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31 de mai. de 2012

Praça


Fui à praça. Que beleza!
E vi a Dona Alegria
Desocupada e vadia
Papeando com a Tristeza.

Crianças meigas pulando
Pedinte com papo-trapaça
Pipoca doce exalando,
Cocô de cachorro, cachaça.

Chafariz imitando sereno
Mijando em cima do mundo
Dando gripe nos pequenos
Refrescando os vagabundos

Vi casais de namorados
Num atraso de dar dó.
Coroa puxando criança?
Claro que ela é a avó!

Outro dia volto à praça
Para ver o belo e o esquisito
Nessa vida tudo passa
Por passar é que é bonito.

Cristina Faraon

30 de mai. de 2012

Adereço de gente fina *


Esses dias alguém postou no Facebok uma reportagem sobre as roupas de Kate Middleton .  Como não podia deixar de ser, não faltou quem aparecesse para criticar a irrelevância da reportagem. E como também não poderia deixar de ser, não faltou pobre despeitado pra dizer que a roupa da realeza britânica e merda são a mesma coisa.

Como não sou despeitada vou logo dizendo que gosto de ver a beleza, a elegância e os lindíssimos vestidos de Kate. Não podemos viver só com favela na cabeça. Tem que haver um contraponto pelo amor de Deus!

Mas o que eu queria dizer é que a dita reportagem mostrava ao mundo que Kate Middleton repetiu o vestido (oh!)  com um espaço de apenas onze dias (oh! oh!).

Não foi  assim uma notícia tão fútil como querem alguns.  Teve lá a sua importância, mas nada relacionada com o guarda-roupa em si, mas com a atitude de Kate.  Atitudes passam mensagens e isso tem um certo valor no caso. Uma pessoa com visibilidade mundial acaba influenciando tanto quando prega futilidades quanto quando demonstra atitudes despojadas e mais aceitáveis.

Lembro quando Xuxa resolveu "fazer uma filha sozinha". Muita gente protestou não exatamente contra a gravidez de uma solteira, mas contra a atitude da Xuxa que, querendo ou não, passava uma mensagem à milhares de menininhas que a admiravam; e a mensagem, segundo ouvi, não era boa.

Pois é. E a mensagem de Kate parece ser: "Meninas, qual o problema de repetir roupa? Cadê a personalidade de vocês? Gente, vamos ser menos fúteis e menos ávidos por mostrar o que temos! Repetir o vestido não me diminuiu em nada. O fruto do seu trabalho não é para ostentar, mas para trazer conforto e segurança para você e sua família. Vamos parar de nos apegar a coisas pequenas! Há coisas mais importantes para ocupar nossa mente do que o figurino da próxima festa."   


Claro que o figurino da próxima festa é importante, mas a mensagem, subliminar que fica é essa. Querendo ou não coisas como essas vão moldando a sociedade a médio e longo prazo.

Uma coisa que já entrou definitivamente em minha cabeça é que esfregar riqueza na cara dos outros é uma forma de dizer "sim, eu vim de uma favela mas dei a volta por cima".   Brega, brega, brega.

Quem tem classe sempre dá umas mostras de "humildade entre aspas" - digamos assim. Pouco importa se a humildade dos aristocratas é real ou não. Aliás, claro que não é. Aqui estou falando de pose, não de princípios morais. O fato é que humildade, agora, é adereço de gente muito fina. 

Quem tirou o pé da lama um dia desses não pode repetir roupa ou casar humildemente porque toda a parentada vai dizer que o dinheiro acabou e eles estão falidos. Coisa triste...

Portanto, repetir roupa como Kate se tornou chiquérrimo. E ela não só repete: ainda empresta para a mãe!

Outro que deu uma de rico (porque rico é)  foi Mark Zuckerberg. Casamento simplesinho com noiva desenxabida.  E daí? A diversão agora é dizer "essas coisas que vocês dão valor e pelas quais tanto se endividam, para mim não representam nada! Ha ha ha! Nós ricos estamos em outra!"   Ou  "Não preciso provar nada pra ninguém porque todo mundo sabe que sou riiicooo!"

