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27 de abr. de 2007

Eu e a cidade


Gostou? Você já esteve em um apartamento lá em cima, no alto de tudo e já olhou a cidade envelhecida e poeirenta tentando encostar no céu e não conseguindo? Essa é uma das imagens mais tristes que conheço. Já esteve só em um final de tarde de sexta feira quando todos os mortais desligaram você de suas vidas? Já olhou para baixo e imaginou o quanto de dor e amor e dívidas e gozos, mentiras, traições, analgésicos e esperanças são representadas por cada luzinha amarela?
Notou que nenhuma luz é suficientemente clara?
Já percebeu que alguém ali no mundo adoraria te conhecer mas você simplesmente não consegue encontrar essa pessoa? Ela está sentada, cansada e os pés doem. Em seu colo, uma pasta surrada cheia de papéis e canetas. Blusa amassada. Rosto bonito. Não há sorriso. Milhões de carros com os corações apertados. Milhões de motoristas com pouco combustível. Final de dia; distrações caras e frustrantes para uma população desolada.
Final de dia, o coração explodindo de amor e você na janela. Uma muralha invisível separa você do resto do mundo. Você é como um espírito pairando absolutamente invisível.
Tenho certeza de que essa foto foi tirada em um final de sexta feira. Tenho certeza de que o dia foi quente, que a pessoa que disse que ia ligar não ligou, que o pessoal desistiu do happy hour, que o fotógrafo chegou em seu prédio primeiro que todo mundo e ninguém lhe disse “oi” no elevador. Um peso estranho amassava seu peito - isso é visível na foto.
Ele fuma.
Não toca violão. Com certeza é sexta feira e ele ainda nem tomou banho, ainda nem sabe se vai ao cinema ou se é melhor tomar comprimidos pra dormir. Não sabe se o cheque caiu, se o marido da faxineira continuará bebendo mas certamente acabaram-se os ingressos para o show. Ele não ia mesmo! Está muito cansado.
Tem sopa na geladeira. O céu ainda não está negro mas ficará e não há nada que possa ser feito quanto a isto.
Quem dera que chovesse! Mas não chove. Final de tarde e ele se lembra do tanto que riu no expediente, do tanto que o dia parecia ser promissor e do nada que isso significa agora. Todos os outdoors em seu percurso contam mentiras descaradas e riem quando ele vira as costas. Ele os ouve mas não olha pra trás.
Também odeio outdoors. São todos muito falsos.

17 de abr. de 2007

Outono

O que essa imagem sugere?


Parece outono.
Parece triste.
Parece lágrima.
Ou representa alguém que se perdeu, secou e não se importa mais com nada.

Outono significa velhice? Ou tempo de mudança sentida e dolorosa?
Outono é um sorriso discreto a nos prometer inverno a médio e primavera a longo prazo?

O que significa pra você uma folha seca sonhando na poça? O que te faz lembrar esse boiar a esmo? Lembra frio? Lembra fim? Lembra adeus?


Poderia ser uma metáfora de quando morremos? Já secos caimos da árvore no rio, rio que nos leva à outra existência... E nesse desfalecimento não há medo nem curiosidade, só um ir consentido. Rendição.


As folhas da vida caem sempre, todos os dias, sem estrondo e aos milhares. Não contabilizamos. Sonhos idos, planos órfãos, despedidas...

15 de abr. de 2007

A pergunta que não quer calar



Uma amiga - que não posso dizer o nome - comprou dia desses essa bolsa. Ela vive me perguntando se é bolsa de adolescente, se fica ridículo uma mãe de filhos usar, etc. Claro que nada respondo; não quero ser indelicada nem quero ferir seus sentimentos. Mas convenhamos: você usaria uma bolsa dessas? Que conselho você daria para essa amiga, no caso de ela ter mais de 35 anos? Procurar terapia urgente? Ou melhor: até que idade uma mulher pode usar uma bolsa com essa aparência e ainda assim e continuar sendo considerada uma pessoa normal? Outra pergunta: você contrataria uma nova funcionária se ela fosse para a entrevista de emprego usando um treco desse?

NÃO INSISTAM QUE NÃO VOU DIZER O NOME DA AMIGA.

11 de abr. de 2007

CONJECTURAS



Meu irmão como era estranho
Como era estranho você
Entre tubos marcianos
Sentindo que ia morrer
Que jeito estranho de olhar
Teus olhos com grossa escama
Que jeito amargo de ver
Esvair-te numa cama.

Ai meu Deus como eram tristes
Os lençóis amarfanhados
Tu tentavas me falar
Com gestos angustiados
Do que eu disse, o que ouvistes
Em teus dias desbotados?
O que ouviste de mim
Naquele momento pungente?
Achavas mesmo que ias
Ou dormiste inocente?
Será que o além te assustou
Ou foi um convite ameno?
Um consolo ou um temor
Pairou em teu rosto moreno?

Getsêmani a sós
Sofríamos acabrunhados
Tu e eu e todos nós
Igualmente lancetados...

