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30 de set. de 2007

As respostas ficam por sua conta


Por que será que a gente insiste em querer que tudo tenha sentido? Por que a falta de explicação para todos os fatos da vida tira tanta gente do sério?

Quem disse que tudo tem que ter sentido? Você acredita em duendes?

Porque ninguém assume que causa-e-efeito são, de fato, as molas mestras do mundo? Acho que se não todos, pelo menos os ateus teriam o dever de acreditar devotamente nisso.

O aleatório, quando casado com a causa-e-efeito, tem um poder determinante inegável. Por que tanta relutância em aceitar isso?

Por que existe pobreza? Será que é porque existem pessoas que buscam melhorar de vida enquanto outras não se empenham muito nisso?

Mas nem todos tem oportunidade. Por que alguns não tem chance? Seria porque uns são mais fortes e passam na frente?

Não, nem sempre. Muitos já nascem com a faca e o queijo na mão enquanto outros...
É verdade: uns recebem de seus pais uma herança chamada "chance". Os pais plantam, os filhos colhem. Outros pais fazem tudo errado e deixam para o filho uma herança de outra natureza: pobreza e ignorância.

Nossa, será que estou dizendo que não temos o direito de deixar heranças para nossos filhos? Tudo o que fizermos e conquistarmos nesse mundo deveria ser levado conosco para a cova?
Que tal isso começar com você e na sua família? Eu tô fora!

Não... não é justo que os filhos recebam "herança"! Cada um que nasce deveria começar do zero!
Será? Então tá: vamos revogar a lei da causa-e-efeito. Como também não acho justo que as pessoas tropecem e caiam, vamos aproveitar e revogar também a lei da gravidade. A lei da sobrevivência do mais apto é injusta também? Vamos dar um jeito nisso! Vamos lançar a campanha "vida longa aos medíocres e morte aos mais capacitados!" Assim teremos um mundo cor-de-rosa.

Mesmo com todo esse arrazoado não consigo me conformar com o fato de crianças já nascerem determinadas a viver mal.

Mas pensemos bem: de onde tiramos a idéia de que as coisas tem que ser justas e fazer sentido?
E se TEM que ser justas, de onde tiramos a convicção de que são injustas?
O que sabemos sobre justiça? De onde vem essa noção? Provavelmente da cabeça de pessoas como nós: injustas!
O que entendemos sobre a manifestação da injustiça e todos os milhares de fatos que a geram? Conhecemos realmente essa pessoa que "não teve oportunidade"? Sabemos tudo mesmo sobre sua vida? Conhecemos cada passo seu, cada escolha, cada equívoco? Temos certeza absoluta de que ela não tem ou não terá oportunidade alguma durante todo o curso de sua existência? Eu apostaria todos os seus bens nessa afirmativa?

A "vida" é injusta? É... Mas já que estamos com as etiquetas na mão, que tal aproveitarmos pra rotular também de injustos os pais irresponsáveis?
Também há que se considerar que em todas as espécies de animais, a sobrevivência é uma luta mais ou menos sangrenta. Por que cargas d' água eu deveria achar que entre os seres humanos a coisa era pra ser diferente? Já vi documentários sobre a vida selvagem. Já vi um animal estraçalhando outro impiedosamente. Acho que eu não perderia meu tempo tentando reeducar uma onça...
Mas nós somos humanos! Somos racionais!
Até que ponto?
Será que a fera que existe dentro de nós morreu por causa da nossa "humanidade"?
Sei lá, acho que somos racionais apenas o suficiente para sentir dor moral...
É justo não colhermos o que plantamos?
Será que todas as nossas más ações deveriam ser estéreis, ou seja: sem resultado? Aí teríamos que refazer o mundo!

Ai céus! O que proponho? Uma corrida na qual todos cheguemos em primeiro lugar? Seria uma proposta idiota.

É justo eu ter o que tenho enquanto outros não tem? Mas seria justo que me tirassem o que tenho mesmo sabendo que o que alcancei foi com trabalho e honestidade? Seria justo privar meus filhos de colherem o que plantei?

