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31 de out. de 2012

Aos moles de espírito

Ninguém deveria se envergonhar de ter um coração mole. Acho que o mundo precisa de mais corações de manteiga.

Às vezes a gente vê a concorrência cruel da sociedade, a luta por cargos, por promoções, os embates por condições mais vantajosas em negociações, em divórcios, indenizações. Muita energia é gasta nisso tudo e quando aparece alguém que simplesmente abre mão... nossa! Que cara esquisito!

Abrir mãos é andar sozinho em câmera lenta enquanto todos se atropelam. É esquisito mesmo, mas traz a paz semelhante à do fundo do mar.

Acho o seguinte: não adianta brigarmos conosco mesmos. Hoje em dia a ordem é "se assumir". Pois então? Está na hora de os moles de espírito começarem a ser honestos consigo mesmos e passarem a entender que jamais se tornarão vorazes nesses jogos da vida. Questão de natureza. É aceitar.  Por quê nos agredirmos tentando vestir uma carapaça que não tem nada a ver com a nossa natureza? Não vale a pena.

Não devemos invejar a inflexibilidade dos que não sentem o sentimos, dos que não sofrem das delicadezas do amor. Por quê  recear sermos chamados de tolos por essas pobres pessoas que nunca amaram demais?   Tolo é o forte privado de sentir a doce fraqueza de que estamos falando. Quem nunca foi desarmado, quem nunca foi rendido pelo amor... esse nunca viveu.

Há vitórias por demais amargas que se voltam contra o próprio vencedor. Abro mão delas. E há derrotas feitas de mel, que a gente come escondido e se lambuza feliz da vida.

O que o mundo sabe sobre você? O que o mundo sabe do seu coração? Nada. Então esqueça o mundo e suas exigências estéreis.

Cada pisada no calo da pessoa amada corresponde a uma facada que você dá em você mesmo! E inútil tentar ser durão e acabar sofrendo a mesma pena do o outro. Se você ama, jamais conseguirá fazer o mal sem se magoar também. Desista.   A alma tem leis próprias e quem não entende isso tampouco merece explicação.

Deixe-se levar. Não brigue com o que você é, não se odeie por lhe faltar o tal "espírito combativo". O mundo está lotado dessa coisa.

No final das contas a gente descobre que andar a segunda milha pode ser  a mais doce das caminhadas. Tudo o que você dá, retorna pra você. Geralmente com outra cara, mas volta. Nem que seja naquele tipo de alegria profunda e redobrada que a gente não sabe explicar direito.

Melhor a honestidade pacificada de se assumir "mole de espírito" do que a esperteza amarga das pessoas sem paz.

29 de out. de 2012

Pra cima

Pois sabe o que me joga pra cima? Um bom samba. Um samba e o sorriso da Clarinha. O sorriso dela e essa minha sacada pequena, mas onde o vento faz uma curvinha, joga um cheiro e segue viagem. Um samba e essa lua deslizando no céu lisinho lisinho.

Os artistas são anjos de Deus que estão aqui para ajudar a gente a levar a vida. São mensageiros do belo e entendedores da  nossa dor. Eles nos fazem dançar, rir, ajudam a gente a cair naquele choro gostoso que lava e enxagua a alma, ensinam a sonhar, lembrar, transar e viver. Porque pra tudo tem uma música e uma poesia que dá certinho com o momento.

Eu tava meio chateada com as notícias, com o Brasil, mas o Gonzaguinha me disse que a vida e bonita e que a gente não tem que ter medo.

De uns temos para ca olho as pessoas e vejo uma irmandade cósmica que eu não via antes. Seu que ainda não vejo tudo nem todos que eu devia ver mas acho que estou crescendo, aprendendo alguma lição fundamental.

Deus tem filhos lindos. O mundo está cheio de pérolas. E a lua está abusando hoje de tão linda.

Violência

VIOLÊNCIA: Estou cansada de discursos sobre medidas que RESOLVEM. Cansada porque nenhuma das soluções propostas resolve. Sabe por quê? Porque só o que resolve é o que é de fato implementado. 

Bate boca de intelectual é um negócio cansativo, uma coisa feita para enrolar. Todo mundo sabe que nao leva a lugar nenhum. 

Estou cansada de respostas que só se aplicam a um país imaginário. Estou exausta de soluções que TODO MUNDO SABE QUE O GOVERNO NÃO VAI TOMAR. Droga, se todos sabemos, por que ficar pastoreando ilusões? 

