.

.

18 de set. de 2011

Cronometragem

Sacralizaram o tempo.

Já não basta termos que poupar energia elétrica, poupar água, poupar papel, poupar palavras, somos também constrangidos a poupar tempo mesmo sabendo que o tempo nem está em extinção. Mesmo sabendo que não posso prejudicar ninguém jogando tempo fora. Mesmo sabendo que não estou roubando tempo dos outros.

Essa imposição de ter que poupar tudo já está me irritando. Pois estou aqui em meu apê quietinha, não estou fazendo mal a ninguém e mesmo assim não me sinto a vontade para escrever e navegar, como se isso fosse algum crime.  Quem meteu isso na minha cabeça? Odeio sentir culpa por isso.

O sentimento de culpa é uma espécie de cupim da alma. Ou ferrugem. É uma coisa que enfeia e corrói nossos momentos, de forma que nunca conseguimos curtir cem por cento de coisa nenhuma.

Por quê sempre que nós estamos fazendo uma coisa agradável vem aquela voz insinuando que deveríamos gastar tempo com algo mais útil? Porque só posso gastar tempo com "algo mais útil?"   Aliás o que  pode ser mais últil do que eu cultivar a minha própria felicidade? Pessoas felizes não incomodam ninguém. Os infelizes é que são chatos e inconvenientes. Pode reparar.

Pense junto comigo: se tenho muito tempo de vida pela frente, então posso "jogar tempo fora" porque tenho muito tempo. Quem tem dinheiro pode gastá-lo em bobagens de vez em quando né? Pois então. Se por outro lado me resta pouco tempo de vida, mais razão ainda eu tenho para fazer livremente o que gosto. Seria um prêmio de consolação por morrer cedo. Além do mais ninguém salva o planeta em pouco tempo.

Mas pra quê tenho que me justificar, ora bolas?

Nenhum comentário:

Páginas