Existe mesmo riqueza para todos nesse mundo?

Temos certeza de que todas as pessoas querem ser iguais? Você quer ser igual a todo mundo?Não seria isso uma grande mentira? Desde sempre as pessoas querem mesmo é se destacar, afirmar sua individualidade e sentir-se únicas.

Não seria exatamente por isso que exista tantas diferenças sociais? "Igualdade" não seria o falso discurso de quem apenas está por baixo? Uma vez "subindo alguns degraus" a pessoa passa imediatamente a querer a distinção. Não é verdade?

Todos os nossos males sociais não seriam apenas o outro lado de uma moeda que conservamos com tanto empenho?

Por que o mal subsiste? Talvez porque toda a miséria humana exista como subproduto do que lhes seja mais caro e desejável.

Ninguém pode abrir mão de apenas um lado de uma moeda!

Nós queremos realmente mudar tudo isso?

Se quiséssemos mesmo será que já não teríamos mudado?

Se não abolimos as desgraças não seria por saber que elas são o inevitável efeito colateral de tudo o que nos apaixona e move nossos pés?

A beleza subsistiria ante a ausência da feiúra? Ela seria percebida e gozada?

Estamos realmente dispostos a abrir mão de todos os gozos que resultam em dor?

Não seríamos hipócritas? Não temos coragem de abrir mão de prazeres que fazem mal a nós mesmos!!! Quanto mais abrir mão daqueles prazeres que fazem mal aos outros!

O que estou dizendo lhe parece muito estranho?

Você nunca comeu alguma coisa sabendo que iria se sentir mal depois? Não fuma? Não bebe? Não come frituras? Como anda seu colesterol? Está em seu peso ideal?

Fala sério!

Você veio de Marte? Ou a marciana aqui sou eu?


Cristina Faraon


26 de set. de 2007

O laranjinha - um conto bobinho


O mar pode ser comparado a um tipo de céu assim como o céu é um oceano sem fim. As aves são seus peixes. 

Sempre achei que os peixes fossem as aves do mar. No caso dos peixes pequenos e coloridos, sem dúvida que são as borboletas do mar.

Mas não falaremos hoje sobre as borboletas mas aqui vai uma dica: elas são apenas flores que não conseguem ficar paradas.

Voltemos aos peixes. Regra número um: é terminantemente proibido comer peixes coloridos. Certa vez comi um. Sem querer, registre-se.

Foi no ano que fugi para a Praia Secreta. Nem procure no mapa porque não consta. Em lá chegando segui de canoa para uma pequena ilha não muito distante. O som mais alto que se ouvia por lá era o “creu-créu” das aves. Ninguém merece ouvir “creu-créu” o dia todo, então fui nadar. Nadar é preciso.

Era como se eu mergulhasse em vidro líquido. A água não era fria nem quente. Minha alma aquática adaptou-se àquele meio rapidamente.
Nadei com uma desenvoltura incrível e quanto mais eu nadava mais energia havia para seguir adiante. Então fui mais fundo, mais longe, mais fundo e mais longe. Era tudo tão lindo que, instintivamente, prendi a respiração. A respiração, por sua vez, não queria mesmo sair. Ficou lá em suspenso, grudada em meus pulmões implorando por não ser respirada. Tudo bem. Deixemo-la. De maneira semelhante meus olhos se comportaram, recusando-se a piscar.

Bem, lá estava eu totalmente em alerta e hipnotizada com o que via. Talvez ali fosse o Reino das Águas Claras do qual falava Monteiro Lobato. E a gente pensando que o velho estava delirando. Vejam só como são as coisas...

Acho que fiquei uma "pequena eternidade" sem piscar ou respirar. Cardumes e mais cardumes rebolavam em minha frente naquele exibicionismo silencioso tão próprio dos peixes. Havia a tribo prateada, a preta, a dourada, a pintada, os redondinhos, os esguios... Não vi os quadrados. Certamente existem mas são tímidos.

