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30 de mar. de 2013

Mais um motivo pra ter dor de consciência

Acabei de ler que essa mania de esquecer o celular carregando na tomada horas e horas é uma coisa muito nociva. Também. Caraca, como somos nocivos!

Veja a reportagem: Recarga excessiva do celular custa US$ 65 bilhões ao Reino Unido

Eu já sofro horrores com a torneira pingando, com aquelas luzinhas vermelhas (leads) dos eletrodomésticos, com o banho morno em plena uma da tarde... Nem lembrei que meu celular é um pequeno demônio a corroer as reservas de energia do planeta Terra.

Costumo deixar o meu plugado a noite toda. Quando acordo ele está gorduchinho, com a barriguinha cheia e sorridente. Vou dar um basta nisso!

Solução ecológica: programe o despertador de seu celular para avisá-lo (em média 4 horas depois) de que ele já está satisfeito e é hora de arrotar.

Pronto, dei minha contribuição para a salvação do planeta.

28 de mar. de 2013

Sem presas


É só um comentário, raso e rápido: estou lendo Grande Sertão - Veredas, de Guimarães Rosa.  Muito difícil se acostumar com a linguagem. No começo parecia outro idioma, eu não entendia quase nada. Mas vale a pena insistir. Ah se vale! Acostumar a mente. Porque quando a gente acostuma a mente, aí entra na segunda fase: as frases caem direto nos nossos ouvidos e ao invés de ler, ouvimos toda a história. Livro não é exatamente para ser lido. As palavras tem que aprender a ir direto para o seu ouvido e fazer eco em seu cérebro. Efeito 3D.

Pois depois de muita determinação em encarar aquela esquisitice, eis que me vejo completamente sugada para dentro do livro, sequestrada pelas mesmas dúvidas que encasquetavam Riobaldo. Viagem!

Não cheguei à metade mas já vi que estou diante de uma obra prima, uma loucura de criação. Não sei como pode tudo aquilo ter sido criado dentro de uma só cabeça. Às vezes acho que os grandes livros são ditados aos escritores por fantasmas ajudantes. Porque os personagens existem, existem sim senhor! E mostram a cara. Sabemos como são, como sentem, sentimos seus suspenses.

Muito inquietante e triste novamente saber notícias de um Brasil que não existe mais, de jeito nenhum. De tudo aquilo só sobrou a pobreza, nada mais.

De vez em quando me pego morrendo de saudade do que jamais vivi. Não tenho saudade da "jagunçagem" ; tenho saudade de um sertão infinito e livre, selvagem e cheio de possibilidades de se morar onde quiser - ou só vagar pelo mundo. O Brasil encolheu, certamente.

Acho que o progresso abestalha a gente.

Nessa história os personagens viviam de si para si, tinham suas próprias leis, suas próprias regras de fidelidade. Eram donos da própria liberdade e não admitiam entregar fatia alguma ao Governo. Questão de honra.  Entre eles mesmos havia julgamento, execução, perdão, pagamento, compromisso. Iam e vinham como onças, pássaros ou calangos, em seu habitat indiscutível e sagrado - e ninguém se meta! Como se o mundo inteiro fosse aquilo e só aquilo interessasse.  Morte, barbárie...   Mas pelo menos podiam vingar o mal e não eram obrigados e levar desaforo para casa.

O que eu queria era ter certeza, mas certeza plena, de que evoluímos. Eu queria bater no peito e me orgulhar disso. Nesse ponto sou Riobalda. Essa dúvida me incomoda. Vejo que somos uma massa mole, sem brio, mas o sangue continua a correr nas cidades, só que é diferente. Não há nem arremedo de honra ou justiça. É só a senvergonhice que manda. Lá havia opressão, mas aos oprimidos era dada a escolha de reagir. Aqui, pra mim  piorou e muito. Cortaram nossas garras e nossos caninos.  Não se pode mais nada.  Muito inquietante.

Dá um negócio parecido com saudade.

O nojo *



“Por quê você se importa? Cuide da sua vida. Você não tem nada a ver com isso!”

Dizer  essas coisas a gente diz, mas é uma afirmativa meio boba. A gente se contradiz logo em seguida.

Se existe alguém se auto flagelando na nossa frente, a gente se incomoda. Se há um quadro pendurado torto na parede do vizinho, dá vontade de ir lá e consertar. A gente não vai, mas dá vontade. Se há alguém brincando com meleca  você sente nojo e dá vontade de pedir pra parar. Se estão torturando insetos você não gosta. Se comem de boca aberta, se um casal se beija sem parar no restaurante ou se um casal se divorcia, todos lamentam e às vezes até sofrem.

