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24 de jun. de 2016

Ironia

Certa vez eu estava lendo uma reportagem na qual diziam que crianças bem novinhas não conseguem entender uma ironia. Elas entendem a ironia como uma afirmativa. Não conseguem perceber  que a pessoa pretende que o ouvinte entenda exatamente o contrário do que ela está dizendo.  De fato  há um certo grau de sofisticação  nesse tipo de comunicação.  É um recurso interessantíssimo e útil

É até compreensível que uma criança não o compreenda  mas é difícil entender um adulto que não consegue entender ironia.

No Facebook eu sofro.  De vez em quando posto alguma ironia - minha marca registrada - e depois tenho que correr pra me explicar.  Lamento informar: sou uma pessoa irônica. Sei que isso não é uma virtude. Principalmente agora que pode notar que por mais ácidas que sejam as palavras e por mais estranha que seja a afirmativa algumas pessoas não entendem. 

Talvez o erro esteja em mim. Vai ver que preciso refinar meu estilo.  Ou vou ter que me reprogramar e abrir mão dessa interessante ferramenta da comunicação. Afinal de contas é muito chato ter que se explicar. Ironia é como piada: se explicar perde a força. Mas pior do que se explicar é não ser contestada mas ficar imaginando se aquela afirmativa fez ou não fez um estrago na sua imagem. 

Mas nem tudo é ironia.  As vezes a idéia é um pouco diferente: apenas passar uma mensagem sutil, nas entrelinhas, levando o leitor a se flagrar. Exemplo:

Esses dias postei um vídeo ridículo no qual eu aparecia com o rosto desfigurado pela lente da câmera. Eu estava horrorosa e falava sobre nossa futilidade em dar tanto valor à beleza exterior. Eu afirmava em tom bem irônico e idiotado que o que importa mesmo é a beleza que vem de dentro. Eu disse tudo aquilo tendo em mente a rejeição natural que a minha figura ridícula e distorcida criaria nas pessoas. Eu falava contra a valorização da imagem enquanto provava que a imagem é por demais importante e não conseguimos fugir disso. A mensagem que eu quis passar é que somos hipócritas ou tolos quando dizemos que o exterior não é importante porque todos rejeitam uma pessoa com aquela aparência que eu estava apresentando. Eu queria flagrar as pessoas sentindo repulsa pela minha aparência e em seguida sentindo repulsa por elas mesmas.

Esse tipo de truque me pareceu simples e óbvio mas as pessoas não sacaram a minha sutileza. Elas simplesmente disseram que concordavam com minhas sábias palavras e comentaram sobre o culto às aparências.  Parece que ninguém refletiu sobre  sua propria reação à minha feiura. Fiquei meio frustrada.

Mas agora que a coisa esfriou estou assustada é comigo mesma. Notei que ninguém se importou com a minha imagem não porque fossem broncos mas talvez a minha cara feia, a minha boca enorme e o meu riso abobalhado não tivessem importância alguma para eles  e o que importava mesmo era a mensagem que eu estava passando.

No final das contas as pessoas não são tolas e a única pessoa preconceituosa e fútil  sou eu!  Porque não só me importei com as aparências  mas supus que minha pequenez fosse universal. 

No final somente eu fui apanhada em flagrante. Eu fui a única presa nessa armadilha.

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