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21 de dez. de 2019

Um homem "pra casar" *



 Hoje simpatizei muito com um homem totalmente desconhecido só porque achei que ele era um homem bom. 
Eu assim o classifiquei porque eu estava, com ele e mais uns 30, em uma fila de embarque no aeroporto e com a mente ociosa.  Esse é  um ótimo contexto para começar a imaginar coisas. Imaginar coisas é o melhor que se pode fazer em uma fila.

Bem, esse era um homem bom, esforçado e trabalhador. Do tipo "pra casar". As ferramentas ele tinha,  pelo menos.  Como eu sei? Bem,  ele estava logo ali,  à minha frente. Prestativo e companheiro, carregava com muito cuidado e dificuldade um enorme pacote que até hoje desconheço o conteúdo. Aquele pacote parecia tão incômodo de transportar! A tarefa era manter aquele pacotão delicado com uma mão, manter o cartão de embarque e documento de identificação na outra mão e empurrar a malinha com o pé.  E ele parecia tão cônscio da importância do que fazia e tão disposto a continuar fazendo sem reclamar, que isso tocou meu coração.   Não parecia mal humorado, só um pouquinho cansado. Claro que era um bom homem!    Do tipo que não se cansa fácil e, quando cansa, só nota depois. O melhor homem em um raio de cem metros, decidi. Gostei dele.  

Vejam vocês o poder da imaginação. Do nada a gente rotula e determina quem presta e quem não presta, numa escaneada só. O que havia dentro daquele pacote me instigou e a curiosidade incentiva a criatividade.  Eram  enfeites de Natal? Doces finos? Taças? Brinquedo desmontável? Roupa de bailarina? Patins? Patins não, não são frágeis nem volumosos. Fiquei curiosa mas me contive. 

O fato é que ele se esforçava para que seja-lá-o-que-fosse não balançasse nem derramasse nem caísse ou esbarrasse em ninguém. Não parecia ser uma bomba. Ele não era do tipo que transporta bombas por aí. Não com aquela cara de pai de classe média baixa apaixonado pela filha de nove anos e pela esposa seis anos mais nova e um pouquinho obesa. ( Meu Deus de onde tirei tudo isso?!) . Pois ele tocou meu coração. Não era bonito. Nem feio. Apenas comum, com cara de pai. 

Certamente se eu estivesse no lugar dele estaria já com cara de enfado e dor nas costas. E se alguém encostasse para conversar eu aproveitaria para reclamar ( " não sei onde eu estava com a cabeça quando concordei em levar  essa tralha. Fazer fazer favor para os outros é uma tremenda furada e eu estou cansada, meus braços doem e bla bla bla." )

Bem que eu queria que quando alguém me olhasse ao acaso pensasse consigo "nossa, que mulher legal! Gente fina mesmo!" Mas eu não coopero. Tanto não coopero que não me ofereci para ajudar o Homem Legal. Como castigo estou até hoje sem saber que raios ele carregava naquele pacotão. E vejam: eu estou escrevendo sobre ele mas ele não escreveu nada sobre mim. Ele é o cara legal, marido de ouro, enquanto eu não passo de uma viajante que fica rotulando os outros.

Bem, caso não tenham notado, essa é uma crônica de "preconceito do bem".  Isso existe sim.


9 de out. de 2019

A era da propaganda anti-homem. Tô fora.

E a propaganda anti-homem, na midia, continua de vento em popa. Repare que todos os dias aparece uma "pesquisa" afirmando que:

* Existe mais bactéria na barba do homem do que  numa tampa de vaso sanitário.
*Viajar traz mais felicidade do que casar.   Aí  aparece na foto uma mulher sorrindo feliz.
*  Um marido dá mais trabalho e stress  do que cuidar de um monte de crianças. A ideia é sempre mostrar o homem como um estorvo, não como parceiro.
* Afirmam que  mulheres inteligentes tendem a ficar solteiras.
* A pior é essa agora: andam afirmando que não existe orgasmo vaginal (kkkkkkk).  Só existe "orgasmo" clitorial - segundo as frigidas de plantão.   E assim que convencem sua filha adolescente de que homem é  desnecessario e que aquilo que os gays tanto prezam não serve pra  nada - kkkkk.
Querem que as meninas acreditem que sexo completo é  igualzinho à  simples masturbação e que passar a vida dando voltas nas preliminares é o máximo de prazer que ela vai conseguir da vida e não tem como passar disso.
Negam a experiência de milhares de mulheres desde que o mundo é  mundo.  Inacreditável. Mas é a mesma turma que diz que ninguém nasce homem nem nasce mulher.
*  Todos os dias na televisão e nos filmes assistimos no mínimo uma cena de uma mulher agredindo fisicamente um homem.  Pode notar.   É tapa na cara,  é arremesso de objetos,  é empurrando, gritando, apontando o dedo na cara... Note que essas cenas sempre acontecem dentro de um contexto em que a mulher tem toda razão de agredir o homem. 
* Criaram o ridiculo termo "masculinidade tóxica. As mulheres são umas santas.
Isso tá ficando nojento já.

