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7 de set. de 2024

ROSA

A musica ROSA é uma obra de arte tão perfeita quanto a rosa  mesmo.  Uma das cancões mais lindas que conheço. Talvez a mais bela porque quando a ouço não consigo me lembrar de nenhuma que pelo menos lhe faça par.
E como me  emociono!  Sempre.

"  ... Depois de remir meus desejos em nuvens de beijos hei de envolter-te até meu padecer, de todo fenescer!"

Existe forma mais delicada, pura e elegante de descrever o momento sublime de um gozo apaixonado?


https://open.spotify.com/track/55aD0VWIjv9iMDWzIxHTnl?si=3xSUUGzvThWxe1sN17MFWg




17 de fev. de 2022

Americano

Resolvi agora pegar no pé desses brasileiros que ficam corrigindo os gringos quando dizem "eu sou americano" ou eu moro "lá na América..."

Já notou como certas pessoas reagem? É como se o sujeito estivesse roubando-lhes alguma coisa muito importante. Um pedaço da sua honra, identidade ou algo assim.
"Noooossaaa! Ele não tem esse direito de se chamar de "americano"! Quem autorizou? Se ele é americano eu também sou, ora veja! Bora lá envergonhar esse gringo folgado!"

Parece que esse pessoal pensa que "AMERICANO" é algum tipo de título de nobreza. Só pode. Reagem com ciuminho como se o outro tivesse usando alguma coisa sua sem pedir autorização.
Pra começo de conversa ele É AMERICANO sim. AMERICANO DO NORTE. E você, brasileiro chato, é americano do sul. Se pra você isso é uma glória mande tatuar na sua testa "EU TAMBÉM SOU AMERICANO!" e seja feliz.

Se o nome do país é Estados Unidos da AMÉRICA então ele mora na AMÉRICA e é americano. Será que ele precisa dizer o tempo todo "e sou americano DO NORTE" pra não te magoar?
Chame-se a si mesmo de "americano do sul" em todas as oportunidades. Você tem esse direito. Aproveite e repare ao seu redor pra ver se alguém vai ficar encantado com esse "título tão glorioso".
É cada bobagem que a gente vê por aí!

28 de mar. de 2013

Sem presas


É só um comentário, raso e rápido: estou lendo Grande Sertão - Veredas, de Guimarães Rosa.  Muito difícil se acostumar com a linguagem. No começo parecia outro idioma, eu não entendia quase nada. Mas vale a pena insistir. Ah se vale! Acostumar a mente. Porque quando a gente acostuma a mente, aí entra na segunda fase: as frases caem direto nos nossos ouvidos e ao invés de ler, ouvimos toda a história. Livro não é exatamente para ser lido. As palavras tem que aprender a ir direto para o seu ouvido e fazer eco em seu cérebro. Efeito 3D.

Pois depois de muita determinação em encarar aquela esquisitice, eis que me vejo completamente sugada para dentro do livro, sequestrada pelas mesmas dúvidas que encasquetavam Riobaldo. Viagem!

Não cheguei à metade mas já vi que estou diante de uma obra prima, uma loucura de criação. Não sei como pode tudo aquilo ter sido criado dentro de uma só cabeça. Às vezes acho que os grandes livros são ditados aos escritores por fantasmas ajudantes. Porque os personagens existem, existem sim senhor! E mostram a cara. Sabemos como são, como sentem, sentimos seus suspenses.

Muito inquietante e triste novamente saber notícias de um Brasil que não existe mais, de jeito nenhum. De tudo aquilo só sobrou a pobreza, nada mais.

De vez em quando me pego morrendo de saudade do que jamais vivi. Não tenho saudade da "jagunçagem" ; tenho saudade de um sertão infinito e livre, selvagem e cheio de possibilidades de se morar onde quiser - ou só vagar pelo mundo. O Brasil encolheu, certamente.

Acho que o progresso abestalha a gente.

Nessa história os personagens viviam de si para si, tinham suas próprias leis, suas próprias regras de fidelidade. Eram donos da própria liberdade e não admitiam entregar fatia alguma ao Governo. Questão de honra.  Entre eles mesmos havia julgamento, execução, perdão, pagamento, compromisso. Iam e vinham como onças, pássaros ou calangos, em seu habitat indiscutível e sagrado - e ninguém se meta! Como se o mundo inteiro fosse aquilo e só aquilo interessasse.  Morte, barbárie...   Mas pelo menos podiam vingar o mal e não eram obrigados e levar desaforo para casa.