Nenhum queria conversa comigo mas dançavam e dançavam, ensaiadíssimos! Vi também pedras, corais... e uma enorme quantidade de “troços-sem-nome” delicadamente arrumados aos lado de “coisas-sem-registro”. Tudo muito estético. Dos cantos de algumas pedras brilhosas cresciam lindos “o-que-que-é-isso!” para o deleite dos visitantes. No caso, eu.

Distraída, eu quase dei de encontro com um “ai-jesuis”. Virei de repente, ainda a tempo. Foi quando me deparei com um cardume de colorido hipnotizante. Estavam parados me olhando com uma expressão indefinível, talvez se perguntando, lá com suas guelras: “avançar ou recuar?”

Acostumada aos movimentos dançantes das criaturas aquáticas, assustei-me com aquela imobilidade. No susto cometi um erro fatal: abri a boca e “puxei o ar” como fazemos quando ficamos surpresos. Os peixes são mais discretos em seus sustos: apenas dão meia volta e tiram o cardume de campo. Pois é: foi nesse momento que engoli, sem querer, um pequeno “laranjinha”. Pelo tamanho deveria ser um adolescente cheio de vida e sonhos. Nunca me perdoei.

Eles também não me perdoaram. O fundo do mar tem seus encantamentos e códigos de ética.  Não tem "desculpaí" ou “fui mal”  que resolva.  O castigo: fiquei três anos sonhando em preto e branco. Três anos!

Para que você jamais passe por isso deixo aqui esse alerta: nunca, jamais, mas nunquinha mesmo, coma um peixe da tribo colorida. E na dúvida, não coma borboletas também.

Cristina Vieira

O laranjinha


O mar pode ser comparado a um tipo de céu assim como o céu é um oceano sem fim. As aves são seus peixes. Escamas e penas são só detalhes.

Sempre achei que os peixes fossem as aves do mar. No caso dos peixes pequenos e coloridos, sem dúvida que são as borboletas do mar.

Mas não falaremos hoje sobre as borboletas mas aqui vai uma dica: elas são apenas flores que não conseguem ficar paradas.

Voltemos aos peixes. Regra número um: é terminantemente proibido comer peixes coloridos. Certa vez comi um. Sem querer - registre-se.

Foi no ano que fugi para a Praia Secreta. Nem procure no mapa porque não consta. Em lá chegando segui de canoa para uma pequena ilha não muito distante. O som mais alto que se ouvia por lá era o “creu-créu” das aves. Ninguém merece ouvir “creu-créu” o dia todo, então fui nadar. Nadar é preciso.

Era como se eu mergulhasse em vidro líquido. A água não era fria nem quente. Minha alma aquática adaptou-se àquele meio rapidamente.
Nadei com uma desenvoltura incrível e quanto mais eu nadava mais energia havia para seguir adiante. Então fui mais fundo, mais longe, mais fundo e mais longe. Era tudo tão lindo que, instintivamente, prendi a respiração. A respiração, por sua vez, não queria mesmo sair. Ficou lá em suspenso, grudada em meus pulmões implorando por não ser respirada. Tudo bem. Deixemo-la. De maneira semelhante meus olhos se comportaram, recusando-se a piscar.

Bem, lá estava eu totalmente em alerta e hipnotizada com o que via. Talvez ali fosse o Reino das Águas Claras do qual falava Monteiro Lobato. E a gente pensando que o velho estava delirando. Vejam só como são as coisas...

Acho que fiquei uma "pequena eternidade" sem piscar ou respirar. Cardumes e mais cardumes rebolavam em minha frente naquele exibicionismo silencioso tão próprio dos peixes, desdenhando aplausos. Havia a tribo prateada, a preta, a dourada, a pintada, os redondinhos, os esguios... Não vi os quadrados. Certamente são tímidos.
Nenhum queria conversa comigo mas dançavam e dançavam, ensaiadíssimos! Vi também pedras, corais... e uma enorme quantidade de “troços-sem-nome” delicadamente arrumados aos lado de “coisas-sem-registro”. Tudo muito estético. Dos cantos de algumas pedras brilhosas cresciam lindos “o-que-que-é-isso!” para o deleite dos visitantes. No caso, eu.

