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25 de abr. de 2012

Raiz de amargura


Às vezes penso que a mágoa é pior do que o ódio em certos aspectos. Porque o ódio é tão opressivo, dói tanto e maltrata tanto quem o sente, que o sujeito acaba lutando contra ele e fazendo de tudo para se livrar daquilo. Já a mágoa vai ficando, ficando, destruindo relacionamentos, tornando a pessoa amarga, minando a felicidade. Você pode aguentar uma mágoa por anos e anos mas teria dificuldade em suportar o peso do ódio por muito tempo. E o ódio pode ser aplacado. Já a mágoa é quase incurável. A raiz de amargura é uma desgraça.

22 de abr. de 2012

Domingo

Há mesmo algo de sagrado no domingo. Não consigo me desfazer da convicção de que é pecado (dos graves!) pegar um dia desse e trancá-lo num quarto. É desfazer da vida!

Domingo é uma criança saudável doidinha pra passear. E tomar sorvete, andar de bicicleta, visitar os primos, ir para a piscina, pular muito. Não vamos frustrar o menino!

Domingo é quando somos intimados a viver. Temos a semana toda para esquecer a cor do céu; é quando a vida passa meio que de soslaio, esgueira-se pelas paredes para não atrapalhar nosso trabalho.

Sábado ainda temos um monte de rabicho da semana. É um monte de retalho, sobra do que não deu.
Cada cidadão tem a obrigação de, no domingo, pelo menos colocar a cara na janela para pegar sol uns 10 minutos. Só assim justificará o presente que recebeu "de grátis."

Quem não aproveita o domingo deveria perder o direito a ter um. Deveria devolvê-lo, sendo obrigado a pular do sábado para a segunda direto. Só para aprender a deixar de ser filho da mãe.

Um domingo debaixo das cobertas, descabelado e com bafo, merece castigo.

21 de abr. de 2012

Branco!



Haverá um momento no qual não existirão mais perguntas proibidas ou respostas evasivas. Morrerão todos os tabus e constrangimentos.
A verdade dói, mas a mentira pesa, tanto quanto a dúvida.
Um dia entraremos em todos os recônditos, olharemos olho no olho impelidos pela exaustão. Ficaremos nus de todas as fantasias que nos espetavam a pele.
Enfim diremos tudo!
Perguntaremos tudo!
Ouviremos tudo!
Enfim será permitido.

20 de abr. de 2012

Tirinhas




Nunca produzi uma tirinha sequer em minha vida.
Tirinhas parecem simples, mas não são. Há genialidade nas tirinhas, naquele minimalismo, nos poucos segundos que nos fazem rir ou refletir por muito tempo. Nas tirinhas vemos nossa vida ser resumida e explicada por personagens com carinha ingênua mas que têm uma perspicácia desconcertante. Elas nos mostram o quanto podemos ser tolos. Elas nos chamam de tolos mas a gente acaba rindo. Isso é arte.
Quem faz é gênio. Como eu nunca fiz, não sou um gênio. Mozart com certeza faria tirinhas se soubesse o que é isso. Outras pessoas brilhantes com certeza também fariam se tivessem chance. Eu tenho chance, toda a chance do mundo. E nada. Sequer tentei. Para quê? Sei que não sou brilhante mas também não preciso conhecer a medida exata da minha opacidade.

18 de abr. de 2012

Coroação



Essa gravura é incômoda. Ela se parece demais com a interpretação do sonho feminino. Não importa o que se tenha conquistado na vida: só um homem coroa uma mulher.

Isso não é um discurso reacionário. Não é um discurso de coisa alguma. É apenas a constatação de um tabu: algo que se odeia mencionar, que se detesta admitir.

Certa vez, conversando sobre casamento, alguém comentou que é importante para a mulher "ostentar" um homem por causa da "respeitabilidade social" que isso representa. Ele pode até não ser grandes coisas, mas ela será sempre vista de outra forma se tiver um homem. Uma mulher sem homem é algo como alguém sem casaco no frio.

Eu mesma já soube de uma mulher nova e linda que estava separada de seu marido. Ao receber a proposta de divórcio ela concordou, mas lamentava ter que dizer, de agora em diante, que não era casada. Ela tinha orgulho de ser casada, mesmo que não tivesse mais uma vida a dois. Sentia-se mais respeitada, distinta, especial. Era triste ter que confessar, a cada formulário, que não tinha um homem.

