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31 de dez. de 2007

Lero-lero pra 2008

É ou não é uma ironia? A cada ano novo todos nos tornamos mais velhos.

Então comemoramos o quê nessas "viradas de ano" (credo!)?
Acho que comemoramos a deliciosa fantasia da "página em branco", limpinha, para começarmos tudo de novo. Nova chance, Deus zerando o nosso counter... O passado morreu e ninguem se lembra mais "daquilo".

Quem dera, né? Mas vá lá. Sem fantasia o que sobra da vida? Sobra mesmo muita coisa, mas não é o recheio, com certeza.

Sem fantasia sobra o alface, a beterraba, o peito de frango grelhado e umas bolotas de soja. Tudo com pouco sal. Faz um beeeeem!

Em 2008, criemos todos juízo. E se isso nos tornar menos interessantes, repensemos a mudança. Se der, jogue fora a fantasia e se torne um esbelto emocional. Seja um exemplo mas tente fazer isso sem ser chato. Se você você se tornar chato, volte correndo à lixeira e vista tudo de novo. Depois a gente pensa juntos em um jeito mais simpático de crescermos em 2008.

É isso aí. Por enquanto.

23 de dez. de 2007

A visita


Ela entrou pela porta da frente. Como? Até hoje não sei.

Em meio a tantas outras visitas ela simplesmente fez-se uma a mais. Misturou-se, veio junto e até fez amizades. Como encontrou nosso endereço?

Dona Dor é aquela visita incômoda que vai adquirindo direitos e por fim, conquista um espaço só seu dentro da casa. Querendo ou não ela passa a influenciar nas decisões do lar, acompanha a família às festas, ajeita a cortina, remenda a almofada, rouba flores de velório para decorar a casa... E não é que fica lindo?

Nem todas as vezes fica para dormir mas só vai embora tarde da noite. Bem tarde. É verdade que as vezes desaparece por uns tempos mas sempre volta. Geralmente quando já esquecemos dela.

Dona Dor nem sempre dá explicações. As vezes dá a entender que fomos nós quem a convidamos. Outras vezes diz que a casa é dela... ou que veio porque fomos nós que deixamos a porta aberta e ela se sentiu convidada. Ela suporta nossas perguntas mas não se anima em dar respostas. E quando dá, se contradiz em seguida. Ela adora contradizer-se. Ah como se diverte com isso!

Não se engane: não importa quanto tempo passe mas ela voltará. Sempre volta e cada vez em intervalos de tempo menores.

Dona Dor sempre nos ajuda com a decoração. Parece pouco mas quando falta, faz falta. Dona Dor sabe enfeitar o "ininfeitável" e decorar o "indecorável". Arranja beleza não sei como e a gente sempre se pergunta onde teria adquirido tanto bom gosto.

Nunca sabemos quando vai embora. As vezes parece que não vai nunca. Outras vezes sai pela porta da mesma forma sorrateira como entrou. Ela sempre nos incomoda: quando vem e quando vai. Indo ou vindo ela é o que é.

Quando chega sempre arranja um canto para ficar. Quando permanece incomoda. Quando vai... Não é bom nem ruim: é apenas estranho.

Fica um espaço quando parte. Se não colocarmos nada em seu lugar, ela volta. Precisamos arranjar rapidamente um vaso de flor, uma poltrona, uma luminária. Dona Dor não resiste a espaços vazios.

Claro que não a queremos de volta mas temos que admitir que sem ela nunca mais teremos aqueles arranjos de flores...

Cristina Faraon

15 de dez. de 2007

Confraternizações e piscinas

Ainda no clima de dezembro:

Fico pensando se esse tanto de confraternização de final de ano expressa algum tipo de alegria real... Acho que a pergunta procede porque não é possível que não reflitamos sobre os fenômenos sociais que nos acomentem (nossa! Sempre quis usar uma frase assim. Gostou?)

Se não é felicidade em estado bruto (e põe bruto nisso!) talvez esteja mais mais para busca. Ou quem sabe não passe de um "vai-na-valsa" que ninguém entende muito bem mas adere assim mesmo. E depois do quinto chope, o que importa?

Não pensem que escolhi o ano de 2007 para implicar com tudo. Sou apenas uma pensadora - "atividade" muito valorizada na antiguidade, fique você sabendo.

Ontem fui à milésia confraternização. Abre parêntesis: foi a minha vez de cair no conto do Amigo Invisível. Comprei um presente de O Boticário e ganhei em troca um pacotinho beeem pequeno. Torci para que fosse um baton de qualidade mas logo me desapontei. Adivinhem! Acertou! Era um frasquinho de "reparador de pontas" (pontas de cabelo!) - produto que não deve ter custado nem cinco reais. Não me considero uma pessoa mesquinha, mas ontem doeu... Fecha parêntesis.

Pois bem: havia no local um grupo tão animado, mas tão animado que minha reação oscilava entre inveja e medo. Era sobressaltada vez por outra por gritos, exclamações incompreensíveis, uivos, pulos... E para aliviar as tensões, palavrões eram pronunciados com candura tal que chegava a enternecer a alma mais empedernida. Tudo dentro do mais legítimo Espírito Natalino. Eu acho. Se não for o tal, não sei bem a que atribuir aquelas manifestações paranormais.

Não me atrevi a por a culpa em Jesus Cristo.

Pois é: de lá para cá fiquei a me perguntar qual seria o motivo de tanta empolgação. Por que agiam assim, Santo Deus, tão fora dos padrões do dia-a-dia? Não tinham dívidas? Doenças? Chifres? Ninguém estava com o emprego por um fio? Ninguém se sentia só, com cólica ou calo?

Interessante como as pessoas atendem placidamente a voz de comando de cada época do ano. Finados: hora de chorar; Dia dos Namorados: hora de se comportar romanticamente; Natal: agora é pra ficar emotivo viu, galera? E valorizar a família. Carnaval: soltar a franga (entenda-se: "dar pra todo mundo") e por aí vai.

Em termos de "fenômeno provocador de felicidade", depois das confraternizações o que vem em segundo lugar com certeza são as piscinas domésticas. De clube não vale.

Dinheiro não traz felicidade mas piscina sim.

Explico: onde moro pude comprovar que nas casas onde existe piscina a felicidade está garantida. Aos finais de semana, pelo menos. É uma coisa mágica!

Piscina em casa é sinônimo de ajuntamento de crianças saudáveis comemorando com alegria desesperada o próprio existir. Lindo! Na vizinhança ninguém dorme, estuda ou faz oração: todos se tornam platéia para "aquilo". É como nas confraternizações: gritos, risadas descontroladas, música, disposição para continuar indefinidamente, abraços, comida, palavrões, bebida...

Gente, se eu soubesse que piscina trazia tanta felicidade nem teria comprado carro ou mobiliado a casa. Estou revendo meus conceitos...

Se você não tem piscina em casa é digno de pena. Mas como Deus é pai você pode, todos os finais do ano, ter acesso ao seu quinhão de alegria garantido pela infinidade de confraternizações da época.

Só advirto que tome cuidado com um certo "Amigo Invisível" (ou "O Tenebroso") que anda assombrando por aí. É fácil reconhece-lo: é um Papai Noel às avessas. Além de te desapontar, vai te encher de dívidas.

Legal, né?

Cristina Faraon

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