Espero que acabe logo essa fase de "meu deus como as mulheres são maravilhosas e como os homens são tolos e dispensáveis." Essa fase dá poder a um monte de mulher chata e frustrada.

7 de out. de 2019

Janela vermelha *

É isso mesmo o que eu quero: uma janela vermelha, bonita e vivaz, que quando eu acorde me acolha assim, de batom, apontando para mil possibilidades lá fora: flores, caminhos, caminhozinhos, trilhas, cantinhos.

Uma janela vermelha é um bom começo de dia e é, por si só, um bom sinal. Ninguém tem uma janela vermelha a toa. Há de possuir também colcha de retalhos e pote de biscoitos caseiros. Ninguém as tem se não sai para passear de repente, de cabelos soltos, e come bolo no final da tarde olhando o sol poente enquanto as mães passeiam com seus bebês.

Quem tem janela vermelha tem incenso e fotos de muitas férias. Tem caixas com bugigangas, livros sublinhados, uma almofada bordada. Tem também chapéu para ir à feira e ingressos para o teatro.

Ninguém se sente só com uma janela vermelha pela qual olhar o mundo imenso e convidativo.

Hei de ter a minha, sorridente como ela só, com uma linda cadeira de madeira por perto. Hei de ter brincos indianos e vestido de cigana para sair só para comprar revistas quando der vontade. E quando, lá embaixo, eu estiver molhando as flores, hei de olhar pra cima e ver de relance na janela vermelha a minha imagem feliz e sozinha sorrindo de volta.

*

5 de out. de 2019

INTERVALOS

Já não cabem mais declarações
Na verdade não cabe mais nada
Toda explicação é despropositada
Todo comentário é inconveniente
Não há mais que se falar
Em conserto ou em “será”
É estranho o ponto em que chegamos
No qual todos os comentários 
Caem como pedras no vidro

Dobramos  esquinas, cada um a sua
Rasgamos o tapete vermelho
Que nos levava a um destino comum
Mudamos a rota
Numa guinada mortal
Os anjos se escandalizaram
Com pureza desinformada
“- Absurdo dos absurdos!”
Que, no entanto, aconteceu...

... e continua acontecendo
A cada dia, a cada hora
Como goteira funesta
Que chora no fim da festa

Nosso afastamento
É progressivo e presente
Já que “passado”
É o que parou de acontecer.

Preferia que tivesses me deixado
Assim eu poderia, com propriedade
Perguntar “por quê?”

Perguntaria ao  céu, às aves,
Às feras e às crianças
Ninguém me responderia
Mas  entenderiam minha perplexidade
E eu ganharia abraços


Preferia que tivesses me deixado
Assim eu poderia imaginar motivos à noite
E ir dormindo  aos poucos, suavemente,
Enquanto tentasse desvendar
Nossa intrincada equação

Eu teria pena de mim mesma, ou ódio
Só para ter o prazer 
De perdoar-me  depois
E então levantar a cabeça
Totalmente consolada.

Será sempre uma anomalia
Uma dor, um suspiro,
A povoar os intervalos da minha felicidade
Quando a lembrança me assaltar
Levarei as mãos ao rosto
Em um ato involuntário
E perdoável

Então
Na pausa da felicidade
Farei reverente silêncio
Pra poder me recompor
E descobrir novamente
Que não há nada de novo
Debaixo do meu sol
Tudo são espumas...
Espumas de ondas passadas

“Durma em paz, alma minha!”

O passado
Não é uma árvore que ficou para trás
Na beira da estrada
Penso que seja uma ave  
Que nos acompanha grasnando
Desajeitadamente
As músicas que cantávamos.

19/04/10

20 de set. de 2019

A morte

Penso muito na morte. Não com medo, mas com uma curiosidade invencível. Pareço uma criança olhando a porta do armário trancada, sem saber o que tem dentro. Ninguém lhe  diz o que realmente tem lá dentro.  E olha... sabendo que não pode abrir a porta impunemente.

Admita: a morte é um tema fascinante. Ok, pode ser assustador também, mas continua fascinante. Detalhe: "fascinante" não é sinônimo de bonito. Nem de feito.  