Já ouvi, com tristeza, mulheres dizendo que gostariam de casar nem que fosse para divorciar no mês seguinte, só para perderem o rótulo de "solteiras".  "Divorciada" era muito mais aceitável, pois significava que em algum momento do passado elas foram vistas como respeitáveis o suficiente para se tornarem "esposas".  Seria algo como um selo de qualidade.

Não sei exatamente se ver os homens como troféus os diminui como seres humanos ou se os eleva acima das mulheres. Não não cheguei a uma conclusão. Só sei que  essa visão é a negação da igualdade partindo justamente daquelas que clamam por igualdade. Querem "igualdade" mas não se sentem iguais, pois ainda precisam ser "coroadas" por um homem enquanto eles podem seguir em frente prescindindo de qualquer expressão de valorização desse nível.  Eles parecem absolutamente alheios  a essas  picuinhas. Tendo sido atendidos em seus desejos básicos, pouco lhes importa como a mulher lhes considere. A mente masculina está sempre em outro lugar. Eles na verdade não estão nem aí.

Nós e nosso mundinho de disputas pequenas...

Haverá algum dia no qual a mulher não esperará mais para ser "coroada" (valorizada, glorificada) por um homem?  Haverá um momento no qual o homem não será mais um troféu a ser suportado?

A mulher que não busca troféu, essa sim conquistou a igualdade. As que precisam ser "honradas" por alguma atitude masculina ainda estão longe disso.

13 de abr. de 2012

Águas



Não importa o que acontece na superfície: os verdadeiros encontros só se dão longe dos olhos, no silêncio, no submundo do nosso coração, nas águas quentes e misteriosas da nossa verdadeira afetividade.

Jardim de luz



E quem poderá afirmar que não existe uma dimensão onde as pessoas finalmente podem se beijar em paz? E quem dirá que não existe esse jardim onde as almas se encontram por um tempo indefinido?  A eternidade cabe em uma fração de tempo.  Quem afirmará que esse lugar não existe? Minha sanidade prova que ele é real. Se não existisse, todos já teríamos enlouquecido. Todas as noites vamos para lá, quando entregamos ao leito nosso corpo cansado e coração sofrido. Quando acordamos, esquecemos. Mas temos o sol.

12 de abr. de 2012

Jogos Vorazes


É uma espécie de Big Brother dos infernos.

A gente entra no cinema pensando que vai assistir algo como Jogos Mortais. Isso não acontece, felizmente. O filme é violento, mas não visualmente. É violento pelo que nos mostra sobre subjugação total de um povo, tanto fisica quanto intelectualmente.

Jovens no auge da vitalidade são arrancados de suas famílias para morrerem entretendo expectadores completamente idiotados. É uma crítica tão contundente contra a sociedade moderna que até ofende. Os jogos são, na verdade, um reality show de péssimo gosto. Só que as pessoas adoram assistir e é apenas isso o que importa. Qualquer semelhança com o que estamos vivendo não é mera coincidência.

Alguém pode se indignar contra essas minhas palavras e dizer que estamos muito longe de Jogos Vorazes. Pode ser, mas se pararmos pra pensar poderemos imaginar no quê daria o cruzamento de um Big Brother com um Vale Tudo. Acho na verdade que os ingredientes todos nós já temos, só falta decidir se vamos mesmo botar o bolo para assar.

Nosso povo já curtiu um arremedo de estupro recentemente, lembram? Além do mais adoramos ver dois jovens se socando no tatame e eventualmente arrancando sangue um do outro ou fazendo-o perder os sentidos. Que delícia!

Somos mesmo tão mais evoluidos do que os personagens do filme? Basta dar um verniz de "oponentes em igualdade de condições lutando dentro de regras rígidas" para a galera engolir tudinho.

Nossos limites estão sendo testados faz tempo.

Jogos Vorazes é uma espécie de "filme profético", uma contundente denúncia contra a alienação da nossa sociedade. Ele nos mostra no que pode se transformar a nossa sede insaciável por diversão, celebridades e violência.

A história nos mostra em uma época futura na qual a elite é formada por adultos infantilizados, hipnotizados por diversões alienantes e manipulados pela mídia, sem disposição alguma para o pensamento crítico. A socidedade mostrada na história vive em um mundo de fantasia (de certa forma como em Matrix) e é insensível à visão da violência - desde ela venha de um vídeo ou que seja patrocinada pelos poderosos.

Eles são parecidos demais com a gente, e isso incomoda bastante.

