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27 de abr. de 2015

Brasil x Ruanda



Assisti ontem o filme HOTEL RUANDA. Muito bom, apesar de violento e angustiante. É duro saber que aquilo tudo aconteceu na vida real e continua acontecendo por aí, mundo afora.

Esse filme me fez refletir sobre a situação atual do Brasil. Frequentemente acuso a mim mesma e aos meus patrícios de sermos uns "bunda-mole", um povo conformista e medroso que prefere ver a mãe esquartejada do que ter que pegar em armas. Parece que só a banda podre do Brasil tem coragem de lutar pelo que acredita. Só os mal caráter pegariam em armas para impor a própria convicção aos demais.  As pessoas de bem me parecem tão lerdas, alheias, egoístas ... ou algo assim!  Olho para nós mesmos com um olhar irado pois comparados à população de outros países parecemos uns bostas. "A galinha do vizinho" parece realmente mais gorda. "Eles" parecem ser mais  "valentes", mais "pavio curto" , mais temíveis.

O que é virtude e o que é defeito em um povo?

Depois do filme comecei a raciocinar de outra forma. Agradeci a Deus por sermos como somos, assim, "meio devagar".     Embora exista, sim, no Brasil uma fatia da população que de bom grado meteria a foice na cara dos outros, penso que eles não representam a média brasileira. Estão longe de ser a maioria. Precisamente por isso estarmos tão longe de viver as desgraceiras ocorridas em Ruanda.   Posso estar redondamente enganada mas não consigo imaginar no Brasil uma situação daquela, onde hordas de extremistas entram pelas casas decapitando, estuprando, queimando, metralhando. Entrar para roubar e depredar, para se apossar dos bens dos outros, isso acontece sim. Mas não se vê guerra civil, não se vê uma reação devidamente irada. Por isso não consigo acreditar que seríamos capazes daquilo que vi no filme.

Milhares de pessoas mortas, terror e selvageria, ódio, famílias destruídas, corpos espalhados pelas ruas, crianças traumatizadas e sangue, muito sangue. Qual a utilidade disso?  Onde um povo pode chegar com tamanha "valentia"? Precisamos desse tipo de "coragem"?

Prefiro que continuemos pacatos, até mesmo molengas, do que desgraçarmos tudo ao nosso redor em nome de uma facção política ou seja lá em nome do quê. Não quero isso para o nosso povo.

Terminou  filme e era como se uma vozinha sussurrasse no meu ouvido a pergunta: "- É desse tipo de valentia que você gostaria que o brasileiro fosse capaz? Que tal? Você quer isso para o seu país? Você se sentiria mais orgulhosa?"

Não somos uns bostas. Somos como somos e isso tem nos afastado de problemas mais graves do que os que temos hoje. Assim penso até agora. Vejamos a seguir os próximos capítulos.

20 de abr. de 2015

Poros

Costumamos pensar que o que nos acorda para a velhice é o susto do primeiro cabelos branco. Não é. Pelo menos não foi assim comigo.

Conheço gente extremamente jovem com cabelos brancos. Foi precisamente por esse motivo que pude, por muitos anos, dizer a mim mesma que aquela "neve" era precoce. Funcionou por um bom tempo mas um dia a sirene tocou: "Está terminando! O que tens a fazer, faze-o depressa!"

Acordei do sonho quando me vi numa foto bem de perto. Não vi rugas ou flacidez descarada. O que vi foram poros miseravelmente dilatados. Poros! Contra os quais ninguém consegue lutar. Corri e peguei meu espelhinho de aumento. Piorou: os poros pareciam enormes. Centenas de buraquinhos que destruíam qualquer maquiagem. O que posso fazer constar eles?

Anotem aí: poros dilatados. Nem cabelos brancos nem rugas.

Cada um tem a sua história. 

17 de abr. de 2015

A moça da limpeza



Estou aqui acompanhando meu filho na emergência do hospital. Nada grave. Prova disso é eu ter olhos para cenas comuns e cabeça para divagar a respeito.

Vem chegando a moça da limpeza. Não é discreta nem tímida. Ela chega resoluta, com ganas de purificar o mundo. É jovem, tem braços fortes, pernas fortes, costas e adomem fortes. Toda feita para a guerra, é a cara do poder. Esfrega sua energia na nossa cara como esfrega o pano no chão. Ela vem como se tivesse sido desafiada e varre com tamanho vigor que tudo ao seu redor me parece lerdo. Trabalha como se fosse chefe de si mesma, com postura independente de quem está acostumado a decidir.  A pobre vassoura, franzina e muda, faz a sua parte; obedece calada e meio zonza deixando-se levar.

Em meio a tantos doentes esse exibicionismo de saúde atrai olhares pensativos. Há algo de doce nessa força toda.

Gostei da moça da limpeza.  Ela é do tipo que faz antes de ser mandada de forma que tira da chefia a chance de exercer e gozar o cargo. Deixa bem claro que o mundo precisa de gente que faz, não de gente que manda. Provada está a sua superioridade. Tudo seria bem melhor se pessoas como ela
simplesmente fizessem o que tem que ser feito.