Parecia que a noiva - Priscilla - tinha acabado de colocar o bebê para dormir. Ou que estava só experimentando o vestido de noiva e foi flagrada pelos fotógrafos. Não consigo imaginar uma noiva mais apagada... Talvez isso explique as lampadazinhas acesas aí atrás, no quintalzinho do casal. Se fosse uma piriguete mulher de jogador ia ter brilho até no sininho da garganta.  Mas você acha que a doce japonguinha estava querendo se parecer com alguma mulher-fruta que aplicou para cima de algum ricaço? Claro que não.

Gente fina é outra coisa.

E aí, vai imitar?



29 de mai. de 2012

Recurso final.

RECURSO FINAL Se tudo continuar assim, vamos acabar tendo que apelar pra competência. http://t.co/SCPJcnJU Vai lá. Amanhã atualiza. -- Millôr Fernandes (@millorfernandes)

28 de mai. de 2012

Se Deus não existisse

Às vezes faço um tremendo esforço para me colocar no lugar dos ateus e entender um pouco como seria olhar o mundo com os mesmos óculos que eles.  Tenho certa curiosidade quanto a isso, então tento perceber o universo com o mesmo olhar imediatista e aleatório ignorando todas as coisas que não são explicadas em trabalhos científicos.

Concentro-me... e repito para mim mesma que as maravilhas da natureza  não passam de impressões humanas arbitrárias e que na verdade nada é de fato maravilhoso.

Às vezes me esforço para imaginar que Deus não existe. É necessário  realmente um esforço de imaginação porque, pela lógica, se ele não existe, nada existe.  Por que faço isso? Para tentar entender as pessoas que não tem a mesma fé que eu tenho. Faço de conta que o mundo nasceu da combinação de zilhões de coincidências e que eu surgi do nada e para o nada seguirei. Não passo de uma descarga de energia, como um raio, igualmente breve.  As pessoas que amei e que morreram estão para sempre perdidas. Não estão em lugar algum, não há esperança nem contato nem registro nem nada. Puf! Acabou!  Não há o que esperar, só há o que temer. Digo isso porque embora o "nada" nada possa, ainda assim ele assusta os humanos.

Você, eu, nossos ancestrais... o que nos espera é o ralo cósmico. E pra completar a sequidão, o amor nada mais é do que uma impressão, uma distorção curiosa da mente humana.

É estranho, realmente estranho. Fico sempre pensativa depois desses exercícios mentais. Porque o que surge é um quadro tão desolador que até deprime. Sobra um ... uma espécie de desespero, uma tristeza sem solução. É como estar na beira de um abismo inevitável. É como estar na beira de um abismo apenas esperando a lufada de vento fatal que porá fim a tudo.

A ideia da inexistência de Deus não cabe na realidade, não encaixa. É como uma história mal contada. É um aleijão no universo e torna tudo inóspito e desesperançado. Eu não consigo entender o quê, afinal de contas, convence um ateu a continuar vivendo. Porque sem Deus nada faria sentido para mim e deve ser muito horrível viver sem ver sentido em nada nem acalentar esperança alguma.

É dolorido imaginar um mundo sem Deus. É anti natural, não combina com o que eu vejo.  Eu não preciso de um mundo sem Deus.  Eu não preciso de uma vida sem Deus.

"Se Deus não existisse..."  É um tanto ridículo completar a frase porque se ele não existisse nós também não existiríamos. Mas vamos lá: Se Deus não existisse... a vida perderia todo o sentido e ao mesmo tempo a morte seria algo completamente aterrador.

Sabe, um mundo sem Deus é um conto de terror.


27 de mai. de 2012

Nosso lar

Construimos um mundo completamente estranho aos olhos dos outros animais e nesse mundo nos sentimos mais a vontade do que na selva misteriosa. Todos que tem medo da selva deveriam criar seus próprios mundos. Somos seres criadores.

23 de mai. de 2012

Eu mesma

Acabei de criar uma dúvida desnecessária e esdrúxula, mas nem por isso menos instigante: como eu encararia uma réplica minha? Que tal dar de cara com várias Cristinas?