Em Jogos Vorazes há sangue, é claro, mas nada muito cru ou explícito. A intenção não era mostar um filme sobre violência física, mas sobre outro tipo de violência: a violência emocional. E nessa categoria ele é violentíssimo. Nesse caso o que mais nos chama a atenção na história não é quanto uma flecha atravessa o coração de um adolescente. O que mais choca é a opressão, a impossibilidade de se negar à arena, a subjugação horrenda. É desconfortável ver um governo oprimindo, controlando, limitando, pisoteando a dignidade humana enquanto posa de "grande irmão" e generoso provedor de entretenimento. O encurralamento dos personagens é o que há de mais cruel.

Àparte todas essas considerações, temos ainda o excelente trabalho de Jennifer Lawrence ( "Katniss Everdeen" ). De cara absolutamente lavada e em trajes humildes ela possui uma beleza desconcertante. Ela é perfeita, é a personificação do viço e da força. Uma cereja selvagem. Mil closes lhe são dedicados, com toda a razão.

Os jovens desse filme foram escolhidos a dedo. Das crianças aos mais maduros, são todos belos. A beleza de Katniss somada à de seus companheiros é o que faz com que a idéia dos jogos e das mortes gratuitas seja tão repugnante. Um contraponto genial.

11 de abr. de 2012

Cais dos Sonhos


Cais dos Sonhos. Silêncio e reverência por todos os sonhos: pelos que virão, pelos que naufragaram confusos...e também por aqueles sonhos pelos quais embarcaremos trêmulos, solitários, decididos, visionários.

Por quê o cais parece sempre tão próximo e tão possível?

Dose pra hoje

Entenda de uma vez por todas: você não sabe o que é melhor para a sua vida. Não importa quantos anos tenha, não importa o que diz que sente ou o que alega ter vivido; não sabe  ponto final.

Odeio dizer isso, mas lá vai: ouça sempre o conselho dos mais velhos. Eles já viram mil vezes o filme que você acha que é lançamento: as futricas da sua vida.

Agora vamos conversar baixinho:  todos sabemos que você não irá seguir esse conselho mas nem por isso ele é inútil. Bons conselhos servem para evitar que você erre uma segunda vez. Porque da primeira ninguém escapa.

Sei que você está pensando que "se isso for verdade, então tudo é mesmo uma merda."  Estacione seu pensamento aí e então tudo será uma merda mesmo.

Se os sábios-malas pudessem entrar no seu corpo para passar uns tempos curtindo a sua vida, com certeza eles se sairiam bem melhor do que você  está se saindo hoje.

Sabe esse pessoalzinho ralo, que tem horror à reflexões e só se dedica às abobrinhas da vida?  Pois é, eles estão mais certos. Todo fio da meada é um mistério irritante. Há problemas que por mais que pensemos neles, só conseguimos ficar dando voltas.
Quando nos declaramos sábios estamos sendo tolos, mas quanto nos declaramos "tolos" não estamos sendo necessariamente sábios.  Só somos sábios quando não esquentamos a cabeça com esses conceitos.  

Tudo o que não precisamos nessa vida é pisotear nossa auto estima.  Portanto, se quiser desenvolver a inteligência e exercitar o cérebro, tire seus draminhas do centro das atenções e vá estudar matemática ou outra coisa qualquer que ajude no orçamento.

Pronto: você já tem uma dose de sabedoria suficiente para salvar o seu dia.

Não precisa agradecer.

10 de abr. de 2012

Contradição

Ser elegante é se vestir e se comportar como quem não quer aparecer, mas assim mesmo chamar atencao e ser admirado. O interessante é que essa verdade deveria resultar em que todas as pessoas"apagadas fossem elegantes, mas não são. Ser elegante, então, é você ser humilde tentando não chamar a atenção dos outros para o seu brilho próprio; é tentar e não conseguir. E ser"apagado" é quando você simplesmente não tem carisma algum e some na multidão não importando o que faça. E ser deselegante é chamar a atenção pelos motivos errados: pelo exagero, pelo mau gosto ou indiscrição, jamais pelo brilho próprio. Agora uma pergunta: e daí? Que importância tem esses conceitos?

9 de abr. de 2012

Xixi nas Estrelas - Guilherme Arante

 
Lá vem eles com suas bandeiras
Suas armas e outras asneiras
Esses homens pássaros do espaço
Será que eles vem só pra ver,
Ou será que vem pra brigar?
Se for pra brigar vão se ver comigo
Ponho todos de castigo
Se eles pensam que podem
Fazer aqui em cima
O que fazem na terra
Estão redondamente enganados
Aqui é o jardim do céu

Quem foi que disse
Que êles podem vir aqui?
Nas estrelas fazer xixi ,xixi!

