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30 de abr. de 2017

Aquela menina

Ontem fui assistir o filme A Bela e a Fera. Deixando um pouco de lado os comentários a respeito da produçào (primorosa), dos cenários detalhadíssimos (e um tanto pesados) das músicas (sim, trata-se de um musical. Preferia que náo fosse), dos atores (a Bela bem que poderia ser uma garota mais bonita, com mais graça e mais carne no corpo), o filme foi um teste que me deixou feliz.

Confesso que de uns tempos para cá estou sentindo o que até pouco tempo pensei que jamais começaria a sentir: meu próprio envelhecimento. Estava tão acostumada a ser jovem que comecei a acreditar na balela de que o corpo poderia envelhecer mas as sensações jamais. Eu nunca me sentiria indisposta ou simplesmente "sem vontade de fazer nada". Bem, meu dia chegou e ultimamente quase que não me reconheço mais. Não, não estou deprimida. Minha vida está ótima, límpida, em paz. Não estou doente ou passando por nenhuma desilusão mas sinto que estou perdendo alguma coisa que não sei o que é. Como se estivesse perdendo a mim mesma ou da minha energia mais característica. Mas o que tem isso tudo a ver com o filme? 

Bem, gostei de constatar que continuo capaz de sentir as emoções bolas do meu tempo de menina. Minha mudança de uns tempos para cá tem sido tão palpáveis que pensei ter perdido tudo o mais.  Esses filmes bobos e "cheios de ideais burgueses" me conectam com um mundo de sonhos,  com a melhor parte do meu passado: a menina que não sou mais.  Percebo-me tão diferente dela que já a vejo como outra pessoa. Não mais eu, mas uma filha, fora de mim, que jamais crescerá mas foi embora sei lá pra onde.  

O fato é que sse filme - entre outros - me traz a garotinha de volta.  É delicioso "me coincidir" com ela na hora em que o encanto é quebrado e a fera se transforma num lindo príncipe e o ambiente todo se torna vivo e iluminado e o palácio deixa de ser soturno e volta a ser lindo, riquíssimo, um lugar encantador! E há música, beleza e vontade de bailar por aqueles salões enormes.  Sou até capaz de ver novamente o filme não mais pela história em si mas para me sentir dentro daqueles ambientes maravilhosos com os quais sonhei a infância toda e que jamais farão parte da minha vida.

Sei que essa postagem é tanto infantil e incrivelmente simplória. Talvez até lamentável para alguns, mas me dou essa permissão. Por que não? 

Lembro que uma vez fiquei emocionada,  junto com a Clarinha, enquanto assistíamos Cinderela. Percebi, pela expressão do rosto dela, que ela estava sentindo o mesmo que eu quando o vestido da Cinderela se transformou de trapos para um traje fino e lindo e ela girou, feliz e encantada... e quando dançou com o príncipe. Naquele momento mágico tínhamos a mesma idade, Clarinha e eu. 

Bela Adormecida... Cinderela... A Bela e a Fera... É meu ponto de encontro comigo mesma. Aquela Cristina ainda existe em algum lugar e essas histórias são como portal, um espelho mágico. É quando vejo que tudo continua a existir intacto em alguma outra  dimensão. Na nada no universo é perdido de fato. Eu não me perdi.  Sempre haverá um portal, um modo de termos tudo de volta, ainda que por pouquíssimos segundos.

O grande dia da revolta

Essa postagem é só para mulheres. Eu acho.

Estou enjoada de ir à manicure, de pintar os cabelos, de depilar. Estou cansada de ficar indecisa quanto à roupa, de usar sapatos altos e desconfortáveis, roupas sexys que não me deixam a vontade  (nem sexy). Estou cansada de sentar direito, de sentir culpa pelo peso e cansada de malhar. Aquele barulho das academiar está começando a me irritar. Começa a me causar antipatia aquele monte de batons, aquele monte de colares, brincos, pulseiras, cintos, lenços, adereços e mais adereços. Quem precisa disso pra viver, droga?   Acho que essas coisas todas são pesos-mortos da juventude e em algum momento da vida a gente tem que juntar tudo e fazer uma "fogueira santa de Israel".

Agora começo a entender as feministas xiitas do início da década de 60, que queimavam sutiãs em praça pública dizendo que aquilo era um dos instrumentos de dominação sobre as mulheres. Quer saber? Tô com elas. Mas não são os homens que nos oprimem mas nossa própria vaidade e necessidade doentia de cativar. Chega.

"Não acredito! A Cristina dizendo isso?!!!!" Sim, a Cristina dizendo isso.

