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31 de jul. de 2017

Julgamentos

Sou desconfiada com  essa coisa de ficar repetindo "não julgueis".   Cheira a santidade mofada.

Temos horror a julgamentos. Mas o que são exatamente esses tais julgamentos dos quais temos horror?  Aparentemente temos medo de que os expectadores concluam que de fato viram aquilo que viram.  Queremos que façam de conta que não viram. Ou que se abstenham de pensar a respeito.


Nossos olhos são enganosos. Nem tanto, mas são. Mas quando meus olhos enganosos se associam à minha mente cheia de experiências de vida, aí talvez as minhas conclusões não sejam tão tortas não.  Estas conclusões podem clarear meu caminho e me ajudar a tomar decisões, motivo pelo qual é bem perigoso desprezar essa capacidade humana. RACIOCINAR É PRECISO.

Para realmente não julgarmos precisamos acostumar nosso cérebro a não raciocinar com base no que está debaixo do nosso nariz. Só os tolos conseguem fazer isso com facilidade.

"Não julgar"  parece ser algo como ignorar as manchas pretas da banana porque afinal de contas pode ser que ela ainda esteja verde. Não sei como, mas talvez. Um amigo leu em algum lugar que já encontraram bananas verdes apesar das manchas escuras.

Isso é inteligente? Não.

Não, as aparências não enganam tanto assim. Podem enganar num primeiro e brevíssimo momento - e só. Depois as aparências são bem reveladoras. Incomodamente reveladoras. E "não julgar" só serve para encobrir quem não está conseguindo esconder o que é.

Encontrei essa imagem aqui na internet.  O que pensei? "Belas mãos, lindas unhas. Essa aí nunca lavou uma calcinha na vida. Louça então, nem se fala."  E a partir daí já é possível intuir algumas características dessa pessoa e algumas coisas da sua vida: essa pessoa não é babá nem cozinheira nem pianista nem cuidadora de idosos. Dificilmente será costureira ou faxineira ou digitadora.

Posso estar errada? Posso. Mas é mais provável eu acertar.

Temos aqui  um exercício mental permitido e divertido. Mas estou julgando? Sim. Estou errada? Não. Por que estaria? Por que não devo me entreter solucionando mentalmente as equações do dia-a-dia?

Pare de repetir "não julgueis". Não porque devamos ser julgadores do próximo mas porque geralmente as pessoas usam "não julgueis" como sinônimo de "não raciocineis".

Eu me nego a aposentar o cérebro.








26 de jul. de 2017

Mochila fosforescente

Se eu pudesse voltar ao passado...

De vez em quando a gente pensa isso, não é? Você já pensou.  Mas será que voltar é algo desejável mesmo?  Ou você só quer algumas cenas específicas, selecionadas?

Claro que você só quer algumas cenas. Duvido que encare o pacote inteiro.  Conheço você!  Todos temos ceninhas de cinema salpicadas ao longo de nossa vida chocha. São elas que queremos, jamais o todo. Deus sacou isso, bateu pé ("Ou leva todo o pacote ou não leva nada!")  e por fim nos tirou o direito à marcha ré.

Tudo bem, mas se você tivesse ré, voltaria ao passado?  Já sei o que vai me perguntar:  "- Passado? Mas de qual passado você está falando?"    Boa pergunta. Você é esperto.

Considere que não há um único "passadão" para nos referirmos.  Mesmo as piores novelas são divididas em capítulos. Sendo assim há um monte de "passadinhos" pra escolher em nossa tosca prateleira.  E esses "passadinhos" estão classificados e acondicionados em vidros separados: o do Passado Remoto, Passado Antigo e Passado Recente. Qual dessas velharias lhe seduz?

O passado antigo esmaece enquanto o recente é fresco e vivo. Desse ouço até vozes e cheiros. Parece estar ao alcance da minha mão. É convidativo, acolhedor e aparentemente acessível. Só aparentemente. O presente, quando vira passado, solidifica. Torna-se impenetrável como uma rocha.

Sabe, não há fantasia mais doce do que acreditar que podemos retornar a cenários antigos para retomar o fio da meada e viver feliz para sempre, dessa feita sem mancada.

Quando melancólica me dedico à nociva atividade de consolar-me com essa idéia de voltar a fita. Felizmente passa rápido.  "Felizmente" por quê? Raciocinemos: voltar ao passado sem a cabeça e as informações do presente não teria graça nenhuma. Que graça teria voltar sem a consciência dessa volta?  Não seria "voltar e curtir de novo"  mas apenas repetir a mesmíssima história sem chance de melhora-la. Você quer? Duvido.

