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30 de out. de 2007

Que fofo!


Por falta de tempo de nos encontrarmos, costumo conversar com minhas amigas via internet. Ultimamente uma grande amiga e eu comentávamos o teor de um dos meus textos. Na continuação do diálogo, olhem que e-mail fofo ela me mandou!
Só não digo o nome dessa amiga porquecerta vez ela me disse que acha esse lance de blog uma coisa meio estranha: "é muita exposição!" rsrsrs.
Ela é muito sóbria e recatada.

"Olha, Cris, meu tempo é muito cheio de acadêmicos afazeres, mas também não sou assim uma pessoa tão incorruptível (rsrs)! De vez em quando (principalmente quando trabalho em casa) dou uma escapulida pela Internet. Hora do recreio! E se eu achar uma bolachinha com chocolate pra degustar, melhor ainda!

Pois é, teu texto era uma bolachinha com chocolate dos 2 lados... Saudável como o rir de nós mesmos... Não tive a impressão que estava registrando um "mau" momento. Ao contrário, deu para perceber muito bem a tua leveza e teu bom humor, e entendo o que estás falando a respeito da tua nova liberdade de ser.

Estou começando a enxergar algumas coisas das reações viciadas que a gente adquire em anos de igreja sem aprender a desconfiar de tudo que nos leva a nos esconder atrás de máscaras espirituais. A liberdade de ser é uma coisa contagiante. Falei que estava "pensando em voz alta", com toda a liberdade de uma amiga, sem nenhuma crítica velada atrás de minhas palavras, para tentar analisar honestamente o desconforto que sinto, principalmente se eu penso na categoria de pessoas passíveis de se escandalizarem com essa liberdade. É verdade que não dá para ficar sempre se preocupando com o que as pessoas vão pensar, mas no fundo não consigo parar de me preocupar e acabo voltando à velha pergunta: é lícito sacudir os escandalizáveis escandalizando-os com nossa liberdade ou não adianta? Seja uma estratégia ou seja espontâneo. Não sei...

Enfim, acho que tu sempre estás algumas milhas na minha frente, na reflexão a respeito de nossa experiência cristã. Achava isso quando te conheci de longe, nos anos 80, esbanjando uma batistésima segurança nas doutrinas (ainda que como forma de procurar uma segurança) e agora, nesse teu processo de busca de odres novos. És uma amiga estimulante, tá vendo! "

26 de out. de 2007

Desconfio


Sempre olhei assim, meio de lado, para as pessoas que fazem questão de mostrar pra todo mundo o quão felizes elas são. São a pior vertente do Politicamente Correto.

Quem é sincero, mas sincero mesmo, não é politicamente correto - convenhamos. A vida de ninguém é um cartão postal e se parecer com um, desconfie.

Você já se sentiu logrado por fotografias de lugares paradisíacos que não eram tão paradisíacos assim? A areia não era tão fina, a água não era tão clara, a praia não era tão lotada, as moscas não eram tão persistentes... Pois é.

Os Manequins de Vitrine de Subúrbio - doravante chamados MVS - são uma propaganda viva de... de quê mesmo? Ah sim: às vezes de uma religião, de uma causa, filosofia, um movimento... Uma utopia qualquer - não importa. Eles só querem mostrar que a coisa funciona. Vivem para isso e para isso empenham - e emprenham - a alma.

Não se enganem: eles não ostentam essa suposta ventura com o objetivo de animar ninguém. Muito pelo contrário: querem mesmo é ficar pairando no céu como pipas coloridas, inacessíveis e cobiçadas pela molecada esfarrapada do bairro. Há uma maldade velada naqueles sorrisinhos.

Não louvo quem vive reclamando de tudo. Esses também são chatos. Mas me sinto muito bem ao lado de gente-como-a-gente, que não sente necessidade de provar para ninguém que está “no andar superior” da vida.

Geralmente as pessoas que admitem que estão com “a bola murcha” são as mais humanas e batalhadoras. São as que te entendem, que dividem o sanduíche, que explicam que “a vida é assim mesmo mas amanhã melhora” - e ainda te convidam para tomar uma cervejinha cada um pagando a sua. Elas presumem, corretamente, que os outros são como elas e que percalço não é vergonha. O lance é “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.”

Gente só é legal quando é gente. Porque gente que não é gente, enche o saco da gente.

Altos e baixos, dia e noite, som e silêncio... É assim mesmo. As pessoas que tem essa postura não encaram os problemas como castigo de Deus, maldição, pé frio ou “algum mal eu fiz no meu passado”. Dessa forma são as únicas aptas a te dar um abraço amigo quando tudo está um caos e a mulher dorme de calça jeans. Elas vêm, pagam um cafezinho e tudo o que dizem pode ser resumido em: “tem razão, as vezes a vida é uma merda. Mas não esquente que amanhã a coisa melhora. Meta a cara e vá levando porque você não é um rato.”