Uma hora cansa, gente!  Já pensei em fazer um cerimonial de "despedida da juventude" quando finalmente eu me sentir liberta de todas essas tranqueiras. Deve existir um dia especial no qual a gente chuta o bande e manda tudo às favas. Um dia em que nada mais importará e usarei  mocassim com saia de bolinhas e camisa xadrex. Não gostou? Dane-se, não preciso da sua opinião.  

Não são bem os olhares alheios que me incomodam: é o meu próprio olhar.  Quero crer até que já venci essa "etapa dos olhares alheios".   Meu olhar é pior do que o alheio. É exigente e enxerga cada detalhe constrangedor!   Mas o dia vai chegar - tô avisando! em que nada mais importará. Vou acordar, empunhar uma espada e gritar em frente ao espelho:   CHEEEEGAAAA! INDEPENDÊNCIA OU MORTEEEE!!!

Vou levantar, abrir os armário e jogar fora todas essas porcarias de que eu tanto gostava:  os odiosos aneizinhos, os brincos chatos, os desconfortáveis sapatos altos, as roupinhas justas,  as bostas de cintos que tem que combinar com tudo, a escravidão das tinturas de cabelo, as roupas de academia delatoras (e que explodam todas as academias!), o adoçante,  as montanhas de bolsas. E nunca mais vou ao salão. E vou cortar o cabelo igual a todas as velhinhas. Chega de lutar para desembaraçar essa moita. Além do mais, quando o vento bate e ele esvoaça, meu cabelo enrola nos brincos e gruda no batom, sabia?  Uma perturbação. Sim, os cabelos também estão com os dias contado. Tesoura neles!

Olho as velhinhas de cabelos brancos com aqueles vestidinhos largos sem graça, compridos, as sandálias baixas feinhas e pernas cabeludas. Elas estão lá, tranquilas e bem a vontade sendo o avesso da sensualidade. Legal!  Estão dando uma banana para todo mundo, especialmente para os homens. Já tive vontade de entrevistar uma senhora dessas e perguntar a partir de que idade elas pararam de pintar os cabelos, abandonaram os saltos altos, as roupas justas e tiraram férias. Qual idade é essa? Sessenta anos? Sessenta e cindo? Setenta?  Preciso saber quanto tempo falta. Quero ir me preparando.

Como será o meu grande dia? Está perto? Está longe? Acontece de repente ou vem aos poucos e a gente nem nota?

Enquanto ele não chega, vou terminar esse texto e dar uma passadinha no shopping só para conferir as novidades. No retorno bato o ponto no salão.

Volto já.

27 de abr. de 2017

Download e Refresh

A maioria das pessoas vive afirmando que adora fazer novas amizades. Sou uma delas - mas não hoje. Resolvi fazer uso da porção de incoerência a que todos os humanos tem direito.

Chega um momento da vida em que a gente pensa mais no passado. É aí que começamos a duvidar de que qualquer nova amizade possa ser real e firma. As vezes acho meio difícil acreditar que quem não conhece minha família, não me viu adolescente, não conhece o passo a passo da minha vida, possa me amar. Porque como podemos amar quem não conhecemos realmente?

É possível amar, mas amar mesmo, quem a gente não conhece?

É possível conhecer alguém realmente?

Bem, hoje vou ficar com a tese de que a gente não ama quem não conhece. Amar uma miragem, uma construção mental unilateral, não tem valor algum. Eu sou o meu passado. Eu sou o que eu fui e o que eu gostaria de ter sido. E você jamais saberá o que eu gostaria de ser nem o que eu sou se não souber quem eu fui.

Me conhecer agora é mais ou menos como começar a ler um livro a partir do meio, deixando para lá o prefácio, a dedicatória, a introdução e os primeiros capítulos.  Não digo que você não vá entender nada. Entende, mas entende pouco. E às vezes "entende errado".

Uma pessoa pode ter novas amizades, mas se não tiver as antigas estará para sempre com o coração capengando. Eu me sentiria uma fraude se só conhecesse novas pessoas. É como se eu estivesse enganando a todas, sonegando-lhes minhas verdades.

Uma amizade requer tempo. Requer download de arquivos antigos. Enquanto o download não terminar não teremos entre nós nada de consistente.   Download demora. Requer paciência. Por isso nem sempre posso repetir com toda a sinceridade que adoro fazer novos amigos. Adoro conhecer gente; esse é um aplicativo leve. Mas fazer novos amigos... aí já é um programa pesado. Excelente mas pesado. Haja HD!

Por fim declaro que às vezes é necessário um "refresh", para interrompermos dowloads desnecessários e reavaliarmos a capacidade do nosso disco rígido.

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