Eu seria a minha melhor amiga? De primeira a gente é tendente a acreditar que sim, mas... tenho minhas dúvidas. Sempre achei um saco pessoas com os mesmos defeitos meus. Não aguento, é monótono, previsível, desinteressante.

É deprimente concluir que eu não seria minha amiga. Tô magoada comigo mesma. Eu não toleraria a minha presença e só para não dar "oi" ou fingiria remexer a bolsa quando eu passasse por mim mesma em sentido contrário. E seria uma chatice imensa saber de antemão qual seria a minha reação. Claro que eu ia ficar chateada e iria decidir nunca mais cumprimentar a mim mesma, nem por decreto.

E que porre ir ao shopping comigo mesma! Ter que me aturar indecisa diante de uma vitrinhe, atormentada diante de 15 pares de sapatos, pedindo opinião dos outros só para ignorá-la em seguida.

Deus poupou a humanidade de muito sofrimento quando fez cada pessoa um ser único.Haveria muito mais guerras se houvessem réplicas.

Um texto tegal

Um texto legal da Marta Medeiros. Leia. O nome é PUDIM:  https://docs.google.com/document/d/12jYsIgLtVSNaMDpY-20t3o0HfNxpiMfGEOzuf1qRYOU/edit

20 de mai. de 2012

Mal secreto

Esses dias fui assaltada quando parei no semáforo. Cometi o atrevimento de deixar a janela do carro aberta. Erradíssimo. Todos sabemos que nós não temos esse direito e se fizermos isso corremos o risco real de sermos castigados com a perda de alguns bens.

É nessas horas que nos deparamos com o que temos de pior. É nessas horas que a nossa ilusão de bondade cai por terra. É nessas horas que checamos a quantas anda nosso sentimento cristão. É nessas horas que desejo a total ruína do próximo.

A ira e os maus sentimentos que assombraram minha cabeça foram assustadores. Minha mente virou, imediatamente, uma sala de projeção de filme de terror. Logo eu, que vivo falando de amor. Não amei aquele que me fazia mal. Não quis dar a outra face: quis destruir a face dele. Imaginei contra ele as piores atrocidades e pior: deliciei-me com a fantasia.

Fantasias existem para nos suprir daquelas coisas que não temos no momento. Ou que jamais teremos. Então imaginamos, desfrutamos e depois vamos dormir de touca. Pra quem não sabe, fantasias de vingança podem ser muito mais "divertidas" do que fantasias sexuais. Veja só:

1- Pensei em ter sempre à mão uma pequena bomba caseira disfarçada de celular. Eu entregaria o celular para o ladrão e quando me afastasse um pouco, detonaria o artefato. Ele perderia os dedos, ou seja: estaria imediatamente reabilitado para viver em sociedade sem fazer mais mal a ninguém. Todos sabemos que deficientes físicos podem ser cidadãos produtivos e felizes.

2- Pensei em puxar uma faca ao invés de puxar o celular. E enfiar a faca na garganta dele. O sinal abriria e eu sairia dali tranquila e vingada.

3- Eu puxaria uma arma e antes que o rapaz pudesse articular qualquer frase, BUM! Ele cairia para trás com um buraco no meio da cara. Até alguém tentar entender o que aconteceu eu já estaria longe.

4- Eu contrataria umas três pessoas para viajarem no banco de trás escondidas. Aí passaria depois pelo mesmo local dando a mesma bobeira. Sim, uma armadilha. Quando o ladrão se aproximasse os trogloditas contratados saltariam em cima dele e o quebrariam em vários pedacinhos. Pelo menos por uns oito meses ele estaria regenerado.

(Essa idéia da armadilha para bandidos é muito boa. Sempre configuraria legítima defesa.)

5- Ao invés de entregar o celular para o ladrão, eu espirraria ácido em seu rosto. Boa também, né?

6- Eu também poderia dar a volta no quarteirão e quando o avistasse novamente simplesmente jogaria o carro em cima dele. Essa idéia não é muito boa porque geraria prejuízo.