Ninguém precisa de super homens. Nem mesmo para resolver nossos problemas. Por mais que se esforcem os super homens só conseguem fazer com que nos sintamos como minhocas. Onde vão, arrastam consigo (entre parênteses) a seguinte legenda: “Cara, como você consegue ser tão azarado?”

Pior do que um MVS, só dois. Refiro-me aos casais de vitrine.

Você já conheceu um casal assim, que parece só se animar quando há platéia? Eu já. Deu vontade de colocar tachinhas na cadeira deles, “adoçar” o suco com sal, plantar uma barata morta em seus bolsos, pedrinhas na comida... Não fiz nada disso e ainda pedi perdão a Deus. Pode olhar minha ficha que nada consta!

Selinhos sem naturalidade, mãozinhas dadas em público, “depois a gente conversa sobre isso, meu amor”. Vai ver que nem transam.

Não consigo abandonar a idéia de que os MVS escondem uma tremenda amargura em suas almas plásticas. Acho que sofrem de uma carência de alegria crônica mas, doentiamente, recusam-se a admitir. Exibem-se nem tanto por vaidade, mas por necessidade desesperada de acreditar que estão dando certo - ainda que nem estejam dando. Certo?

Concordo que é doloroso demais constatar que o castelo virou farelo, mas poxa! A gente tem que encarar os fatos! Se não para melhorar, pelo menos para não ser mala.

Meu coração pertence aos com-defeito: pessoas que suam, que perdem a paciência, sentem dor de cotovelo, ciúme, não escondem o furo da meia e vez por outra ainda estouram o cartão de crédito. São a companhia ideal porque, apesar da vida, não deformam nem perdem as tiras.

Quanto a galera da vitrine... Sei não, acho que é tudo broxa.


Cristina Faraon






20 de out. de 2007

Tudo e Todos

Todo lugar é lindo quando se é livre
Todo lugar é assustador quando se tem medo

Toda lembrança dói quando se está infeliz
Tudo parece possível quando se é jovem

Todo amor é o último quando é o primeiro
Todo amor é o primeiro quando é sincero

Todo ser vivo é bonito quando olhado de perto
Toda pessoa é feia se olhada sem amor

Nada é verdade absoluta
Mas tudo o existe
Implora por ser decifrado.

Cristina Faraon

15 de out. de 2007

MEMÓRIAS - 01

Desde cedo os homens contavam com a minha incansável admiração. A figura masculina sempre mexeu muito comigo - no sentido mais inocente do termo.

Desde pequena eu já professava algumas idéias feministas. As pessoas sabiam disso e provocavam meus discursos: sim, homem e mulher tem direitos iguais e devem ser igualmente respeitados. Mas ao mesmo tempo que dizia isso com muita convicção, enxergava os homens como seres especiais; muito, mas muito mais fascinante do que as aguadas mulheres.

Caramba! Eu já era contraditória desde então!

Por mais que as mulheres fossem sempre simpáticas comigo (colegas, amigas da mamãe, tias...) e me tratassem com sorrisos, atenção, presentes e carinhos, tudo o que elas provocavam em mim era uma certa irritação. A minha vontade era dizer-lhes: "Não me toquem pelo amor de Deus!" Mas não dizia, cláro. Ficava só calada e muito séria, olhando meio “de banda”.
A verdade é que as mulheres nunca me despertaram nem um décimo da empolgação que um simples sorriso masculino provocava. Para mim as coisas mais lindas do mundo eram a voz e o sorriso masculino. E os músculos, sem dúvida. E tudo o mais.

Dos afagos femininos eu pensava: “coisa mais sem graça!” Já para os homens não: eu abria um enorme sorriso, me derretia toda, ficava por perto, torcia para que me dessem atenção e que me colocassem no colo. Ah, tão simpáticos os amigos do papai!

Em minhas análises eu olhava para meu pai, primos, irmãos, amigos da família, vizinhos... e depois os comparava com as mulheres. Concluía então que eles eram muito mais interessantes, fortes, desejáveis, bonitos e agradáveis do que as mulheres. Não precisavam de artifício algum, bastava que existissem.

Então imaginava como seria maravilhoso se uma voz grossa e aveludada um dia dissesse, bem no pé do meu ouvido, que eu era linda, que me amava e queria casar comigo - igual nos contos de fada. Ah... Eu suspirava!

Ter um homem com certeza seria a glória. Um dia eu haveria de ter um só pra mim! Não o dividiria com ninguém.

Detalhe: eu não contava ainda nem dez anos de idade. Não sabia absolutamente nada sobre sexo. A questão é: para que cargas d´água será eu queria um homem?

Acho que era só para ficar olhando, olhando, olhando...
Cristina Faraon

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