Acabar com o tráfico de armas? Não vão acabar nunca porque tem muita gente poderosa metida no meio. Então não adianta pensar em soluções que dependam do dia dourado no qual não haverá mais tráfico de armas. O Brasil acontece aqui e agora! Chega de tomar medidas apenas em cima do que devia ser. 

Deveria haver duas comissões no governo: uma para pensar em como deveriam ser as coisas e outra para pensar em COMO AS COISAS SÃO DE FATO. Não podemos descuidar 
do futuro mas descuidar do presente é mil vezes pior. 

Alguém nesse país tem que pensar no que fazer ENQUANTO AS COISA NÃO MUDAM. O que fazer enquanto o governo não faz. É disso que precisamos.

Estou cansada de ouvir que isso ou aquilo não resolve. Armar as pessoas não resolve? Não. Prender não resolve? Não. Punir não resolve? Não. Matatar bandido não resolve. Não. NADA RESOLVE. Então tá, por isso não vamos fazer nada porque nada resolve?

Agora deixa eu dizer a você o que não resolve: dizer que o governo DEVERIA fazer isso e aquilo. Quando houver creches, quando tivermos uma polícia eficiente, quando não houver mais crianças abandonadas, quando os colégios foram em regime de semi-internado, quando, quando, quando, quando isso quando aquilo. É precisamente isso que não resolve: legislar em cima de um Brasil que ainda não existe. 

Mandar recolher o menor para ressocializá-lo NÃO resolve sabe por quê? Porque não existe ressocialização no Brasil, pô! Vá se catar com sua teoria! Quero saber o que fazer com o delinquente HOJE e não quando houver um programa maravilhoso de ressocialização. 

Vamos pensar em algo para o Brasil que temos. Depois pensaremos em algo para o Brasil que queremos ter. Mas enquanto não aparece uma solução que RESOLVA, que tal fazermos pelo menos o que minimiza?

26 de out. de 2012

Ato falho


Ato falho, para quem não sabe, é aquela mancada que a gente dá quando se confunde no que diz e acaba dizendo o que queria esconder. Ou acaba dizendo o que estava lá dentro da mente, no fundo no fundo. Ato falho é quando a pessoa mesma se trai e acada dando as outros uma informação ou uma pista que não gostaria de dar.

Sim, existem vários tipos de atos falhos e vou falar aqui de um que tem sido muito visto mas pouco comentado: é quando a pessoa insiste que se "orgulhar muito" de determinada coisa.

(Ressalva: sem generalizações. Não acho que isso se aplique a tudo nem a todos.)

Quando vejo alguém que se "orgulha demais", geralmente esse alguém está se "orgulhando" de algo que não está muito bem resolvido dentro de si.  Parece-me que a pessoa está tentando SE CONVENCER de que aquilo não é tão ruim assim quanto ela acha que dizem. Vamos aos exemplos práticos?

De vez em quando alguém sai propalando que se orgulha muito de ser cristão e que não se envergonha disso. "Não se envergonha disso?" Como assim?! Dentro da minha cabeça é absurdo alguém se envergonhar de ser cristão - mas para quem propala seu orgulho talvez não seja algo tão absurdo assim...

Para mim esse tipo de afirmativa não passa de um ato falho de quem vive ouvindo críticas à fé cristã, já foi desprezado ou ridicularizado, não soube responder alguma provocação e no fundo no fundo se sentiu diminuído. Para lutar INTERIORMENTE contra isso sai dizendo que "não se envergonha de ser cristão".  Desconfio de que só um problema interior justifica dizer uma coisa dessa.

O Apóstolo Paulo disse que não se envergonhada do Evangelho de Cristo. Disse isso porque um judeu se tornar cristão significava uma espécie de traição à religião, à família, aos antepassados e a tudo que ele estudara desde a infância até a idade adulta. Não acredito que o contexto seja o mesmo do ufanismo de hoje em dia.

Ninguém sai por aí dizendo que "sou juiz e não me envergonho disso". Se a pessoa divulgar que assume o fato de ser juiz e não sente um pingo de vergonha do fato, o povo vai estranhar. Qual motivo uma pessoa teria para se envergonhar de ser juiz? Ou de ser médico? Entendeu? Ato falho.

Outra situação de confissão involuntária: "Tenho orgulho de ser gordinho". Agora me dê um bom motivo para alguém ter orgulho de ser gordo. Você pode ser indiferente ao fato de ser gordo. Aí tudo bem, faz sentido e eu entendo. Está se sentindo bem na propria pele e pronto. Acho perfeitamente compreensível. Mas sair por aí apregoando que se "orgulha" disso, aí fica  meio suspeito: parece que você está querendo se convencer de alguma coisa...