Ninguém ousa interrompe-la. Enquanto vai passando o povo levanta os pés rapidamente, num reflexo, sem esperar agradecimento.  Então ela encara as inertes lixeiras com uma certa severidade e impaciência. Afasta-as para o lado de um jeito decidido, um jeito de mãe ocupada. Depois que limpa a área ela as traz de volta pelas orelhas, uma por uma. Ali permanecem baixinhas e mudas olhando de rabo de olho para a vassoura que segue descabelada e atordoada lá no final do corredor.

Gosto de gente assim, com autoridade natural.

Certamente a moça da limpeza ter um homem. Ele deve andar na linha. E se ela transa como varre, ele é um homem muito feliz.
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16 de abr. de 2015

Por que Deus não me fez Liv Tyler



Deus não dá asa à cobra. Não que eu seja cobra ou que a Liv  tenha asas.

Dia desses, quando eu era bem novinha, se visse uma mulher tão linda assim sentiria inveja e depois ficaria uns dias com complexo de Benedita da Silva. Isso me leva a pensar que a juventude, com suas tolices, acaba sendo mais dolorosa que a velhice.

A vida funciona da seguinte maneira: juventude tem efeitos colaterais e maturidade tem compensações. E os efeitos colaterais da juventude são ruins demais. Um deles é a cegueira de não nos enxergarmos direito. Quando muito jovens somos incapazes de curtir 100% a maravilha que é o nosso corpo.  Fora a pele de pêssego, ser adolescente é uma boa merda. Sério.

Voltemos à Liv Tyler.   Se no passado eu fosse como ela, iria acabar causando estrago - era isso o que eu queria dizer com esse papo de que minha cabeça é melhor hoje.  Não ia dar certo. Deus tem razão. Acho que eu iria reinar não como uma fada, mas como a rainha má da Branca de Neve. Mas agora sou madura, centrada, lúcida, muito mais em condições de carregar o peso da beleza infinda.

"- Senhor, repense aí a minha formatação, please! Juro que jamais usaria meu poder para prejudicar o próximo. Só faria o bem, desfilando pelo mundo. Não iria me aproveitar de jeito nenhum da lendária subserviência masculina diante da beleza. "

Por que Deus não me fez Liv Tyler?


Assista este vídeo. É ela fazendo pouco de nós
Tem esse também - clique.

10 de abr. de 2015

Dois pombos

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Acometida por ...   aquela sensação interessante de que estou em um dia diferente onde coisas fatais acontecem. É tudo velado, pouco perceptível. Os brucutus não entendem. Quanto a mim também nada vejo, mas intuo. São muitos os sinais: a sensibilidade da pele, o arrepiar das pontas dos cabelos, a rota suspeita do vento na contramão, os sustos que os gatos levam.

Hoje temos diante de nós uma manhã nublada para testemunhar tudo isso. Esse cinza todo, por si só, já é suspeito. Não me pergunte de quê porque ainda estou analisando. Estado de alerta... Dia nublado é ocasião em que arredam para o lado o sol bonachão e estabanado porque agora a coisa está ficando séria.

Está tudo suspenso, "pausado". Isso faz todo sentido para os sensitivos. As pessoas comuns continuam ocupadas com cafezinhos e celulares. Não podemos contar com elas.

O importante é o seguinte: quem percebe está a salvo.

Consciente desse aviso observei, na avenida, dois pombos descendo em diagonal do alto do poste até o paralelepípedo.  Vieram em câmera lenta em perfeita dessintonia com os demais.   De poucas cores e pouca conversa, eram quase gatos.  Capturaram minha impressionável atenção, motivo pelo qual deixei de lado considerações mais leves. Eles queriam me dizer algo, deixar claro que estavam ocupados com ... coisas.  Ventos, vibrações, energias nervosas, esses lances fatais acontecendo por aí. Coisas!  Se pudessem fariam ao mundo anúncios rasgados mas estavam por demais cônscios de que nenhum som inteligível sairia dos seus bicos. Navegavam assim, pelo céu, da forma mas suspeita que conseguiam, pra chamar nossa atenção.  Registrado, brothers!

...e  então pousaram muito contritos no asfalto. Peito estufado e olhar ansioso procurando outro olhar ansioso ainda que em peito menos estufado. Ninguém quer ser profeta solitário. E eu nessa hora não pude pensar em nada que fosse ameno. Como poderia? Ainda mais com a Katty Lester cantando "Love Letters" daquele jeito suspeito. Vocês sabem que quando ela canta assim é melhor presar atenção.   A letra fala de cartas de amor mas todos sabemos isso é só subterfúgio.  Aquele acompanhamento marcado, cardíaco, divorciado da letra, captura nossas convicções para o fato de que o assunto é bem outro. Entenda: toda melodia divorciada da letra é uma mensagem cifrada, geralmente nostradâmica,

Já vi dois filmes em que nas cenas mais fatais emanava exatamente "Love Letters" profetizada pela Katty Lester. Cada palavra, pronunciada com perfeição, deixa a gente em estado de alerta. É como se ela risse porque enquanto os tolos se prendem à letra, o mistério está justamente na cadência estranha.

Dia nublado... pombos contritos... e Love Letters. É muito material para a minha imaginação! Vou andar devagar e atenta. Sinto-me perfeitamente sintonizada com avisos subliminares e outras coisas fatais.

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