Distraída, eu quase dava de encontro com um “ai-jesuis”. Virei de repente, ainda a tempo. Foi quando me deparei com um cardume de colorido hipnotizante. Estavam parados me olhando com uma expressão indefinível, talvez se perguntando, lá com suas guelras: “avançar ou recuar?”

Acostumada aos movimentos dançantes das criaturas aquáticas, assustei-me com aquela imobilidade. No susto cometi um erro fatal: abri a boca e “puxei o ar” como fazemos quando ficamos surpresos. Os peixes são mais discretos em seus sustos: apenas dão meia volta e tiram o cardume de campo. Pois é: foi nesse momento que engoli, sem querer, um pequeno “laranjinha”. Pelo que lembro de seu tamanho, deveria ser um adolescente cheio de vida...

Jamais me perdoei. Eles também não me perdoaram. O fundo do mar tem seus encantamentos e códigos de ética. Esses lances de “fui mal” ou tirar a bronca acendendo velas, simplesmente não funcionam por lá.

O castigo: fiquei três anos sonhando em preto e branco. Três anos!

Para que você jamais passe por isso deixo aqui esse alerta: nunca, jamais, mas nunquinha mesmo, coma um peixe da tribo colorida. E na dúvida, não coma borboletas também.

Cristina Faraon

24 de set. de 2007

Pessoas amarelas


"Somos todos farinha do mesmo saco."

Será? Digamos que sim. Mas...

Observe que mesmo nas farinhas do mesmo saco, os grãos que a integram não são idênticos. Se peneirarmos essa farinha será possível separá-las e rotulá-las em dois sacos distintos: o da farinha fina e o da grossa. E comparados um com o outro eles nos parecerão tão diferentes como se tivessem sido produzidos em locais distintos.

Mas por que estou dizendo isso? Para embasar minha mais nova teoria: a de que, mesmo sendo "do mesmo saco", se coarmos direitinho a humanidade saltará aos nossos olhos os seres amarelos.

Não, Mané! Não estou me referindo à raça amarela! Vou explicar.

As pessoas amarelas não se aceitam, logo, não são autênticas. Algo lá no fundo de suas mentes atormentadas lhes adverte de que, se disserem o que pensam realmente e se comportarem de forma transparente, serão rejeitadas. É claro que o receio procede mas só os amarelos se imobilizam com isso e acabam tomando a forma mais aceita na sociedade.

Para os amarelos não há nada mais aflitivo do que quem não se importa com a aceitação alheia. Alguém assim tão livre é uma afronta aos amarelos. Não porque eles sejam maus, mas porque esse coquetel de liberdade alheia + inveja (principalmente a inveja) faz com que se sintam muito humilhados.

Não, eles não são maus. A não ser consigo mesmos.

Os amarelos vivem de fazer média. E se dão bem - dependendo do que você entenda por "se dar bem". São aceitos pelos outros amarelos e com eles se consolam, formando uma sociedade patética. São aceitos também pelos "normais", que a princípio pensam que eles são autênticos. Quando os normais descobrem, botam a boca no trombone. Já um amarelo é eternamente fiel ao outro amarelo. Ponto pra eles.

Os amarelos sorriem e são politicamente corretos. São "amigos" de todos e incapazes de dizer algo que possa ferir aguém - pela frente. Por trás também não. Interessante, né? Então como fazem para "fritar" uma pessoa? Eles não se comunicam entre si? Claro que sim!

Atenção a esse detalhe: no mundo dos amarelos a comunicação é toda efetuada por sinais sutilíssimos, olhares, metades de meias palavras, grunhidos e gestos quase imperceptíveis. Se você não for "macaco velho" vai ficar boiando porque os amarelos não confiam em ninguém - nem no espelho. São pessoas atormentadas.

Os amarelos não são de muita refrexão. Odeiam pensar porque pensar dói muito. Fazem qualquer coisa para não precisar pensar: lavam latrina, criam associações, enxugam gelo, limpaz carvão, organizam enciclopédias de regras imprestáveis, códigos de comunicação... Qualquer coisa e qualquer assunto vale, desde que não precisem pensar na própria vida.

