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7 de dez. de 2008

A mágica dos sem noção



Pois ali estávamos nós, mais no frio que no calor, mas nada nos incomodava a não ser aquele doce aperto no coração que nos sobrevêm quando estamos muito felizes. Cavalgávamos os quatro sem pressa mas parecia-me que só eu estava consciente da beleza desembestada que eles formavam como trio.

Eles eram leves e despreocupados, jovens e livres dessas noçoes pesadas que incluem a fatal passagem do tempo e da morte até dos tristes cavalos que montam. Divertiam-se, riam muito enquanto eu me esforçava tentando organizar minhas emoções e armazena-las em ordem alfabética para não esquecer nunca mais.


Provavelmente nem se davam conta de que estavam no auge da juventude e da beleza e que aquela era precisamente a estação do amor e da procriação e que por isso e por tudo o mais eles detinham poderes que deixavam cair displicentemente pelo caminho enquanto cavalgavam, como se fossem folhinhas engraçadas mas sem utilidade. Poderiam conquistar o mundo, a afeição de feras e escorpiões e trazer o gosto à vida de pessoas amarguradas. Poderes. Mas tãosdespreocupados estavam que também desconheciam que talvez nunca mais fossem tão adequados à viver e conquistar assim, com a despretensão de quem recebe uma caixa de jóias que nem sabe ainda se quer usar.

Eles entendiam, Deus do Céu, que formavam um quadro dos mais desejáveis da terra? Que eram três jovens felizes, rindo à toa de qualquer besteira, que eram perfeitos, sem sombras atrás de si, sem maldições que os acompanhassem, com corações vigorosos capazes de tudo e que o Amor lhes os apontava o caminho? Notavam que viviam porque queriam, tão-somente, e essa lei se aplicaria ainda para tudo o mais na face da terra? E que ainda por muitos anos poderiam suspirar e fazerem-se obedecer por pernas fortes, braços firmes e percoços altaneiros?


E eu? E eu estava inserida naquela realidade também. Não como num sonho, mas de forma igualmente palpável. Eu estava lá e por isso (sorte minha!) em um momento mágico fui como que puxada por eles - ou pela beleza que vinha disso tudo - sim, fui puxada para um lugar/momento que me pareceu ser... imagine! O Auge da Minha Vida!

Cristina Faraon

3 comentários:

Rafael Faraon disse...

"Divertiam-se, riam muito enquanto eu me esforçava tentando organizar minhas emoções e armazena-las em ordem alfabética para não esquecer nunca mais"

... De repente desci uma tirolesa de 400 metros, com grande impacto no final que embaralhou todos os pensamentos de novo...

Rafael Faraon disse...

Legal o texto. Que bom que estavas feliz!

Gisa Freire Faraon disse...

Amei o texto, Cris.
Esse dia, o passeio... Foi tudo perfeito. Nunca vou esquecer desse dia.

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