Acho que isso não tem nada a ver com "se meter na vida dos outros". O que é, sem sombra de dúvidas, indiscutivelmente, “vida dos outros”?    Tratar mal os  filho é “vida dos outros?”

Eu acho é que tudo o que sentimos tem uma razão de ser. Estamos todos interligados e tudo o que acontece a um pode afetar o outro. Como? NÃO SEI.  Parece que isso acontece de um modo bem misterioso. Frequentemente é a longo prazo e de uma forma que nos escapa à percepção. Ninguém sabe teorizar mas instintivamente a gente capta, mesmo querendo negar. Intui. Isso faz parte dos milhões de mistérios da vida. Já li teorias interessantes a respeito.

O que incomoda pode ter a ver comigo sim, quer eu entenda quer não, quer eu admita quer não, quer seja politicamente correto quer não. Se uma prática nos repugna, podemos até lutar contra o sentimento, mas não podemos negar a existência de uma reação emocional - ou até física - àquilo que repugnamos. E seria ela gratuita? Questão de opinião... Só acho que a realidade é muito mais complexa do que desconfiamos. Nossos instintos sabem mais do que nós. É bom prestar atenção.  

Tá bom, você pode dizer que esse ou aquele nojinho nos foram impostos culturalmente. Sim, mas dizer isso é como concordar com o que eu falei. Se há uma cultura antiga, forte e que se impõe de forma quase que generalizada, ela veio de algum lugar e por algum motivo.  Suas origens são antigas, distantes demais. Não as conhecemos.  Elas podem ter surgido de experiências vividas, reais, mas que não foram registradas em papiros. Não surgiram do nada! Possivelmente têm uma razão de ser que a gente nem desconfia.

É tolo pensar que no século XXI somos detentores do somatório de todo o conhecimento gerado pela humanidade ao longo dos milênios. Não temos isso!  Muita coisa se perdeu! Diversas experiências vividas pelos nossos antepassados subsistem agora apenas na forma da memória genética que renegamos. Subsistem em forma de um “gostar” ou “desgostar” desconcertantes,  aparentemente gratuitos. Não sei e jamais saberei quantas civilizações se lascaram justamente por causa de coisas que afirmo não terem "nada a ver". 

A repugnância, assim como o medo, são desconfortáveis, mas já salvaram a vida de milhões de pessoas. 



24 de mar. de 2013

Objeto desconhecido


Nos primórdios o homem só queria sobreviver, escapar da onça, ter o que comer. Hoje quer se divertir e ser feliz.  O homem não se manca.

A gente esquece que felicidade é um luxo dos nossos tempos, é uma mera pose no Face. Na vida real "o buraco é mais embaixo" - como diria a minha avó.

As vezes questiono se esse clamor por felicidade não é, na verdade, uma jogada. Alguém com certeza está lucrando com o nosso corre-corre atrás desse negócio, atrás dessa coisa que ninguém sabe direito o que é. 

Você já experimentou procurar pela casa um objeto desconhecido? Não? Então você é normal. 

Onde aprendemos a ser tão tolos a ponto de deixar que os outros determinem qual é a nossa necessidade?

E o sexo? A partir de qual momento gozar deixou de ser divertido e passou a ser obrigação? Hoje em dia uma pessoa que diga que jamais teve um orgasmo causa quase tanta pena quanto um tetraplégico. O gozo, assim como a felicidade, são prazeres muito particulares mas de repente parece ter se tornado da conta de todo mundo. Há uma poderosa indústria da felicidade trabalhando a plenos pulmões. 

Não critico você nem mais ninguém. Critico a mim mesma porque frequentemente me deixo levar. Só que entre uma estupidez e outra, paro e penso. E às vezes escrevo o que penso. Talvez isso seja um bom sinal. 

14 de mar. de 2013

Redescobrindo a pólvora


De uns anos para cá tomei uma decisão muito sábia. Resolvi dar uma olhadinha para entender por quê, afinal de contas, alguns artistas do passado foram rotulados como "demais", "rei", "gênio", "voz de anjo", "talento único", "maravilhoso", "inesquecível". Eu ouvia nomes e mais nomes mas nunca acreditava que eles fossem toda essa Coca-Cola. Devia ser saudosismo barato, conversa mole, invenção de quem não tem o que fazer, de velhos amantes do passado. Então, como disse, resolvi dar uma checada.

UAU!  Não exageraram. Eles eram mesmo tudo o que diziam, e um pouco mais. Redescobri a pólvora! Graças à internet pude "conhecer" gente que eu nem sabia que existia. Uma coisa puxou outra, um nome trouxe outro, um vídeo aqui, uma música ali, uma poesia, foto, filmes... Fiquei encantada com tanta gente maravilhosa que já passou pelo mundo.