Tu temeste? Qual a dor
De teu triste coração?
Quais soluços relutantes?
Tua mente ouviu canção?
Pediste a Deus mais um tempo
Ou deixaste o tempo ir
Levando tua vida aos poucos
Sem lutar ou insistir?

Como era estranho assim
Como era estranho você.
Parecias ser tão forte
Tão difícil de morrer!

Foi-te duro e rude o solo
Pra onde foste sereno
Ou tiveste da Mãe-Terra
Carinho meigo no colo,
E te sentiste um pequeno?
Brando leito já te encerra?
Festa celeste desfrutas?
Ou tu querias poder
Levar avante permutas?

Qual pedido acanhado
Me farias se pudesses?
Em que fui cruel, insana
Ou causei cruéis reveses?
Onde estava a tua alma
Quando calmo, sem mexer?
Onde estava a tua calma
Se nada podias fazer?

Tiveste angústia insana
Ou conformação sentida?
Talvez pesaste os momentos
Cruciais de tua vida.
Jamais saberei como foram
Realmente aqueles dias
Não pudeste nem contar
As contas das mil agonias

Quem dá a vida também mata...
Foi-se do mundo pra terra
Por aqui ele não volta
Entre nós nunca mais erra

No grande relógio divino
A contagem é exata
E a discussão se encerra
Se uma vida Ele arrebata.

Quem sabe na dor conseguiste
Fantasias de venturas
Pastoreando a mente
Fugiste de louca amargura;

Sorriste por breve instante
No fim, no momento fatal
Hoje, em terras verdejantes
Me esperas com o Pai, já sem mal.
Cristina Faraon



POR FIM...

Os versos que dou e que tomo,
Os versos que faço e desfaço
É o que de mais leve somo
Às coisas palpáveis, de aço.
Em versos me faço e desfaço
E brinco no espelho da vida
Penetro no denso espaço
Entrego-me à dor consentida.
Em versos, com força tamanha
Me procuro ou me escapo
Em versos de flores enfeito
Da lembrança o velho trapo.

Eu te amei, é bem verdade
Mas não disse com clareza
Quero crer que tu sabias
E disso tinhas certeza.
Mas tenho pergunta doída
(Já não podes responder...)
Por que não te disse em vida
O que acabo de dizer?

Cristina Faraon

10 de abr. de 2007


Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Gregório de Matos
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Um dia estou triste e em outro, sol nascente!
Um dia resoluta e em outro, reticente.
Um vento... quero tudo para depois desistir
Nem mesmo na oração sei bem o que pedir.
As vezes quero nada, só branca solidão
Já em outros a alegria vem da tola multidão.
A vida vai e vem em nuvens transmudadas
Só fica o sonho velho e as coisas não faladas.

(Cristina Faraon)

9 de abr. de 2007

Toda Órfã



Minha mãe, venho de longe. Minha mãe, venho cansada
Minha mãe, sente e ouça minha vida complicada.
De novo não sei o que quero, de novo quero fugir
De novo insisto em te ver sabendo que não estás aqui.

Tão bonito esse jardim onde teus ossos habitam
Campo de paz, campo santo... Chorei tanto! Chorei tanto!
Queria chorar em teu colo, queria poder sofrer
Longe de olhares curiosos que me perguntam “por quê”.

Cabelos de nuvens de prata – sei que vou ficar assim
Mas voz de suave acalanto? Não tenho voz de jardim
Doces olhos... como os queria olhando de novo pra mim!

Minha mãe das pernas longas e mãos de terna doceira
Minha mãe que já se foi, eu chorei a noite inteira
Essa dor de ter ficado sem haver mãe que me queira.


(Cristina Faraon)

8 de abr. de 2007

Momento de sinceridade

Cheguei ainda agora de Salinas mas no momento não vou falar só de Salinópolis. Vamos colocar no geral, certo?
Pergunto: qual o melhor momento de um dia na praia? O que nos faz sair do aconchego dos nossos lares para nos dirigirmos a um balneário qualquer, gastarmos tempo, dinheiro e voltarmos pra casa cansados e ardidos? Por que fazemos isso conosco mesmos?

Pra passear? Pra ficarmos bronzeados? Pra sermos descobertos por algum caça-talentos? Pra comer tapioquinha? Pra encontrar os amigos? Pra nadar? Sei não...

Pra mim - descobri esses dias - o melhor de ir para a praia é voltar de lá. Gente, é ótimo!
Pense: você toda melada de protetor solar e areia, tipo um bife à milanesa. A mesa da barraquinha cheia de cabeças de camarão, copos grudentos, óculos dedados, moscas, roupas úmidas, areia, pacote aberto de biscoito chocho. Seu cabelo está um grude, sua cara está um pão doce de tão brilhosa, sua barriga já tufou faz tempo. Suas costas estão vermelhas e sua bunda continua amarela. E você já cumpriu com seu dever cívico de dar pelo menos um mergulho. Pronto. O que mais você quer na vida? O que?
Eu digo o quê: chegar em casa (ou no apartamento, ou na tapera, ou no hotel) tomar um super banho com um sabonete sem areia, perfumar-se, colocar uma roupa cheirosinha e pronto. Noooosa! É quase um orgasmo.
Sol? Praia? Nem pensar!