Pra  vocês verem o nível: estou seguindo um canal no Youtube  que traz diversas entrevistas com pessoas que viveram a instigante experiência da "quase morte". Que coisa!

Mas juro que não sou amante de caveiras, sangue escorrendo, punhais ou outros símbolos do Halloween.  Estou mais para a riponga colorida do que para o gótico.

Às vezes penso na morte pela esperança cristã da glória eterna mas em outras apenas me abismo com o fato de que mais cedo ou mais tarde não farei mais parte do mundo dos vivos. Quando penso nisso me ataca um sentimento de urgência. Hoje posso mover o copo em cima da mesa, mas um dia não poderei mais. Então mova logo o copo! Mova tudo! Faça o que tem que ser feito  porque o mundo ainda é seu mas amanhã todas as leis da física ignorarão você.

Um dia terei que me despedir. Aí perderei completamente a relevância que eu penso que tenho hoje. Hoje posso dar um sanduiche para aquele mendigo. Amanhã terei que me conformar em vê-lo morrer de fome e "passar pro meu lado".

Os objetos que me são tão caros serão pulverizados entre parentes e doações. Todos os meus rastros sumirão de forma inclemente. Outros usarão minhas joias, minhas  roupas, lerão minhas anotações, olharão constrangidos a minha nudez gelada e se apressarão em cobrir-me com uma roupa qualquer. Um dia todo esse mundo que me abriga, lindo e confuso, me expelirá de si mesmo como um furúnculo. E o meu corpo, que tanto lavo e perfumo, se desfará horrivelmente.  Como não pensar nisso?

Morre um amigo, morre um parente... Vai chegar a minha vez. Vai ser estranho. Estou tão acostumada com a vida e suas manhas! O mundo material me é tão familiar!

Há pessoas por demais apegadas à vida. Acho que é por isso que alguns tem que morrer aos poucos, sofrendo, refletindo, cansando... Para ir aceitando a ideia até que por fim chegue a pedir pra ir logo pelo amor de Deus. Outros não. Alguns partem no supetão, arrebatados por acontecimentos súbitos. Acho que esses são os que jamais entregariam os pontos, então vão ter que ir na marra, pra não ficar argumentando demais.

A morte é o mistério dos mistérios.  Mesmo crendo profundamente nas palavras de Cristo, convenhamos: ele não nos deu todos os detalhes.  Dói muito? Dá frio na barriga? Dá um susto ou um sono? Quanto tempo leva para a gente entender que finalmente lascou e não tem mais jeito?  Dá pra dar uma olhada ao redor antes de pegar o bonde pro além? A pessoa vai sozinha, puxada por um ímã cósmico ou virão guias gentis para dar uma força?   Vai todo mundo pelado ou vestiremos roupas imaginárias, como em Matrix?

Não, nada disso foi esclarecido. Isso me dá o direito de criar minhas próprias teorias a respeito.   Podemos um dia conversar alegremente sobre o assunto.

Enquanto isso continuo firme, assistindo a morte passar aqui e acolá sem demonstrar ainda muito interesse pela minha pessoa. Eu fico na minha. Sou curiosa mas não quero amizade com essa senhora. Ela anda à volta, pega um, pega outro... Segue flutuante pelos bairros da cidade fingindo que não me viu. Vai sem pressa mas sem detença, cheia de véus. Vai, mas volta.

2 de set. de 2019

Mais frio!


Precisava que a tarde morna
Transmudasse em tarde fria
Pra então justificar
Essa irmã melancolia.

Como eu, está chovendo
Só falta o dia esfriar
Mais um pouco e você chega
Saberei o que falar?

Artrose nas velhas janelas
Estéreis riachos sem peixes
E prédios com mil sentinelas
Cuidando que não me deixes

Poucas cores nas sombrinhas
Pouco tempo pra almoçar
Meu vestido sem florinhas
E um rádio a cochichar

A tarde parece gripada
Encharcada e reticente
Chove grosso, chove fino
E chovem sentenças na gente

Deveria esfriar mais
E nevar a não poder
E sumirem os transeuntes
Até tudo esmaecer

Meu rosto agora sombrio
Riria então pra neblina
Irmanado com o frio

Um véu de camada fina.
Meu corpo seria de inverno
Petulante e transparente
Riacho gelado no ermo
Frio, nu e displicente.

Mas falta chover bem pesado

Com mais frio, até doer
Até que o mundo em meus braços
Eu sentisse esmaecer.

Cristina Faraon

28 de ago. de 2019

BONDADE CÍNICA

Bondade cínica.
Falsa bondade. 
Ou cara de pau. 
Sei lá qual nome você prefere dar. É sobre isso que quero falar hoje.

