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28 de jun. de 2016

Aborto - para sermos coerentes

Acho que quem é a favor do aborto deve ser também a favor da pena de morte. Se quiser ser coerente e não se contradizer tem que carregar os dois pacotes. 

Pense bem: se um bebê, que nunca fez mal a ninguém, pode morrer para não incomodar, quanto mais  um bandido,  um assassino!

Mesmo que não seja "para não incomodar" , ainda assim o assassinato de um bebê justifica o de um bandido. O estado também não consegue dar assistência aos cidadãos de bem, por que deveria sustentar bandido? Você não consegue pagar a prestação do carro, porque sustentaria uma criança?

Não estou defendendo a pena de morte.  Nem o aborto. Só estou dizendo que esses assuntos estão  inapelavelmente ligados.

O bandido é produto do meio e não teve chance na vida? Ok. O bebê também é produto do meio e também  não lhe deram chance de mostrar todo o seu potencial à sociedade.  O bebê é produto do meio sim. Ele é  resultado direto do louvor ao sexo irresponsavel.

A mãe não pode ser obrigada a aturar? E por que nós seríamos obrigados a aturar bandido? É um mala que não nos interessa, tanto quanto o bebê.  Não é assim?

O bandido não tem culpa? Nem o bebê.  Dane-se o bebê?  Então dane-se o bandido também. Não dá pra separar.

"Meu corpo, minhas regras".
"Meu país,  minhas regras". O que manda não é a moralidade mas o poder. Se está me incomodando e posso matar, mato.

Lembrei daquelas tribos indígenas que matam os bebês defeituosos. Vai ver que eles estão certos. Se vai atrasar minha vida, por que não detonar?  Se esta no útero ou se já saiu, isso é só um detalhe.

Nossa! Já notou como uma coisa puxa outra?

24 de jun. de 2016

Ironia

Certa vez eu estava lendo uma reportagem na qual diziam que crianças bem novinhas não conseguem entender uma ironia. Elas entendem a ironia como uma afirmativa. Não conseguem perceber  que a pessoa pretende que o ouvinte entenda exatamente o contrário do que ela está dizendo.  De fato  há um certo grau de sofisticação  nesse tipo de comunicação.  É um recurso interessantíssimo e útil

É até compreensível que uma criança não o compreenda  mas é difícil entender um adulto que não consegue entender ironia.

No Facebook eu sofro.  De vez em quando posto alguma ironia - minha marca registrada - e depois tenho que correr pra me explicar.  Lamento informar: sou uma pessoa irônica. Sei que isso não é uma virtude. Principalmente agora que pode notar que por mais ácidas que sejam as palavras e por mais estranha que seja a afirmativa algumas pessoas não entendem. 

Talvez o erro esteja em mim. Vai ver que preciso refinar meu estilo.  Ou vou ter que me reprogramar e abrir mão dessa interessante ferramenta da comunicação. Afinal de contas é muito chato ter que se explicar. Ironia é como piada: se explicar perde a força. Mas pior do que se explicar é não ser contestada mas ficar imaginando se aquela afirmativa fez ou não fez um estrago na sua imagem. 

Mas nem tudo é ironia.  As vezes a idéia é um pouco diferente: apenas passar uma mensagem sutil, nas entrelinhas, levando o leitor a se flagrar. Exemplo:

Esses dias postei um vídeo ridículo no qual eu aparecia com o rosto desfigurado pela lente da câmera. Eu estava horrorosa e falava sobre nossa futilidade em dar tanto valor à beleza exterior. Eu afirmava em tom bem irônico e idiotado que o que importa mesmo é a beleza que vem de dentro. Eu disse tudo aquilo tendo em mente a rejeição natural que a minha figura ridícula e distorcida criaria nas pessoas. Eu falava contra a valorização da imagem enquanto provava que a imagem é por demais importante e não conseguimos fugir disso. A mensagem que eu quis passar é que somos hipócritas ou tolos quando dizemos que o exterior não é importante porque todos rejeitam uma pessoa com aquela aparência que eu estava apresentando. Eu queria flagrar as pessoas sentindo repulsa pela minha aparência e em seguida sentindo repulsa por elas mesmas.

Esse tipo de truque me pareceu simples e óbvio mas as pessoas não sacaram a minha sutileza. Elas simplesmente disseram que concordavam com minhas sábias palavras e comentaram sobre o culto às aparências.  Parece que ninguém refletiu sobre  sua propria reação à minha feiura. Fiquei meio frustrada.

Mas agora que a coisa esfriou estou assustada é comigo mesma. Notei que ninguém se importou com a minha imagem não porque fossem broncos mas talvez a minha cara feia, a minha boca enorme e o meu riso abobalhado não tivessem importância alguma para eles  e o que importava mesmo era a mensagem que eu estava passando.

No final das contas as pessoas não são tolas e a única pessoa preconceituosa e fútil  sou eu!  Porque não só me importei com as aparências  mas supus que minha pequenez fosse universal. 

No final somente eu fui apanhada em flagrante. Eu fui a única presa nessa armadilha.

22 de jun. de 2016

Perdas

Estou aqui considerando que a despensa onde guardamos "os grandes tesouros da nossa juventude" tem um nome. O nome desse compartimento é "ombros". É precisamente lá onde fica armazenado tudo que a juventude pensa ter de mais caro: nos ombros. Garbosamente exposto.

Toda a tranqueira da juventude nos pesa bastante, mas a custamos a perceber. Por exemplo: enxergar bem é uma beleza, mas ver demais pesa. Enxergamos tanto as  nossas imperfeições quanto as expressões faciais alheias, que preferíamos não ter notado. Pesa comparar, pesa buscar incessantemente outros olhos. Então um dia desce a nuvem da velhice e de tudo isso somos aliviados. 

