Estou aqui acompanhando meu filho na emergência do hospital. Nada grave. Prova disso é eu ter olhos para cenas comuns e cabeça para divagar a respeito.
Vem chegando a moça da limpeza. Não é discreta nem tímida. Ela chega resoluta, com ganas de purificar o mundo. É jovem, tem braços fortes, pernas fortes, costas e adomem fortes. Toda feita para a guerra, é a cara do poder. Esfrega sua energia na nossa cara como esfrega o pano no chão. Ela vem como se tivesse sido desafiada e varre com tamanho vigor que tudo ao seu redor me parece lerdo. Trabalha como se fosse chefe de si mesma, com postura independente de quem está acostumado a decidir. A pobre vassoura, franzina e muda, faz a sua parte; obedece calada e meio zonza deixando-se levar.
Em meio a tantos doentes esse exibicionismo de saúde atrai olhares pensativos. Há algo de doce nessa força toda.
Gostei da moça da limpeza. Ela é do tipo que faz antes de ser mandada de forma que tira da chefia a chance de exercer e gozar o cargo. Deixa bem claro que o mundo precisa de gente que faz, não de gente que manda. Provada está a sua superioridade. Tudo seria bem melhor se pessoas como ela
simplesmente fizessem o que tem que ser feito.
Ninguém ousa interrompe-la. Enquanto vai passando o povo levanta os pés rapidamente, num reflexo, sem esperar agradecimento. Então ela encara as inertes lixeiras com uma certa severidade e impaciência. Afasta-as para o lado de um jeito decidido, um jeito de mãe ocupada. Depois que limpa a área ela as traz de volta pelas orelhas, uma por uma. Ali permanecem baixinhas e mudas olhando de rabo de olho para a vassoura que segue descabelada e atordoada lá no final do corredor.
Gosto de gente assim, com autoridade natural.
Certamente a moça da limpeza ter um homem. Ele deve andar na linha. E se ela transa como varre, ele é um homem muito feliz.
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