Seria como ver novamente o mesmo filme: os personagens não sabem que aquilo tudo é repetido. Aí todo mundo repete as partes chatas. Não dá.

E a segunda opção? Voltar ao passado com a cabeça e as informações do presente?  Também não dá. Eu não sou mais a mesma. Seria como colocar o personagem de uma novela em outra novela.  Hoje há novas alegrias, novas mágoas, novos personagens, novas conclusões, novos sentimentos. E ainda por cima falta um monte de persnagem da história.  Como retomar a minissérie nessas condições?

Nada de hoje cabe no que passou. Voltar ao ontem com a cabeça do hoje? Impraticável.  Ao voltar, mentalmente me vejo carregada de novas histórias que não caberiam naquele enredo. Fica absurdo, uma coisa assim como... como uma mochila fosforescente colada em minhas costas em um cenário do século XIX. Não dá.

Uma reconstrução nada mais seria do que uma imitação deprimente do filme original. Não há passado para o qual voltar. É tolice pensar que ele está nos esperando. Não está. Cada dia o nosso passado fica mais diferente de nós mesmos. Se voltássemos ele não nos reconheceria, nem nós a ele.

Mesmo assim há dias em que, teimosamente, gosto de pensar que posso. Ah aquelas cenas!  Não deveríamos nos impressionar com essas lembranças. Se chegássemos lá, no passado, constataríamos que a coisa não era bem assim como a gente lembrava.  Nossas lembranças são altamente tendenciosas. Nada era do jeito que está arquivado na nossa cabeça.

Tudo o que eu tenho é o hoje e o que hoje eu sou (e que deixarei de ser daqui a pouco). - "E isso não é bom?"  Sei lá.  Mais pra frente, se eu sentir vontade de voltar, é sinal de que foi.

22 de jul. de 2017

Quem sou eu?

Aconteceu de novo:  em minhas postagens antigas, jurássicas, encontro um texto ou poema do qual não me lembrava de jeito nenhum. Gosto, então leio e releio mas não o reconheço. Não lembro de ter escrito. Os maus textos lembro muito bem mas dos bons eu duvido. Estranha sensação.

Veja: quando posto textos de outros, sempre indico o autor. Claro! Mas quando o texto é meu geralmente não assino no final. Algumas poucas vezes sim mas geralmente não o faço porque se está em meu blog fica subentendido que o texto é meu. Não precisa no final colocar toda vez Cristina Faraon.  Certo. Mas é muito esquisito quando não lembro de ter escrito aquilo. "Será que esqueci de colocar o nome do autor?"    Ás vezes gosto tanto do texto que não acredito que tenha escrito aquilo. "Acho que eu não teria conseguido escrever isso. Não deve ter sido eu não!" 

Cara, nem eu acredito em mim! Se eu assumir o texto como meu posso passar vergonha lá adiante. Posso ser ridicularizada e acusada de plágio. Mas também é tão incômodo deixar como anônimo! Uma injustiça comigo mesma em meus poucos momentos inspirados.

Será que me tenho em tão baixa conta que desconheço meus melhores textos? Seria como uma mãe renegar o próprio filho só porque ele é bonito. 

18 de jul. de 2017

Das tolices femininas


O mundo olha para trás comemorando como grande avanço o fato de as mulheres chinesas não precisarem mais se submeter àquela prática antiga horrorosa, de deformar os pés das meninas para fazê-los parecer pequenos. Homem algum desejaria uma mulher com pés "grandes" (normais). A deformação as tornava irresistíveis.

Felizmente o mundo mudou! Mudou?

Nós mulheres somos mesmo umas bestas, essa é que é a verdade. Em minha vivência no planeta Terra tenho notado o seguinte: na verdade homem com fome come qualquer baranga e não reclama muito. Pezão, pezinho, sem pé, morre de todo jeito. Eles querem mesmo é "aquilo" e "aquilo", como todas sabemos, é praticamente padronizado e com nível de beleza inferior a zero. Sabedoras disso, para se destacarem, as mulheres "espertamente" oferecem detalhes diferenciais que jamais haviam passado pela cabeça dos homens nem como necessidade nem como fantasia. Todos os truques femininos são simplesmente femininos, jamais passaram pela imaginação masculina por um simples motivo: homem não tem muita imaginação. O lance é futebol, cerveja e mulher disponível e bem disposta quando ele quiser - não necessariamente nessa mesma ordem.

