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1 de mai. de 2013

Olhares

Acho que ficamos velhos a partir do momento em que não conseguimos mais olhar para frente, só para trás. É isso o que marca a passagem do tempo, não as rugas.

Aos muito jovens só o que importa é o presente.  Eles não têm passado e ainda não viveram o suficiente para  perceberem que tipo de porcaria se pode colher, dependendo do que se planta. Não, eles não tem tempo de aprender com a vida dos outros nem com a sua própria, que nem parece que está passando. O futuro é tão distante que não merece consideração. É apenas uma ameaça. Há prazer demais no presente. Prazer demais, propostas demais, possibilidades infinitas.

Os adultos são diferentes. Nem sempre eles tem um passado longo ou digno de nota, mas já param para olhar para o passado dos outros e intuir que aquilo deve ter alguma coisa a ver com o presente e, consequentemente, com o futuro. Aí começa o medo. Os adultos, só eles, são os que olham para o futuro. O presente é uma ficção. O presente é  uma tentativa maléfica de fazê-los perder o foco. A vida é o que vai acontecer depois que eu cumprir todas as minhas tarefas - pensam eles. Há prazer demais no futuro. Prazer demais, propostas demais, possibilidades infinitas.

Os velhos... Esses não conseguem ver nada à frente. Eles chegaram no muro da vida. O futuro já era. O que foi, foi. O que não foi, não será mais. Eles são o resultado de uma longa equação que foi sendo resolvida através dos anos. O passado é seu tesouro, sua honra,  identidade, glória e mapa.  Só é seguro caminhar agora tendo em mãos o mapa do passado, que lhes aponta o caminho seguro. Pobres dos jovens, que não entenderam isso!

Nada é mais terrível para um idoso do que a ideia de um passado inóquo, sem sentido, inexpressivo. Quem não tem passado, não tem alma. É preciso ter algo digno de ser lembrado, talvez citado. Um passado que sirva de consolo para o presente e que os faça esquecer da ausência de um futuro.

Jamais roube o passado de um velho. Fictício ou verdadeiro, não importa: isso é tudo o que ele tem. Não invente, não conteste, não corrija, não remende. O passado de um velho é o que ele diz que é, e isso é o único sentido da vida.

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