Acho que só faz sentido eu me orgulhar de algo que e penei muito para conseguir alcançar ou desempenhar. Dessa forma, ter orgulho de ser branco, de ser negro de ser alto ou baixo é um orgulho besta porque você não se esforçou para alcançar aquilo, não lhe custou nada. ao contrário, simplesmente aconteceu!  Então orgulho de quê?

Além do mais, se a pessoa se orgulhasse mesmo de seu peso, jamais usaria o eufemismo "gordinho"; diria logo que tem orgulho de ser GORDO, e daí?  Quando uma pessoa chega a divulgar que sente "orgulho de ser gordinha", já está confessando algo. Desconfio logo de que secretamente ela não aceita aquilo mas cansou de lutar contra a balança e agora está na fase de se convencer de que se sente ótima. Porque se se sentisse ótima mesmo isso seria tão natural que ela não sentiria necessidade alguma de se tornar militante.

E por aí vai. Orgulho de ser negro, de ser gay, de ser crente, índio, de ser isso ou aquilo, geralmente não passa de "orgulho de complexado".

Calma! Eu disse geralmente, não disse sempre!

Um conselho: melhor pensar dez vezes antes de sair por aí batendo no peito sobre ter orgulho ou não ter vergonha de ser isso ou aquilo; você pode estar fazendo uma confissão às avessas e colocando na vitrine suas maiores fragilidades.









24 de out. de 2012

Você aguenta mais um pouquinho


Já está todo mundo enjoado mas mesmo assim resolvi escrever um pouquinho sobre política, só para exerceu meu direito de azucrinar  também.

Li no blog Oásis a Inutilidade um texto interessante sobre o assunto. Sugiro que você vá lá e leia  a postagem completa. Aqui apenas colo dois parágrafos nos quais o nobre blogueiro responde a duas indagações que - acredito - são comuns a todos os brasileiros:

Primeira pergunta respondida pelo blogueiro:

"Então por que tanto fanatismo político? Fácil: política é igual futebol. Cada um escolhe um time para só ver virtudes e coloca um filtro no cérebro pra detectar apenas defeitos alheios. Eleição é uma mera disputa entre agremiações. Embate de ideias é passado; o presente não passa de uma escaramuça para saber quem vai herdar a carniça."

Segunda pergunta respondida pelo blogueiro:
"E por que os candidatos são tão semelhantes? Porque somos todos parecidos. Por um cargo DAS, somos capazes de dizer que mudamos de candidato - ou mudamos mesmo -, colocamos propaganda no carro e vamos a carreatas com um poster do candidato no c*. Não é tão diferente das trocas de favores políticos que tanto criticamos."

Isso tem tudo a ver com uma antiga postagem minha (confira aqui).

Sem mais comentários.

Reflitamos, irmãos.

18 de out. de 2012

Pensamento do dia


Desabafo de um PM

Estive lendo no Yahoo o comentário a uma reportagem da revista Health sobre as 10 profissões que mais causam depressão. A lista é discutível (veja aqui). No comentário alguém denunciou o fato de que a profissão de Policial Militar não foi mencionada e é, certamente, a mais terrível.  Se não é a pior, deveria estar pelo menos entre as dez mais.  Por esse motivo resolvi abrir essa postagem para colar abaixo o comentário do cidadão Julio Emanuel. Acho que ele é PM. O que disse é muito certo. Com ele, a palavra:

"No Brasil a primeira é POLICIAL MILITAR. Ganha pouco, vive constantemente ameaçado pelos vagabundos, sofre pressão internamente por ser um "militar", a sociedade o odeia, a imprensa o odeia, o ministério público o odeia, os criminosos o odeia, o judiciário o odeia... Ainda assim, quando está em uma situação perigosa, seu sangue policial ferve nas veias e não se omite. Jamais espera reconhecimento de ninguém, pois sabe que nunca virá. Quando prende um elemento perigoso sente-se bem consigo mesmo, pois sabe que está deixando as ruas menos perigosas para sua família. Mas sabe, que qualquer deslize seu o mundo cairá em sua cabeça para o crucificar. 
Um abraço a todos os pais de família Policiais Militares que se foram no cumprimento do dever. José Silva, descanse em paz irmão!"


