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30 de out. de 2011

Casinha de sapê


Hoje eu e o Luís estávamos novamente naquela brincadeira de nos imaginarmos comprando um sítio e construindo uma casa. Concordamos em que o gostoso mesmo seria construir uma casa de sapê. Não uma casinha, como na música, mas uma casa bem espaçosa esparramada em um terreno cheio de árvores e, de preferência, com um igarapé ao fundo.

Tudo leva a crer que isso jamais sairá do papel. Até porque para sair, deveria primeiro entrar. Ficou tudo no âmbito da fantasia compartilhada. Mas eu queria sim uma casa de sapê com móveis de madeira, piso rústico, cortininhas de chita e colchas de retalhos. Dispenso o cachorro magro e o galo empentelhando as minhas manhãs ensolaradas. Haveria também fogão a lenha e caçarolas de barro. E microondas. E um split, porque eu não sou de isopor. Sem falar na internet obviamente. Quanto aos vizinhos simples que viriam  tomar café no final da tarde, acho que seria fácil de arranjar. As redes sociais estão aí pra isso.

Não sou só eu: todos temos uma saudade imeeeensa de coisas simples que não vivemos nem viveremos. Todos temos saudade da lua se jogando sobre o sertão, saudades de usar tranças, das festas na roça, dos boiadeiros respeitadores usando blusa branca de algodão, dos bolos de fubá assados em fornos de lenha, dos peões sonhadores que ao final do dia vão tocar moda de viola debaixo de alguma árvore, da moça trabalhadora que casa cedo, tem seis filhos, é prendada e mantém o rosto de menina.  Sim, achamos essas coisas bonitas mas não conseguimos nem fantasiar direito a respeito delas. A gente logo salpica tudo com  modernidades e facilidades. 


Sou daquelas pessoas que amam as coisas do sertão mas não conseguem escrever a respeito. Até porque é um amor meio suspeito: no primeiro escorpião que aparece descendo do telhado a gente xinga aquele mundo e manda o sertão às favas juntamente com o rio, as flores e a Mariazinha usando tranças.

Não há salvação pra nós. Somos urbanos e alienados das coisas simples. Perdemos pelo caminho da vida até o JEITO de falar da terra, do interior.

Quem tenta compor músicas doces e apaixonadas falando de rios, terra, gado, luar e aves, hoje, passa vergonha. Geralmente. Agora me diga como pode ser tão complicado imitar coisas tão "simples"?  Não conheço ninguém que consiga "dar uma de Luiz Gonzaga", por exemplo, e ser bem sucedido. Em tempos áridos como os nossos, um Luiz Gonzada de 1,99 já quebraria o maior galho.

Pois é... mas como continuarmos cantando "a pureza e a ingenuidade do caboclo" se mal sabemos o que é um caboclo? Menos ainda "pureza" e "ingenuidade". Soa tudo falso, forçado, postiço. Como eu, querendo uma "casa-rona" de sapê, decorada e climatizada. Quero arrancar excentricidade da simplicidade. É, perdi o jeito...

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