O que eu queria era ter certeza, mas certeza plena, de que evoluímos. Eu queria bater no peito e me orgulhar disso. Nesse ponto sou Riobalda. Essa dúvida me incomoda. Vejo que somos uma massa mole, sem brio, mas o sangue continua a correr nas cidades, só que é diferente. Não há nem arremedo de honra ou justiça. É só a senvergonhice que manda. Lá havia opressão, mas aos oprimidos era dada a escolha de reagir. Aqui, pra mim  piorou e muito. Cortaram nossas garras e nossos caninos.  Não se pode mais nada.  Muito inquietante.

Dá um negócio parecido com saudade.

6 de jan. de 2013

Da Servidão Moderna

Interessante ler "Da Servidão Moderna".  Não sei se do documentário (dirigido por Jean-François Brient[1]
Victor León Fuentes[1)  nasceu  livro ou se foi o contrário. Mas do conteúdo tenho algo a observar: :

O autor afirma que o poder "não é para ser conquistado, mas para ser destruído".  É o tipo de frase que num primeiro momento até puxa palmas mas depois, quando a gente reflete, a percepção muda.   Acho que o autor argumentou no sentido de derrubar ilusões mas para isso se amparou em outra ilusão. Algo parecido com quem troca o seis pelo meia dúzia.

Sempre achei interessante a incapacidade que certos pensadores têm de encarar com realismo a natureza humana tal qual ela é. Brigam com um "sistema", xingam, execram, propõe sua queda... tudo como se o "sistema" fosse um ser autônomo independente da sociedade. Nós somos legais, o sistema é que não presta.

Acho que Marx pisou no mesmo grude. Admito que não li Marx mas até onde sei ele analisou nossa sociedade atribuindo a vaidade, o egoísmo, a falta de compaixão e todos os demais pecados do inferno apenas  a uma determinada classe social. Seu segundo passo foi repensar o mundo sem a classe dominante e concluir que seria o paraíso da igualdade. Deixou pra lá o fato de que a "classe oprimida" é composta de pessoas cujas almas foram esburacadas pelos mesmos roedores que atingiram a "classe opressora".

Presumir que todos querem a igualdade e a fraternidade entre os homens chega a ser meigo de tão ingênuo. Acreditar que as pessoas vão dar tudo de si no trabalho apenas pelo bem do país, sem expectativa alguma de adquirir mais e mais riqueza e conforto foi o que colocou o regime comunista em maus lençóis na hora de produzir alimento. As pessoas produziam no máximo dentro da quota imposta pelo Governo e olha lá. Geralmente enrolavam para menos. Todo o explorado só quer igualdade enquanto é explorado. Quando consegue escapar dessa sina o que mais ele passa a querer é os privilégios de seus antigos senhores. Ele quer ficar rico, ainda que para isso seja necessário explorar os outros. As pessoas não querem igualdade; elas querem a chance de se destacar dos demais. Nenhuma proposta deveria ser feita, em termos de rearrumar a sociedade, se não levasse em conta as características humanas. Nossas ânsias egoísticas devem ser controladas, podadas, amenizadas. Mas nada fará com que desapareçam.

Sobre "Da Servidão Moderna" percebo que o autor fez a mesma coisa: criticou (com muita coerência) o sistema escravizador e alienante no qual vivemos. Depois lascou a tacada final: "O poder não é para ser conquistado, mas para ser destruído".  Aí pergunto: qual a utilidade de eu me conscientizar e sair de uma "Matrix" se for para entrar em outra?  Sim, porque ilusão por ilusão prefiro a que eu já conheço e sei lidar.

O autor se esqueceu de que na queda de um poder, outro rapidamente se levanta. Isso é tão certo quanto o dia seguir-se à noite. É da nossa natureza, estamos impregnados geneticamente desse troço. É como envelhecer: para parar o processo, só matando. O mais apto, o mais forte, o mais esperto ou o mais violento: sempre haverá um "efedepê" para tentar montar nos outros.