Só pude concordar. Minha resposta foi:

É isso mesmo! A profissão mais dificil é ser PM. Deveríamos valorizá-los mais. Existem lá dentro pessoas do mal? Existem sim. Mas até em hospitais a gente vê todo dia médicos carniceiros, sem alma, sem um pingo de humanidade matando gente todo dia. É o que mais tem! Então meu abraço aos nossos PM's que com toda dificuldade contribuem mais para o nosso bem-estar do que muito engravatado inútil.

15 de out. de 2012

Fiapo de sol

Eu queria ganhar uma fagulha de sol. Queria tê-la em minhas mãos, pegá-la, possui-la como se possui qualquer coisa secreta e cara.

Não quero a lua. A lua não! Porque a lua é triste e fria e sua prata, vez por outra, lembra o gelo. Ter em mãos um raio de luar é conhecer a melancolia, é ver o brilho de todas as festas mas jamais ter entrado em uma. É o brilho do lago sem nunca ter mergulhado nele. A lua é uma lágrima que não seca nunca.

Mirar um raio de luar é como ver um espelho; é entrar em si mesmo, na melancolia particular, até se perder.

Quero um raio de sol. Não o sol comum, de todo mundo. Não o sol do parque, do capim, do asfalto fervente. Quero o sol só meu, secreto, guardado em uma caixinha debaixo da minha cama. Quero entrar no quarto, trancar a porta e desfrutar sozinha do seu brilho, do seu remédio.

É isso o que quero: um raio de sol só meu que ilumine todo o quarto e que me faça rir quando eu estiver quase para morrer ou quase para chorar.

Quem tem um fiapo de sol, tem tudo.
Eu tenho tudo, mas não tenho meu fiapo de sol...

11 de out. de 2012

Paraíso?

O Paraíso, pra começar, é a morte.

Não há acordo, não há forma ou fórmula que coloque o Paraíso ao alcance das nossas mãos aqui e agora. E a impossibilidade não tem nada a ver com tempo ou espaço. Nada a ver com o nosso planeta.

Às vezes imagino esse lugar. Adoro pensar no Paraíso. Minha mente sempre tentou fugir daqui. Sim, imagino o Paraíso mas logo "desimagino".  Impossível construir virtualmente um lugar desse sem que nosso acervo de vida atrapalhe tudo.

Sempre começo construindo jardins cheios de salgueiros e lagos transparentes. Sempre. Isso já está ficando repetitivo. Começo assim, com jardins, ventos, sons suaves, perfumes, frutas doces, maduras e suculentas. Roupas feitas de tecido levíssimo como fumaça - uma fumaça que não se desfaz com o vento (por algum motivo não consigo ficar pelada no Paraíso...).  Mas passado essa etapa logo abandono essas exterioridades e me ponho a imaginar não mais um lugar, mas um estado emocional perfeito.

Certamente o Paraíso não é um lugar, mas um estado. É um sincero desconhecer. São olhos virgens.  Tento então me imaginar sem saudades, sem arrependimentos nem dores nem desejos ou amarguras.  É um estado tão perfeito e tão intenso que podemos estar nele independentemente de onde estejamos.  Essa idéia, em um primeiro momento, aproxima de nós o Paraíso, mas sem seguida o afasta.

O Paraíso  nada mais é do que a capacidade interior de estar no Paraíso. Talvez ele seja a infância. A infância uterina, o antes de tudo.

O Paraíso é podermos parar, não fazermos nada e não sentirmos nenhum desconforto com isso. Estou convencida de que não há diversão organizada no Paraíso porque a própria diversão é a negação dele. Só um estado existencial muito ruim carece de diversões. Só um interior carregado de lixo precisa tanto se desligar e esquecer da vida.

O Paraíso, então, é o lugar onde fazemos as pazes com o silêncio. É onde o silêncio não assombra, mas se compara à música. É parar, pensar e não sentir nada doer. É poder ficar mil anos sentada em um banquinho sem ser assaltada por nenhuma lembrança triste. É se sentir profundamente acompanhado mesmo sem estar vendo ninguém.

Não há feiúra no Paraíso porque o feio está dentro de nós, e não fora. Então é infantil essa coisa de jardins, flores e pássaros. Eles não atrapalham, mas também não ajudam em nada. Uma vez tendo o Paraíso dentro de si, a pessoa o terá em qualquer lugar. A feiúra é qualquer coisa aleatória que se une a um mau sentimento ou uma má lembrança.


(Nossa, como estou filosófica!)

