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22 de dez. de 2013

Santificação

Decididamente: o processo de envelhecimento era para ser um processo de santificação. Não tenho dúvidas que o plano tenha sido este.

Quanto mais velhos, melhores deveríamos nos tornar. Era para aprendermos, depois de tantos erros, que o mal se volta contra quem o pratica, que não devemos cuspir pra cima, que ninguém é melhor do que ninguém, todos merecem respeito, quem dá amor não sente falta de amor, não dá pra ser livre e viciado ao mesmo tempo, futilidade não vale a pena, ninguém precisa de inimigos, e por aí vai. Era para cada velho ser um anjo ou, pelo menos, um exemplar do Sábio da Montanha.

Não entendo. Sempre tive a secreta esperança de que a velhice me levaria um estágio interessante de desenvolvimento, algo que me proporcionasse um certo "céu interior". É verdade que já fui pior mas na minha idade eu imaginei que estaria melhor.

Sonhei que eu seria desvencilhada de todas as vaidade e desejos tolos. Algo como balões de gás desamarrados das pedrinhas, podendo voar libres, leves e soltos.  com o tempo eu me livraria das cangalhas que a vida pendura em nossos pescoços.  Só que quando vejo velhos chatos, amargurados, preconceituosos, cruéis, adoecidos  de alma, solidificados em preconceitos, manhosos, ciumentos, orgulhosos, punitivos - quando vejo tudo isso desanimo.

Quem me garante que me tornearei uma pessoa melhor?  E se eu me flagrar uma velhinha insuportável? E se eu não conseguir apender mais nada de relevante nessa vida?

A bem-aventurança seria o grande prêmio que nos compensaria pelas pelancas. Seria a prova de que imperfeições físicas não conspiram contra a felicidade.

Mas não estive de todo enganada. Embora a virtude não seja inevitável, ainda assim pode ser escolhida como destino viável.  O tipo de pessoa que serei na idade avançada depende da postura interior que eu escolher agora. Depende dos valores que eu abraçar, "do ônibus que eu pegar". Não posso pegar um ônibus que vai para Curitiba esperando desembarcar e Fernando de Noronha.

Com isso tudo em mente sou levada a lembrar de toda a antiga doutrina de Céu e Inferno. Faz sentido. Em um espaço de tempo muito curto - oitenta anos de vida - já é possível ver o resultado das nossas escolhas do passado. Imagine isso em termos de eternidade!

Deus não faz um idoso se tornar chato para castigá-lo por mau comportamento na juventude. Se ele se torna amargo é porque decidiu abrigar dentro de si mil coisas que azedaram. Ele mesmo se colocou naquele caminho. Nada de "castigo", só causa e efeito.




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