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11 de nov. de 2016

Ciclos *



Ninguém segura a vida. Ninguém segura a morte. A deterioração é inevitável mas o universo continua. Segue seu rumo pisando duro, desaforadamente, apesar de nós. Mesmo que destruamos todo esse planeta ainda assim ele continuará existindo com outras formas de vida. Árvores foram assassinadas para dar lugar a esse prédio que aí jaz. E outra geração de plantas se levanta sobre os escombros, ri deles e sacode suas bandeiras. Vão viçosas e atrevidas, recém chegadas ao mundo e descansam tranquila em plena posse do que pensam ser seu. 
Quem ri por último ri melhor. Mas ninguém sabe quem ri por último porque o ciclo é infinito.
Deixemos que as trepadeiras gozem a inebriante ilusão da sua eternidade. 

Relevância

É bem desconfortável quando me dedico a fazer contabilidade da minha vida. Sempre concluo que tal exercício não me leva a nada mas insisto só pra redescobrir que nada do que fiz ou faço tem relevância a não ser para mim mesma.  É como se em um imenso corredor todas as portas que eu abrisse estivessem vazias.

Civilizações importantes do passado se empenharam em registrar sua passagem pelo mundo. Eram irrelevantes e não sabiam.   Eu mesma não me sinto devedora de coisa alguma aos grandes imperadores do passado. 

Admitir nossa irrelevância é um ato de sensatez mas deixar-se vencer por ela talvez seja preguiça. Somos irrelevantes mas temos o dever moral de tentar não ser. Nesse caso os "imperadores eternos" estavam certos e eu errada.   Somos reles? Ou só o somos quando nos conformamos em sê-lo?


Todos temos a desculpa perfeita para continuar vivendo egoisticamente já que nada muda nada.  Nosso álibi pode ser a própria Humildade; essa virtuosa senhora que esconde em seu manto todos os negligentes do mundo. 

Mas por que alguém deveria se empenhar em ser "relevante"  e "fazer a diferença"?  Que mania de grandeza é essa? Quem já ultrapassou a si mesmo, afinal? Se todos não passamos de formiguinhas num planeta microscópico, qual a necessidade de nos sobressairmos? Que diferença isso faz?  Por que não cumprir tranquilamente apenas minhas funções biológicas e depois morrer em paz

Nossa vida nós não podemos invocar e nossa morte nós não podemos evitar. Por que achar que entre uma e outra coisa teremos mais controle do que tivemos em seu início ou teremos em seu fim?

Tenho certeza de que filósofos renomados já se detiveram com muito mais elegância e arte diante dessa questão. Não estou sendo nada criativa. Mas a certeza da minha irrelevância me permite caminhar  desajeitadamente por essa estrada que já foi tão mais bem frequentada. Posso fazê-lo porque com isso nada mudarei no mundo que me cerca. Não posso causar estrago então lá vou eu.  Sim, a irrelevância nos traz conforto emocional.

De repente me ocorre que desejar os louros da relevância apaga o brilho de qualquer ato. E que a relevância, se não é um mito ridículo é uma verdade passageira que não gera nada a não ser uma leve bolha no ar que logo espoca. 

Não consigo ver importância em nada do que faço - volto ao ponto inicial.  Mas é daí? Devo me incomodar com isso?  Essa constatação é um bom ou mal sinal? 

Quem saberá se meu estado é mesmo de nulidade?   E pra quê colocar cada um dos meus dias na balança se no final das contas Deus vai pesar tudo de novo numa balança muito mais exata?  

Qual o peso real da minha existência? Qual o peso de saber o peso da minha existência? A quem interessa isso?   Toda a beleza da vida está no conjunto de incontáveis coisas irrelevantes, desimportantes, efêmeras. Mas o conjunto todo é magnífico! E se o conjunto é magnífico por que seriam irrelevantes as  minúcias que o compõe?

Não cheguei a lugar algum, como era de se esperar. E se há alguma conclusão aqui eu diria que é a seguinte: o amor torna desnecessárias todas as perguntas. O amor faz tudo ter sentido. Sem ele a gente apenas se perde filosofando em círculos. Mas o amor paira acima de tudo e nos faz entender tudo sem que haja explicação para coisa alguma.

Odeio chegar a lugares comuns mas é exatamente nesses lugares que o universo guarda todas as suas verdades e segredos. Não há como fugir disso.

Dia 13 é meu aniversário. 


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