Precisamente por isso é que Deus não nos mostra o Paraíso hoje. Hoje, com a cabeça que você tem, você não pode ve-lo.  Não porque ele não exista, mas porque provavelmente ele não existe dentro de você e isso tem que vir primeiro.  Se víssemos o  Paraíso hoje com nossos olhos cheios de cismas, julgamentos, lembranças amarguradas, cobiça e medo, ficaríamos profundamente desapontados. Se fôssemos colocados na porta do Paraíso assim como estamos... não o veríamos. Ou o perceberíamos tão mal que talvez nossa vida acabasse aí. Seria horrível.

Não deixa de ser desconcertante imaginar que talvez estejamos no meio do Paraíso - o Paraíso verdadeiro! - mas que não o tenhamos notado ainda.

Estou pensando nisso agora e esse é um pensamento muito triste. Sinal de que não estou no Paraíso.

7 de out. de 2012

ACÁCIO


Ah meu lindo pé de acácia!
Distante se vai na memória
Tua principesca imagem
De imóvel trajetória
Namorado louro e festivo
O primeiro que me teve
Em deslavadas posições
Sorrias? Acho sim que tu sorrias
Entre os cachos amarelos
Eu, de shorte de algodão,
E outros trajes bem singelos
Menina fresca e alegre
E de fita nos cabelos

Era tua ao te abraçar
Entre as minhas travessuras
E o sol me era morno
Entre as tuas flores puras
Tuas pétalas gentis
Procuravam meus cabelos
Desfrutavas minhas pernas 
Cintura e cotovelos
Morena alegre e enroscante
Em alegre brincadeira
Com trejeitos tão infantes
Bem inocente eu era
Ainda que sempre mulher
E tu o que eras? Me diga!
Tão frondoso a me acolher!
Tu eras meu príncipe em flor
Em reduzido terreno
Esplêndido reino encantado
E mesmo assim tão pequeno

O que te deixava mais lindo
Era o seres bem sozinho
E tão a espera de mim
Todo meu amarelinho!
Mas conte baixinho assim:
Sentias meu cheiro de vida?
Supunhas a minha idade?
Ao toque de minha mão
Como era a sensação?
E ao quedar-me pensativa
Em tua sombra de flor
Despertava teu cuidado
Ou, quem sabe, teu amor?

Ai, teu chique-chique ao vento!
Ai! Tuas flores ao orvalho!
Em ti feliz me enganchei
Eras teto e assoalho
Comportei-me sem pudor
Como em todo bom amor
Grata memória tua:
De vem em quando me vem...
Sorrias pra toda a rua
Nunca mais achei ninguém
Em quem me enroscar assim...
Balanças no meu passado
E por tudo o que vivemos
Ainda és meu namorado.

(Lembrando da infância, das ferias em Sepetiba e do meu lindo pé de acácia. Tempos leves...)

3 de out. de 2012

As muitas mulheres de minha vida


"A vida parece muito com a morte: acontece com todos, gostando ou não.
O significado de tudo isto? Honestamente? Quem dá a mínima?"

Tirei essas frases desse filme aí, cujo nome é o título desta minha postagem. Vale a dica: assistam. No começo ele parece ser mais um filme engraçadinho sobre mais um homem que transa com todo mundo. Não é. Trata-se de uma história bem interessante.

Mas não estou aqui para falar do filme. O questão hoje é: responder que "... O significado de tudo isto? Honestamente? Quem dá a mínima?" -  é coisa de gente feliz.  Gente deprê  paralisa diante dessas questões. Os de bem com a vida seguem em frente porque tem mais o que fazer.

Qual o significado da vida? Quem eu sou? De onde eu vim? Para onde vou? São perguntas típicas de gente infeliz. Pode reparar. Os felizes estão sempre "em outra".

Para fazermos indagações sobre a vida temos que estar um tanto afastados dela. Ninguém contempla um quadro estando a meio metro dele. É necessário afastamento. Da mesma forma precisamos "sair do quadro" da vida para pensar demais a respeito. Pensar é pairar sobre.

A felicidade é maluquinha e avessa a reflexões. Não que a felicidade não reflita porque não goste; ela não reflete por que não tem tempo. É como no sexo: ninguém teoriza enquanto está gozando. O prazer aperta a tecla "stop" do cérebro e ele entra em pane temporária.

Decerto a reflexão é a pausa da vida. Por isso tenho pena de todos os pensadores - o que me leva a pensar sobre qual seria o meu real estado enquanto escrevo esse texto.

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