Então... morri de pena da atual geração que não tem nem a primeira pista para começar a fazer suas pesquisas e se deliciar com o filé do filé.


Você já ouviu pelo menos falar em Mahalia Jackson?  Ela era uma deusa, tinha a alma e emoção. Uma voz encorpada e envolvente. Cantou no evento onde Luther King proferiu seu famoso discurso. Amo essa mulher - que já morreu há décadas.

Sabe a voz mais perfeita e bem-dotada do mundo?  Ah, você tem que ouvir Ella Fitzgerald cantando Blue Moon. Não precisa ouvir mais nada se não quiser, mas Blooe Moon é obrigatório. Cantando ala parecia ser toda azul, toda etérea. Fazia o que quisesse com a voz, todo tipo de malabarismos, todo tipo de travessuras só as fumaças azuladas sabem fazer. Me "apaixonei" pela muié na primeira vez que prestei atenção nela.

Uma certa vez eu estava distraída em casa e um vizinho resolveu colocar seus "discos antigos". Achei estranho mas resolvi prestar atenção "àquela velharia" . Cara, que mulher era aquela? De quem era aquela voz? Ninguém, absolutamente ninguém cantava mais daquele jeito. Sim, era Elizete Cardoso. Você já ouviu falar dela sim, mas não deu a mínima porque era preferência do seu avô e você é super moderno. Quem liga para as preferências dos avós, né?  Ouça, preste atenção e depois me diga se esse pessoal que aparece na Globo não parecem gralhas perto da Elisete. E a Dalva de Oliveira? Nossa!

Essa semana resolvi matar a saudade da Clara Nunes. Eu não lembrava mais de como ela era incrível. Poucas cantoras tem uma voz tão límpida como Clara. Límpida, dicção per-fei-ta. Cada palavra cai em nossos ouvidos como cristaizinhos lapidados. Ela cantava, cantava mesmo, e puxava a gente pra perto dela. Clara Nunes era o Brasil, era nosso ritmo, nosso batuque, nossa alma e nosso sorrisão. O sorriso mais lindo do mundo e um ar de bondade que jamais descobrirei se era a verdade ou só fantasia da minha cabeça. Mas que tinha, tinha. Clara Nunes não pode ser esquecida.

E você já deu uma checada na vitalidade, na força criativa dos Novos Baianos? Eles eram absolutamente autênticos, musicais, cheios de vida, uma bomba de juventude, uma arejada na cara do Brasil. Eram a jovialidade sonhadora e livre.

Pobre geração a nossa. A maioria jamais vai conhecer o que o mundo produziu de melhor.

Você já leu, leu mesmo, as letras das canções do Chico Buarque? Você conhece um pouco da poesia de Vinícius de Moraes? Já ouviu as coisas divinas que ele compôs? Vinícius é todo sentimento, todo paixão, todo entrega. Ele não tinha medo do amor, não tinha medo de ser perder. Abria o peito e mandava ver.  No Vinícius e no Chico a gente se reconhece. Eles dignificam todos os nossos sentimentos, porque nos reconhecemos no que eles fizeram e vemos que, afinal de contas, não compomos como eles mas sentimos as mesmas coisas. Eles vestem nossa camisa, nos dão voz.

Você já ouviu a voz máscula e profunda de Johnny Cash? Sabia que ele cantou com Elvis e o inspirou? E já sentiu a emoção da voz de  Joan Baez? Ela tinha uma espécie de "romantismo ideologicamente puro" que conquistava. Era quase ingênuo, uma coisa que simplesmente não existe mais. Isso não cabe mais em nosso mundo. Era uma coisa doce feita do mesmo retalho de John Lenon. Ela cantava como se todos fossem como ela, como se todos pudessem sentir daquele jeito, como se não precisasse se explicar, como se aquele momento da historia da música jamais fosse deixar de existir.

E você já tomou Janis Joplin na veia? Não conheço "roqueira" mais intensa, mais louca, mais pirante. Janis tinha um brilho, uma capacidade de se entregar e mexer com a nossa cabeça.. Uma coisa muito louca. Uma espécie de Amy em estado bruto. Apaixonante. Amy compunha e cantava muito, muito bem. Mas Janis Joplin brilhava!

E o Joe Cocker? Nossa! Eu nem sabia que ele existia até que um dia desses vi sua performance no famoso Woodstock. UAU! Era a cara da época, da jovialidade apaixonada.

E a lenda  Bob Dylan? Pare um dia pra ouvir o que ele fez e você entenderá.

E temos uma lista imensa. Que tempos maus nós vivemos! Que perda imensa não ter mais esse pessoal conosco!

