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30 de jul. de 2012

Chato

Chato, mas chato mesmo, é escrever um texto há um tempão e guardar acreditando que está ótimo; depois reler e descobrir que é uma merda.

Aproveito a oportunidade para renegar todas as minhas poesias.

25 de jul. de 2012

O bom ladrão

Não tem dessa.

Jamais concordei com aquela afirmativa de que "os piores bandidos estão em Brasília, estão em carrões." Pra mim bandido é bandido, é tudo a mesma porcaria. A única diferença é a quantidade do que roubam e essa quantidade depende de mero acaso. O ladrão de galinhas estaria mamando no esquema do mensalão se tivesse tido chance. E o ladrão de paletó e gravata estaria roubando galinhas se não tivesse a chance de fazer negociatas milionárias.  Odeio a ideia de que ladrão pobre é melhor do que ladrão rico. 


Brasileiro tem essas distorções de visão. Brasileiro adora miséria pois acha que a miséria é a porta da santidade. 

Dia do Escritor

Todos sabemos que a preocupação número 1 de grande parte dos blogueiros é ter assunto para blogar. Não sou assim. Sempre tenho assunto. Meu problema não é a falta de assunto, mas o excesso deles. 

Os assuntos são como pássaros a sobrevoar a cabeça do escritor. E a cabeça do escritor é uma gaiola. Pode ser grande ou pequena, simplezinha ou um tremendo duplex, não importa; o que importa é que se trata de uma gaiola na qual os simpáticos pássaros das idéias devem entrar na boa e ali permanecerem até serem devidamente reduzidos a termos. E é aí que mora o problema.

Minha gaiola é um kitinete tamanho P.   Ela comporta até uns dois ou três pássaros anãos, não mais que isso. Aqueles maiores, tipo arara e gavião, nem pensar.  Tenho mil coisas a dizer ao mundo, só que essas mil coisas sobrevoam minha pobre gaiola justamente quando não tenho como prender o pássaro lá dentro. Sempre estou sem computador, sem caneta, sem um gravador... É um sufoco.

Esses dias, de férias, com a mente deliciosaMENTE flutuante, tentei manter em cativeiro diversos assuntos até que pudesse escrever a respeito. Não consegui. Quando sento na frente de um computador observo que a portinha da gaiola estava aberta ... e vazia. 

Estou dizendo isso para poder explicar meu estranho hábito de sentar em frente ao computador e ficar olhando sua tela com o olhar vazio, os dedos imóveis, inexpressiva. É para ver se aqueles pássaros que me paqueraram o dia inteiro finalmente vão fazer o favor de pousar um pouquinho.

Nesse exato momento estou tentando capturar um antigo morador da minha gaiola.  Inútil. Ô bichinho sacana!

Antigamente os escritores que se prezavam andavam sempre com papel e caneta. Os mais modernos usavam um gravador sempre no bolso. Os atuais são como eu.

Ah, antes que eu me esqueça: hoje, 25 de julho, é o Dia do Escritor. 


21 de jul. de 2012

A maldição da moldura

O mundo  não se divide entre pretos e brancos, ricos e pobres, capitalistas e socialistas. O mundo se divide entre gente feia e gente bonita.

Isso é uma constatação. Não estou defendendo o mundo.

Talvez eu pudesse dizer que o mundo se divide entre ricos e pobres. Talvez. Mas para efeito de divisão,  "ricos" e "pobres" são categorias  quase (eu disse "quase") iguais a "feios" e "bonitos".  Até porque a beleza é um tremendo patrimônio.

O dinheiro embeleza, ensina a pessoa a falar, a gesticular, escolher perfumes, roupas, presentes, escolher palavras, escolher ângulos favoráveis, erguer a cabeça. O dinheiro te pega pela mão e melhora seus dentes, sua conversa, te leva às melhores escolas, aos melhores livros, às melhores sacadas. Acaba que você fica mais bonito, mesmo que não fique. Porque nós representamos o mundo no qual vivemos. Isso é uma droga, mas é assim. Você vem com moldura. Seu mundo é a sua moldura e se a moldura não é mais importante que o quadro (e não é!) ainda assim ninguém irá descrer da sua relevância. Já vi gravuras sem graça parecerem lindas dentro da moldura correta. E já vi pinturas excelentes serem ignoradas em meio a textos e propagandas em uma virada de página de revista.

