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28 de dez. de 2014

Polos


É a dor e o prazer. Tudo se resume a isso.

A dor e o prazer são os que forjam nossa humanidade. Só conhecemos a vida assim, não de outra forma. Como cicerones, são eles que nos mostram o caminho e a paisagem, e tudo  ganha forma e som.

Estou ouvindo uma música lindíssima: Serenata para sopros, de Mozart. 

Agora me ocorre que talvez seja esse o motivo de nossa atração fatal pela angústia da música. O punhal límpido e fino da música.   Porque é a dor, como eu disse, que nos acorda, que nos tira da existência rala dos irracionais. Somos transportados para o mundo das intensidades, das cores fortes. Sentimo-nos vivos.

O prazer e a alegria também tem esse poder.  São igualmente aflitivos. Felicidade demais até dói. 

Todos amamos a alegria mas poucos confessamos a lascívia profunda que nutrimos pela dor. A dor é a amante, é o inconfessável. É a relação que não conseguimos explicar nem mesmo ao melhor amigo. É aquilo que usufruímos em segredo e desistimos de analisar.

Aparentemente sem necessidade alguma nossos pés resvalam para o caminho condenado, do sofrimento e da dor. Escolhemos. Fingimos que não sabemos mas sabemos muito bem onde aquilo vai dar. Mas alguma coisa lá dentro diz que precisamos daquela sensação, daquele amargo e que sem ele não estamos completos.Por mais que essas coisas nos aflijam, nossa existência segue plana,  em branco e preto, em duas dimensões apenas, se não tivermos isso.

Precisamos de vendavais que nos acordem. Precisamos do gosto amargo da saudade. Precisa de satisfações sôfregas, completas e raras.  Queremos profundidade.

Talvez por isso nos metamos em situações inexplicáveis, cometemos erros absurdos que não sabemos ao certo se quisemos mesmo evitar. Há algo que nos empurra para pequenos ou grandes abismos. Sabemos que sairemos dali mais fortes. Há uma intuição dentro de nós dizendo que existe algum sentido nos perigos que tanto tememos e tanto queremos. Os abismos, talvez, cumpram um papel fundamental no universo. 

Tudo porque precisamos sofrer. Precisamos gozar. Precisamos. Ou não nos sentimos vivos.

24 de dez. de 2014

Uma resposta aos "iluminados" de plantão *


Não pude deixar de me irritar com mais um "iluminado" postando besteira na internet. Vejam a bobagem  postagem  e em seguida a minha resposta.

"Natal de 25 de dezembro é estrume religioso - Esta é a data mais hipócrita que o diabo já criou, e milhares de milhares de seus adeptos, que se intitulam de cristãos(evangélicos, católicos, espiritas, blá, blá, blá) adoram desejá-la aos seus pares, e vez por outra, recebo esta medíocre felicitação;  Não é necessário que eu discorra aqui mais nada sobre esta infeliz comemoração, afinal, neste site, muito s são os estudos e comentários feito a respeito;  Apenas, mais uma vez tenho que ter o desprazer de contemplar os religiosos (evangélicos, católicos, espiritas, blá, blá, blá) fazendo esta festa e enganando a outros, e nada fazem que, desacreditar ainda mais aos incrédulos sobre CRISTO e Sua missão na Terra." 
(http://jesusmaioramor.blogspot.com.br/2014/12/natal-de-25-de-dezembro-e-estrume.html)




Minha resposta, postada tanto na rede social quanto no blog:

Não há hipocrisia no coração do verdadeiro cristão. Se para você o Natal não passa de comércio, MEUS PÊSAMES.   Se para "os outros" o Natal não significa nada, certamente significa muito para mim e para uma multidão que crê e ama Jesus.

NÃO VOU MEDIR A IMPORTÂNCIA DESSA DATA PELO CORAÇÃO DOS HIPÓCRITAS. Minha turma é outra.  Não me interessa se nesse dia comemoram o dia de Apolo, de Buda, do raio que o parta. Eu não tenho nada a ver com isso.  Em cada dia no ano aconteceram coisas lindas e coisas horríveis. Não vou deixar de comemorar o aniversário de um filho porque no dia 08 de janeiro de 1815 alguém matou alguém. Pelo amor de Deus, que besteirol!

Ninguém contesta festa de aniversário de mãe, de filha nem nenhuma outra data comemorativa mas agora é essa campanha tola e hipócrita contra o Natal.