O sonho desses "novos bondosos" é lindo: fronteiras  abertas sem critério pra todo aquele que quiser entrar. E o dinheiro surgindo.  Mas e se alguns forem comprovadamente inimigos da nossa cultura?   "Não importa. Depois a gente pensa nisso". 

Um otimismo invencível e insano entope essas cabeças a despeito da realidade, a despeito da experiência, a despeito dos noticiários, da lógica e da matemática. "Não, com a gente vai dar certo. Tudo se ajeita. Nóis é brasileiro!".

Percebo uma certa expectativa de canonização no sujeito que deseja acolher os de fora às custas do  sofrimento dos de dentro. 



É como colocar o filho pra dormir ao relento enquanto o hóspede fica na cama. Ou como tirar o pão dos filhos pra ser legal com o desconhecido. 

Não sou contra partilhar o pão!   E não sou contra empobrecer para socorrer. Pelo contrário!  Isso faz parte da minha fé!   Mas generosidade só é generosidade se for uma decisão livre e consciente de cada um.  Generosidade na marra e às custas dos outros? Não. É cinismo. 

Bondade só é bondade se for livre. Se for por amor é cristianismo. Se for às custas dos outros, é opressão.   Deus me livre desse tipo de "bondade"!
Bondade, pra mim, é abrir mão do que é meeeeu, particular. Eu sozinha é que devo sentir falta daquilo que doei.  Sou  EEEUUUU que tenho que pagar por minha generosidade.
Se minha bondade funciona às custas dos outros não sou boa, sou má. Ainda que não perceba.


Essa "bondade moderna" é assim: quero dar o que é do povo, na expectativa de que isso não me afetará absolutamente. Meu salário não encolherá, o imposto não aumentará, não preciso ceder o quarto da minha casa nem colocar o estranho em minha mesa. Minha "bondade" não afetará minha vidinha.    Ah, vá!

A "bondade moderna" se apoia na expectativa de que o dinheiro doado brotará do chão ou do bolso do outro, mas eu não serei afetado. O governo tira de algum buraco, sei lá qual.  Saúde? Segurança? Educação? Infraestrutura? Não me interessa, desde que eu não perceba o impacto. E se perceber, xingo o governo.

Uma pergunta:

Alguém aí está preocupado com a comprovada DEGENERAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA dos brasileiros que vivem na fronteira com a Venezuela?  Sabiam que eles vivem com medo pois a violência aumentou muito?
  Mas quem se importa? Isso é tão longe e onde eu moro, não é?  Eu pago de "cristã caridosa " enquanto quem se lasca são eles, lá longe. 

Tudo liiiiiindo e em nome de Jesus!

6 de jul. de 2019

Comida

É realmente muito,  muito difícil não se importar com comida. Meu Deus, tudo gira em torno de comida . Teoria da conspiração?

Comida: ela está sempre presente,  quer seja o centro intencional das atenções ou não.  Mesmo que o assunto seja outro ela estará por perto,  pelas beiras, e se ninguém servir nenhuma iguaria,  pelo menos da bolsa há de saltar um pedaço de chocolate velho na hora de procurar um batom.   E é assim o nascimento à morte.  Dos aniversários às  reuniões de negócios.  Em velórios nem se fala! Sempre tem que ter um pratinho de qualquer coisa rondando só pra nos  lembrar o quanto somos miseráveis,  manipuláveis,  olhudos,  incontinentes.

Tudo gira em torno da comida. Ou estamos comendo demais ou estamos comendo de menos. Ou estamos comendo errado e precisamos nos reeducar. E o mais assustador: também pode ser que estejamos  comendo certinho demais!

Comer certinho demais não pode.  Isso nos transforma em quase ETs.   É estranho e irritante demais para as pessoas normais com as quais convivemos. Comer certinho dificulta nossa convivência em sociedade e até mesmo nossos relacionamentos amorosos.  Quem aguenta uma pessoa que se recusa a rachar uma pizza ou meter a cara num cheeseburger  gotejante?  Comer certinho pode ser o caminho certo pra solidão. 

Você, linda e saudável... Ok, conseguiu o que quase ninguém no mundo consegue. Pronto,  você virou uma pessoa estranha.  Resultado: ninguém aguenta a chatice das suas restrições. A culpa pode não ser sua, mas da inveja, do despeito dos outros, mas o que importa? O fato é  que comer certo demais tá errado.