O poderio do corpo saudável também pesa. Porque junto com a beleza e a força vem todas as cobranças possíveis. Você é jovem então pode suportar mais trabalho, mais preocupação, mais decepção, mais exigências, mais dor. Você paga caro todos os dias por ser jovem. A gente tem que pedir perdão ao mundo por isso.  Só quando as forças se vão é que nossas limitações passam a ser respeitadas.

Os velhos têm licença para exercer tranquilamente sua humanidade. Dos jovens exige-se superação eterna.  

A beleza também cansa com todas as suas exigências e acessórios. Porque a beleza não existe simplesmente como uma dádiva, como uma borboleta que vem depois vai embora quando dá vontade. Todos acham que essa borboleta dá atenção ao nosso comando e depende de nós.  A beleza, assim como o dinheiro, são medidas para lhe avaliar. Você vale pela sua capacidade de multiplicá-las ou pelo menos conservá-las. A beleza, tanto quanto o dinheiro, precisa ser gerenciada. O mundo não perdoa o belo fracassado tanto quanto não perdoa quem nasceu rico e morreu pobre. Não há clemência para a beleza desperdiçada - seja lá o que isso signifique.  

Tudo isso é para dizer que as perdas não precisariam ser tão lamentadas. Os ombros ficam livres, tudo se torna mais leve. Tão leve que um dia chega a hora de voar... e aí voamos.

17 de jun. de 2016

Na natureza selvagem






Estou assistindo esse filme pela terceira vez. Não tem jeito: me emociono.

Geralmente guardo o "centro da mensagem" dos filmes que assisto. Não me pergunto se o idealizador da história tinha em mente a tal mensagem central que pesquei.  Mas o que importa? Traço paralelos, vejo semelhanças, "mensagens", setas apontando para cá ou para lá.

Incrível e lamentável a determinação irredutível do personagem principal. Já escrevi certa vez sobre o que seria ter sobre si os grilhões de uma liberdade que se impõe e nos impede de mudar de direção; uma liberdade que não aceita ser negociada nem diminuída.

O personagem nos aflige com a inflexibilidade de seu sonho. Ele é inabalável.  O rapaz ama, é conquistável sim, mas sacode de si todas as amarras afetivas com uma facilidade impressionante. Só porque é livre, tragicamente livre e determinado. Em todas as suas andanças parecia que eu estava vendo a mão de Deus oferecendo opções, mostrando outros paraísos, outras vias possíveis.   Eu vi em toda a história as doces argumentações da Vida tentando demovê-lo da ideia, soprando em sentido contrário. Era como um vento carinhoso que o cercasse tentando inutilmente seduzi-lo.  Era como se Chris andasse por um imenso pomar de possibilidades mas desejasse apenas aquele único fruto que lhe faria mal.   Em cada pausa da viagem ele encontrou convites irrecusáveis da vida; frutas e mais frutas que, no entanto, não quis. Preferiu despedir-se de pessoas para as quais ele seria tudo e lhe trariam de volta tudo o que deixara para trás. Em sua curta jornada pela terra ele quebrou vários corações até quebrar, por fim, o seu próprio - imagino.

Foco... Não podemos deixar que nosso foco degenere em algo estranho, nocivo.



"Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes. Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo!"


Antes de terminar esse texto preciso desdizer tudo o que já disse. Preciso desaprender todas as lições que eu achei que havia aprendido com essa história. Vou declarar, contraditoriamente, que romper com tudo sempre foi o meu sonho de consumo e que morro de inveja de Christopher McCandless. Eu queria ter a coragem, a pureza e o desprendimento que ele teve.


10 de jun. de 2016

Ciúme, inveja, complexo

Em pessoas saudáveis esses sentimentos podem aflorar se forem muito provocados.  Mas parece  que em grande parte dos casos  não é bem isso o que acontece.

A pessoa problemática não  precisa de motivo para ter ciúme nem  para ter inveja nem para ter complexo.  Estes são três estados doentios da alma.  Quem se sente assim ja esta mal antes daquilo que julgava ser o "gatilho" do seu sentimento. 

Você pode não ter nada na vida e ainda assim uma pessoa arrumar um jeito se lhe invejar. Ou porque você é simpático,  ou porque tem lindos cabelos ou porque sabe falar bem, ou simplesmente porque acha que você é feliz. Não importa.  O invejoso vai dar um jeito de sentir inveja da mesma forma que o ciumento vai arrumar um motivo pra sentir ciúme e o complexado vai arrumar uma "razao" pra se sentir uma ameba - ou pra se sentir um deus, mesmo sendo um bosta. Porque complexo de superioridade também existe.

5 de jun. de 2016

Não é pra entender


Ainda hoje, ainda agora, mesmo nessa idade sinto em mim coisas que não deveriam mais ser encontradas. Há coisas que sempre fui. Venha aqui e testemunhe. Fixe o olhar e me diga se vê o que vejo. Lá está. Testemunhe o que ficou lá dentro.
No telão das possibilidades...
"I don't want to miss a thing"
"Sweet Child O'Mine"
"Knocking on heavens's door"
Em algum lugar incerto, não sabido,
Me perdi, como quem se perde da própria mãe, do pai, do jardim, do jabuti, do canequinho de leite com a beira mordida, do casaquinho de mangas já curtas que não chegam nas mãozinhas geladas. Nunca mais me achei. Não sei onde ela está. Ela falhou. Como um aborto miserável e só volta raramente, quando não é chamada. Como as dores antigas. Enquanto ela canta e corre livre me embaraço nos cipós. Me confundo com os sons e nas coisas duras e espinhentas desse lugar.

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