.

.

6 de jan. de 2013

Da Servidão Moderna

Interessante ler "Da Servidão Moderna".  Não sei se do documentário (dirigido por Jean-François Brient[1]
Victor León Fuentes[1)  nasceu  livro ou se foi o contrário. Mas do conteúdo tenho algo a observar: :

O autor afirma que o poder "não é para ser conquistado, mas para ser destruído".  É o tipo de frase que num primeiro momento até puxa palmas mas depois, quando a gente reflete, a percepção muda.   Acho que o autor argumentou no sentido de derrubar ilusões mas para isso se amparou em outra ilusão. Algo parecido com quem troca o seis pelo meia dúzia.

Sempre achei interessante a incapacidade que certos pensadores têm de encarar com realismo a natureza humana tal qual ela é. Brigam com um "sistema", xingam, execram, propõe sua queda... tudo como se o "sistema" fosse um ser autônomo independente da sociedade. Nós somos legais, o sistema é que não presta.

Acho que Marx pisou no mesmo grude. Admito que não li Marx mas até onde sei ele analisou nossa sociedade atribuindo a vaidade, o egoísmo, a falta de compaixão e todos os demais pecados do inferno apenas  a uma determinada classe social. Seu segundo passo foi repensar o mundo sem a classe dominante e concluir que seria o paraíso da igualdade. Deixou pra lá o fato de que a "classe oprimida" é composta de pessoas cujas almas foram esburacadas pelos mesmos roedores que atingiram a "classe opressora".

Presumir que todos querem a igualdade e a fraternidade entre os homens chega a ser meigo de tão ingênuo. Acreditar que as pessoas vão dar tudo de si no trabalho apenas pelo bem do país, sem expectativa alguma de adquirir mais e mais riqueza e conforto foi o que colocou o regime comunista em maus lençóis na hora de produzir alimento. As pessoas produziam no máximo dentro da quota imposta pelo Governo e olha lá. Geralmente enrolavam para menos. Todo o explorado só quer igualdade enquanto é explorado. Quando consegue escapar dessa sina o que mais ele passa a querer é os privilégios de seus antigos senhores. Ele quer ficar rico, ainda que para isso seja necessário explorar os outros. As pessoas não querem igualdade; elas querem a chance de se destacar dos demais. Nenhuma proposta deveria ser feita, em termos de rearrumar a sociedade, se não levasse em conta as características humanas. Nossas ânsias egoísticas devem ser controladas, podadas, amenizadas. Mas nada fará com que desapareçam.

Sobre "Da Servidão Moderna" percebo que o autor fez a mesma coisa: criticou (com muita coerência) o sistema escravizador e alienante no qual vivemos. Depois lascou a tacada final: "O poder não é para ser conquistado, mas para ser destruído".  Aí pergunto: qual a utilidade de eu me conscientizar e sair de uma "Matrix" se for para entrar em outra?  Sim, porque ilusão por ilusão prefiro a que eu já conheço e sei lidar.

O autor se esqueceu de que na queda de um poder, outro rapidamente se levanta. Isso é tão certo quanto o dia seguir-se à noite. É da nossa natureza, estamos impregnados geneticamente desse troço. É como envelhecer: para parar o processo, só matando. O mais apto, o mais forte, o mais esperto ou o mais violento: sempre haverá um "efedepê" para tentar montar nos outros.

Quando eliminamos as classes econômicas do sistema capitalista acabamos criando outra elite cruel e escravizadora: a elite política. Não tem jeito, só explodindo o mundo.

Toda a historia da civilização se baseia não em eliminar o inevitável, mas em domar essa lei natural, humanizá-la, diminuir seu poder nefasto. Consiste em lixarmos as unhas da fera para que ela fira menos. Só isso. Toda proposta nesse sentido é séria porque leva em consideração a realidade de quem somos. O resto é sonho. E sonho por sonho, prefiro sonhar no cinema. É mais divertido.

Nenhum comentário:

Páginas