Qual então a forma correta de comer?  Quer dizer: a forma "correta", certinha, a gente já sabe , e é uma cilada. Quero saber a forma correta-correta mesmo, socialmente aceitável  e ao mesmo tempo  saudavel e prazerosa - mas não muito!  Qual a dosagem ideal mas sem cair pra lá  nem escorregar pra cá?   Sem desgraçar  minha saúde nem minha estética mas também sem destruir minha vida social?

Quem souber me diga.  Aí aparecerei com uma próxima pergunta: como tirar a comida da minha vida mental?

Como afasta-la de mim sem morrer?   Como comer sem sentir tanto prazer mas ao mesmo tempo passando longe da anorexia? Dá  pra ser?

Tudo bem, uma coisa de cada vez. Vamos lá  , estou esperando.

23 de mai. de 2019

Você fareja?

Você é do bem: você  luta contra o preconceito e rejeita estereótipos.  Aí chega uma pessoa que encarna 100% um estereótipo reconhecível.    Tipo "esse cara sorri, gesticula, fala e se veste como um autentico 171". 

Você diz para si mesmo "eu sou um lixo preconceituoso!" e  torce para aquela pessoa te dar uma lição de vida,  te surpreender e fazer o contrário do que a sociedade retrógrada e hipócrita espera. Você quer  se envergonhar da sua própria experiência de vida. Mas...

Mas ai a pessoa se comporta exatamente dentro do padrão de comportamento previsto. Do jeito que voce farejou. Bem  dentro daquilo que a sua maldita experiência de vida apontava como previsível.

Você quer evoluir mas a vida real não coopera, pô!

Já aconteceu com você?
Confesse.

21 de mai. de 2019

Belo

Uma linda música, uma joia, uma estampa bonita, jardim bem cuidado, a cor perfeita na parede.  É um mistério a necessidade tão real que os humanos têm de estar em contato com o belo.  A beleza é uma coisa que, aparentemente, não contribui em nada para minha sobrevivência. Minha parede bonita ou meus brincos de ouro não me tornam mais bonita então por que os prezo tanto? E a música? Nem é palpável. O que ganho com ela?

Posso passar o mês teorizando mas a simples constatação da realidade já basta. Precisamos do belo e não nos satisfazemos apenas com o físico.  Somos seres espirituais, bem mais complexos do que os bichos, para os quais basta o prazeres físico.   Para nós não basta ter uma cortina: ela precisa ser bonita ou pelo menos ter uma cor agradável.  Em tudo buscamos a beleza.

"Se existe Deus, que Deus é esse que tem necessidade de adoração, contato e homenagens?!!!"  rsrsrs. Não, ele não precisa. Nós é que precisamos.  Ele se disponibiliza por amor.

O azul não precisa de mim mas eu preciso ver o turquesa brilhante num dia de verão. Preciso! Só porque é lindo e de alguma forma me alimenta por dentro, como uma sinfonia.

Nós temos necessidades indizíveis, até estranhas, mas reais. Fomos feitos assim.

Deus não precisa de adoração. É muito ridículo pensar que ele precisa - mas ele a quer. Por quê? Porque nos ama e SABE que isso nos faz bem. Ele sabe que é uma fonte de alimento e prazer e que a falta desse contato é a raiz de profundas angústias existenciais e buscas infrutíferas.

9 de mai. de 2019

Sonho recorrente *



De um modo geral acho meio bobo dar muita importância para o significado dos sonhos. Sonhos são apenas produções de uma mente desocupada. É como deitar no chão e jogar bolinhas de papel na parede: não há missão especial nem significado. Mas quando os sonhos são recorrentes fica difícil achar que não tenham algum significado psicológico ou espiritual.

Sonho frequentemente com casamento.   E nos sonhos sempre há um quê de tristeza ou aflição. É sempre uma situação muito ruim.   Eu deveria ter anotado todos os meus sonhos com esse tema mas não o fiz. Vou tentar agora resgatá-los na memória. Deu vontade de fazer isso porque essa noite sonhei de novo com coisas relacionadas a casamento.

Certa vez tive um sonho que hoje me parece o mais aflitivo de todos:


