mas o aspecto era mesmo de defuntos. Sabia que elas não me ofereciam perigo algum. Nem perigo nem companhia. Algumas tinham a cabeça pendendo para o lado como passageiros de ônibus sonolentos, cansados, voltando do trabalho.  Eu não tinha intenção de incomoda-las, sabia que elas não me incomodariam de forma alguma e que eu poderia permanecer ali pelo tempo que quisesse. 

Imagino que arqueólogos, ao entrarem pela primeira vez em uma tumba egípcia, sentiram o mesmo que eu senti ao entrar naquele lugar sombrio. 

Decidi ser prática. Deixei para lá o nojo, as más impressões e toda a contrariedade por ter caído no pior lugar mesmo depois de ter feito tanta seleção. Escolhi um lugar para ficar e ajoelhei para começar a orar. Foi quando comecei a sentir uma sensação muito ruim. O ambiente foi ficando mais pesado e eu sendo tomada por um medo crescente.  

Senti que havia ali uma "entidade", um espírito ruim no canto da parede, bem perto de mim. Eu não via, mas sentia claramente  sua presença. Fui me enchendo de pavor.   Então não aguentei ficar ali e levantei  para ir embora, Enquanto me virava para sair eu chamava baixinho pela minha mãe. Comecei baixinho mas fui aumentando o tom de voz  a medida que o medo aumentava: "Mãe! Mãe! Mããããe!"    Eu já estava completamente apavorada mas não conseguia sair rapidamente dali. Nenhuma das pessoas se importou comigo. Nenhuma acordou, nenhuma me olhou.    

Enquanto eu chamava desesperada pela minha mãe, acordei. Meu marido me sacodiu, pois eu estava gemendo na cama. Graças a Deus ele me acordou.

Credo.






 

CRISTIANISMO e a prática da CARIDADE

Você não pode se salvar através da simples prática de boas obras:

1) Usar o próximo para chegar a Deus não funciona. O ser humano não é meio de salvação. Se isso funcionasse Jesus não precisaria morrer na cruz, bastaria ter deixado um punhado de bons conselhos. Sua morte expiatória não faria sentido algum. Quer dizer: sua morte sequer seria expiatória.

2) Praticar caridade é fundamental e faz parte do evangelho. Pode ser um forte indício de que as luz entrou no seu coração. Mas isso não é tudo.
3) Achar que o evangelho se resume à convencer as pessoas a praticarem a caridade acaba fazendo do homem o caminho para Deus. Mas só Jesus é caminho para Deus. Quem precisaria de Jesus se pudesse resolver as coisas por aqui mesmo?
4) Ninguém precisa ser cristão para ser caridoso. Muitos ateus fazem isso de muita boa vontade enquanto ridicularizam a crença na divindade de Cristo. Ou seja: ser caridoso não faz de você um cristão, apenas faz de você um bom cidadão.
5) Se o evangelho se resume ajudar os pobres então Jesus é dispensável. E se você acredita que Jesus é dispensável você não conhece Jesus, jamais teve um encontro com ele, portanto não é nem nunca foi um cristão.
6) Muitas outras personalidades históricas nos inspiram a fazer o bem. Não precisaríamos de mais um personagem só para dizer de novo o que todo mundo já sabia: que fazer o bem faz bem. Jesus veio ao mundo para fazer muito mais do que isso.
7) Jesus não é "mais um".

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