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11 de out. de 2012

Paraíso?

O Paraíso, pra começar, é a morte.

Não há acordo, não há forma ou fórmula que coloque o Paraíso ao alcance das nossas mãos aqui e agora. E a impossibilidade não tem nada a ver com tempo ou espaço. Nada a ver com o nosso planeta.

Às vezes imagino esse lugar. Adoro pensar no Paraíso. Minha mente sempre tentou fugir daqui. Sim, imagino o Paraíso mas logo "desimagino".  Impossível construir virtualmente um lugar desse sem que nosso acervo de vida atrapalhe tudo.

Sempre começo construindo jardins cheios de salgueiros e lagos transparentes. Sempre. Isso já está ficando repetitivo. Começo assim, com jardins, ventos, sons suaves, perfumes, frutas doces, maduras e suculentas. Roupas feitas de tecido levíssimo como fumaça - uma fumaça que não se desfaz com o vento (por algum motivo não consigo ficar pelada no Paraíso...).  Mas passado essa etapa logo abandono essas exterioridades e me ponho a imaginar não mais um lugar, mas um estado emocional perfeito.

Certamente o Paraíso não é um lugar, mas um estado. É um sincero desconhecer. São olhos virgens.  Tento então me imaginar sem saudades, sem arrependimentos nem dores nem desejos ou amarguras.  É um estado tão perfeito e tão intenso que podemos estar nele independentemente de onde estejamos.  Essa idéia, em um primeiro momento, aproxima de nós o Paraíso, mas sem seguida o afasta.

O Paraíso  nada mais é do que a capacidade interior de estar no Paraíso. Talvez ele seja a infância. A infância uterina, o antes de tudo.

O Paraíso é podermos parar, não fazermos nada e não sentirmos nenhum desconforto com isso. Estou convencida de que não há diversão organizada no Paraíso porque a própria diversão é a negação dele. Só um estado existencial muito ruim carece de diversões. Só um interior carregado de lixo precisa tanto se desligar e esquecer da vida.

O Paraíso, então, é o lugar onde fazemos as pazes com o silêncio. É onde o silêncio não assombra, mas se compara à música. É parar, pensar e não sentir nada doer. É poder ficar mil anos sentada em um banquinho sem ser assaltada por nenhuma lembrança triste. É se sentir profundamente acompanhado mesmo sem estar vendo ninguém.

Não há feiúra no Paraíso porque o feio está dentro de nós, e não fora. Então é infantil essa coisa de jardins, flores e pássaros. Eles não atrapalham, mas também não ajudam em nada. Uma vez tendo o Paraíso dentro de si, a pessoa o terá em qualquer lugar. A feiúra é qualquer coisa aleatória que se une a um mau sentimento ou uma má lembrança.


(Nossa, como estou filosófica!)

Precisamente por isso é que Deus não nos mostra o Paraíso hoje. Hoje, com a cabeça que você tem, você não pode ve-lo.  Não porque ele não exista, mas porque provavelmente ele não existe dentro de você e isso tem que vir primeiro.  Se víssemos o  Paraíso hoje com nossos olhos cheios de cismas, julgamentos, lembranças amarguradas, cobiça e medo, ficaríamos profundamente desapontados. Se fôssemos colocados na porta do Paraíso assim como estamos... não o veríamos. Ou o perceberíamos tão mal que talvez nossa vida acabasse aí. Seria horrível.

Não deixa de ser desconcertante imaginar que talvez estejamos no meio do Paraíso - o Paraíso verdadeiro! - mas que não o tenhamos notado ainda.

Estou pensando nisso agora e esse é um pensamento muito triste. Sinal de que não estou no Paraíso.

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