Quando eliminamos as classes econômicas do sistema capitalista acabamos criando outra elite cruel e escravizadora: a elite política. Não tem jeito, só explodindo o mundo.

Toda a historia da civilização se baseia não em eliminar o inevitável, mas em domar essa lei natural, humanizá-la, diminuir seu poder nefasto. Consiste em lixarmos as unhas da fera para que ela fira menos. Só isso. Toda proposta nesse sentido é séria porque leva em consideração a realidade de quem somos. O resto é sonho. E sonho por sonho, prefiro sonhar no cinema. É mais divertido.

27 de dez. de 2011

Nos braços de Nina


Gostei de ver o trabalho da fotógrafa Nina Bruno. Ela teve a iniciativa de fotografar vários locais em São Paulo completamente vazios, sem viva alma.  Deve ter sido complicado fazer isso. Valeu.

As fotos me encheram de impressões. A princípio fui tomada por uma sensação gostosa. Ao observá-las era como se alguém finalmente tivesse conseguido fazer São Paulo dormir depois de séculos de insônia. Algo como encontrar uma babá que conseguisse a façanha de ninar com sucesso uma criança que não quisesse dormir de jeito nenhum. Pois São Paulo caiu nos braços de Nina Bruno em sono profundo e reparador.   Quase dá para "ouvir o silêncio" e o ressonar da cidade pacificada.

Observando esse trabalho é possível também oscilar entre essa sensação e uma outra, que lhe é oposta: a agonia. Agonia da solidão absoluta, da ausência de vida. O peso do silêncio, que é ouvido com o peito, não com os ouvidos. E se todos sumissem? Se tudo acabasse? Onde estão os camelôs, as crianças, as senhoras enrugadas? Onde está o barulho que eu odiava?  As fotos têm um quê de fim de mundo que acaba impressionando.

Gostei.



20 de dez. de 2008

Capitães da Areia - Jorge Amado



A respeito do livro Capitães da Areia escreveu Milton Hatoum que “A meu ver, este romance de Jorge Amado antecipou de um modo lúcido e incisivo a vida das crianças que esmolam nas ruas das cidades brasileiras. E essa é uma das mensagens mais poderosas de Capitães da Areia. Hoje a violência urbana tem uma relação estreita com o tráfico de drogas, enquanto os meninos desta obra de ficção furtam para sobreviver. Mas , até certo ponto, as raízes do problema são as mesmas...”

Certo. Na minha opinião esta obra bem pode ser traduzida em uma única frase: “EU NÃO DISSE?”

É um livro profético; o que era terror naquela época hoje é visto como fichinha. Ele previu e acertou e esse é o grande mérito do livro e só por essa via pode ser chamado de “atual”. Mas cá pra nós, acho que ele acertou sem querer.

Também disse Milton Hatoum (no posfácio) que esta obra fora censurada e queimada em 1937 em Salvador. Deve ser pelo tanto que Jorge Amado chama violência, roubo e toda a sorte de crime de “atos de heroísmo”. Leia o livro e você verá que não estou exagerando.

Todos os crimes são tratados como atos heróicos, uma coisa a ser admirada e louvada. Dora, a garota de 13 anos que ingressou no grupo e fez questão de assaltar e fazer o diabo igual aos meninos foi quase que canonizada, “virou estrela no firmamento”! Volta Seca ingressou no grupo de Lampião, matou trocentos e ganhou na história uma moral tão grande que nem Tiradentes lhe faria sombra.

Prefiro Cidade de Deus, que mostra as coisas como são, cada um é o que é e ninguém aparece como santo. É mais real admitir que ninguém sabe onde estão as respostas.

Mas Jorge Amado não quis profetizar, quis escrever um romance. Quis inovar para a época e talvez isso significasse surpreender o leitor fazendo-o sentir ternura por quem seria impensável sentir ternura. Para isso percorreu o caminho da aflição: por um lado tinha a tarefa de nos convencer de que os meninos eram muito, mas muito malvados (se não o fizesse, a história perderia a base). Por outro lado, se a gente pegasse muita raiva dos moleques o autor perderia também o fio da sua grande idéia (que era justamente nos levar a gostar deles). E o que ele fez? Oscilou o tempo todo.

