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4 de nov. de 2012

Realismo


Confesso que sou tendente a uns repentes. Já escrevi sobre minhas "pirações de beleza e poesia generalizadas". O lance é assim: do nada, mas do nada mesmo, reparo que a vida é bela, o mundo é lindo! as cores são extremas! há sons! está tudo em 3D, meu Deus!  Os meus olhos acendem e tudo me parece extremamente belo, cheio de sentimentos tocantes. Uma flor, um chinelo velho no meio da rua, o portão do hospital, o menino tirando meleca, o cachorro pulguento, a adolescente magricela, a velhinha trôpega  - tudo de repente me parece tão lindo e colorido que fico realmente emocionada. Ainda não descobri se esses "tilts" são tocantes ou ridículos. Sou uma alma sensível ou uma alma doente?

Pois é. Hoje aconteceu uma coisa semelhante a isso, mas às avessas.

Não sei se acontece com você, mas há dias em que sou flexada por uma dolorosa frieza realista. Não gosto da palavra "desilusão" porque cheia a romance estragado. É meio brega ficar "desiludida".

O que sinto respinga em todo mundo: amigos, vizinhos, relações de emprego, política, religião e até os cães do bairro. Um dia acordo, junto todas as minhas experiências e considerações e pumba! - o mundo não presta.

Olho em redor e vejo tudo seco. Não chove na humanidade faz séculos. O chão rachou. Ninguém é  amigo de ninguém, o mundo está se acabando, os sentimentos mais refinados evaporaram, a capacidade para produzir arte sumiu. O que temos são gorilas pintando quadros, gralhas compondo, grosseirões em toda esquina, mulheres em prateleiras. Viramos brucutus. Tudo de bom é ilusório, a vida dos outros não passa de propaganda enganosa, ninguém é bonito como na foto e para cada falso sorriso corresponde um balde de lágrimas.  Tenho muito menos amigos do que supunha, minha bunda caiu e vou morrer daqui a pouco cheirando a mofo.

E não pense que com você é diferente. Tente marcar um encontro entre amigos! Ninguém pode. Pense em qualquer coisa entre amigos. Está todo mundo super ocupado ou super cansado de ter estado super ocupado. As redes sociais são como chupetas na boca de criança: só serve para disfarçar por um tempo, mas não enche a barriga de ninguém. Só adia o choro. Organize uma festa e você vai ver que os amigos só vão poder "dar uma passadinha". Todos estão correndo atrás de alguma coisa, e essa coisa não tem o seu nome.

Hoje está tudo em preto-e-branco. Mal posso esperar até a próxima piração. Tomara que seja de felicidade.

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