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28 de nov. de 2007

Estranho vício


Que eu lembre assim, de sopetão, não tenho nenhum vício. Ou, como dizia uma conhecida minha: "fumar, beber, jogar... Desses viciozinhos tolos eu não tenho nenhum."


Mesmo sem ter vicíos posso entender alguns. A ciência explica de forma razoavelmente compreensível aos indoutos (como eu) o motivo de alguém se viciar em cigarro, jogo, bebida, drogas... Até que dá pra entender. Mas os viciados em trabalho desafiam minha capacidade de compreensão.


Existem pessoas que se inquietam frente a possibilidade de "não ter nada pra fazer". Têm crises de ansiedade - "Oh, que calamidade!" Não podem ficar paradas e declaram orgulhosamente que amam trabalhar: "O trabalho é minha razão de viver. Não sei ficar parado". São os viciados em trabalho. Credo.


Segundo a psicóloga Denise Mendonça de Melo (viva o Google!) os viciados em trabalho "passam pouco tempo com a família e mesmo quando estão presentes o assunto é sempre o trabalho. Sendo assim, o período de férias torna-se um suplício, pois longe de seu “habitat natural” sentem-se muito incomodadas, acreditando que estão desperdiçando tempo com futilidades e que por isso são pessoas inúteis. Anseiam para voltar ao trabalho, não conseguem relaxar."

Jesus, tende piedade dessas almas.

Li também que "Artigos científicos publicados em revistas de todo o mundo costumam levantar a hipótese de que boa parte dos seres humanos apresenta uma “predisposição psicológica” para o vício em trabalho."

Tô fora.

Entendo bem as pessoas que gostam do que fazem, que trabalham com afinco, são prestativas e dão o melhor de si em uma tarefa - têm um alvo a alcançar. Mas dá um nó em minha cabeça imaginar que um ser humano livre consiga resumir sua vida ao trabalho e ainda se gabe disso.

Para mim o trabalho é uma maneira legítima de realizarmos nossos sonhos. E é maravilhoso quando gostamos do que fazemos. Só que gostar do meu trabalho é bem diferente de viver para ele. Gostar é bom mas "viver para" é um tipo de maluquice. Pelo menos é o que eu acho do alto da minha pseudo-sanidade.

Sei perfeitamente que existem profissões com o poder de absorver grande parte do tempo de suas vítimas. Elas - as vítimas - por necessidade e/ou senso de responsabilidade se esforçam para cumprir todas as tarefas impostas pelo feitor - digo, empregador. Nisso passam 10, 12, 14 horas por dia. Se essas pessoas forem emocionalmente saudáveis preferirão viver de outra forma e nesse exato momento devem estar maquinando alguma maneira de sair dessa fria. Mas se o "prazerômetro" desse ser já tiver sido seriamente danificado ele vai continuar... até cair pra trás, roxo.

Uma pessoa com o "prazerômetro" danificado, quando de folga não consegue se livrar daquela sensação desgraçada de estar esquecendo de fazer alguma coisa importante. Sente uma "cuíra" misturada com sentimento de culpa quando não está com a enxada na mão. Outros sintomas:
Não consegue relaxar, sua frio e por fim fica dando voltas na casa procurando o que fazer; checa se a lâmpada precisa ser trocada, rearruma as gavetas - dessa vez por ordem de preço, não mais de cor - dá outro banho no cachorro, corta as unhas de todas as crianças do bairro, revira a casa procurando lápis para apontar, meia furada pra cerzir, pede a Deus que um passarinho cague em seu carro para que possa lavá-lo de novo, numera os gatos da vizinhança - tudo isso pra não precisar ficar uma hora balançando em uma rede, ouvindo música e tomando uma água de coco. Dá até pena.

Em meu profundo e profícuo exercício de pensar já concluí que para alguém chegar a esse estágil lamentável de desprezo ao ócio eventual a porta de entrada é sempre a mesma para todos: fuga.

