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17 de nov. de 2011

Prostituicao emocional

Esse sentimento deve ter outro nome mas não me ocorre agora: refiro-me àquela coisa de expor comercialmente as coisas mais sagradas que a gente traz no peito. Isso pode ser feito de várias maneiras, mas hoje o que me vem à mente são as coisas sagradas de uma nação.

Pra encurtar: nenhuma raça de gente está mais disposta a vilipendiar as preciosidades emocionais dos outros do que os turistas.  Não sei como uma mochila e uma máquina fotográfica pode nos transformar, magicamente, em pessoas tão superficiais. Para um grupo de turistas parece que nada é sagado. Ninguém quer  degustar a história dos anfitriões, só tirar fotos. Nada é sentido, nada é aprofundado. Seja o que for que tenha acontecido em um passado glorioso, tudo se transforma em quinquilharia, em souvenir de 1,99. Os sofrimentos, as lutas, a alma, as dores, os bairros esculpidos por décadas, tudo isso vira curiosidade que se desfaz em uma olhadela, em um click.

Os turistam pisoteiam com seus tênis importados quilômetros de flores, ruas e ruas de história. É estranho isso. Nao sei como fica na cabeca dos outros, mas na minha resta sempre um incômodo. Uma história sangrenta precisa ser repassada em frases rapidíssimas de um guia turístico. São as "explicacoes fast food" que resumirão fatos que terminaram em decapitações, conquistas, glórias ou derrotas.

Não era para ser assim. No meu caso, gosto de sentir o espírito de uma época e de um povo. Sinto-me uma herege quando piso um lugar especial às pressas, entre risos e ruídos de sacolinhas plásticas. Não que eu nunca faça isso. Faço, vou na onda, mas me incomoda por dentro. A gente tenta se adaptar mas o que gosto mesmo é de degustar a história imaginando-me dentro dela, de adivinhar os gestos e os suores dos personagens. Aprecio essa coisa de construir mentalmente os sentimentos dos protagonistas, de imaginar como se sentiram os condenados à morte. Geralmente não há tempo para isso, não há clima.

Possivelmente você se sente como eu. Talvez isso seja comum à maioria das pessoas, não sei. Só sei que um grupo de turistas é algo como uma revoada de pássaros sem alma incapazes de entrar no espírito do tango, ou da revolução, da independência, da época da escravidão, das lutas sociais ou dos grandes e célebres romances. Alguma coisa de nós se perde na ponte aérea ou fica rodando para sempre na esteira das bagagens.

Expor a propria historia para um grupo desinteressado é como... é como expor a própria mae à avaliação crítica e seca de homens à procura de diversão.

Algumas coisas são sagradas. Algumas coisas não deveriam ser comercializadas. Alguns pontos turisticos deveriam ser encarados como uma espécie de santuário; se voce nao está no clima, procure o bar mais próximo.

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