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31 de dez. de 2011

"CACHÃO" *

Festa de Ano Novo é a festa de aniversário de todo mundo. Todo mundo completou mais um ano de vida, todo mundo "chegou lá", está de parabéns, merece abraços e vai comemorar até os pés crescerem em bolhas.

Essa sensação de unidade é a coisa mais fofa do Ano Novo. Estarmos sob o mesmo mesmo guarda-chuvas  é justamente o que nos eleva; não somos mais apenas seres pensantes, mas seres "sentinte e irmanantes". Seres gigantes.

Um "aniversarião":  quer coisa mais democrática?

Tive desilusões? Ele também
Tive dívidas? Ele também?
Sonhei? Ele também!
Realizei? Ele também.
Quebrei a cara? Pois ele também.
E por aí vai.

No Ano Novo todo mundo parece estar no mesmo barco e é isso o que nos leva a abraçar, beijar, chorar no ombro: a certeza de que não passamos de um imenso cacho de uvas.

Sim, no Ano Novo ninguém reclama de dividir o aniversário com ninguém. É legal dividir e não ser sozinha o centro das atenções. O centro das atenções é o gênero humano. É a NOSSA FESTA.

Seria maravilhoso se esse sentimento de "CACHÃO DE UVAS" permanecesse para sempre. Por quê em 31 de dezembro isso é simples e  natural mas no resto do ano parece ser tão contrário à natureza?

Bem, esse é o meu jeito-desajeitado de dizer o mesmo que Johnn Donne disse:


“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do género humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”. 



Então desejo a todos nós um 2012 bem  CACHÃO!

Começando bem

27 de dez. de 2011

Nos braços de Nina


Gostei de ver o trabalho da fotógrafa Nina Bruno. Ela teve a iniciativa de fotografar vários locais em São Paulo completamente vazios, sem viva alma.  Deve ter sido complicado fazer isso. Valeu.

As fotos me encheram de impressões. A princípio fui tomada por uma sensação gostosa. Ao observá-las era como se alguém finalmente tivesse conseguido fazer São Paulo dormir depois de séculos de insônia. Algo como encontrar uma babá que conseguisse a façanha de ninar com sucesso uma criança que não quisesse dormir de jeito nenhum. Pois São Paulo caiu nos braços de Nina Bruno em sono profundo e reparador.   Quase dá para "ouvir o silêncio" e o ressonar da cidade pacificada.

Observando esse trabalho é possível também oscilar entre essa sensação e uma outra, que lhe é oposta: a agonia. Agonia da solidão absoluta, da ausência de vida. O peso do silêncio, que é ouvido com o peito, não com os ouvidos. E se todos sumissem? Se tudo acabasse? Onde estão os camelôs, as crianças, as senhoras enrugadas? Onde está o barulho que eu odiava?  As fotos têm um quê de fim de mundo que acaba impressionando.

Gostei.



24 de dez. de 2011

Ah... Natal na França...


Hoje vi uma apresentação   de Power Point liiiiinda. Natal na França. Fiquei encantada e sob este encantamento não resisti:   fiz de conta que juntei todas as minhas economias,  que "esqueci" de pagar as dívidas, que pedi dinheiro emprestado aos amigos e ... que voei para a França! Ah...

Todo mundo sabe o que é neve mas nem todos sabem o que é neve bem educada, comportada e posando para foto. É outra coisa!

Neve decorativa, colorida por lâmpadas, abraçando pinheiros, encostada amistosamente em portas e janelas lindamente enfeitadas... Tudo iluminado. Xô trevas! Um primor. Laços vermelhos. Cães com laços vermelhos. Gatos. Ratos, se os há, com lacinhos e meias vermelhas. E ainda por cima (ou por trás, sei lá) um coral de crianças saudáveis e cheirosas (ninguém canta tão bem se não for saudável e cheiroso) entoando (quem canta é pobre; rico "entoa") comoventes canções.

Cá com os meus botões me arrisco a perguntar, de mim para mim e muito discretamente: o que essas canções tem de comovente, se não compreendo uma vírgula do que esses pirralhos "entoam"? Ao que meu "eu mais elevado" prontamente responde: " -E quem precisa entender? A arte transcende a tudo e se você nao percebe isso com o espírito é porque ele não evoluiu; deve portando recolher-se ao porão, que é o seu lugar." Eu percebi sim! Se não sou convidada para jantar nas casas francesas pelo menos para passear de botas de couro nas ruas nevadas faço jus.