De alguma forma injusta nós somos contagiados pelo que nos cerca. Se o que te cerca é algo que as pessoas apreciam, isso pega em você. Mas se, mesmo involuntariamente, você "representa" algo que as pessoas rejeitam, o mesmo acontecerá com você.

Jamais seremos vistos sozinhos. Só Deus nos vê isoladamente. Nossas músicas, perfumes, cores e cultura nos acompanham e realçam.  Há um antídoto para isso? Sim, há! Não um, mas dois:  a crueldade e o amor.

Um rico cruel sempre será feio. A moldura da maldade neutraliza tudo o que o dinheiro poderia fazer por ele. Por outro lado, uma pessoa boa, que ama, é gentil e caridosa, sempre será bonita pois a moldura do amor neutralizará tudo o que a aparência ou pobreza fizeram para conspirar contra ela.

Esses são os dois únicos casos em que alguém consegue escapar da "maldição da moldura."

20 de jul. de 2012

Indizivel

Nem tudo é inconfessável. Além do inconfessável há o indizível, o além do além. Falar dos sentimentos é, quase sempre, falar nada.


Não adianta falar: ninguem entende exatamente o que você está sentindo. E se entender foi devido ao sexto sentido da pessoa, a um dom natural dela. Não teve nada a ver com o seu poder  de verbalizar sentimentos.

13 de jul. de 2012

Cismas e loucuras

Certamente a loucura se anuncia. Ela adora dizer "eu bem que avisei".

Cada loucura tem seu primeiro passo. A minha, atualmente, já deu as caras. Vejam só: quando eu passo fome sinto-me magra.  Imediatamente. Olho-me no espelho e me vejo realmente mais em forma. Claro que isso não existe, mas fico feliz! E quando eu como sinto-me uns cinco quilos mais gorda na hora. Eu acho que "tufo" antes mesmo que a comida chegue ao andar térreo. Corro então para o espelho e "confirmo" que "de fato" engordei cinco quilos imaginários em quinze minutos.

Não somos tão racionais quanto gostamos de apregoar. São as impressões que comandam nossa vida, não as teorias. Teoria só serve para mantermos amizade com nosso cérebro, para não perdermos o contato, mas eu pergunto: quem leva o cérebro a sério? A vida real se passa no âmbito das impressões não autenticadas pelos cartórios da ciência.

Certa vez li que para um alimento realmente nos engordar, ele leva três dias. Se nossa mente disser que há fantasmas no escuro, então eles estão lá atrás da porta só esperando. Não importa o que os outros dizem. Não importa nem o que nós mesmos dizemos.

Nossas cismas comandam o mundo e elas não precisam de arrazoados com começo, meio e fim. Prescindem de tudo isso e aí é que está seu superpoder. Quem tiver o poder de enfiar uma cisma em nossa cabeça, esse detém o poder de fato. Primeiro porque não precisa de autorização nem de fundamentação. Segundo porque uma vez implantada a cisma não sai mais do lugar. É como uma macha de tinta no sofá branco.

Nossas manias e nossos amores vem de cismas, de ideias não devidamente trabalhadas, mas que permaneceram. Tudo o que somos tem pouco a ver com o que esquematizamos coerentemente. Somos decepcionantes, somos surpreendentes, somos um mistério.

Por isso se quiser ensinar alguma regra ou princípio para uma pessoa, apele para o emocional. Nesse nível todo mundo se entende. Estranhamente.

9 de jul. de 2012

Beijo no machucado

Ah o poder curativo das mães!

Qual a mãe que, carinhosamente, nunca beijou o "dodói" de seu filho e disse que a dor iria passar? A mãe beija com tanto carinho e pergunta com o olhar tão doce se "já passou", que  a dor acaba passando mesmo!

Diz a teoria.