OS ANJOS FORAM OS PRIMEIROS A COMEMORAR O NASCIMENTO DE JESUS. Se a comemoração é tão idiota, então aquela multidão de anjos estava profundamente equivocada e só você está certo.  Os magos do oriente também pagaram mico. Deveriam ter ficado na terra deles ao invés de visitar Jesus e levar presentes em clima de festa.  Só quem está certa é a sua turminha de iluminados.

Convencionou-se comemorar o nascimento do Messias 25 de dezembro. Claro que ele não nasceu nesse dia mas e daí????    Hipócrita é querer detonar uma festa bonita em nome de ... em nome de quê mesmo? Em nome de NADA.  Você jura que está prestando um serviço a Deus avacalhando com a data que os filhos de Deus resolveram voluntariamente se alegrar e celebrar o amor? Será que Deus está achando lindo????? Ou tinha que existir um versículo na Bíblia ordenando explicitamente que o Natal fosse comemorado?  Ô legalismo!


Meus pêsames para quem não dá valor aos risos, abraços e boas lembranças que o Natal evoca. Meus pêsames para quem só tem olhos para ver o consumismo e a banda podre do mundo.


E FELIZ NATAL para aqueles que, mesmo em meio ao caos, 
conseguem enxergar a LUZ.





16 de dez. de 2014

Boa noite

E chega, que já vou dormir. Tenho um encontro marcado com meu inconsciente. Ficamos de nos encontrar no centro da praça que fica no centro da minha cidade. Temos muito o que dizer um ao outro.

Vou-me embora para dentro de mim mesma. Lá espero encontrar, quem sabe, as pessoas que já se foram, que ainda são mas não aqui, só lá. Porque lá tudo é possível, até encontrar a mim mesma.

Vou-me embora porque tenho compromissos.  Marquei com os meus eus de assistir um filme no único cinema da cidade. Todas as noites fazemos isso mas sempre esqueço quando acordo. Não importa. Importante é o que aconteceu, não o que eu lembro que aconteceu. E na floresta tudo o que eu preciso, acontece.

Nem sempre é agradável caminhar por minha cidade noturna. Às tenho medo, mas passa. Às vezes ouço sons esquisitos, mas eles não me ameaçam. Já me acostumei.

É seguro. Sempre volto sã e salva. Nada de ruim que acontece por la é irremediável. Coisas boas também acontecem mas essa é justamente a parte ruim. Porque assim como o mal não permanece, o bem também não fica comigo. 

Viver é correr riscos. Dormir também. Vou-me embora pra aquele lugar onde o tempo não passa.

Que a noite nos cubra de carinhos e tenha paciência com nossos sobressaltos.  E que um pássaro qualquer nos acorde em caso de maus sonhos. E que o dia se atrase caso tudo corra bem. 

Vou-me. Preciso desse ritual. Quero cruzar o portal por algumas horas. Tudo parece tão trágico! Mas não é. Por alguns momentos serei tudo e retornarei mais conformada.

8 de dez. de 2014

Texto


Amanhã te escreverei um lindo verso.
Amanhã vou cantar a canção mais linda do mundo para te enternecer. Teus olhos vão lagrimar, as palavras vão sumir e o vento vai nos cercar tímido...

Amanhã juro te fazer bem, nem que para isso eu precise escalar o monte mais alto, colher a flor mais rara, casar o fogo com a água. Ainda que eu precise plantar um jardim no fundo do mar e depois domar suas ondas.

Amanhã vou te fazer um castelo. Não importa o quanto custe, terás teu castelo.

Amanhã te sentiras tão amado, mas tão amado, que terás receio de falar desta ventura para os outros. Temerás que o encanto se acabe e serás feliz atrás da porta, como criança comendo chocolate às escondidas. Assim, às escondidas, enganaremos todas as bruxas malvadas.

Tuas blusas serão brancas e perfumadas. Quando abrires a gaveta haverá pétalas de flores e isso te parecerá lindo! Então teu rosto brilhará como o de um menino travesso, como o dos heróis infantis. Mas não contaremos isso a ninguém.

Espere mais um pouqinho, amor. Vou também fazer um bolo igual àqueles de casamento. Vou vestir meu vestido branco para tocar cítara. Se as traças já o tiverem roído farei outro mais lindo ainda. Você ficará muito orgulhoso de mim e isso me deixará tímida. Baixarei a cabeça e esperarei que tu a ergas novamente com a mão em meu queixo.

Mas não se vá antes disso. Nada faças! E proiba-se de sofrer.
Acredite em mim e em cada uma dessas palavras porque tudo se cumprirá, tão certo como a coisa mais inevitável que se possa imaginar. Terei para ti meu beijo mais doce, meu carinho mais manso e até mesmo uma lágrima sentida pelo tempo que perdemos.