Sonhei que eu estava noiva e com o casamento marcado há muito tempo. Meu noivo ela bonito, rico e jovem, mas morava distante. Nós nos amávamos. Ele deixou comigo todo o dinheiro necessário para que eu providenciasse a melhor e mais rica festa do mundo; o melhor vestido, a melhor ornamentação, o melhor local. Absolutamente tudo! O prazo era enorme e suficiente para todos os preparativos. Foi então que a coisa complicou porque quem tem muito tempo acaba desperdiçando tempo.  Como eu sabia que tinha tempo de sobra para tomar as providências, fui deixando tudo para depois e de tal forma fui irresponsável que passavam dias e dias em que eu praticamente esquecia do casamento. Eu dormia, saída pra passear, ia a festas... e passava períodos enormes sem fazer o menor planejamento.  Então certo dia meu noivo entrou em contato comigo avisando que já estava vindo ao meu encontro para nos casarmos e isso seria já no próximo final de semana. Não deveria haver surpresa porque JÁ ESTAVA TUDO PREVIAMENTE COMBINADO. Ele ligou só pra confirmar e me tranquilizar.   Ele chegaria exatamente em cima da hora da cerimônia,  já pronto.    Eu levei um baita susto. Eu sabia que ele estava voltando, sabia da data, mas estava tão distraída que não tomei nenhuma providência. Ele contava comigo. Ele confiou em mim porque sabia que eu tinha família e um monte de amigos que poderiam me ajudar nos preparativos. Só que relaxei e quando vi já era sexta feira e o casamento seria no sábado e eu não tinha feito absolutamente nada. Jamais conseguirei descrever a ANGÚSTIA que senti nesse sonho, a dor no coração. Era inenarrável o desespero. Horrível!  Eu estava atônita como se tivesse acordando de um longo sono, de um estado inexplicável de letargia. Não conseguia entender como eu me esquecera de algo tão importante do qual dependeria todo o meu futuro e felicidade.    Então era sexta feira e eu me pus trêmula a tentar telefonar para mil pessoas implorando por ajuda e tentando fazer tudo às pressas. Primeiro achei que o mais urgente era o vestido, mas as lojas todas já estavam fechando naquele final de tarde. Eu não encontrava nada adequado em lugar nenhum. Não dava tempo de ficar experimentando nem escolhendo vestidos. E eu não poderia comprar qualquer coisa pois meu noivo era muito rico e distinto, uma pessoa importante e ele esperava poder me apresentar com muito orgulho para a sua família.  Ele me amava e confiou em mim.  Então eu corria desesperada implorando  para as costureiras e donos de loja me atenderem mas ninguém conseguia me ajudar. Só diziam que não havia tempo pra fazer nada, que estavam fechando os estabelecimentos, que estava tudo alugado, que as costureiras já tinham ido embora da loja. Eu não sabia o que dizer nem a quem apelar. Ligava para os amigos mas nem todos me atendiam e quando atendiam a coisa não andava. Todos queriam me ajudar mas ninguém sabia como fazer algo as cinco da tarde de uma sexta feira! Depois de muito sacrifício consegui um vestido numa loja empoeirada e muito brega. Tentei olhar com bons olhos mas ele estava largo e me caía muito mal. Seria um vexame entrar na igreja com aquilo. Pedi para uma costureira me ajudar mas ela morava longe e eu ainda tinha que providenciar salão, buffet, ornamentação, convidar as pessoas... Minhas mãos tremiam ao pegar no celular porque eu não sabia nem pra quem ligar primeiro, não sabia o que fazer primeiro e a hora estava passando.  Decidi que iria me arrumar sozinha mas aí lembrei que tinha que contratar o jantar... Como não havia mais tempo decidi comprar pelo menos um bolo. Mas onde?  Pensei em pegar um bolo de padaria mesmo, com uns salgadinhos,  mas seria um vexame, uma indignidade, uma prova de que eu era preguiçosa, relaxada, irresponsável e pior: não amava meu noivo.   Seria indigno do noivo que me deixou com tanto dinheiro em mãos e não merecia passar aquela vergonha.  Mas ou eu tratava do vestido ou tratava do bolo e da festa ou tratava de convidar as pessoas. Se perdesse tempo pedindo ajuda não conseguiria resolver as coisas que só eu poderia resolver.  Era impossível fazer tudo na ultima hora. Eu tremia angustiada, minhas mãos tremiam.   Então entendi que estava tudo perdido, que ele não ia aceitar casar comigo naquelas condições. Uma tristeza imensa caiu sobre mim. Tristeza e vergonha, muita vergonha.  Quem iria me consolar? Iam rir ou condenar a idiota que jogou fora o bilhete premiado da loteria. Eu não poderia contar nem com a solidariedade das pessoas. Meu noivo iria entender aquela situação como uma demonstração inequívoca de que eu jamais o amara, portanto não o merecia.   Eu dizia para mim mesma "não posso perde-lo! eu o amo!" mas ao mesmo tempo me vinha á cabeça que "mas se eu o amasse de fato não teria me preparado? Que amor é esse? Qual a noiva que esquece do seu casamento desse jeito?"  Eu sabia que não tinha nem como pedir desculpas porque NÃO HAVIA DESCULPA!    Eu o via chegando completamente pronto para a cerimônia, lindo e banhado, muito elegante e perfumado mas olhando decepcionado bem dentro dos meus olhos, baixando a cabeça, virando as costas e indo embora para bem longe e eu nunca mais o veria. Ele não vinha de tão longe para uma festa sem convidados, com uma noiva suada,  despenteada, com um vestido ridículo, sem adorno algum, maquiagem, unhas por fazer, bolo de padaria. Não, era muito vexame. Era uma afronta.    Planejei me jogar aos seus pés e implorar perdão e jurar que o amava mas eu não teria coragem. Seria inútil e meu desespero só realçaria minha falta na frente de todos os convidados. Eu só conseguiria ser patética. Perdi tudo. 