  Tomem muito cuidado
Que esse sol é uma rosa
Que esse azul é um gramado
Que essa lua é uma flor
Na madrugada

Quem foi que disse
Que eles podem vir aqui?
Nas estrelas fazer xixi.

7 de abr. de 2012

Degelo


Tira essa roupa-solidão, sai do mosteiro
Da cela escura amargurada e tão cruel
Porque não cabe à juventude esse papel
De acalentar no peito a dor do mundo inteiro

Desce a montanha como fosses um degelo
Irreprimível em feliz velocidade
Que é menos mal – há nessa fuga lealdade
A esse pulsar de coração – dorido apelo.

Acalentar a dor é pura necedade
É velar morto que há muito apodreceu
É condenar a alma a tal deformidade

Que faz entrar a natureza em convulsão
E atrairá do céu talvez calamidade
Ao ver tal luz trancafiada num porão.

Cristina Faraon

3 de abr. de 2012

Pra fora

Pensar, apenas pensar, pode ser uma coisa muito enganosa.

Dentro da nossa cabeça há um universo estranho, frequentemente nebuloso, com coisas misturadas. Dificil alguma idéia manter a coerência se ficar o tempo todo guardada nessa caixa assim, sem arejar.

Observe o absurdo dos nossos sonhos; neles cabem até vacas voadoras!  Enquanto nosso raciocínio estiver rodando só na nossa mente, ele é irremediavelmente suspeito. Trata-se de um "pensamento contaminado" pelo ambiente.

Nossa mente não é simplesmente um computador, o setor de contabilidade da empresa. A mente humana é também o mundo dos sonhos, a soma de imagens perdidas que vem a tona sem mais nem menos.  Nossa cabeça é a mãe de todos os enganos e ninguém é assim tão coerente a ponto de caminhar tranquilo nesse terreno cheio de casca de banana. 

Proponho a você um teste: experimente expor suas idéias ou suas queixas para uma platéia. Explique direitinho por A+B, ponto por ponto.  Na falta de platéia, explique-o para um Cristo  uma pessoa. Ou pelo menos escreva - já serve.

Note que durante essa exposiçao tudo o que for ridículo ganhará realce. E como haverá coisa realçada! Você jamais desconfiou-não é?  Você vai se assustar com a quantidade de  sofismas que te guiavam e abobrinhas que ocupavam a sala vip.  

Já aconteceu comigo. Certa vez escrevi (adoro escrever) tudo o que me entristecia, aborrecia, indignava. Botei "pra fora" no computador e fui dormir. No dia seguinte, quando li, notei que muita coisa ali era injusta ou incoerente.  Algumas grandes mágoa não passavam de frescura mesmo. 

Faça. Você vai se sentir um bobo a princípio, mas vale a pena o mico. Depois desse singelo exercício você estará muito mais perto da verdade do que quando preferia fechar-se  em seu mundinho confuso.

2 de abr. de 2012

Margem


Às vezes a gente se sente assim: no meio do mundo, no meio de tudo, mas tão, tão no meio que não esbarra em nada. Tão no meio que acaba sendo fora, na margem. Tudo nos chega com certo afastamento romântico. Cada luz é uma promessa, uma sugestão cheia de mistério. E tudo é inatingível, estamos de passagem sem saber muito bem para onde.

Viver, muitas vezes, é como remar silenciosamente dentro na cidade. Por mais que estejamos bem e tenhamos certeza de que aqui é mais fresco, mais espaçoso, mais livre, ainda assim nos sentiremos meio sozinhos, um tanto alheios. E cada luzinha será sempre um aceno não correspondido.

1 de abr. de 2012

Pensamento do dia

Você conhece melhor uma pessoa analisando suas mentiras do que analisando as suas verdades.

Nossas mentiras são nossas confissões em estado bruto. Mentir é acreditar que se é péssimo e não há chance de ser aceito "de cara limpa".  Quem mente, admite que sua verdade é um lixo, que sua vida é uma droga. Quem mente quer ser outro.  Quem difama, ao contrário, queria que o outro fosse outro, só para poder se sentir melhor.  Quem difama admira a sua vítima.  Estranha forma de aplaudir...

Sim, quem mente sofre porque a verdade lhe pesa.

Apenas um teste

Quero saber se consegui configurar meu smartphone. Obrigada pela atenção.

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