Paira na vida desse tipo de pessoa o medo de refletir sobre a própria realidade. Ela teme dar de cara consigo mesma ou ter que "discutir a relação"com o sujeito do espelho. Seria a morte se descobrisse que sua vida é uma tremenda furada, que está infeliz e que prefere trabalhar até três da manhã do que ter que fingir que ama a pessoa com quem dorme.

Não estou criticando ninguém! Entendo que fugir não faz ninguém feliz, mas anestesia. É legítimo e humano tentar fugir da dor.

O trabalho, para alguns, é uma maneira de fugir sem parecer covarde. Bem, se essa fuga te deixar mais rico tudo bem: os herdeiros agradecem. Continue até morrer. Mas se não está nem ficando rico, receio que você esteja fazendo um mau negócio.

Aqui vai minha contribuição para a sua vida sem sal: uma pequena lista de sugestões de fuga que, a meu ver, são mais divertidas do que trabalhar em excesso:


Faça sexo (se não for exatamente disso que você estiver fugindo, claro);

Leia um livro. Auto ajuda não; é profundo demais.

Escreva um livro e empurre na goela dos amigos;

Leia uma revista de abobrinhas. Não me refiro a culinária, mas não deixa de ser uma opção.

Durma. E sonhe colorido de preferência.

Vá para uma academia e deleite-se em acreditar que está "embonitando".

Desista da beleza e vá com os amigos festejar sei-lá-o-quê no barzinho.

Tome um banho de espumas e vá dormir novamente.

Fique na janela estudando o valor social das bundas.

Visite aquela tia que talvez não viva até o próximo ano. Dê assim aos seus sobrinhos um bom exemplo...

Faça um check-up (só recomendo isso se voce tiver quase certeza de estar saudável)

Assista um filme bem triste e descubra o quanto sua vida é maravilhosa.

Faça compras.

Em caso de pobreza excessiva, vá ao shopping só olhar. Sonhar é de graça - ainda.

Curta um "dia da noiva" (ou do noivo) em algum salão de beleza. Dizem que a pessoa sai de lá 3 anos mais jovem. E um mês mais pobre - mas isso é só detalhe.

Evite seções de massagem porque nessas ocasiões a pessoa acaba pensando na vida e você não está preparado pra isso.

Converse com alguém na internet. Se for seu dia de sorte, em meio a tantos jumentos você conseguirá encontrar alguem minimamente alfabetizado.

Quanto tempo faz que você não usa o fio dental? Pois é: mãos a obra.

Cante uma mulher difícil. Se você está de folga terá tempo de experimentar todas as táticas pra ver qual funciona. Vai que dá certo! E no final de tudo você ainda poderá escrever um livro sobre isso e ganhar uns trocados.

Se nenhuma dessas sugestões lhe agrada aceite mais essa: consulte um psiquiatra ainda hoje. Sério.

Agora me dê licença que eu estou de férias e preciso bater o cartão de pontos na rede que está pendurada lá no meu pátio.

Cristina Faraon


21 de nov. de 2007

Noronha

Não, esse título não tem nada a ver com o nome de algum novo gatinho de estimação.
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Estou em Fernando de Noronha - caso alguém esteja interessado em saber por onde ando.

Obviamente estou empolgada com tanta beleza. Recomendo a viagem. Antes porém sugiro que vendam alguns bens.

Hoje fiz mergulho. Adorei, mas pensei que fosse uma coisa mais fácil e banal. Nada disso. Dá uma tremenda aflição, cansa, pinta medo... mas vale a pena. E como!

Depois mostro umas fotos para vocês, tá? Por favor, não percam o sono enquanto eu providencio. Juro que vou mostrar.

Confirmei o que já desconfiava há tempos: os seres humanos NÃO FORAM FEITOS para habitar o fundo dos mares. O ambiente é lindo mas inóspito para nós. E olha que nem apareceram tubarões!

A pressão lá embaixo é muito grande e o ouvido sente. Os pulmões também. Quanto mais fundo mergulhamos pior a sensação de peso, opressão nos pulmões, perigo e desampado. Dificil deixar de imaginar a merda que seria ter um ataque de tosse lá embaixo...