Voltando: ninguém precisa mesmo entender a letra das canções. Devem falar qualquer coisa sobre amor, paz no mundo, essas coisas que combinam com os enfeites de Natal. Tudo a ver. Em janeiro vai tudo para as gavetas.

A verdade é que podemos dar mil rodeios. Podemos até nos emocionar mas toda essa produção pode muito bem ser traduzida em cifrões.

Ruas tranquilas sem trombadinha? Dinheiro. Porque ninguém segura em casa um pivete faminto.

Ruas com a neve aplainada à máquina: dinheiro. Nenhum turista vai se atolar de boa vontade na neve, ainda que seja na França.

Luzes natalinas confeitando casas, árvores, janelas e o que mais aparecer: dinheiro. Ou você acha que aquele derrame de estrelas foi descuido de São Pedro? Ou será que os donos dos imóveis passaram o dia pendurados perigosamente em escadas para pendurar aquelas luzinhas lindas? Claro que não. Eles pagaram um profissional para isso porque eles têm dinheiro. Em minha casa eu faço tudo por conta própria. E fica tudo torto.

E o coral? Dinheiro. Quem vai ensaiar dia e noite um monte de pentelhos se não for para receber um bom incentivo? E quem vai levá-los a cantar se for de graça? Ninguém, a não ser para promover o lançamento do CD. De qualquer modo isso representa dinheiro.

Dinheiro, dinheiro, dinheiro. Ainda mais porque até onde eu sei os franceses não são lá muito devotos de coisa nenhuma a não ser da Igualdade, Liberdade e Fraternidade - e olha lá. Até essas três santas estão meio em baixa. O fato é que se eles se fantasiam de Natal só pode sem por um único e reluzente motivo: dinheiro.

Mundo cão.

Natal... criancinhas loiras de nariz e bochechas vermelhas fazendo biquinho na França, bem agasalhadas, andando seguras pelas ruas brancas, janelas claras (sem grades, meus amigos!!!) deixando-nos ver mesas "de revista" com aves certificadas fazendo pose na mesa, pães com algo além da casca, caldos com ervas finas, nozes frescas fazendo coro com troços fumegantes, queijos em inúmeras tonalidades e com todos os tamanhos de buraquinhos... Ah como o Natal é lindo!

Mas aqui no meio da neve imaginária e com um certo receio de ser mandada aos porões, fico novamente me perguntando: o Natal não fica capenga sem aquele garotinho da mangedoura? E os anjos fluorescentes? Sem aqueles anjos, estrela, profetas, virgem, pastores, fica faltando a alma de tudo. Natal sem Jesus é como mandar embora a manequim de carne e osso para casar com a manequim de plástico da vitrine. Pra mim o "Glória a Deus nas maiores alturas" é que é o centro de tudo e traz consigo, em uma só guirlanda, toda uma mensagem comovente que de tão comovente combina tanto com a França quanto com a baía do Guajará.

Feliz Natal, seja lá onde você estiver.

Cristina Faraon

21 de dez. de 2011

Por quê?

Depois que mudei (pela vigésima vez) a aparência do meu blog, as visitas diminuíram sensivelmente. Por quê, gente?

20 de dez. de 2011

Eterno por convicção

"Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida eu vou te amar!"

Existe prova de amor sim senhor. A veracidade do amor pode ser testada como qualquer coisa nessa vida. Alguns fatos são como reagentes químicos: a gente pinga umas gotinhas no amor e espera para ver se ele muda de cor. Se não ficar azul, não é amor.  Não adianta ficar roxo, cor-de-rosa, amarelo. Não tem desculpa: a perícia só aceita uma cor, uma reação. É assim na química, é assim na vida.

Por exemplo: a paixão também pode ser provada em "laboratório". Li no Twitter o seguinte: "Se você consegue controlar sua paixão, então você não está apaixonado."   Verdade absoluta!   Porque o pressuposto da paixão é justamente esse estado de "sem-noção" que todos já conhecemos.

Paixão não se controla, se esvai.

Voltando ao amor: se você não tem certeza de que vai amar aquela pessoa por toda a sua vida, então meu amigo, você não está amando. E vá atrasar a vida de outro com suas histórias.