7- Seria legal também eu descer do carro logo em seguida e fazer um escândalo incitanto os transeuntes a linchar o bandido: "Fui assaltada! Foi ele! Foi ele! Ele é ladrão! Desgraçado! Pega ladrão! Mata! Esfola! Apedreja!" Sim, eu faria um escândalo e insuflaria todo mundo contra o rapaz. Multidões costumam ser valentes e cruéis como animais selvagens. Eu jogaria todos contra ele e ele se arrependeria de ter nascido.

Depois de pensar em dezenas de formas de acabar com a integridade física do rapaz, o que me vem à mente é uma grande vergonha. Vergonha de mim mesma e dos pensamentos baixos que acolhi. Vergonha do imenso prazer de fantasiar o mal. Vergonha de ter sido capaz de sentir tanta raiva. Vergonha do prazer mórbido de imaginar o sangue do ladrão escorrendo pela calçada. Um trapo humano.

Toda essa vergonha me fez  lembrar que tudo tem um lado positivo. E qual o lado positivo desse episódio? Ele me fez olhar novamente para o espelho e redescobrir que não sou uma pessoa boa. Estou longe demais do ideal que afirmo buscar.  Matei, incendiei, mutilei, espanquei e com prazer.  Isso é triste.

O mal existe dentro de nós. O mal exteriorizado não nos define. A verdade é o que jaz no escuro.

Eu jamais sentiria vontade de matar se o homicídio não habitasse meu interior.  Pecado não é o que você faz, mas o que você é.   Pecado é o seu potencial para o mal, não importando se isso foi ou não transformado em ação.

Ninguém é capaz de turvar uma piscina agitando suas águas se dentro dela já não houver sujeira. Se a piscina fosse limpa você poderia agitar as suas águas o dia inteiro e ela continuaria clara como cristal. Se as águas claras ficaram turvas foi porque o sujo já estava lá, caladinho, quieto, mas pronto para vir à tona na primeira oportunidade.

Uma pessoa pode ser péssima como o diabo, mas aparentar águas límpidas. Por outro lado, alguém  "ligeiramente turvo" pode ser muito mais puro do que certas piscinas "claras" que vemos por aí.

Em suma: esse é o tipo de espelho que detesto olhar. Porque olhei e não gostei nada do que eu vi.




Mal Secreto
Raimundo Corrêa


Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Se tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!





16 de mai. de 2012

Bichos chatos


Não requer preâmbulos:

1 - Cachorro: é carente demais para o meu gosto. Vive exigindo atenção, é pegajoso. Se fosse homem iria querer telefonar toda hora e discutir a relação um dia sim e outro também. Além do mais, cachorro é babão; está sempre com a língua pra fora e com o focinho melado ameaçando melecar a gente.

2- Galo. É um porre. Vive fazendo barulho na hora que a gente quer dormir.  O desgraçado parece que tem uma caixa de som colada nas costas: canta no norte e a gente ouve desde o sul. Não sei qual prazer pode existir naquele có-có-ró-có irritante e sem objetivo. Eles me lembram os comentaristas esportivos... só que os comentaristas eu posso "desligar" e o galo não.

3- Passarinho na gaiola: outra inutilidade. Você não pode pegar, brincar com eles, carregar no colo ou ensinar truques. Para piorar eles só sabem cantar canções de fossa. Atrás das grades toda música é depressiva.  Aqueles trinados tristonhos falando do quanto a vida é cruel atrás das grades... credo!  Quer saber? A vida já é complicada demais para eu ter que ainda acordar e dar de cara todos os dias com um prisioneiro infeliz dentro da minha casa.

4- Peixes: eu até que gosto deles mas detesto a viadagem de não se deixarem tocar. Eles vivem fugindo da gente, são assustados. Não pode pegar se não enfaaaarta! Vá tomar banho!

5- Simpatizo também com gatos mas eles gostam de se fazer de surdos e isso me irrita.