Hoje não. Hoje meus pés doem - olha o céu cinzento! Mas amanhã...

Quando eu estiver curada te levarei café na cama com frutas, pão fresco e pequenas margaridas ao lado dos talheres. Vou te ver sorrir! E ouvir todas as tuas histórias de garoto, desde o tempo em te apaixonaste pela menina loirinha e triste. Nada mais machucará teu coração. Seremos canto e contracanto da mesmíssima canção.

6 de dez. de 2014

Hospital

Entre a vida e a morte tudo adquire um novo significado. É como sacudir uma caixa cheia de cacarecos e perceber que depois disso tudo se realinhou e se arranjou. As crises da vida são assim: bagunçam o que parecia arrumado e arruma o que estava bagunçado.

Não tenho nada de criativo para dizer a respeito mas mesmo assim digo porque não canso de observar, cheia de interesse, a vida e suas repetições , que geralmente nos chegam de roupa nova.

Hospital é um lugar de esperança e desesperança. Junto com despedidas e desistências acabamos sem querer entrando em contato com o lado bom dos humanos e isso nos traz certo consolo. Uma senhora idosa, com o marido entre a vida e a .morte, se levanta de seu lugar para consolar a moça que não conhece e nao pára de chorar. Oferece água com açúcar e diz que Nossa Senhora vai socorre-la. Nem eu nem a moca somos católicas mas o gesto foi tao doces e sincero que me tocou o coração. Uma doce cristã.

Médicos cansados, enfermeiras gentis, serventes trabalhando para o nosso conforto... No hospital, incrivelmente, é possível darmos de encontro com o que ainda existe de bom nesse mundo.

A vida não é mesmo cheia de contradições?
posted from Bloggeroid

2 de dez. de 2014

Meu querido blusão de couro


"Há tempo, muito tempo que eu estou longe de casa
E nessas ilhas cheias de distâncias
Meu blusão de couro se estragou..."

Amo essa música.  Ela fala de uma coisa muito dolorida: a desistência. Fala do cansaço que se segue à juventude, da dolorosa admissão de que já deu, que não vai melhorar, e é necessário voltar.

É necessário voltar quando...

Quando "aquele amigo que embarcou comigo cheio de esperança e fé  já se mandou";

É necessário voltar quando "o cara que transava a noite no Danúbio Azul"   chega um dia comentando, pensativo, que "faz sol na América do Sul e nossas irmãs nos esperam no coração do Brasil."

É necessário admitir que "valeu, mas acabou"  quando até você comenta com a companheira que "quem sabe lá no trópico a vida esteja a mil...".  Você diz isso na beira do caminho, ao lado dela, num dia em que percebe que não tem mais graça nenhuma viver pedindo carona e  tudo o que você mais queria na vida era o seu conforto simples: sua rede branca, seu cachorro e aqueles velhos amigos.

Chega uma hora em que é forçoso constatar que "quando eu desapareci ela arranjou outro amante. Minha normalista linda..."   e a saudade dói porque a gente não tem muita certeza de que valeu a pena.

A doce idade dos sonhos, da irresponsabilidade, da coragem, a idade de rir de si mesmo, desdenhar das perdas com muita de começar de novo - esse tempo acabou.

Sim, são muitas as evidências de que acabou, mas nada é mais veemente do que o fim do blusão de couro.

O blusão de couro é o símbolo da juventude pronta para o que der e vier. É sensualidade, independência, rebeldia e pé na estrada. O blusão que aguenta verões e invernos, companheiro de motos, poeira e caminhadas e que compunha tão bem o visual forte de quem se impõe ao mundo.  Até o blusão de couro "jogou a toalha".  Depois de tantas estradas, tantos sóis nascentes e poentes...

Um blusão de couro é uma espécie de cachorro, só que a gente veste. É a peça chave de quem não precisa de muitas coisa porque está na idade em que se basta, o corpo é lindo e o cabelo não cai.  Uma peça é mais que suficiente. Sempre haverá oportunidade de adquirir outro blusão de couro, lindo e caro, quando as coisas melhorarem - você pensou.   Mas não deu.

Se seu único blusão de couro se acabou e você ainda não está em condições de comprar outro, talvez seja a hora de voltar pra casa.

"... e vou viver as coisas novas
Que também são boas
O amor, o humor nas praças cheias de pessoas
Agora eu quero tudo, tudo outra vez!"





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