Observe: eu não disse que o amor verdadeiro não acaba. O que eu disse é que quem ama está convencido de que aquilo não vai ter fim. E não há experiência de vida que convença a vítima  pessoa do contrário.

Certeza de eternidade + possibilidade do fim:  essa combinação  faz do amor  o grande risco da vida. Mas quem afirmaria que não vale a pena meter a cara?

Sim, o amor é eterno. Não no sentido de que não vá acabar.   A eternidade do amor cabe toda no presente. Se é amor, é eterno. Não necessariamente ao longo do tempo, mas é eterno por convicção. Aliás, é por isso que as pessoas casam.

Se seu amor passar nesse primeiro teste, acho que ele nem precisa de um segundo.





18 de dez. de 2011

Generalidades sobre os conselhos

Esse não será o meu melhor texto, mas lá vai:

Acho que a maioria das pessoas não gosta, mas eu aprecio ouvir conselhos. Só não sei dizer por quê.

Às vezes entro na internet só para ler aqueles sites de citações. É interessante, mas peça para eu falar uma! Esqueci tudo. 

Não são os conselhos que nos guiam, mas a nossa própria sabedoria ou capricho. Quem tem juízo, tem; quem não tem, não há conselho que ajeite. 

Fora a teimosia, às vezes penso que nos pesa uma espécie de "carma", algo como "o que tiver que ser, será, independentemente do que se diga".  No Brasil é assim: todo mundo sabe o quê certas políticas do Governo podem causar a médio e longo prazo mas mesmo assim... O abismo nos chama e não sei qual argumento otimista nos impele para o buraco.

Tragédias anunciadas são o que mais existe no mundo e mesmo assim cada um procura cumprir a sua.

Frases brilhantes são como conselho de vizinhas desocupadas. A gente só ouve mesmo quando está igualmente desocupado. Depois esquece. Ou pior: guarda o que ouviu para, no futuro, usar contra o próprio conselheiro.

Frases brilhantes são conselhos disfarçados. Como são de graça a gente aceita, da mesma forma que aceita aqueles folhetos no semáforo. Para quê servem os conselhos, então?

1) Para ouvirmos as pessoas jogarem na nossa cara o famoso "eu bem que avisei!"  E digo mais: a coisa é tão perversa que ainda que elas fiquem caladinhas nós sabemos muito bem o quê estão pensando. Frequentemente o pensamento alheio ecoa em meus ouvidos.

2) Servem para pecarmos com mais culpa. Quando alguém está planejando fazer uma coisa proibida, às vezes pede conselho. Pra quê? Só pra dizer para si mesmo que se esforçou em sentido contrário. Depois levanta e simplesmente FAZ. A pessoa quer acreditar (e quer que você acredite) que está em cima do muro, mas emocionalmente já pulou para o outro lado há muito tempo. Somos assim, cheios de álibis.
 
"- Será que esse sonho engorda?
-Sim, não coma!;
-Obrigada pelo conselho. Moço, embrulha dois sonhos pra viagem!"  

Assim caminha a humanidade.

 3) O conselho serve mais ao conselheiro do que ao aconselhado. O conselheiro se sente útil e vai pra casa com aquele gostinho na boca de boa ação. Depois lava as mãos e deita feliz em seu travesseiro dizendo para si mesmo que militou pela melhora do mundo, fez o que podia e não tem culpa se nada mudou.

4) O conselho serve como uma desculpa para você contar a história pela sua versão.

O consolo (e o terror) é que parece que existe gente que faz tudo errado e se dá bem e gente que faz tudo certo e leva se lasca. Pra qualquer lado que eu escolher, o futuro é incerto. Tudo é relativo.

Tudo é tão relativo que qualquer dia desses vou escrever outro texto só pra desdizer o que estou dizendo agora.

13 de dez. de 2011

Twitar e feicebokear

Resumir tudo a duas frases: isso é arte ou a absoluta ausência dela? Lembram daqueles textos longos, aqueles extensos arrazoados que laçavam nossa mente e nos forçavam a ver o ponto de vista do escritor? Aquilo era uma arte ou a ausência dela?

Certa vez ouvi que quanto mais simples a invenção, tanto mais genial ela deveria ser considerada. Verdade. Nenhum aparelho complicado supera aquele cuja eficiência se irmana à simplicidade. Sempre poderemos complicar um invento mas nem sempre conseguiremos simplifica-lo. Complicar é fácil, qualquer mente obtusa consegue. Observem a carreira tortuosa dos burocratas! Mas simplificar exige uma certa genialidade. Se não houver outra forma de tornar uma coisa mais simples, isso é sinal de que essa coisa já é perfeita.