Sei não... Acho que é aí que começa nosso longo aprendizado de não dizermos a verdade para não desapontarmos a pessoa amada.  Uma pergunta sob um olhar doce nos constrange imensamente, desde que somos pequenininhos.

Tudo começa com um machucado no joelho... e acaba com um "foi bom pra você"?

6 de jul. de 2012

10 maneiras de ser respeitado no meio jornalístico

(Copiado descaradamente do blog "Oásis da Inutilidade")



Mais cedo ou mais tarde o foca percebe que precisa de algo mais para imegir socialmente entre os novos colegas jornalistas. Ser legal não é suficiente. Ser bonita(o) serve, mas apenas para o sexo oposto - e às vezes para o mesmo, também. Ser muito inteligente causa discórdia. Para que o pobre neófito redacional não se sinta perdido ao adentrar no viveiro de cobras malcriadas da redação, eu ofereço aqui carinhosamente algumas dicas preciosas. Mas atenção: não me responsabilizo por eventuais efeitos colaterais.

1 - Seja escroto


Caso você ainda não saiba, ser bonzinho está totalmente fora de moda. Só é respeitável o jornalista que tem pinta de malvado e fala muito palavrão. É claro que poucos são maus de verdade, mas o importante é a aparência. Você nem precisa ser totalmente perverso; basta demonstrar um certo viés negativo, obscuro, como se estivesse perdendo a luta para não se deixar levar pelo lado negro da força.

Quando as pessoas olharem para você, não é necessário que vejam um psicopata completo. Meio psicopata já basta. Sua imagem deve deixar uma leve incerteza no ar sobre se você realmente tropeça velhinhas na rua, cuspiu no tapete do Papa ou peida em elevador cheio.


2 - Fale mal de tudo


É uma clara continuação do primeiro tópico: nunca algo estará satisfatório para alguém realmente malvado. No seu jornal, o pauteiro é burro, o editor é anta, o chefe é jumento, a empresa é uma Arca de Noé e os textos publicados são todos uns excrementos - exceto o seu e de um ou outro amigo próximo. Aliás, quando o seu texto sai ruim, a culpa é do editor. E se você é editor, obviamente, os repórteres é que são os analfabetos.

Se este procedimento for feito da maneira correta, em vez de ser execrado você será respeitado. Eventualmente poderá ser demitido, mas continuará respeitado.


3 - Use drogas


Não só as lícitas, seu bundão. Mas comecemos por elas. Encher a cara é elementar para interagir, de preferência tendo várias histórias hilárias de porres. Quanto maior o ridículo já passado por conta do álcool, maior respeito ser-lhe-á imputado.

Um dia desses conheci um antigo repórter da Província e do Diário perambulando como mendigo na rua, barba de noé, fala atrapalhada, mas frases coesas. Ele contou rápido sua história, citou muitos jornalistas que conhecia e no final, disse "perdi para a cana...". De súbito, me veio um respeito enorme por ele.

O cigarro também dá um certo ar de confiabilidade. Não se preocupe, ninguém olha para seu pulmão preto. E cada vez menos jornalistas se preocupam em negar o uso da maconha, já tão comum. O fininho é útil, pois dá um ar de guerrilheiro zapatista. Já outros entorpecentes não são assim muito necessários, mas se quiser usar, tanto faz. O que é um peido pra quem tá cagado?


4 - Tenha pose


No fundo, jornalistas se acham. No raso, têm certeza. Treine o olhar de Clark Gable, segure o cigarro com pose de atores dos anos cinquenta e mentalize "eu sou safo" como um mantra. Tudo isso ajudará a convencer os outros e você próprio do estupendo glamour da profissão. Você tenta se segurar, mas isso exala inevitavelmente do seu ser.

Sua pose deve mostrar o quanto você é mau. Na hora do trabalho, é interessante alternar momentos de gargalhadas em altos decibéis com olhares de seriedade profunda. Só não alterne demais os dois momentos, porque esquizofrenia e bipolaridade ainda não são desejáveis na redação. A não ser que você seja chefe, claro.