Eles nunca, mas nunquinha da silva, notariam que temos dedos, menos ainda cutículas. Por quê cargas d'água iriam desejar que essas malditas cutículas fossem zelosamente extirpadas toda a semana? Mas nós oferecemos isso como diferencial, eles se acostumam e a gente entra pelo cano. Pior: sem garantia de que o contrário aconteça, se é que vocês me entendem.

Isso é só um exemplo. Estamos enredadas em centenas de teias semelhantes e eles lá, só deixando a barriga crescer. Claro que as mulheres odeiam o visual "homem grávido" mas ficar sem homem? Nem pensar! Vem grávido mesmo que a gente brinca de parteira.

Como eles se uniram em seu nada fazer, 95% das mulheres que gostam de homem acabam se conformando e ficam alegremente com seu espécime mal-cuidado pois ainda que não seja bonito, pelo menos cumpre sua finalidade biológica e nós estamos doidas para cumprir a nossa.

Se as mulheres se unissem na mesma indolência vocês acham que eles ficariam sem mulher? Claro que não! O que acaba com a gente é a competição.

Tenho duas constatações, uma boa e uma má:

1) Os homens não mudaram em seu afã devorador;
2) As mulheres não mudaram em seu afã competidor.

Azar o nosso.

14 de jul. de 2017

A água da lua



Procuram água na lua...
Mas há uma mulher triste
Que come tantas pipocas
Em frente da televisão!
E ninguém a encontra...


Estão procurando água na lua...
Mas há uma mãe desesperada
Pelo menininho que não voltou.
Quem sabe lá o encontrem quietinho
Talvez até meio azulado...

Procuram água na lua...
Mas não encontram quem abusou da menina calada
Que não consegue explicar
Nada do que aconteceu.

Por quê não encontram um jeito de achar
O caminho do seu coração?
Mas já foram à lua! Só falta encontrar água.

A água da lua talvez seja ácida
Talvez radioativa
Quem sabe cancerígena
Maleficamente prateada
Talvez magicamente produza
Daqueles enormes diamantes
Que serão nossa desgraça
Porque são da lua irada!

Tenho medo das coisas da lua
Mais do que das coisas da Terra


Talvez achem água na lua
Antes de encontrarem o empresário sequestrado
Ou o traficante rival, magro e assustado
Com sua manorada grávida.

Sinto já um certo frio!
Não quero começar a ter medo...
E se a lua se ferir
E jamais nos perdoar?

11 de jul. de 2017

Interligados

Assista qualquer um desses pequenos vídeos  AQUIAQUI e AQUI  O que você sente? Uma vontade de pegar, cheirar, amassar, botar na boca, brincar...  É gostoso de olhar e ao mesmo tempo incômodo porque só podemos mesmo olhar embora nosso cérebro nos impulsione a tocar. Não é?

Ninguém me  critica por dizer isso que acabei de dizer. É natural, é assim mesmo. Nós, os seres humanos temos essas peculiaridades.  Algumas coisas nos provocam certos efeitos - previsíveis ou não. Às vezes o efeito é bom. Outras vezes o efeito é apenas provocativo, nem bom nem ruim. Mas inegavelmente algumas vezes é ruim que provoca. Há coisas que dão agonia.   Um vídeo mostrando
alguém Por questões políticas você só pode ter sensações agradáveis ou interessantes com o que vê. Se algo lhe faz mal ou incomoda tal efeito não é reconhecido como natural. Toda a teoria a respeito da natureza das coisas terá então que ser subvertida. Teremos que passar a fazer de conta que não estamos todos interligados e que o que está fora de nós não nos afeta de forma alguma e que "toc" não existe.

Há motivos para, por convenção social, algumas coisas não serem feitas na cara de todo mundo. Defecar na frente dos outros, por exemplo. É um ato totalmente natural. Todo mundo faz. Mas afeta
quem vê, incomoda, motivo pelo qual é feito longe do olhar das pessoas. Sexo também é feito fora das vistas porque afeta, necessariamente. Não é toda hora que as pessoas querem ou podem se excitar. Mastigar de boca aberta... limpar os dentes com fio dental... Tudo nos afeta de alguma maneira. É idiotice querer negar. Portanto não critique quem se importa. Só os autistas não se importam com nada nem se afetam.