6- Macacos:   eles são o contrário do conceito de "colírio para os olhos". Os bichos são feios de doer. Acho emocionalmente desconfortável olhar seres tão horrosoros, caricatos e ainda por cima metidos a engraçadinhos. E ainda tem aqueles braços compriiidos,  os trejeitos deselegantes, o ar preguiçoso, pernas abertas, cara debochada, aspecto sujo.  Os macacos estão sempre tentando nos imitar só pelo prazer de nos meter em ridículo. Pra completar a desgraça eles têm um cheiro horrível.

7- Cobras: preguiçosas, melequentas e estressadinhas. Ficam lá com aquela pele babada só imaginando o mal. Olham para os lados e só enxergam inimigos. O dia está lindo, está tudo bem mas do nada elas resolvem se sentir ameaçadas. Têm mania de perseguição.  E se não for pra fazer o mal nem saem do lugar; preferem ficar emboladas umas nas outras com aquelas caras antipáticas.

8- Periquitos: são umas catracas barulhentas de olhinhos arregalados. Não passam de britadeiras verdes. Quero distância.

9- Tartarugas tem cara de velhinha carola. Pode reparar. Mas isso não é problema. O problema é que tenho agonia de olhar as tartarugas.  Imagine passar a vida como recheio de biscoito!  Coitadas, como elas entraram ali? Deve fazer um calor horrível dentro daquele biscoitão de madeira!  E deve doer o pescoço! E elas não podem coçar o pé, meu Deus! Um dia tentei sair de dentro de um vestido apertado com o fecho engatado e quase tenho uma crise nervosa. Não gosto de lembrar. Evito tartarugas.

10- Urubus: também são fedorentos e isso é muito mal. Mas pior é a indiferença deles para com as vicissitudes alheias. Eles nem contemplam a carniça, algo como um minuto de reflexão e tal, pelo defunto. Nenhum comentário sobre o fatídico, tipo "coitado do cara... levou o farelo."  Que nada! Eles apenas chegam calados e insensíveis com aqueles ternos surrados.  E ainda tem aquele ar blasé de quem já viu tudo na vida.  Todos os urubus do mundo nascem velhos e desiludidos. Não confio em urubus.

11- Lagartixas. Estão sempre com cara triste - um nojo - e nos manipulam com chantagem emocional. A gente quer dar uma chinelada e matar mas não consegue. Elas nos fitam com aqueles olhinhos pretos e tristes de quem diz  "Você vai me matar? Mas que mal eu te fiz? Estou quietinha aqui na parede! Não acredito que você seja tão desumano! Não tenho pai nem mãe nem filhos, estou sempre sozinha, tudo o que eu tenho é a minha vida e você ainda quer me tirar isso?"  Elas devem ter aprendido isso em algum manual barato de psicologia de sobrevivência.

12- Corujas: não são más, mas ... são estranhas.  Desconfortavelmente estranhas.  Elas são neuróticas, se impressionam com tudo! Ninguém pode dizer nada pra elas que elas arregalam os olhos e ficam pensativas num canto. Alimentam pensamentos tenebrosos e pessimistas o tempo inteiro. Não se divertem. Não passam de pen drives emplumados lotados de filmes de terror de quinta categoria.  E o pior é que quando a gente passa elas tentam fazer a gente entrar na neura delas - pode reparar!  Metem-nos aquele olhar fixo, impressionado, cheio de maus agouros com cara de Sexta Feira 13.   Coruja é pra quem está de bem com a vida. Se você anda deprê, fuja delas!

12 de mai. de 2012

O barquinho

Certa vez comentei essa foto, postada por alguém no Facebook.  Escrevi:  "Você fica se quiser. Há sempre uma chance de deixar tudo para trás. Há sempre um barquinho esperando pacientemente por você."

Verdade. O problema é que poucas pessoas enxergam esse barquinho, que está sempre por perto, flutuando em nossas águas. Ele não nos agride com propostas; ele é a proposta silenciosa que todos deveríamos escutar.

