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18 de ago. de 2011

Desmoronar em paz


O sonho das cadeiras gêmeas é um dia poderem desmoronar em paz.

É saber que finalmente chegaram ao fim da linha e ninguém espera mais nada delas. É, são assim as cadeiras.

Vai-se a mesa, as crianças, os velhos, as visitas. Vai-se o café quente, o compadre, as moscas, mas estará tudo bem desde que tenham uma à outra. Cadeiras solitárias são muito tristes quando ficam velhas. Precisam das suas iguais para ainda fazerem sentido.

Os donos se foram. Tomara que tenham conseguido prosseguir juntos, recostados um no outro como se o mundo fosse desnecessário. Tomara que tenham conseguido tornar o mundo, enfim, desnecessário - como as cadeiras abandonadas. Para trás ficaram muitas histórias que vez por outra parecem tão tristes!

Em dado momento as pessoas se levantaram... e partiram. Veio o pó... e o descanso.  Fim da linha, fim do trabalho. Podem agora, finalmente, desmoronar em paz sem reformas, sem marteladas, sem vernizes ridículos.

Às vezes parece-me que os velhos ainda estão alí sentados, invisíveis, vendo o passado como quem vê um filme que não acaba nunca. Porque o passado é um filme que não acaba nunca.  Um filme que roda no espaço, exibe-se perante estrelas confusas, desinteressadas, distantes. Elas não se importam em nos ver novamente vívidos, correndo, chorando, rindo, ou sendo consolados no colo de nossa jovem mãe.  

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