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20 de fev. de 2020
Análise
23 de jan. de 2020
Sem turbulências
E as festas? Chega de festas. Você já sabe tudo o que vai acontecer. Conhece as caras que vão aparecer, as poses, os sorrisos formais. Já cansou de assistir as pessoas tentando parecer elegantes. Já cansou de ver idosos cochilando à mesa, crianças infernizando no salão, casais tentando passar uma boa imagem do relacionamento, garotas de olhos pretos quase como o Zorro. Não, chega. Se nada catastrófico ou inusitado acontecer, você já conhece o roteiro todo. Não que seja ruim mas o fato é que você já sabe, já viu, já cansou.
Eu nunca fiquei me analisando muito para saber a quantas anda o meu processo. Só que esses dias fui obrigada a fazê-lo ao observar uma amiga se manifestar em uma rede social. Ela contava que pretende dar uma guinada na vida, mudar tudo. Olhei pra mim e descobri que não quero mudar nada. Tá tudo bom demais. Não quero encheção de saco nem turbulências. Mau sinal.
Mau sinal mesmo? Será?
Ela falou de planos que deverão se materializar depois de uns cursos que está fazendo e tal e tal. Caramba, eu não sabia que ela estava com essa disposição toda! Então olhei pra mim: nada. Que contraste! Tentei ficar com inveja mas lembrei que não há nada que ela esteja fazendo que eu também não possa fazer se quiser. Aí que está: não quero.
Não quero mas confesso que queria querer. Queria estar com todo aquele ânimo. Quer dizer, eu acho que queria.
O fato é que balancei meu botijão e percebi que estou sem gás. É isso.
Quais meus sonhos hoje? Agora você me pegou. Sei lá. Quero viajar? Ok, quero sim. Mas já fiz umas viagens bem legais e esse "querer" de hoje não passa de um desejo chocho de pijama e pantufas. Está longe de ser um sonho.
O que mais? Sonhos românticos? Não. To casada, tô em paz. Já deu.
Sonhos... ? O que sinto está mais pra melancolia pelo que não foi do que desejo ou esperança de realizar. A essas alturas da minha vida já deu pra entender que o que não deu, não deu. Já foi.
E então? Tenho algumas coisas tênues que nem sei se podem ser chamadas de sonhos. E quer saber? Prefiro que seja assim. No passado eu desejava tudo com muito fome, muita sede de viver. Meus desejos todos doíam. Minha intensidade me machucava. Ser intensa pode parecer lindo mas na verdade é apenas DOLOROSO. É assim que me lembro de toda a minha juventude: como um rosário de desejos angustiantes. Não quero mais isso. Prefiro ficar com os meus "desejos tênues e voláteis". Quantos aos tais "sonhos", fique com eles pra você. Faça bom proveito.
Pode me chamar de velha se quiser.
21 de dez. de 2019
Um homem "pra casar" *
9 de out. de 2019
A era da propaganda anti-homem. Tô fora.
7 de out. de 2019
Janela vermelha *

Uma janela vermelha é um bom começo de dia e é, por si só, um bom sinal. Ninguém tem uma janela vermelha a toa. Há de possuir também colcha de retalhos e pote de biscoitos caseiros. Ninguém as tem se não sai para passear de repente, de cabelos soltos, e come bolo no final da tarde olhando o sol poente enquanto as mães passeiam com seus bebês.
Quem tem janela vermelha tem incenso e fotos de muitas férias. Tem caixas com bugigangas, livros sublinhados, uma almofada bordada. Tem também chapéu para ir à feira e ingressos para o teatro.
Ninguém se sente só com uma janela vermelha pela qual olhar o mundo imenso e convidativo.
Hei de ter a minha, sorridente como ela só, com uma linda cadeira de madeira por perto. Hei de ter brincos indianos e vestido de cigana para sair só para comprar revistas quando der vontade. E quando, lá embaixo, eu estiver molhando as flores, hei de olhar pra cima e ver de relance na janela vermelha a minha imagem feliz e sozinha sorrindo de volta.
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5 de out. de 2019
INTERVALOS
19/04/10
20 de set. de 2019
A morte
Admita: a morte é um tema fascinante. Ok, pode ser assustador também, mas continua fascinante. Detalhe: "fascinante" não é sinônimo de bonito. Nem de feito.
Pra vocês verem o nível: estou seguindo um canal no Youtube que traz diversas entrevistas com pessoas que viveram a instigante experiência da "quase morte". Que coisa!