5 - Auto promova-se


 De vez em quando comece frases com expressões do tipo "quando eu ganhei o prêmio tal..." e "porque a minha manchete de ontem...". Jornalista não tem o menor pudor em se exibir. Em qualquer trunfo passe verniz, multiplique por três e propague com um certo tédio, como se já fosse corriqueiro na sua vida.

Em momentos que quiser mostrar sua humildade e modéstia, solte frases com a seguinte fórmula: "Fulano nunca ______(algo que você já fez) e já tá se achando". Por mais ridícula que a auto promoção soe, é incrível como funciona. É uma espécie de marketing pessoal extremo.

Óbvio que se você exagerar, vai acabar sendo mal visto. A não ser que seja chefe, claro. Chefe é sempre mal visto.

6 - Seja uma pseudo-enciclopédia


Seja metido a saber de tudo. Soltar jargões profissionais de qualquer área faz você parecer muito safo. Afinal, em poucos meses de labuta, qualquer estagiário já entrevistou macumbeiros, astronautas, artistas querendo aparecer, políticos querendo desaparecer, físicos nucleares, policiais torturadores e até acopladores de carga de caneta Bic. Basta escrever uma matéria especial sobre construção civil para o jornalista ganhar especialização em engenharia.

Assim, você sempre sabe um pouco mais do que todo mundo. Sobre qualquer fato relevante na política e economia, você é capaz de soltar "mas isso não é tudo" ou "tem muita coisa por trás disso que vocês não sabem...". Nunca revele o segredo, claro. Apenas deixe no ar que seu conhecimento sobre o tema tem a espessura e profundidade de um buraco negro alargado pelo Kid Bengala.

7 - Seja competente

De forma alguma chega a ser uma condição impreterível, mas até que ajuda. Mas atenção: só tem o efeito esperado se praticada em conjunto com as últimas duas dicas.


8 - Seja estranho


Jornalista não é muito normal e tem orgulho disso. A esquisitisse é uma forma de se diferenciar dos seres inferiores - tipo publicitários, marqueteiros e afins. Então aflore seu lado underground e regue sua genialidade incompreendida. Use roupas "originais", tenha seu próprio "estilo" e demonstre "personalidade", assim mesmo, entre aspas. Lembre-se: qualquer coisa diferente e de difícil compreensão tende a ser respeitada.




9 - Dê para alguém

Não é só dar uma vezinha. E também não é para qualquer um. Namorar um superior ou veterano de redação pode ajudar na interação com os demais colegas. Vale para relações homo e hetero, já que redações são apinhadas de viados. Se não funcionar para ganhar o respeito de todos, ao menos de seu par você já conseguiu.


Agora, se quiser sair dando para todo mundo, ninguém vai reclamar. Só temo que isso afaste você do objetivo deste post.

10 - Integre-se a uma


Essa aqui vale até para grupos de cefalópodes. Se depois de tudo isso você não ganhar a simpatia dos colegas, faça vestibulinho pra publicidade e seja feliz.
Filipe Faraon

5 de jul. de 2012

Vazio

O vazio só é vazio mesmo, só tem direito de assim ser chamado, quando não se tem a mínima idéia do que poderiamos fazer para preenche-Lo. Porque quando sabemos o que nos falta, o que temos não é "um vazio", mas um "problema", "um plano" ou quem sabe "uma esperança".

Um vazio não é exatamente uma carência, mas é um nada que dói mais do que a carência em si. Carência é a doença diagnosticada. Vazio é aquela dor da qual os médicos afirmam:"você não tem nada!"  mas você sabe que tem.


Só os verdadeiros amigos levam a sério o seu vazio. Os outros apenas dirão, entre o riso e a acusação, que "na vida a coisa mais feia é gente que vive chorando de barriga cheia".


O vazio pode levar à depressão, mas ele não é a depressão. A depressão é cheia de fatos, dores e fantasmas; é esbarrar em tudo, é a dor da canela. Já o vazio é a casa vazia, é a agonia de sentir dor sem ter esbarrado em nada.

As vezes acho que a depressão é o vazio que perdeu a paciência de sofrer no escuro, aí começou a gritar.

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