Agora entendi porque os peixes não tem ouvidos: porque lá embaixo dói muito e eles teriam certa dificuldade em apertar o nariz para tentar desentupi-los. A natureza é sábia.

Uma coisa com a qual eu não contava: os instrutores nada me disseram sobre o risco de um acesso de risos. Por várias vezes tive que usar todo o meu poder de concentraçaõ para não rir da aparência de certos peixes. Havia um que parecia um retalho de pano florido. E para completar a impressão ele deixava-se jogar sobre uma pedra de um jeito bem engraçado. Parecia toalha de mesa de restaurante do interior.

Havia um peixe lindo, azul escuro com detalhes muito fashion em neon. Se não era neon resta-me dizer que a imitação era perfeita. Ah, também vi um que parecia ter os dois olhos de um lado só. Não deu para checar se do outro lado haviam mais dois... Tendo ou não tendo ele já está classificado na categoria "ESTRANHO".

Fiquei um pouco desapontada com a indiferença deles em relação a minha pessoa. Não me conformo de não terem me achado nem um pouco assustadora. Eles passeavam tranquilos a minha frente (e por cima e por trás também. E por baixo) demonstrando o quanto me acham comum. Chato, né? Só se esquivavam quando eu tentava lhes fazer um cafuné. Decididamente os peixes não apreciam essa demonstração de afeto.

Os cardumes passavam por mim como se eu não oferecesse perigo algum. Na verdade não oferecia, mas eles não precisavam deixar isso tão claro!

Bem, são essas, inicialmente e atabalhoadamente, minhas primeiras impressões do fundo do mar.


Cristina Faraon

14 de nov. de 2007

Não contem nada a eles!


O boi, o frango, o peixe, a capivara, o camarão, o marreco, a lula...

Como você, eu também devoro animais - sem trocadilhos.

Não, não me sinto nem um pouco culpada por isso e não vou erguer a bandeira magra e pálida do vegetarianismo. Meu pensamento é o seguinte: deu mole, virou refeição. Nunca aconteceu com você?


Calma! Estou me referindo (sinceramente!) a alimentação. Sabe essas coisas que a gente faz na cozinha, na mesa... Hmmm... Deixa eu melhorar: refiro-me a essas coisas que tem a ver com panelas, tempero, sobrevivência, mastigação. Ficou claro?

Continuemos.

Não sou vegetariana. Quero a saciedade que vem das carnes, quero me sentir "das cavernas" de vez em quando. Faz bem. Comer carne é (do lado de lá e do lado de cá) animalesco, violento e, talvez por isso mesmo, delicioso. O sangue é só um detalhe.
Você deve estar se perguntando o que, então, me levou a iniciar esse texto falando de seres tão comestíveis? O boi ... o frango... o peixe... O que, nesse simpático corredor da morte, instigou minhas considerações?

Tomemos como exemplo o frango: quantas e quantas vezes já me flagrei com um frango entre os dentes e o coração pesado a considerar a brevidade daquela vidinha tão desprovida de prazer e sentido. Tem sido doloroso pra mim imaginar que algo sagrado e misterioso como a VIDA possa acontecer sob determinações estatísticas e contábeis, com o fim único de ser destroçado por humanos impiedosos.

Pense em toda aquela expectativa da galinha, do "coito" à constatação de que mais um lindo ovo viria ao mundo! E para quê? Pra ser quebrado em minha frigideira. Ou sadicamente alimentado e espionado até atingir a idade do abate. Que porcaria de vida é essa?!

O camarão "singrando" os mares, fazendo planos para o futuro, sentido-se livre, jovem e desejado pelas camaroas ... Mal sabe ele que o "mar" que está singrando não passa de um viveiro safado e que sua vidinha vai acabar tão logo ele atinja o tamanho ideal.

Cruel.

Cruel, mas gostoso.

Cruelmente gostoso. E nem sai sangue!

Podemos dizer o mesmo do boi e de tantos outros desafortunados que pisaram esse mundo sem perceberem que nenhuma de suas qualidades seria apreciada, a não ser o valor nutritivo.

