"Há tempo, muito tempo que eu estou longe de casa
E nessas ilhas cheias de distâncias
Meu blusão de couro se estragou..."
Amo essa música. Ela fala de uma coisa muito dolorida: a desistência. Fala do cansaço que se segue à juventude, da dolorosa admissão de que já deu, que não vai melhorar, e é necessário voltar.
É necessário voltar quando...
Quando "aquele amigo que embarcou comigo cheio de esperança e fé já se mandou";
É necessário voltar quando "o cara que transava a noite no Danúbio Azul" chega um dia comentando, pensativo, que "faz sol na América do Sul e nossas irmãs nos esperam no coração do Brasil."
É necessário admitir que "valeu, mas acabou" quando até você comenta com a companheira que "quem sabe lá no trópico a vida esteja a mil...". Você diz isso na beira do caminho, ao lado dela, num dia em que percebe que não tem mais graça nenhuma viver pedindo carona e tudo o que você mais queria na vida era o seu conforto simples: sua rede branca, seu cachorro e aqueles velhos amigos.
Chega uma hora em que é forçoso constatar que "quando eu desapareci ela arranjou outro amante. Minha normalista linda..." e a saudade dói porque a gente não tem muita certeza de que valeu a pena.
A doce idade dos sonhos, da irresponsabilidade, da coragem, a idade de rir de si mesmo, desdenhar das perdas com muita de começar de novo - esse tempo acabou.
Sim, são muitas as evidências de que acabou, mas nada é mais veemente do que o fim do blusão de couro.
O blusão de couro é o símbolo da juventude pronta para o que der e vier. É sensualidade, independência, rebeldia e pé na estrada. O blusão que aguenta verões e invernos, companheiro de motos, poeira e caminhadas e que compunha tão bem o visual forte de quem se impõe ao mundo. Até o blusão de couro "jogou a toalha". Depois de tantas estradas, tantos sóis nascentes e poentes...
Um blusão de couro é uma espécie de cachorro, só que a gente veste. É a peça chave de quem não precisa de muitas coisa porque está na idade em que se basta, o corpo é lindo e o cabelo não cai. Uma peça é mais que suficiente. Sempre haverá oportunidade de adquirir outro blusão de couro, lindo e caro, quando as coisas melhorarem - você pensou. Mas não deu.
Se seu único blusão de couro se acabou e você ainda não está em condições de comprar outro, talvez seja a hora de voltar pra casa.
"... e vou viver as coisas novas
Que também são boas
O amor, o humor nas praças cheias de pessoas
Agora eu quero tudo, tudo outra vez!"
Nenhum comentário:
Postar um comentário