Algumas pessoas não ousam nem abrir a janela, nem respirar o ar puro . Como então enxergar um horizonte que possa ser cavalgado? A maior parte das janelas estão desertas, intocadas. A maior parte das janelas são virgens, não tem olhos sonhadores. Mas há janelas, há um horizonte infinito e um barquinho silencioso e promissor.

Converso com amigos e amigas, e todos têm problemas. E todos tem barquinhos azuis esperando para zarpar há anos, mas têm medo. Poucos entendem que não há carma, que não já fatalidade que não possa ser subjugada.

Acho que a mensagem mais libertadora do mundo é essa: há um barquinho esperando por você.

8 de mai. de 2012

Amo, amo esse poema

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo


Pablo Neruda

O Twitter e os outros

Estou aqui só para registrar que admiro de bolão a postura aristocrática do Twitter. Ele pode não ser um poço de cultura com sua incapacidade de processar ideias mais elaboradas, mas e daí?

Digo isso porque, ao contrário do Windows e de outros programinhas insensíveis, o Twitter é o único que pede desculpas quando alguma coisa sai errada. Pode reparar. Ele assume!

Fico enternecida quando ele diz humildemente "Oh, desculpa! Nós fizemos algo de errado!"  Tão fofo, tão evoluído!  Já o Windows é uma meleca. Está se achando, parece restaurante da moda: não tá nem aí pra gente. Chega metido a safo querendo que a gente confie em seus julgamentos sem questionar. Nós somos as amebas, ele é o oráculo!
O Windows está sempre a nos dizer "eu sei o que vocês fizeram no verão passado."   Até o mais inocente dos seres treme nas bases e faz às pressas uma reavaliação dos seus últimos atos e possíveis álibis. Em uma mistura de leão de chácara e policial frustrado ele logo ataca com um "Você executou uma operação ilegal! Mãos ao alto, cara pra parede!"  Eu considero isso ofensivo.

6 de mai. de 2012

Pessoas sublinhadas



Acho incoerente quando pessoas diferentes da maioria ficam com raiva porque a maioria percebe que elas são diferentes da maioria.

Sinal de que elas não se aceitam, não aceitam a diferença, então decidem que a maioria tem que fingir  que não notou.

O máximo que se pode exigir da sociedade é igualdade jurídica, de direitos. O que passar disso é anti natural. Porque mesmo os diferentes se assustam vez por outra com os diferentes mais diferentes que eles.

Você pode agora me olhar com olhar desafiador e perguntar "o que é ser diferente para você?"  Eu responderia: "deixe de onda, você sabe. E se não sabe, você é diferente."

Os "diferentes" reclamam que os outros os discriminam, mas o que é "discriminar"? Discriminar é ressaltar, destacar algo no meio de um monte de outros. Discriminar não é rejeitar. Discriminar é "sublinhar" uma pessoa. Isso pode ser feito para o mal, é verdade, mas nem sempre. Isso pode ser apenas uma reação natural.

Um anão (só por exemplo) já nasceu "sublinhado". Uma pessoa alta demais também nasceu sublinhada e com high light e não há nada que se possa fazer a respeito. A natureza é assim! Eles não tem que brigar com o mundo! Se estamos em uma sala cheia de modelos magérrimas e entra uma mulher morbidamente obesa, como não olhar e notar a diferença? Se você está em uma sala de aula onde só existam pessoas negras, do tipo "azul", aí entra um branquelo parecendo o Gasparzinho, todo mundo tem que fingir que não viu? Ah, me perdoe!

Pior ainda são os que optam pela diferença: pintam o cabelo de azul, se enchem de piercing, tatuam até debaixo da unha e depois reclamam que todo mundo olha esquisito pra eles! Pô!  Quer passar despercebido? Seja comum. Odeia o comum? Então aguente os olhares. Não dá pra mudar a humanidade.

Quero ver se eu fosse num mega evento de rock usando terninho e scarpin. Será que não iriam me "discriminar"?

