.

.

23 de abr. de 2013

Queria fazer um teste

Queria novamente vestir meu uniforme de Escola Pública com um EP bordado em azul no peito. Motivo de orgulho!

Queria sim vestir aquela camisa branca com minha saia azul marinho de pregas e meias "três quartos". Entrar de novo em formação com os colegas, colocar a pasta no chão ao lado da merendeira, pertinho do tornozelo. Então a diretora da escola iria lá para a frente e puxaria um dos hinos que aprendemos: Hino à Bandeira, Hino Nacional, Canção do Expedicionário, Hino da Independência... Qualquer um eu achava lindo e não tinha preferências.

Quando cantávamos a gente se sentia maior do que era, capaz até algum grande ato de heroísmo.

Se eu voltasse... respiraria fundo debaixo daquele sol ainda morno, já esperando a emoção infalível que me sobreviria. Eu amava os hinos. Eles me faziam acreditar que éramos um povo heróico, forte.

Não me envergonho de dizer que ainda sinto emoção quando ouço nossos hinos. Só que não é mais como antigamente, com aquele sentir peculiar. Hoje tudo escoa para o ralo da saudade com sentimento de perda. Aquela  dor de ver nossos sentimentos juvenis dobrar o rio na chalana.

É possível que algumas pessoas ainda se emocionem com nossos hinos. Raros jovens, uns poucos sem coragem de compartilhar essa "fraqueza" com os amigos. Quando eu era criança, amar a pátria era bonito.

Antigamente, no tempo dos militares, era um orgulho estudar em escola pública. Só quem ia para escola particular eram os alunos vadios (ou burros) que pudessem pagar. Lá, qualquer bestalhão passava. Quem era bom mesmo, estudava em escola pública e estufava o peito.

Lembro de um episódio no qual minha mãe teve que ir atrás de conseguir um ATESTADO DE POBREZA para poder manter minha matrícula. Sério!

  "Se alguém quer matar-me de amor, que me mate no Estácio..." Mãe, por favor, traga aquele meu uniforme branco e azul marinho! E minhas meias três quartos. Pegue minha mão e me leve tranquilamente pelas ruas do Estácio. Cumprimente o Kid Moringueira, nosso vizinho ilustre.  Despeça-me com um beijo e me deixe entrar no pátio pois os colegas já estão em posição de sentido. Quero sentir tudo de novo, mãe! Quero ouvir o hino! Deixe eu ser criança novamente, só mais uma vez. Quero sentir de novo aquela vontade de chorar, aquele orgulho, aquele amor pelos soldados.

Se pudesse eu faria um teste: voltar para aquelas cenas do passado para descobrir se ainda tenho coração para aquilo tudo.

É lindo o que uma criança é capaz de sentir e o que um adulto é capaz de manter se não forem  seriamente atrapalhados.


"Por mais terras que eu percorra, não permita Deus que eu morra sem que eu volte para lá", para aquele passado arborizado, para só mais uma vez me sentir brasileira-com-muito-orgulho.

Nenhum comentário:

Páginas