Odeio incoerências. 

10 de jul. de 2017

Sem chão

http://pislices.ca/post/162842101666/pi-slicesfall-170710

Poesia & Opressão

Dizem que poeta sofre. Não gosto disso que dizem mas reconheço que existe um monte de coisas das quais também não gosto mas que continuam teimosamente existindo independentemente dos meus gostos.

A poesia não sai do coração assim, de graça. Ela sai por estar sendo amassada, espremida e espetada lá dentro. Sai porque não aguenta mais ficar. Sai de boca aberta contando pra todo mundo, berrando, denunciando um estado de coisas que não pode ser abafado, que não se contém dentro de si mesmo. Poesia é o fim da discrição.

Poemar é jogar no ventilador. É mostrar a bunda.

Difícil é escrever profundamente na paz, na maciota, no gozo da ventura. Até porque a ventura requer tempo para ser gozada e ninguém ousará interrompê-la para escrever um mau verso. Ainda mais sabendo quão melhor verso será esse quando a ventura se for. Espere que a alegria vire as costas. Aí sim é hora de você pegar a caneta.

É verdade que existem poesias luminosas. Só que as singelas alegrias das vidas felizes não se prestam à poesia. Pra render um bom verso a alegria tem que ser opressiva. A felicidade do poeta tem que ser uma pérola caída num rosário de tristezas e assim surpreender tanto, mas tanto, a ponto de causar perplexidade. A alegria de onde sai poesia tem que ser como o sol entrando numa cela escura e solitária; tem que ofuscar, doer o peito imitando a tristeza e fazer o poeta sair gritando do mesmo modo, denunciando que aquilo tudo não cabe, que a vida não é assim e ai-meu-Deus-que-coisa-linda-eu-vou-morrer!

As poesias que não nascem da opressão da angústia ou da opressão da felicidade extrema, são chatas. Piegas. Maquiadas. Adocicadas. Junta até formiga.

Isso tudo é pra dizer que a pausa na qual me encontro vem de uma certa nulidade calma e não-pensante. Um momento da vida, por assim dizer. Ainda assim fica uma dorzinha: a dor da saudade da poesia com todos os seus tormentos. E há também agora a dor da expectativa a respeito do que virá perturbar a serenidade do meu não-pensar. 

No parágrafo anterior já há estão expostas duas dores. Mas duas dores é pouco demais para um poeta.

8 de jul. de 2017

Medo

https://farcristin.tumblr.com/post/162762697775/as-pessoas-tem-medo-da-velhice-e-da-morte-mas

5 de jul. de 2017

Persistência & Teimosia

Há quem veja diferença e até tenha escrito a respeito. Eu não vejo diferença alguma. Em se tratando de estilo de vida, persistência é teimosia e teimosia é persistência. Aliás posso afirmar categoricamente que persistência é a teimosia que deu certo. Quando o persistente quebra a cara recebe o troféu de "teimoso".

Chatos ou não, só os teimosos sobrevivem.  Tendo isso em vista, nem sei o que estou fazendo aqui, vivinha, escrevendo. Não sou persistente. Desisto logo, não gosto de coisas difíceis.  Comigo é assim: dificultou, dançou.   Sim, isso é vergonhoso.

Eu sempre disse que se nascesse homem minha vida seria bem complicada porque eu JAMAIS teria paciência com as mulheres difíceis. Se fica fazendo pose, vai pra lá e pra cá balançando a bunda mas não libera nada? Vá se catar!  Resultado: só partilhariam do meu leito de amor as safadinhas, fáceis e descaradas em geral. Eu seria o Rei das Galinhas. Triste destino. Deus sabe o que faz. Estou feliz com a minha - quer dizer, com o meu estado.

Aos que já me chamaram de teimosa, respondo: quem dera!  Embora eu admita que em termos de falatório não desisto facilmente. Sou capaz de argumentar até enlouquecer o oponente - mas também é só isso.

Sem falar que uma das virtudes masculinas que mais aprecio é justamente a persistência, a capacidade quase infinita de levar fora até que a pobre mulher, exausta, jogue a toalha e diga SIM. Acho legal lutar pelo que ser quer. Acho legal nos outros, porque comigo penso logo: "Dificultou? Então não era para acontecer. Deus não quis. Tchau."

Pois é, vou ficar só mais dez anos tentando fazer desse blog um sucesso. Depois disso, desisto!

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