Ouvi dizer que, dentro dessa idéia, poucas coisas são mais geniais do que a bicicleta. Concordo. Impossível simplificar uma bicicleta. Podemos complicá-la, encarece-la, adicionar-lhe motor, luz piscante, pneus de silicone auto infláveis, selins refrigerados...  mas como tornar mais genial ainda um meio de transporte que se  locomove às custas da energia do próprio passageiro? Ocupa espaço mínimo, é leve, barata e ainda funciona como uma academia ambulante!   Não dá pra superar isso.

Outra coisa que não pode ser mais simples nem mais eficiente: o sino. Você pode colocar-lhe um timer, pode automatizá-lo, fazê-lo fosforecer no escuro ou badalar ao som do último hit da Beyoncé, mas se tirar isso tudo ele ainda conseguirá cumprir sua missão que é badalar anunciando alguma coisa por um raio de dois quilômetros mais ou menos e a custo zero. Penso em uma sino e não consigo, de forma alguma, torná-lo mais simples. Espero que seu inventor tenha ficado rico.

E os óculos? Lentes de contato não são simplificação, vou logo avisando. Lente de contato já é uma sofisticação cara e um tanto arriscada, pois utiliza seus olhos em substituição à armação. É como forçar uma menina de três anos a andar com salto agulha.  Ou como ser forçada a conviver com um absorvente de madeira. O fato é que os geniais óculos existem há séculos e não mudaram muito desde os primeiros modelos.

Isso tudo é para convencer a mim mesma de que não emburrecemos como sociedade. Isso tudo é pra dizer que talvez a geração "meia-frase" seja mais esperta do que aquela que precisava de cinco parágrafos para dizer alguma coisa. Podem reparar que no Twitter, em poucas frases você já é capaz de perceber toda a profundidade da estupidez de algumas pessoas. É rapidinho, basta uma olhadela. Também numa tacada podemos topar com mentes brilhantes. Siga o Millôr.  O Twitter é o "noves fora" das letras pois não precisa de uma banca de avaliação pra mostrar quem é quem.

No final das contas percebo que precisei de cinco parágrafos para transmitir meu pensamento. Isso é frustrante. Qualquer pagodeiro evoluído diria isso tudo em duas linhas.

10 de dez. de 2011

Tchaikovsky


Estou ouvindo Tchaikovsky e nesse momento me ocorre que passei tempo demais saindo de mim. Passei tempo demais fora da caverna, andando por entre as rochas, curiosa pelo mundo exterior. Está na hora de voltar. O mundo exterior simplesmente não existe. São projeções da mente. O mundo exterior não passa de uma enorme tela branca na qual são projetadas as loucuras do mundo. São cortes dos filmes rejeitados por Deus, que foram unidos em uma única película apócrifa.  A verdade está plantada nos meus porões úmidos, nas paredes, em cada traça outrora desprezada.

A melhor das realidades me habita, serena. Está aqui  o melhor que posso oferecer a mim mesma em termos de intensidade. Nada poderá ser mais profundo do que isso, que é evocado quando me aquieto e me deixo tocar. É o melhor da realidade-real, da realidade virtual e da paralela. É o melhor da dor, o melhor da saudade. É a certeza absoluta de ter vivido e ter valido a pena, é ver a riqueza. Aqui guardo o que tento compartilhar mas não consigo. Jamais conseguirei, mas o que me brota me faz tentar.

Viver plenamente é tentar fazer isso e não conseguir. É como prender a respiração para viver o fundo do mar, mas ser obrigada a emergir. Mas é essa tentativa frustrante que cria toda a beleza. As artes são emanações dessa aflição do espírito.

Faz tempo que não ouço essas músicas. Sou profundamente afetada por elas. Sou sugada para dentro de mim mesma como que por um ralo fatal. Nesse momento deixo de ser produto. Redescubro a mim mesma e me amo numa poesia de auto suficiência.

A emoção é estar junto de alguém e entender - erroneamente ou não - que se está viajando no mesmo balão.  Esse é o sentido da vida: viajar no mesmo balão sem ter medo de dar de encontro com as rochas imensas.