Estou adorando essa minha nova fase de descobrir trinta, quarenta, cinquenta anos depois o que todo mundo já sabia. Sugiro que você pare de perder tempo com abobrinhas e faça o mesmo. Você vai se surpreender!

Ah: aquela mulher bonitona logo no começo da postagem é a maravilhosa Bidu Sayão, cantora lírica aplaudida internacionalmente. Um dos nossos orgulhos.


10 de mar. de 2013

Querido escritor:

Penso insistentemente em você, escritor bem sucedido, capaz de produzir sob encomenda. Você, que recebe adiantado da editora, é mesmo um iluminado. Seus fantasmas sabem que você anda assim, tão comprometido, e que eles fazem parte do contrato?

Você que escreve por encomenda é feliz ou vive sufocado?  A inspiração brota o embota?  Quantos personagens povoam seu tormento? Quantos são tirados a fórceps de seu labirinto secreto? Quantos nem mesmo existem mas constam nos textos? Você está sempre cercado de olhos.

Oh Deus, que eles cooperem com você! Oh Deus, que jamais lhe falte o pesadelo necessário nem o vento da loucura que lhe inspire! Oh Deus, atormentai esse pobre homem cujo pão de cada dia depende de vendavais!

Você, domador de palavras. Você, criador, precisa ouvir histórias. Vou te contar sobre o menino sonhador amigo de fantasmas, que precisava deles para traduzir o mundo.

6 de mar. de 2013

Nossa imagem - nossa miragem *


Fico pensando se é possível que passemos para os ouros, sem querer, uma imagem diferente do que realmente somos. Às vezes acho que isso é impossível. Podemos não gostar do que projetamos e negarmos isso. Podemos acusar os outros de estarem equivocados. Estarão equivocados mesmos? Eles ou nós?

Quando tentamos reformar a nossa imagem é porque ela não corresponde ao que somos? Ou apenas não nos aceitamos?  Quanto tentamos burilar nossa imagem é porque ela não é o que gostaríamos de ser. Rejeitamos quem somos e arriscamos uma melhora pelo menos visual. Só Deus sabe se mudamos mesmo ou se foi apenas maquiagem. O exterior influencia o interior e vice-versa. No final das contas a gente continua não sabendo nada.

O que somos "vaza" de nós sem querermos, como perfume sem tampa? Existe esperteza possível nessa área? Ou todo equívoco é apenas inexperiência de quem observa?

Sempre me engano quanto à minha própria imagem. Acho que aquilo que passo para os outros não é o que vejo em mim mesma. Teimo nessa tese. Mas raramente me engano com respeito à imagem que vejo nos outros. Só que costumo rejeitar o veredito da primeira impressão porque me parece injusto e preconceituoso ou benevolente demais. Tenho mania de minimizar o valor da minha experiência de vida, da sensibilidade adquirida. Geralmente discuto comigo mesma e rejeito, como disse, a primeira impressão - sou uma chata! Mas o tempo passa e sou obrigada a dar o braço a torcer para mim mesma.

Às vezes eu queria estar errada.

2 de mar. de 2013

Ainda sobre o amor

Certa vez li que " quem ama nunca sabe o que ama nem sabe porque ama, nem o que é amar. Amar é a eterna inocência, e a única inocência, não pensar..."  (Fernando Pessoa).

Verdade. Não importa o quanto a outra pessoa seja boa, inteligente ou bonita; quem a ama nunca a ama por esses motivos. O amor não tem motivos obvios, não tem cartas marcadas nem explicação. O amor não é nada razoável.

Amar é meter a cara no mistério
É descobrir a vida e abrir mão de entender. 
Amar é a felicidade de não precisar saber.

Por que você ama essa pessoa? Qualquer resposta que você der a essa pergunta será uma resposta equivocada. O seu amor, se for verdadeiro, não tem o menor cabimento.



1 de mar. de 2013

Era uma vez

Era uma vez o amor

Era uma vez a fecundação

Era uma vez você, pequeno, no colo do mundo. Você não possuia veneno nem garras nem dentes ameaçadores. Nem casca grossa ou capacidade de fugir rapidinho. Você era um lindo zero a esquerda - um zero rosado, fofinho e faminto. Mas tudo deu certo: você sobreviveu.

Era uma vez o mundo dando-se conta da sua existência.

Era uma vez você influenciando o mundo.

Você aprendeu a ler, adquiriu preferências.

Era uma vez eu, passando pelas mesmas etapas e finalmente escrevendo em um blog.

Era uma vez você lendo meu blog.

Era uma vez você e eu, que jamais nos conheceremos.

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