Mas juro que não sou amante de caveiras, sangue escorrendo, punhais ou outros símbolos do Halloween. Estou mais para a riponga colorida do que para o gótico.
Às vezes penso na morte pela esperança cristã da glória eterna mas em outras apenas me abismo com o fato de que mais cedo ou mais tarde não farei mais parte do mundo dos vivos. Quando penso nisso me ataca um sentimento de urgência. Hoje posso mover o copo em cima da mesa, mas um dia não poderei mais. Então mova logo o copo! Mova tudo! Faça o que tem que ser feito porque o mundo ainda é seu mas amanhã todas as leis da física ignorarão você.
Um dia terei que me despedir. Aí perderei completamente a relevância que eu penso que tenho hoje. Hoje posso dar um sanduiche para aquele mendigo. Amanhã terei que me conformar em vê-lo morrer de fome e "passar pro meu lado".
Os objetos que me são tão caros serão pulverizados entre parentes e doações. Todos os meus rastros sumirão de forma inclemente. Outros usarão minhas joias, minhas roupas, lerão minhas anotações, olharão constrangidos a minha nudez gelada e se apressarão em cobrir-me com uma roupa qualquer. Um dia todo esse mundo que me abriga, lindo e confuso, me expelirá de si mesmo como um furúnculo. E o meu corpo, que tanto lavo e perfumo, se desfará horrivelmente. Como não pensar nisso?
Morre um amigo, morre um parente... Vai chegar a minha vez. Vai ser estranho. Estou tão acostumada com a vida e suas manhas! O mundo material me é tão familiar!
Há pessoas por demais apegadas à vida. Acho que é por isso que alguns tem que morrer aos poucos, sofrendo, refletindo, cansando... Para ir aceitando a ideia até que por fim chegue a pedir pra ir logo pelo amor de Deus. Outros não. Alguns partem no supetão, arrebatados por acontecimentos súbitos. Acho que esses são os que jamais entregariam os pontos, então vão ter que ir na marra, pra não ficar argumentando demais.
A morte é o mistério dos mistérios. Mesmo crendo profundamente nas palavras de Cristo, convenhamos: ele não nos deu todos os detalhes. Dói muito? Dá frio na barriga? Dá um susto ou um sono? Quanto tempo leva para a gente entender que finalmente lascou e não tem mais jeito? Dá pra dar uma olhada ao redor antes de pegar o bonde pro além? A pessoa vai sozinha, puxada por um ímã cósmico ou virão guias gentis para dar uma força? Vai todo mundo pelado ou vestiremos roupas imaginárias, como em Matrix?
Não, nada disso foi esclarecido. Isso me dá o direito de criar minhas próprias teorias a respeito. Podemos um dia conversar alegremente sobre o assunto.
Enquanto isso continuo firme, assistindo a morte passar aqui e acolá sem demonstrar ainda muito interesse pela minha pessoa. Eu fico na minha. Sou curiosa mas não quero amizade com essa senhora. Ela anda à volta, pega um, pega outro... Segue flutuante pelos bairros da cidade fingindo que não me viu. Vai sem pressa mas sem detença, cheia de véus. Vai, mas volta.
2 de set. de 2019
Mais frio!

Precisava que a tarde morna
Transmudasse em tarde fria
Pra então justificar
Essa irmã melancolia.
Como eu, está chovendo
Só falta o dia esfriar
Mais um pouco e você chega
Saberei o que falar?
Artrose nas velhas janelas
Estéreis riachos sem peixes
E prédios com mil sentinelas
Cuidando que não me deixes
Poucas cores nas sombrinhas
Pouco tempo pra almoçar
Meu vestido sem florinhas
E um rádio a cochichar
A tarde parece gripada
Encharcada e reticente
Chove grosso, chove fino
E chovem sentenças na gente
Deveria esfriar mais
E nevar a não poder
E sumirem os transeuntes
Até tudo esmaecer
Meu rosto agora sombrio
Riria então pra neblina
Irmanado com o frio
Um véu de camada fina.
Meu corpo seria de inverno
Petulante e transparente
Riacho gelado no ermo
Frio, nu e displicente.
Mas falta chover bem pesado
Com mais frio, até doer
Até que o mundo em meus braços
Eu sentisse esmaecer.
Cristina Faraon
28 de ago. de 2019
BONDADE CÍNICA
Falsa bondade.
Ou cara de pau.
Sei lá qual nome você prefere dar. É sobre isso que quero falar hoje.