Voltei a ser criança, a usar meias brancas com sapatos de verniz. Estou encantada por subir pela primeira vez no palco do Teatro Municipal. Vou reencontrar minha mãe, meus padrinhos, meu pai, todo mundo que já morreu. Vou recuperar todos os cheiros, as bonecas quebradas, o suor dos meus irmãos brincando no quarto.

Não quero voltar.

8 de dez. de 2011

A mecânica do orgasmo

Legal esse texto do Jabor. Antes atrapalhavam nosso orgasmo por tabu e discutível "moralidade". Hoje colocam lupa, monitoram, ligam fiozinho na gente para estudar o "fenômeno".
Prefiro o terreno do mistério. Ouça.

6 de dez. de 2011

Lentidão & rapidinhas

Estou plenamente convencida de que a lentidão da internet faz parte da terapia de Deus, para me ensinar a ser mais paciente. O caminho do aperfeiçoamento costuma ser escarpado.

As vezes paro tudo o que estou fazendo para dar uma conectada rapidinha. Acho que todos vós fazeis o mesmo de vez em quando. Bem, como a conexão frequentemente é péssima, acabo me aborrecendo. Ao me aborrecer sou forçada a encarar minha fraqueza humana, minha falta de virtude, minha terrível dessemelhança com os santos. Flagrando-me nessa situação, envergonho-me. A vergonha, como todos sabemos, é a base do arrependimento. Envergonhada, arrependo-me. Arrependida, peço perdão. Pedindo perdão, sou perdoada. Uma vez perdoada, minha alma fica lavada e enxaguada. Só para refrescar sua memória: os santos têm, todos eles, a alma lavada e enxaguada.

A conclusão obvia é: quanto mais eu tentar dar rapidinhas, mais perto estarei da santidade.

3 de dez. de 2011

Lei da palmada


Em um equívoco típico de burocratas sem noção de realidade, confundem PALMADA com ESPANCAMENTO. São duas coisas tão obviamente diferentes que só de pensar em explicar já dá uma canseira.

Não defendo a tese de que temos que sair por aí "embolachando" todas as crianças. Também sei muito bem que um castigo pode valer mais do que mil palmadas. Alguns pais se gabam de que nunca levantaram a mão para um filho. Ótimo. Há crianças dóceis, tranquilas e há crianças que se emendam com castigos.  QUE MARAVILHA SE TODAS FOSSEM ASSIM! Mas a realidade é outra.  Há crianças com temperamento fortíssimo, geniosas, que são capazes de levar um adulto à loucura. 

Ao invés de inventar novas formas de ingerência na vida privada dos brasileiros, o Governo deveria inventar novas formas de ingerência na vida boa dos bandidos, isso sim. 

Só sei de uma coisa: uma criança que leva palmada do jeito certo, sem crueldade e na hora certa está mais propensa a daqui a pouco sentar pra dialogar do que uma que não recebe nenhum tipo de punição por suas birras.

Os políticos, "sociólogos" e "educadores" em geral acham que os pais tem que "dialogar" com as crianças. Também acho. O problema é convencer uma criança de três anos a sentar, cruzar as pernas e dialogar com os pais quando tudo o que eles querem é chutar a babá. O difícil é dialogar com uma criança que se joga no chão do supermercado gritando porque quer um pacote de biscoito recheado com gorduras trans.

Tenho certeza de que enquanto esses psicólogos e teóricos estavam estudando e enchendo a cabeça de "brilhantes" teorias,  seus filhos estavam sendo criados por babás ou parentes. Com certeza esses "doutores" chegavam em casa só a noite, depois que os moleques já tinham aprontado todas. Assim é fácil dizer que não precisa dar palmadas. Sem precisar estar por perto, sem precisar ouvir berreiro de birra, sem precisar levar chute na canela qualquer um teoriza merda.

Repito: custo a crer que algum desses teóricos já tenha se visto cuidando 24 horas por dia de três crianças pequenas durante pelo menos uns seis meses.  É fácil teorizar quando os filhos foram criados por babá. Esses fazedores de leis deveriam primeiro passar por um estágio de seis meses com umas três crianças atentadas para terem moral de dizer a nós, os brasileiros, como devemos fazer as coisas. 