Do nascimento a morte o que pode haver de interessante na vida de um bicho desses? Pode até haver mas jamais saberemos. Jamais! Por que desenvolveram inutilmente habilidades? Por que aprenderam a andar, nadar ou voar? Por que ter lindas penas ou pelos macios se tudo se acabará no Auschwitz da nossa cozinha?

Qual a especial ventura ou aventura, o plano de existência, o ato de bravura a ser registrado? Quem se interessa pelo que cada um desses animais possa ter de singular? Manias, preferências, fobias, sobressaltos... De nada disso restará lembrança. Passam pela vida como coisas vãs, como nada! E no entanto são tão complexos em sua formação... A vida neles também é um mistério, tanto quanto em nós. Que força os sustenta? De onde vem? Como se mantém e para onde vai? Quem se importa? Toda a ciência de seu micro-mundo está destinada ao nada... a ser perdida para sempre.
Sabe, isso me inquieta. Não o suficiente para passar fome, mas inquieta.

Eles enxergam, ouvem, sentem as exigências da natureza, a aproximação do predador ou da fêmea, sentem fome, cansaço, aflição... Para quê? Tanta complexidade desperdiçada...
Se eles soubessem - não conte nada a eles! - o quão breve e pobre suas vidas são e quão cruamente estão destinados ao buraco negro do esquecimento... Se eles pudessem ao menos refletir sobre a porcaria de vida que levam...
Sabe, acho que eles se revoltariam. Ou ficariam deprimidos - não haveria Prozac suficiente no mundo. Ou quem sabe, uma vez dotados de entendimento, eles se contentassem em escrever um blog cheio de indignação e amargura.
Ah como é confortável ser contada entre os humanos! Eu: um ser superior! Obra prima da criação de Deus reinando sobre os outros animais. Os reis da floresta somos nós! Ah que chique mandar no pedaço, escolher quem morre e quem não morre, se é com fritas ou farofa... ou quem sabe umas torradinhas. E chope!
Somos quase divinos. Pare para pensar. Pelo menos em comparação a uma lula eu sou. Falo por mim. Não sei você.

Então, enquanto pesarosamente eu comia e lamentava a má sorte daqueles seres inferiores e azarados, me ocorreu o seguinte: será que esse mesmo tipo de consideração também "aflige" os vermes que, debaixo da terra, esperam por nós? Por mim?!
-"Pobres humanos... Que sentido tem suas vidas? Se eles soubessem que a única finalidade das suas existências é nos alimentar... Vidinha mais besta! tantos projetos, tanto suspens, tanta complexidade desperdiçada... Não contem nada a eles!"


Cristina Faraon

3 de nov. de 2007

Pra quê?



Dia desses me senti meio patética (de novo!) vagando pelo shopping, tentando encontrar alguma coisa que valesse a pena ser comprada.


Tudo sem graça, manjado. E cada vitrine que eu olhava me encarava com perguntas irritantes:


- Um anel... Mas pra quê? Você tem vários e eles não melhoraram em nada a aparência das suas mãos. Não se iluda.

- Você tem mesmo certeza de que quer essa droga de vestido? Vai para onde com ele? Vai ver quem? Essa cópia de cópia vai ficar mofando meses em seu armário e você se sentirá pior ainda.

(Droga! Vamos aos sapatos.)

- Sapato de novo?! Conplexo de centopéia... Quantos pares de pés você tem, mulher? Tudo bem, se isso te fizer feliz compre. Mas nós sabemos muito bem que não te melhorará em nada, nem por dentro nem por fora.

(Ódio! Vou lanchar.)

- Vai engordar assim, de graça, sem nem estar com uma fome que justifique a transgressão? Depois já sabe: vem aquele sentimento de culpa, o espelho inclemente, as roupas que encolheram...

- Mulher, vá para a sua casa! O que você está fazendo aqui? Vá! Vá! Xô!

Responder o que? Fui. Mas antes resolvi me consolar com um sorvete. Não precisa estar morrendo de fome pra tomar sorvete, não é?

Uma vez ingerido não pude evitar: fiquei pensando na guerrilha interna que acabava de ser iniciada dentro do meu nobre corpo.