Eles costumam manter distância de quem questiona e procura a verdade das coisas. A proximidade com essas pessoas os adoecem. Por que? Porque quando conseguem parar pra pensar, tem crise de identidade:

"Eu sou eu ou eu sou esse personagem? E se eu deixar de ser o que os outros querem, vou morrer? Broxar? Minha pele vai enrugar, os cabelos vão cair e o mundo se acaba em barranco? Ah como eu queria chutar o pau da barraca! Meter o pé na jaca ... chutar o balde... comer melado e me lambuzar... soltar a franga... Oh vida! Oh céus! Oh azar!"

Realmente eles não se gostam. Pensando bem, devem ter lá os seus motivos.

Quem se gosta, se assume. E quanto mais se assume mais se curte. E quanto mais se curte, mais autêntico se torna e quanto mais autêntico, mais querido por uns e detestado por outros. Não dá pra ficar neutro frente a uma pessoa autêntica.

Mas quem são os amarelos? Hmmm...

Não vou ficar aqui separando o joio do trigo mas deixo umas dicas: parecem ser amigos de todo mundo. Não questionam ninguém (porque questionar é pensar e pensar dói) mas ficam sinceramente inquietos com os que lhes parecem ser "fora do padrão". Sorriem para todo mundo por dever de ofício. Têm dificuldade em ser criativos. 80 % do que dizem é composto de frases feitas e chavões. São tristes mas morrem de medo que notem que eles são tristes. Aí está o motivo de sorrirem (amarelo) para todo mundo.

Sei lá... Tô sentindo um certo carinho pelos amarelinhos.

Hoje vou acender uma vela pra eles.

Cristina Faraon

17 de set. de 2007

Será?

(Quem decide as eleições no Brasil não é quem lê jornal, mas sim quem limpa a bunda com ele...)

10 de set. de 2007

Mea-culpa



Contra todas as minhas previsões, domingo foi o melhor dia em Salinas.

Com um pessimismo detestável, imaginei que encontraria uma multidão grudenta, barulhenta e bêbada fazendo careta pra mim.

Nada disso.

Quando chegamos ao Atalaia não dobramos à direita, como de costume. Fomos para o lado esquerdo, do Farol Velho - local onde a maioria das pessoas ainda reluta em acionar o “treme-terra” de seus carros. Havia apenas um mal-elemento com o som ligado, mas estava distante. Não tive muita dificuldade em ignora-lo. Só lamento que isso não tenha trazido a ele nenhum tipo de dissabor.

O sol estava absolutamente de-si-ni-bi-do! Silêncio ... árvores fazendo chique-chique, cerveja cristal bem geladinha... E pra completar, graças a Deus eu pego um bronze super rápido. Uma salva de palmas para as minhas raízes africanas!

Brancos, mordei-vos de inveja!

Ontem eu realmente senti aquela vontade gostosinha de continuar na praia mais um pouco e mais e mais... Depois ir pra água, voltar, fritar novamente ao sol, voltar pra água, tomar várias cervejinhas... até observar que as nuvens não seguem mais seu caminho retilíneo. Ao contrário: ficam dando curiosas voltas no céu, numa ciranda muito fofa! Que coisa, né? E então começar a rir muito disso tudo. Mas não é mesmo hilário? E o mundo é uma bola, as bundas bem-sucedidas também são bolas... e os peitos... e os pintos tem bolas!

Pena que cerveja engorda.

Mas por que estou escrevendo isso? Para dizer que Deus se aborreceu com minhas considerações anteriores com respeito a Salinas e me castigou no domingo.

Sabem como? Vou contar: quando a água estava mais mansa e clara; quando o silêncio se fazia até sentir; quando as palmeiras ensaiavam um feliz rebolado e as nuvens começavam a dar-se as mãos para organizarem aquela ciranda divertida e quando o vento tentava enfiar a língua na minha orelha... aí a “galera” resolveu ir embora para “fugir do engarrafamento”. Dá pra acreditar?