4 de mai. de 2012

Dor

Estranho, mas sempre que vejo esses documentários de mulheres parindo, dá vontade de chorar. Se não tiver ninguém por perto eu choro mesmo. Não sei dizer se é emoção porque bem lembro que o momento é incrível, divino. Não sei dizer se é agonia. Talvez seja por pena do sofrimento daquela jovem mãe.  Sei o que elas sentem, me solidarizo e acabo revivendo tudo. Ou talvez eu chore apenas por saudade, porque um parto pressupoe tanta coisa que já passou! Então choro, por todos esses motivos ou por mais algum que não percebi. Sou mãe, sou mulher, e até a dor dá saudade.

Do palácio à choupana

Os extremos dessa vida:

Esses dias conheci uma família que mora em um barraco horroroso, literalmente caindo, sujo, pequeno.  Fiquei penalizada. Quando saí de lá tive a certeza confortável de ser uma milionária. Moro em um palácio. Amigos, venham me visitar!

Uma idéia puxa outra. Já que eu estava rica, tive a luminosa idéia de dar uma repaginada em meu palácio. Visitei algumas lojas ma-ra-vi-lho-sas de decoração. Em uma delas fiquei especialmente deslumbrada. Tanta beleza, tanto bom gosto, quantas peças finas! Olhei tudo, desejei tudo, passei as mãos nos móveis, sentei nos sofás, fiz pose, brinquei com os lustres, os aparadores, manifestei preferências, perguntei preços. Fiz de conta que bastava estalar os dedos e qualquer coisa ali poderia ser minha.

Deus, perdôe minha futilidade! Em determinado momento deu assim um aperto no coração, uma emoção engasgada, uma mistura de deslumbramento com amargura. Aquela beleza toda estava ab-so-lu-ta-men-te fora do meu alcance. Faz-de-conta tem um efeito muito curto, a bolha estoura rapidinho na nossa cara. Então tive que engolir que aquele mundo encantador que me chamava com a doce voz de uma sereia, simplesmente estava fora do meu alcance. Um aparador de 8.000,00?  Nem sonhar.

E a funcionária muito gentil e educada me oferecendo mundos e mundos. Eu já estava me sentindo uma esfarrapada e dava vontade de gritar  "Meu salário não dá! Não dá! Não dááááá!"

Até agora não sei se ela me mostrou toda a loja porque conseguiu acreditar que eu poderia pagar ou se mostrou apenas para eu tivesse  um choque de realidade e nunca maispisasse lá para fazê-la cúmplice dos meus devaneios. Aprendi a lição.
E eu, que até então era milionária, caí das nuvens. Bastou um passeio por aquela loja para eu descobrir que moro em uma choupana.

Mas o momento passou. Já sei onde moro e estou muito feliz lá. Nem luxo nem lixo. Estacionei naquela frase manjada de caminhão:  "Não tenho tudo que amo, mas amo tudo que tenho."

Tá bom.

3 de mai. de 2012

Troco

Não é que a gente espere pagamento. Amor e amizade desinteressada existem sim. Esperar um eco, reciprocidade, não é interesse mesquinho. As vezes nem é esperar, mas presumir que do bem só venha o bem, que o amor gere amor ou algo menor, mas bom. Espera-se que a outra parte va considerar nossa amizade preciosa, que seu coração se abra em nossa direção. E difícil ter que acreditar na esterilidade da afeição. Quem sorri para alguem nada cobra, mas tende a desejar um sorriso em sua direção. Não como pagamento ou gentileza, mas como resultado óbvio do bem. Quem ama não espera pagamento, mas nem por isso deixa de sofrer. Nem por isso deixa de estranhar que tanto carinho não gere absolutamente nada.

1 de mai. de 2012

Vida

A vida pode ser cheia de surpresas, mas sou mais cheia de surpresas do que a vida.
Nunca sei como vou acordar amanhã. Não dou garantia de nada, principalmente depois de ouvir uma música fatal. Felicidade e infelicidade são termos tão fluidos que nem podem ser levados a sério.  Eu mudo, muito muito, e daqui a umas doze horas posso estar amando - ou desistindo para sempre do amor. Posso pular de amante para avó, de deprimida para iluminada. Por essas e por outras a minha convivência comigo mesma é estimulante.
Eu não me repito.

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