MOMENTO DE SINCERIDADE: Lembre do momento em que você chegou NA praia. Legal, né? O dia ensolarado, céu azul, vento... Agora lembre do momento em que, uma vez tendo retornado DA praia, você tomou seu ultra-banho e saiu reluzente do banheiro. Diga a verdade: em qual dos dois episódios você sentiu mais prazer?

5 de abr. de 2007

Feriadão


Estou indo para Salinas - aquela praia maravilhosa com mais gente do que areia. Aquele lugar incrível onde todos os caboclos do mundo tem a chance de mostrar o sonzão de seu carro em volume ilimitado. Viva a liberdade e o mal gosto! Checar os novos sucessos musicais - todos ao mesmo tempo - e desejar a morte (de quem os compôs).

Estou indo para a bela praia de Salinas - bela e plana. Você caminha 100 km mar adentro e não consegue molhar os ombros, a não ser que se jogue de peito na água.

Ah, comer aquelas caríssimas pratiqueiras fritas em óleo novinho! Contemplar o rebolado sensual das nativas com 10 quilos acima do peso... Observar, sob o sol causticante, que tenho muito mais celulites do que imaginava e que esqueci sim, em casa, algum objeto imprescindível.
Ser atropelada por uma linda moto por um lindo filhinho-de-papai se exibindo para uma linda patricinha vinte anos mais nova e vinte quilos mais magra do que eu...

Ficar menstruada no meio da tarde... Dirigir-me, aflita, à farmácia e só conseguir chegar 2 horas depois, por causa do engarrafamento.
Chegar em casa pra tomar banho, ligar a torneira e perceber que toda a cidade teve a mesma idéia naquele exato momento.

Ah... bater papo com os amigos...
Finalmente uma coisa boa!

Os versos que te dou








Ouve estes versos que te dou,
Eu os fiz hoje que sinto o coração contente
Enquanto teu amor for meu somente,
Eu farei versos...e serei feliz...

E hei de faze-los pela vida afora,
Versos de sonho e de amor, e hei depois
Relembrar o passado de nós dois...
Esse passado que começa agora...

Estes versos repletos de ternura são
Versos meus, mas que são teus, também...
Sozinha, hás de escuta-los sem ninguém que
Possa perturbar vossa ventura...

Quando o tempo branquear os teus cabelos
Hás de um dia mais tarde, revive-los
Nas lembranças que a vida não desfez...
E ao lê-los...com saudade em tua dor...
Hás de rever, chorando, o nosso amor,
Hás de lembrar, também, de quem os fez...

Se nesse tempo eu já tiver partido e
Outros versos quiseres, teu pedido deixa
Ao lado da cruz para onde eu vou...

Quando lá novamente, então tu fores,
Pode colher do chão todas as flores,
Pois São os versos de amor que ainda te dou.

(Poema de JG de Araújo Jorgedo livro "Meu Céu Interior" – 1934)

3 de abr. de 2007

Maldição pink


Odeio cor-de-rosa. Juro! E tenho um monte de roupas e acessórios dessa cor. Qual a explicação? Como tudo começou? Como me atolei nesse universo fresco?


Se bem me lembro tudo começou quando, ha anos, ganhei do Nelson um conjunto de bolsa e sapatos pinks. Eram de ótima qualidade e bem bonitos. Usei o conjunto por um tempo. O sapato, por fim, quebrou o salto. Me desfiz dele. Mas a bolsa delicada, de noite, guardei.
Anos depois vi em uma loja um sapato que combinava direitinho com ela. Resolvi comprar para não desperdiçar a bolsa - tudo muito lógico. Depois comprei um cinto. Em seguida me toquei de que não tinha no meu armário praticamente nada dessa cor para combinar com as outras tralhas de Barbie. Aí comprei uma calça. Obviamente poucas blusas combinam com calça cor-de-rosa, então fui às compras pra resolver esse problema ...


Hoje, exatamente hoje, comprei uma sandália baixa linda, só que pink! Combina com aquela bolsa antiga, mas a bolsa é para a noite. Então comprei uma bolsa esporte para poder usar com a sandalinha.
Entende? Nem eu.


Parece uma maldição! Hoje tenho três calçados cor-de-rosa, batons, cinto, duas bolsas, calça, várias blusas... Céus, ISSO TEM QUE PARAR! Preciso de ajuda!


Por favor, não me presenteiem com nada dessa cor. Apesar de hoje eu estar até com esmalte cor-de-rosa, juro que não gosto! VOCÊ TEM QUE ACREDITAR EM MIM!

2 de abr. de 2007

Curiosidade:

Sabe o que é isso? Não, não é a companhia aérea repondo o lanche "gratuito" nas aeronaves. Queridos e queridas, esse troço aí é um disco rígido de 5MB de 1956... Em Setembro de 1956 a IBM lançou o 305 RAMAC, o primeiro Computador com Hard Disk (HDD) O HDD pesava perto de 1 Tonelada e tinha a capacidade de 5Mb. Faz-nos apreciar melhor o nosso PEN Drive de 2 GB, não? Há cinquenta anos...

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