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19 de ago. de 2008

A Morte e a Liberdade


Acho que esses são os temas mais instigantes da vida. O primeiro - a morte - porque vem infalivelmente a nosso encontro mas ninguém sabe como é a sua cara - pelo menos pra fugir quando ela chegar perto. Ela procura sempre pos nós, incansável e lenta. Implacável e silenciosa chega. E só.

O segundo tema é a liberdade. Bem ao contrário da morte, somos nós que a perseguimos e ela sempre a esquivar-se.

Se a liberdade fosse uma pessoa, provavelmente para ela a Morte seríamos nós. Desconfio de que por isso ela tanto nos evita. Ela nos teme. Parecemos tão hostis? Como pintaram nossa imagem? Com chifres e tridentes? Chifres talvez, mas tridentes já é apelação.

Brincadeiras àparte, dizem por aí que os humanos são perigosos, tem mania de colecionar coisas e tudo de belo aprisionam em um vidrinho com formol para exibir aos amigos. Por isso que a Liberdade morre de medo. E foge.

Como chegar nessa moça e explicar que é tudo invenção, crendice, mentira deslavada? Como provar por A + B que não há o que temer em nós e que poderíamos nos dar muito bem? Não, ela não quer conversa. Lamentavelmente. Mas pensando bem como culpá-la? Você deixaria a Morte sentar na beira de sua cama a explicar suas boas intenções?

Talvez tudo o que dizem da Morte seja pura mentira. Há pessoas que na falta do que fazer denigrem a imagem dos outros. Talvez a Morte não nos mate, apenas seja mais bem sucedida na cantada. Somos ruins de papo - aí a Liberdade não tem motivos para se arriscar e acaba escapulindo. Não somos nada sedutores.

Ah mas quando a Morte chega é outra coisa. Ela vem cheia de charme com seu vestido lilaz esvoaçante, perfumada com os melhores odores da terra ... Quando ela vem silenciosa e risonha, calma e senta ao nosso lado para conversar e desfazer o mal entendido... É aí que acontece. Tão convincente e leve, tão irmã e saudosa de nós! Certamente por isso ninguém volte para contar. Claro! Por isso o mal entendido jamais seja desfeito. A pessoa, totalmente seduzida, não quer voltar nunca mais.

Mas por que com a Liberdade somos tão mal sucedidos? Ela nos foge. Pintam-nos tão feios assim? Por que ela não deixa que nos aproximemos com nossos trajes igualmente leves, nossos humanos perfumes e ânsias infantis? Porque ela não nos concede uns poucos minutos no banco da praça e deixa que lhe contemos nossas histórias e lhe ofereçamos uma cantiga de amizade? Talvez a convencêssemos e ela nos seguisse para sempre.

Cristina Faraon

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