A gordura desesperada, procurando uma trincheira.

A área vip é o abdômem. Toda gordura do mundo quer ir para esse céu amarelo, mole e escorregadio. Quem não conseguiu classificação teve que se contentar como "classe média" acumulando-se em minhas costas.

As coxas são classificadas (segundo análise do modus operandi da invasora) como a pior parte da segunda classe. Elas não fazem muita questão de ir para lá mas acham preferível do que fazer volume um minha bunda. Filhas da mãe!


O espaço para essa guerra não é tão vasto, felizmente. Tenho procurado dificultar o acesso da inimiga às áreas principais, protegendo-as com exercícios físicos. Só que nem sempre isso é o suficiente. Atualmente são minhas únicas armas, além do ingênuo adoçante.

Ultimamente tenho percebido uma sutil "invasão de terras" também nos braços e queixo - áreas antes ignoradas e que têm tudo para passar a ser consideradas "vip". Era só o que me faltava! São locais difíceis de isolar. O canhão da ginástica nunca chega até lá. A solução deve ser drástica: capturar as invasoras manualmente e mandá-las para o campo de extermínio - entenda-se: lipoaspiração. Aguardem.


Se ginástica não resolve tudo, menos ainda roupas novas poderão resolver. Essas considerações foram revolvendo meu "estômago emocional" . Fui então pegando um nôjo - sério! - das roupas, das blusas, blusões, blusinhas, colares, sandálias, calcinhas... Cada lembrança, uma careta. Cada peça, um arrôto. Tudo me pareceu excessivo, colorido demais, fútil, pequeno, "aperuado".


Eu já estava prestes a vomitar mas meninas simpáticas me perseguiam para dizer que eu poderia comprar meio mundo e começar a pagar só em 100 dias.


Acho que vagar pelo shopping é a penúltima etapa para o fundo do poço. Tive pena de mim mesma...


Não quero nem saber como é o fundo do tal poço. Muito menos onde fica. Por favor, guarde para você essa informação.

Cristina Faraon

1 de nov. de 2007

Existe?


Há quem acredite na existência de duendes. E fadas. Seres extra terrestres. Sei que existe uma galera que jura já ter sido abduzida.
Tem gente que acredita em bruxas, em regeneração, em vida eterna, em igualdade, em homens fiéis...
Não estou animada a falar sobre essas coisas. Nada disso me inquieta, nada disso tira a minha paz.
Mas hoje ... Essa foto mexeu comigo.
Será que isso existe?
Claro que você não vai me perguntar "isso o quê?" Claro que estamos falando do momento supremo registrado por essa foto.
Essa representação de felicidade não estaria um tanto exagerada? Isso é para nos entreter ou para nos enganar? Tem a ver com a vida real? Essa liberdade toda não contraria a legislação vigente? Acho que a moça aí, de tão feliz conseguiria voar. Espero que tenha autorização.
Ah, quero sentir isso. Desse jeitinho mesmo. Vou me concentrar pra ver se pelo menos consigo sonhar que estou num lance desse.
Calma, calma! Respiremos fundo e analisemos.
Se considerarmos que o imóvel de onde a moça evadiu-se, representa apenas o invólucro de sua alma, poderíamos interpretar a figura como um flagrante imaginário de um momento único: a morte. Legal, não é? Até aí não vejo nenhum absurdo.
O problema é se...
... E se a foto não tiver nada de metafórico? E se for a verdade escancarada de alguns poucos agraciados pela vida? Aí o bicho pega... Não, talvez o bicho não pegue, porque a garota está livre, leve e solta.
Mas persiste a pergunta: é possível que ainda aqui em nosso planeta, arrastando carne, ossos, músculos, gord - deixa pra lá - é possível que nos encontremos um dia em meio a esse desespero de liberdade?
É possível sair por aí mostrando todos os dentes, correndo descalça, pulando, gritando talvez? Não seria um tanto ... subversivo? Anti natural? Indecente?
Será que, porventura, poderia vir a acontecer... comigo?

Cristina Faraon

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