Os crimes mais violentos foram descritos geralmente através de figurantes (não na crueza do presente); as vezes eram contados seguindo-se de grande admiração pelo ato de “heroísmo”. Ou então os meninos apenas estavam reagindo a uma violência gratuita contra eles. Em suma: sempre havia uma justificativa.

Não existe possibilidade alguma de olharmos os delinqüentes de hoje e reconhecermos neles um Professor, um Gato, Sem Pernas ou Dora. Sinceramente. A gente tem que ler o livro e imaginar que a história se passou em outro planeta.

Se Jorge Amado queria nos mostrar que nem sempre os bandidos são tão maus quanto a mídia quer nos fazer crer, acho que o enfoque poderia ser outro (lembra do Lúcio Flávio?). A história poderia pender para outro lado; Amado poderia mostrar que suas contravenções foram aumentadas por puro preconceito e interesses escusos de uma imprensa tendenciosa e manipuladora etc etc etc . Tudo bem mas ele não foi por aí. Preferiu repetir mil vezes que os Capitães da Areia eram o Satanás, o cão-chupando-manga, temidos, renomados, um terror e tal e tal e ao mesmo tempo uns bebês fofinhos. Demorava-se em descrever crianças unidas por fortes laços de amizade e lealdade dormindo juntas, irmanadas sob estrelas num cenário inebriante, comovedor, ninadas pelas ondas do mar, ora na chuva, ora no sol... E de repente, como que para não nos deixar esquecer de que estamos tratando de delinqüentes terríveis, menciona algum crime dos Capitães da Areia assim, só para refrescar a memória.

O chato disso tudo é que ele fala não como um narrador mas como um admirador o tempo todo. Os espertos, valentes e destemidos Capitães da Areia. Os "batutas". Aí entram mais uns criminhos de nada, e tal... e eles voltam para o cais e entra de novo a música triste, a amizade, lealdade e bondade celestial que existe entre eles. “Eles não conhecem o pecado.”

Só mais essa, para eu passar para a outra parte da minha opinião: Pedro Bala, chefe da gangue, certa vez "estupra" uma garota. Tudo bem, até aí nada de mais, ele foi até legal porque deixou a garota virgem; doeu, machucou mas, a pedidos, foi por trás. Gente fina, né? Em outra ocasião ele tem nova oportunidade com outra garota mas segura seus instinto (e o de seus companheiros) porque esta nova vítima “não passava de uma menina” e garante a ela que ninguém ali lhe faria mal algum.

Ora, todos ali eram meninos! E as meninas (a estuprada e a poupada) eram quase da mesma idade. Tudo bem, a preservada era loira e a outra uma “negrinha”. Tá explicado.

MAS...

Sim, o livro tem seus grandes momentos. Tirante tudo o que foi acima exposto, tocou-me profundamente o drama psicológico dos personagens. Nisso Jorge Amado foi magnífico. O sofrimento sincero, a confusão dolorida do pobre padre José Pedro, a culpa lancinante e a vontade louca que Pirulito acalentava de ver a luz, servir a Deus, fazer o bem... o desespero lancinante de Sem Pernas ao se ver na iminência de abandonar aquilo que mais desejou na sua vida. Ele estava tão feliz que era de cortar o coração. A felicidade dele doía na gente. Seu desespero e desmoronamento foram as cenas mais fortes para mim.

Estes foram alguns dos momentos verdadeiros e muito bem escritos da história. Foram dramas reais, próprios de gente de carne e osso. Agora sim pude me sentir um deles, pude entendê-los e reconhecer a cara de um por um e acreditar que existiam. Porque não há nessa vida quem não se embaralhe na floresta da verdade, quem não sofra entre duas decisões “acertadas e conflitantes” e nem enlouqueça de dor sozinho no mundo. Nisso Jorge Amado arrasou. Cada personagem sozinho, como sozinhos somos todos nós, teve que debater-se em suas questões, ter seu peito dilacerado e por fim corajosamente seguiram em frente.

Os que tiveram chance seguiram em frente. Esse sim foi o verdadeiro ato heróico dos personagens e a lição preciosa do livro.

Cristina Faraon

REALIDADES BRASILEIRAS