O sonho desses "novos bondosos" é lindo: fronteiras abertas sem critério pra todo aquele que quiser entrar. E o dinheiro surgindo. Mas e se alguns forem comprovadamente inimigos da nossa cultura? "Não importa. Depois a gente pensa nisso".
Um otimismo invencível e insano entope essas cabeças a despeito da realidade, a despeito da experiência, a despeito dos noticiários, da lógica e da matemática. "Não, com a gente vai dar certo. Tudo se ajeita. Nóis é brasileiro!".
Percebo uma certa expectativa de canonização no sujeito que deseja acolher os de fora às custas do sofrimento dos de dentro.
É como colocar o filho pra dormir ao relento enquanto o hóspede fica na cama. Ou como tirar o pão dos filhos pra ser legal com o desconhecido.
Bondade só é bondade se for livre. Se for por amor é cristianismo. Se for às custas dos outros, é opressão. Deus me livre desse tipo de "bondade"!
Alguém aí está preocupado com a comprovada DEGENERAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA dos brasileiros que vivem na fronteira com a Venezuela? Sabiam que eles vivem com medo pois a violência aumentou muito? Mas quem se importa? Isso é tão longe e onde eu moro, não é? Eu pago de "cristã caridosa " enquanto quem se lasca são eles, lá longe.
6 de jul. de 2019
Comida
É realmente muito, muito difícil não se importar com comida. Meu Deus, tudo gira em torno de comida . Teoria da conspiração?
Comida: ela está sempre presente, quer seja o centro intencional das atenções ou não. Mesmo que o assunto seja outro ela estará por perto, pelas beiras, e se ninguém servir nenhuma iguaria, pelo menos da bolsa há de saltar um pedaço de chocolate velho na hora de procurar um batom. E é assim o nascimento à morte. Dos aniversários às reuniões de negócios. Em velórios nem se fala! Sempre tem que ter um pratinho de qualquer coisa rondando só pra nos lembrar o quanto somos miseráveis, manipuláveis, olhudos, incontinentes.
Tudo gira em torno da comida. Ou estamos comendo demais ou estamos comendo de menos. Ou estamos comendo errado e precisamos nos reeducar. E o mais assustador: também pode ser que estejamos comendo certinho demais!
Comer certinho demais não pode. Isso nos transforma em quase ETs. É estranho e irritante demais para as pessoas normais com as quais convivemos. Comer certinho dificulta nossa convivência em sociedade e até mesmo nossos relacionamentos amorosos. Quem aguenta uma pessoa que se recusa a rachar uma pizza ou meter a cara num cheeseburger gotejante? Comer certinho pode ser o caminho certo pra solidão.
Você, linda e saudável... Ok, conseguiu o que quase ninguém no mundo consegue. Pronto, você virou uma pessoa estranha. Resultado: ninguém aguenta a chatice das suas restrições. A culpa pode não ser sua, mas da inveja, do despeito dos outros, mas o que importa? O fato é que comer certo demais tá errado.
Qual então a forma correta de comer? Quer dizer: a forma "correta", certinha, a gente já sabe , e é uma cilada. Quero saber a forma correta-correta mesmo, socialmente aceitável e ao mesmo tempo saudavel e prazerosa - mas não muito! Qual a dosagem ideal mas sem cair pra lá nem escorregar pra cá? Sem desgraçar minha saúde nem minha estética mas também sem destruir minha vida social?
Quem souber me diga. Aí aparecerei com uma próxima pergunta: como tirar a comida da minha vida mental?
Como afasta-la de mim sem morrer? Como comer sem sentir tanto prazer mas ao mesmo tempo passando longe da anorexia? Dá pra ser?
Tudo bem, uma coisa de cada vez. Vamos lá , estou esperando.
23 de mai. de 2019
Você fareja?
Você é do bem: você luta contra o preconceito e rejeita estereótipos. Aí chega uma pessoa que encarna 100% um estereótipo reconhecível. Tipo "esse cara sorri, gesticula, fala e se veste como um autentico 171".
Você diz para si mesmo "eu sou um lixo preconceituoso!" e torce para aquela pessoa te dar uma lição de vida, te surpreender e fazer o contrário do que a sociedade retrógrada e hipócrita espera. Você quer se envergonhar da sua própria experiência de vida. Mas...
Mas ai a pessoa se comporta exatamente dentro do padrão de comportamento previsto. Do jeito que voce farejou. Bem dentro daquilo que a sua maldita experiência de vida apontava como previsível.
Você quer evoluir mas a vida real não coopera, pô!
Já aconteceu com você?
Confesse.