Argumentei contra. E eu lá sou de ficar calada? Sim, expliquei com a mansidão dos cordeirinhos que nós não tínhamos filhos pequenos nos esperando e que também não precisávamos nos comportar como se tivéssemos que bater cartão de ponto. Não adiantou. Também não me rebelei. Reconheci o castigo divino.

Para eu deixar de ser besta. Mereci! Bato no peito sete vezes confessando compungida: “Eu mereci, Senhor! Jogai um raio em minha cabeça! Afligi-me com piras!”

Nelson me fez lembrar que antes de chegarmos à praia eu havia concordado em que retornaríamos cedo. É verdade, concordei. Mas não pensei que justamente ontem a praia me pareceria tão ampla, sorridente e menos povoada. Poxa, não tenho bola de cristal! Passei alguns minutos tentando explicar a ele que eu havia concordado mas que daquele momento em diante eu “desconcordava” oficialmente.

Ele não conseguir entender o conceito de “desconcordância”. Para mim parece tão claro! Sei lá, acho que eu não soube explicar.

Com a alma esperneante pagamos a conta e fomos embora.

Mea-culpa! Mea maxima culpa!

Cristina Faraon



6 de set. de 2007

Salinópolis


Estou indo para Salinópolis!

Sabia que isso já foi chique? Talvez você ainda não tivesse nascido, mas é verdade.

No Pará, paraíso da água doce, encontramos a salgada Salinas. É uma praia realmente bonita mas...

É onde todos os caboclos do Pará finalmente tem a chance de mostrar o sonzão de seu carro. Quanto ao volume do som, o céu é o limite. Viva a liberdade e o mal gosto!

É onde você pode checar (querendo ou não) os novos sucessos musicais - todos ao mesmo tempo! - e desejar a morte (de quem os compôs).

Salinas... Na praia é fila pra entrar, fila pra sair, banheiros asquerosos. O banheiro é quem mija em você, acredite no que estou falando.

Ah, aquele filete de água doce!
Oh desejado, disputado
E adorado filete de água doce
Das barracas de Salinas
Salve salve!

Se você conseguir se molhar, considere-se um agraciado. Seu corpo pegajoso merece o sacrifício da fila.

Ainda não entendi por que é que no Pará se economiza tanto a água mas no Nordeste os banhistas podem tirar o sal do corpo sem sobressaltos. Estranho, né?

Mas ninguém me segura: estou mesmo indo para a bela Salinópolis - bela e plana. Você caminha 100 km mar adentro e não consegue molhar os ombros, a não ser que se jogue de peito na água. Ainda assim é capaz de voltar com as costas secas.

(Maldade esse exagero, mas hoje estou com a macaca.)

Ah, comer aquelas caríssimas pratiqueiras fritas em óleo noviiiinho! É tão divertido ficar procurando o que comer em meio àquelas espinhas esturricadas!

Observar, sob o sol causticante, que tenho muito mais celulites do que supunha e que esqueci em casa, sim, algum objeto imprescindível.

Bom mesmo é tirar aqueles cochilos rápidos... pelo tempo suficiente para descobrir, sobressaltada, que a maré está quase para levar seu carro para o fundo do mar. Os chinelos já foram!

Lembranças ao Titanic!

Nem penso na possibilidade de ser atropelada na praia por um lindo filhinho-de-papai que se exibe para uma linda patricinha vinte anos mais nova e vinte quilos mais magra do que eu. Por que isso aconteceria? Bem mais provável é ficar menstruada no meio da tarde, dirigir-me aflita à farmácia e só conseguir chegar 2 horas depois por causa do engarrafamento.

Chegar em casa pra tomar banho, ligar a torneira e perceber que toda a cidade teve a mesma idéia naquele exato momento.

Ah... Bater papo com os amigos tomando uma cervejinha...

Finalmente uma coisa boa!

Obs.: Eu sei que já falei sobre isso, mas não resisto. E preciso resistir? O blog é meu!

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