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4 de mai. de 2012

Do palácio à choupana

Os extremos dessa vida:

Esses dias conheci uma família que mora em um barraco horroroso, literalmente caindo, sujo, pequeno.  Fiquei penalizada. Quando saí de lá tive a certeza confortável de ser uma milionária. Moro em um palácio. Amigos, venham me visitar!

Uma idéia puxa outra. Já que eu estava rica, tive a luminosa idéia de dar uma repaginada em meu palácio. Visitei algumas lojas ma-ra-vi-lho-sas de decoração. Em uma delas fiquei especialmente deslumbrada. Tanta beleza, tanto bom gosto, quantas peças finas! Olhei tudo, desejei tudo, passei as mãos nos móveis, sentei nos sofás, fiz pose, brinquei com os lustres, os aparadores, manifestei preferências, perguntei preços. Fiz de conta que bastava estalar os dedos e qualquer coisa ali poderia ser minha.

Deus, perdôe minha futilidade! Em determinado momento deu assim um aperto no coração, uma emoção engasgada, uma mistura de deslumbramento com amargura. Aquela beleza toda estava ab-so-lu-ta-men-te fora do meu alcance. Faz-de-conta tem um efeito muito curto, a bolha estoura rapidinho na nossa cara. Então tive que engolir que aquele mundo encantador que me chamava com a doce voz de uma sereia, simplesmente estava fora do meu alcance. Um aparador de 8.000,00?  Nem sonhar.

E a funcionária muito gentil e educada me oferecendo mundos e mundos. Eu já estava me sentindo uma esfarrapada e dava vontade de gritar  "Meu salário não dá! Não dá! Não dááááá!"

Até agora não sei se ela me mostrou toda a loja porque conseguiu acreditar que eu poderia pagar ou se mostrou apenas para eu tivesse  um choque de realidade e nunca maispisasse lá para fazê-la cúmplice dos meus devaneios. Aprendi a lição.
E eu, que até então era milionária, caí das nuvens. Bastou um passeio por aquela loja para eu descobrir que moro em uma choupana.

Mas o momento passou. Já sei onde moro e estou muito feliz lá. Nem luxo nem lixo. Estacionei naquela frase manjada de caminhão:  "Não tenho tudo que amo, mas amo tudo que tenho."

Tá bom.

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