A atual geração já está suficientemente estragada por ter sido criada por babás que não tinham o poder de educá-las. Hoje temos adultos que não respeitam semáforos, que xingam o policial, que riscam o carro do professor, que não respeitam garagem, que são uns primatas. Culpa das babás? NÃO! Elas não tem autorização para educar nem dar palmadas. São pagas só pra cuidar da integridade FÍSICA das crianças. Elas fazem a parte delas.

Detalhe relevante:  crianças maiores, que já foram REALMENTE educadas (e domadas) desde pequenas, bem cedo não precisarão mais de palmada nenhuma.  Uma eventual palmada só é necessária em um curto período de suas vidas. Mais crescidinhas elas já tem condições de entender um diálogo, um argumento, uma ponderação. 

Entenda: não há diálogo com uma criança teimosa de dois anos. Quem criou, sabe. Quando ela quer, nada a convence do contrário. Não adianta dizer que é perigoso, que ela ficará doente, que pode morrer, que é caro demais. Nada disso faz sentido na cabeça dela! Ela quer porque quer e pronto.  

Bater é exceção. É o último recurso, mas é um recurso.

O que fazer com uma criança que (por exemplo) não cansa de lhe chutar e bater, mesmo depois de você explicar para ela que aquilo não é aceitável?   E se ela resolvem arranhar todos os móveis?  Você vai continuar levando chutes, ouvindo berros e tendo os móveis depredados enquanto teoriza? Vai continuar deixando o irmão mais novo levar mordidas?   E se você colocar de castigo e a criança não ficar no castigo? 

Se diálogo resolve tudo, mandem os juízes dialogar com os bandidos.  Se diálogo resolve tudo soltem os maridos espancadores e apenas conversem com eles.

Sim, estou dando exemplos drásticos porque na vida de milhões de brasileiros acontecem coisas drásticas. Nem todas as crianças são como os Ursinhos Carinhosos.

Respeito é o que ser quer, e respeito não é igual a medo. É verdade.  Respeito é algo que se aprende. Quem não aprendeu a obedecer não tem condição de respeitar ninguém.   

O respeito nasce com a obediência. É através da obediência é que o sentimento de respeito brota, e isso com o tempo.  Depois que o respeito brota, o medo da punição se torna desnecessário. Uma criança é um ser imaturo demais, incapaz de sentir  "respeito", que é um sentimento mais sofisticado. Ele só conhece a própria vontade ou o receio da punição.   Ou ela tem receio de desobedecer ou ninguém a detém. 

"Ah mas eu não queria que meu filho tivesse medo de mim!"  Não estou sugerindo que você aterrorize ninguém. Não é "ter medo de você" mas saber que se quebrar a regra a barra vai pesar. E com o tempo a criança vai te respeitar. 

Não interessa se você acha que o mundo deveria ser outro e que o ser humano deveria ser diferente. As coisas são como são. Se não há nada que me force a obedecer, por que vou obedecer? Eu como adulta posso elencar uma série de motivos para não cometer crimes mas esses motivos são complicados demais na cabeça de uma criança pequena. Ela precisa ser detida por um motivo claro, imediato, presente. Ou isso, ou fará o que der na cabeça.

Se uma criança não levou palmadas na hora certa, se não te ouvia quando pequena, NÃO PENSE QUE QUANDO CRESCER ELA VAI SENTAR AO SEU LADO PRA DIALOGAR. Todos os dias vemos adolescentes que não querem ouvir os pais e são uns terrores.


Crianças retraídas e sufocadas não são as que foram corrigidas eventualmente com alguma palmada, mas as que foram maltratadas. Não é a mesma coisa.


É mais fácil que os pais que deram palmadas sejam amados e respeitados no futuro do que pais banana ou ausentes. Pais bananas SEMPRE criam rebeldes insuportável e é mesmo o que merecem.

Se você não exige obediência, acredite: quem vai acabar obedecendo é você.

TODOS OS DIAS ME DEPARO COM PAIS PATETICAMENTE OBEDIENTES aos seus filhos. E vejos crianças que se tornaram ditadoras e impõe sua vontade aos pais sem se preocuparem se aquilo é ou não aceitável. 

A "Lei da Palmada" não vai atingir os pais abusivos e violentos. Eles nunca se importaram com o que diz a lei.  Nunca ligaram para as normas e vão continuar não ligando.  Essa lei idiota só vai punir os bons pais. É mais uma desgraça da nossa legislação. Daqui a 20 anos vamos colher frutos amargos. 

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