Só consigo me lembrar da minha angústia inominável, que perdurou até mesmo depois que acordei. 

Tive um outro sonho semelhante, mas dessa vez eu ia me casar mas me considerava muito bem preparada para o evento. Eu me julgava dessa vez super prevenida porque eu tinha no armário vários vestidos de festa. Dentro da minha cabeça os vestidos que eu tinha estavam ótimos e eu não precisaria me preocupar com mais nada: bastava tomar banho e me vestir quando chegasse a hora. Só que quanto chegou a hora reparei que todos os vestidos que eu tinha no armário estavam muito surrados, guardados há muito tempo. Eu tinha me sentido tão confiante que nem me dei ao trabalho de pelo menos experimentá-los.  Escolhi um deles, muito bonito, mas usado, com cara de vestido que está há muito tempo no armário. Se pelo menos eu o tivesse levado à lavanderia ele ficaria com cara nova, mas não o fiz.  Eu sabia que todos os convidados na festa iriam se lembrar do vestido, pois eu já o tinha usado (parece que eu já o tinha usado em meu próprio casamento anterior). Eu poderia tranquilamente repeti-lo em outros casamentos mas usá-los no meu próprio casamento ficaria muito feio e deselegante. Era prova de descaso. Demostraria que eu não estava dando importância nenhuma para a ocasião e que eu não me preparei como qualquer noiva apaixonada se prepararia. Eu sentia que aquela atitude sem graça e sem paixão poderia desapontar meu noivo e até tirar o brilho do evento. Era como se tudo amarelasse, ficasse velho e "requentado".   Mas não havia mais tempo de ir atrás de um vestido novo...

Outra noite sonhei que eu iria casar com o Luis Alberto.  Estava tudo certo e eu estava tranquila e feliz . Seria uma festa familiar, bem simples e animada, num terreiro parecido com esses terreiros de São João. Um lugar agradável mas simples, de chão batido. O vestido que eu ganhei (não lembro se ganhei do noivo ou se ganhei da irmã dele) era cor-de-rosa e bem  simples, até mesmo feio, de algodão cru. Parecia que tinha sido feito desses sacos de farinha de trigo. Mas como era uma festa íntima resolvi não me importar com aquilo pois por mais feio que o vestido fosse eu sempre poderia dizer que foi um presente da família dele e eu tinha que prestigiar. Só que depois ganhei outro presente, dessa vez do irmão  do meu noivo  e da minha cunhada: o véu. Era do mesmo material do vestido: algodão grosseiro, só que era amarelo e não combinava de jeito nenhum com o vestido. Quando eu experimentava os dois juntos ficava uma coisa ridícula, como se eu fosse um palhaça, como se eu quisesse avacalhar com o casamento.  Então começava a minha aflição: ou eu usaria o vestido ou usaria o véu?  Não dava para usar os dois de jeito nenhum. As pessoas iam pensar que eu estava de gozação querendo ridicularizar o evento. Vestido cor-de-rosa e véu amarelo. Eu não queria problema com a família do noivo nem com o próprio noivo mas eu ia ter que desagradar ou ele ou a família dele. Foi horrível. A hora se aproximava e eu não sabia o que fazer. Por mais que eu tentasse conciliar o vestido com o véu, eles eram incompatíveis. Eu tinha que fazer uma escolha. Estava aflita. Então acordei. 

Hoje, essa noite,  sonhei de novo com o tema.  Eu ia me mudar. Estava fazendo uma triagem dos meus pertences, arrumando tudo e vendo o que jogaria fora ou não. Foi quando encontrei a grinalda e o véu do meu primeiro casamento. Logo em seguida , perto da grinalda e véu, encontrei o buquê. Estavam perdidos um tempão debaixo de um monte de coisas antigas. Tanto a grinalda e véu quanto o buquê estavam tão maltratados, empoeirados, amassados e encardidos... Olhei e me deu tanta pena daqueles objetos!  Mostrei para alguém e em seguida decidi que não ia jogar fora. Por mais que fosse inconveniente fazê-lo eu iria guardá-los. Eram meus!

