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8 de nov. de 2012

Voltamos à questão dos escravos



Não dá pra continuar calada.

Se existe uma coisa que me tira do sério é quando, na discução sobre a violência, vem um "iluminado" dizer que a culpa é minha.

Tem sempre um bonachão rondando pra dizer que "somos todos culpados". Se "somos todos" quer dizer que estou incluída. Isso é um desaforo! Ouvir esse tipo de afirmativa é como levar um tapa.

Sempre trabalhei, criei meus filhos, não uso nem vendo drogas, não coloco armas nem celulares nas mãos dos bandidos, não assalto ninguém, não bolino crianças, coopero com obras sociais, procuro ajudar meu próximo e pago impostos que tem como finalidade solucionar os problemas sociais que não causo, mas dos quais sou vítima.

Não estou escrevendo isso para me candidatar em algum processo de canonização. Quero apenas proclamar que não sou a vilã da história, mas uma de suas inúmeras VÍTIMAS.  Não sou a Madre Tereza de Calcutá, mas vir me jogar na cara que "a culpa é nossa" dá ódio. Não, não estou a fim de posar de "intelectual-consciente-engajada".

Os "engajados-chiques" (entre aspas, porque geralmente nem engajados são) anunciam que "somos todos culpados". Só que essa frase patética não nos leva a nada. Quando a discussão chega nesse ponto ninguém mais sai do lugar. E desconfio de que seja essa a intenção.

Inocentar o culpado é GROTESCO.  E quando se diz que a culpa é de todos, acaba que ninguém deve ser detido ou punido. Fica tudo no genérico, no mundo das idéias estéreis.

Pense nesse exemplo:

Uma mulher sem instrução se "deu" para um marginal (desculpaê!) e pariu 6 filhos sem ter condições financeiras mínimas para sustentá-los. Como consequência não alimentou corretamente nenhum deles nem os educou.  Isso é lamentável então quero poder ajuda-la de alguma forma, quero que ela e seus filhos tenham chance de levar uma vida melhor. Você também quer isso! Ótimo!  Mas que fique muito clara uma coisa: eu não contribui para a triste história dessa mulher nem dessas crianças. Se quero ajudar é porque quero ajudar, NÃO POR SENTIMENTO DE CULPA. Não tenho ingerência alguma sobre os hormônios dela nem do companheiro de cópula.

E esse casal hipotético precisa entender não apenas que foram vítimas de uma realidade cruel mas que também fizeram merda na vida.

E por mais pateta que essa mulher seja, um pingo de culpa ela tem sim. E por mais sacaneado que o adolescente seja, há um momento no qual ele tem clara noção da escolha entre o bem e o mal.

Sobre o bandido violento, o negócio é o seguinte: se ele não sabe o que faz nem tem responsabilidade alguma pelo mal das suas ações, então ENJAULE. Como se enjaula uma cobra, um jacaré, uma onça.  Não para castigar, porque ele não tem culpa, ele é produto do meio, bla bla bla, mas enjaule para a proteção da sociedade.   Mas se a tese não é essa e você acha que ele é um ser humano dotado de consciência, então vamos responsabilizá-lo, pô!!!! Decidam o que vocês querem. Voltamos à questão dos escravos: tem alma ou não tem alma?  O que não dá para aceitar é essa ideia de deixar uma onça faminta solta pelas ruas da cidade só porque ela não tem culpa de ter nascido onça.

Sentimentalismo vazio cega a gente para a realidade. Será que TODOS, ABSOLUTAMENTE TODOS os bandidos fazem o que fazem porque não tem outro horizonte? Não há maldade nessas pessoas? Será que todo mundo que rouba o faz apenas pra comprar comida? AI QUE ROMÂNTICO!!!! Ninguém rouba pra comprar drogas não?  E quem usa drogas não sabia que estava desobedecendo a lei e nem tinha noção de que faz mal e que vicia? Ai que bebezinho lindo!

Esse pessoal que culpa todo mundo tem a seguinte visão: enquanto a gente não conserta o mundo, enquanto a gente não neutraliza todas as sementes do mal, enquanto esse dia dourado não chega, deixemos o menor enfiar a faca na barriga da grávida. Deixemos que pessoas sejam sequestradas, baleadas, roubadas porque "a culpa é da sociedade."

Vou te dizer uma coisa: se prender não resolve, fazer nada resolve menos ainda. 

3 comentários:

nahone disse...

Bom,primeiramente quero dizer que concordo plenamente com a tua opinião, mas queria falar um pouquinho sobre as decisões que tomamos,acredito que isso tenha a ver com a formação da nossa personalidade juntamente com a ação do meio,pois, um exemplo muito claro disso, é o fato de vc ter um irmão que foi criado do mesmo jeito que vc,mas age completamente diferente e tem opiniões que são contrárias as suas,vejo isso acontecer comigo,pois como pode a minha irmã agir e pensar tão diferente de mim?!? haauahaauaa, Cristina, juro que eu não sou doida,mas assim que li seu comentário, me veio logo a questão da personalidade e tals,mas enfim, é um comentário polêmico e bastante coerente,agora se tentarmos entender o porque das pessoas escolherem o "caminho errado" da vida, pode ter certeza que vamos enlouquecer,pois o ser humano na minha concepção é altamente complexo.
Bom, é isso, Cristina tenha uma excelente semana!
Beijão!

Unknown disse...

Lamento pelas cobras e jacarés, tadinhos!
Mas, brincadeiras a parte (que o blog é sério, heim!): não acredito que as mudanças sociais se deêm APENAS através de mudanças individuais de comportamento. Acredto em consciência coletiva, do ponto de vista subjetivo, e em infraestrutura social (fator objetivo). Só não sei COMO isso pode ser mudado, quer dizer, como a sociedade pode passar de uma organização social que não proporciona o mínimo necessário à sobrevivência para uns e proporciona riquezas que vão muito além das necessidades de outros... Algns já tentaram, mas não depende da vontade de um grupo ou organização. É um processo que envolve variáveis que vão muito além. Então, resolvi sentar no trono do meu apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar...

Anônimo disse...

Mudanças sociais não se dão apenas por uma via. Não há UM caminho mágico. São várias ações que devem ser tomadas, concordo. Só não concordo em ficarmos paralisados enquanto filosofamos porque enquanto filosofamos tem gente sequestrada, gente assassinada, gente roubada... Enquando não descobrimos a polvora da solução mágica, vamos no café-com-leite da prisão. É o mínimo.

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