Sonhei de novo.  Dessa vez eu tinha o vestido!   Tudo certo.  O vestido era bom,  cabia bem em mim,  era aceitável. Tinha os sapatos do casamento tambem. Eu estava tranquila.  

Estranho é que nesses sonhos o vestido nunca é novo ou realmente lindo.  No máximo é um vestido razoável de quem não está muito empolgada. 

Bem,  estava tudo certo e eu estava me sentindo segura da situação. Então uma pessoa amiga vem conversar comigo e tenta me convencer de que não era para eu ir com aquela roupa.  Dizia que o casamento era de dia,  então ficaria muito mais moderno um vestido curto. Eu  argumentava que já tinha roupa,  que já estava tudo certo mas ela insistia nisso e por fim me convenceu a experimentar a roupa mais simples e curta que ela propunha.   Eu experimentava o vestido já  com a intenção de não usa-lo mas eu evitava dizer isso para a minha amiga. O vestido era sem graça, vagabundo mesmo,  muito inferior ao que eu já tinha preparado.  Enquanto eu fazia essas considerações  chegou a hora do casamento e notei que não daria mais tempo de trocar de roupa.  E eu ficava muito chateada com isso porque eu estava realmente muito mal vestida !!!  Eu não precisava passar aquele vexame! Eu ficava tão triste por ter me deixado levar na conversa!  Agora estava em cima da hora e eu era obrigada a me casar com aquela roupa feia mesmo tendo algo melhor.  Me senti horrivelmente enganada,  iludida,  passada pra trás.  

Ou seja: em nenhum desses sonhos eu estou feliz.  A roupa é sempre de segunda mão,  nunca é nova, nunca é daquele branco brilhante.  Sempre é meio amarelado com cara e cheiro de guardado . Sempre é tudo improvisado,  às  pressas,  sem glamour,  sem encanto. É tudo pesado e meio triste.  Sempre.

Agora em março de 2021 tive um sonho mais promissor  dentro desse tema.  Finalmente sonhei que minha roupa de noiva  era apropriada para o evento. Um vestido novo e bonito, embora não fosse branco. Era um belo vestido azul "bic", brilhoso,  que não me faria vergonha como noiva.  Que alívio!  Mas no sonho eu não gostava do ornamento da cabeça. Toda vez eu tenho que mudar alguma coisa. Por quê, meu Deus? Por que não me conformo e não caso logo com o que tenho?  Bem, resolvi escolher outro véu e outra grinalda. Eram bonitos e brancos, mas não combinavam muito com o vestido azul profundo. Aí acordei. Afff!

Outro sonho -  04/09/22:  
Dessa vez não era sobre estar ou não despreparada para o meu próprio casamento. Nada sobre algum vestido estar gasto ou inadequado.   Mas é sobre despreparo, procrastinação, distração, irresponsabilidade ...  sei lá.    

Eu estava viajando com um grupo,  para o exterior. Parecia ser uma viagem turística.  Estávamos já na aeronave - não havia como retornar -  e em pleno voo eu lembrava que estava sem nem um mísero centavo na bolsa.  Nada, nem pra comer. Eu tinha algum dinheiro no banco mas eu precisava de dólares. Ou euros. E não havia providenciado a compra de moeda estrangeira. É o cúmulo viajar e esquecer de providenciar dinheiro para levar.    E para piorar eu também não havia levado meu cartão de crédito internacional.

Comecei a ficar aflita com a situação e a me lamentar.  Que sensação ruim!   Uma companheira de viagem  tentou me consolar se oferecendo para me arranjar algum dinheiro pelo menos pra eu poder comer na viagem. Eu sabia que ela não poderia oferecer muito. Obvio.   (Estou lembrando agora daquela parábola das virgens néscias.)   

Há sempre presente nesses sonhos uma ideia de CASTIGO PELO DESCASO, vergonha de mim mesma e total impossibilidade de elaborar  qualquer desculpa aceitável para o vexame. Não há desculpa. Nunca.

Nesse tipo de sonho eu sempre sinto muita angustia, muita culpa e muita vergonha. Principalmente vergonha.    Eu não conseguia entender como fui tão descuidada. Como pude esquecer de uma coisa tão básica?  Como que a empolgação pela viagem não me levou naturalmente a tomar todas as providências necessárias?  

Por que tenho esses sonhos? Por quê? Por quê?  Acordo pensando "de novo isso!? Meu Deus o que é que eu estou fazendo de errado???!!!!" 😫😩







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